Economia da agropecuária de Campos e região em debate

 

Os dados econômicos da agropecuária em Campos, na sua comparação com outros municípios, geraram recentemente (confira aqui) um debate entre o reitor do IFF, professor Jefferson Manhães, provável candidato do PT a prefeito de Campos, e o ocupante do cargo e candidato natural à reeleição, Wladimir Garotinho (PP). Que teve também (confira aqui) a participação do seu secretário de Agricultura e ex-reitor da Uenf, professor Almy Júnior.

Professor da Uenf e diretor do Núcleo de Pesquisa Econômica do Rio de Janeiro (Nuperj), cujos dados foram usados por Jefferson em seus questionamentos sobre a agropecuária, o economista Alcimar Chagas tem ajudado (confira aqui) a jogar luzes sobre o tema. Neste sentido, sua análise de um período de 9 anos da agropecuária goitacá, publicado no site do Nuperj, segue republicado abaixo:

 

Alcimar Chagas, economista, professor da Uenf e diretor do Nuperj/

Evolução da atividade agropecuária da microrregião Campos dos Goytacazes no período 2012 a 2021

Por Alcimar Chagas

 

Com objetivo de contribuir para um melhor entendimento da atividade agropecuária na microrregião Campos e, consequentemente, a formulação de políticas de competitividade setorial, analisamos um conjunto de indicadores fundamentais.

 

(Infográfico: Nuperj/IBGE)

 

Observem que a área colhida de lavouras temporárias e permanentes da microrregião somou 108.651 hectares em 2012, representando 52,05% da área total do estado do Rio de Janeiro. Do total da microrregião, o município de Campos dos Goytacazes ocupou 56,61% e São Francisco de Itabapoana ocupou 35,88% do total.

Em 2021, dez anos depois, a área colhida na microrregião somou 64.196 hectares, caindo 40,92% em relação a 2012. Da nova área, Campos ocupou 63,45% e São Francisco ocupou 35,09%.

Ao longo de todo o período Campos dos Goytacazes apresentou uma dedicação quase que total a cana-de-açúcar com uma ocupação de 97,55% da área em 2012 e 98,20% em 2021. Já São Francisco de Itabapoana ocupou 59,0% da área com cana de açúcar em 2012 e 62,15% em 2021. Campos encolheu 33,78% de área colhida e São Francisco encolheu 42,21% em uma década.

Os outros municípios também perderam área colhida, porém concentraram a atividade em cultivo de maior valor. Em 2021, São João da Barra reduziu a área colhida em 83,12 em relação a 2012. Da nova área, colheu 57,25% em abacaxi, 16,10% em coco, 8,8% em mandioca e 4,20% em goiaba.

O município de Cardoso Moreira reduziu a área colhida em 96,17% em dez anos, concentrando as atividades em 64,94% no cultivo de cana de açúcar, 7,0% em feijão e 6,6% em milho e uva em 2021. Já São Fidélis encolheu a área colhida em 74,90% no mesmo período, concentrando as atividades em 57,90% no cultivo de cana de açúcar e 15,44% na produção de tomate em 2021.

Observando a produtividade através da receita monetária por hectare, ficou evidente que os municípios não dependentes ou com menor dependência do cultivo da cana de açúcar, alcançaram um maior valor. O destaque nesta análise ficou por conta de São João da Barra, cuja parcela relativa de 2,21% da área colhida foi com cana de açúcar e o restante distribuído em 57,25% com abacaxi, 16,6% com coco, 8,88% com mandioca e 4,2% com goiaba. A produtividade (R$/hac) no município foi de R$47.246,18 em 2021.

Inversamente, o município de Campos dos Goytacazes com 98,20% da área colhida concentrada na cana de açúcar, apresentou a segunda menor produtividade (R$/hac) de R$6.200,95 em 2021.

São Fidélis apresentou uma produtividade de R$28.374,52 puxada pelo cultivo de tomate e São Francisco com maior diversificação (açúcar, abacaxi, mandioca, etc.) atingiu uma produtividade de R$11.148,84 em 2021.

Todavia, chama a atenção a grande ociosidade de parte importante da terra agricultável e, fundamentalmente, a ausência de agroindústria, o que inibe a possibilidade de ampliação do produto, emprego e renda para a população local.

 

(Infográfico: Nuperj/IBGE)

 

Sobre a atividade pecuária, pode-se observar na microrregião uma queda de 7,54% na produção de leite em 2021 com base em 2012 e uma queda de 33,24% no estoque de vacas ordenhadas no mesmo período. O município de Campos dos Goytacazes liderou a atividade com 36,5 milhões de litros de leite em 2021, seguido por São Francisco de Itabapoana com uma produção de 15,0 milhões de litros e São Fidélis com 12,0 milhões de litros no ano. Cardoso Moreira contabilizou uma produção de 8,0 milhões de litros e São João da Barra com 2,9 milhões de litro de leite em 2021.

Da retração do número de vacas ordenhadas na microrregião, Campos dos Goytacazes teve uma queda de 39,37%, São Francisco de Itabapoana uma queda de 33,24% e São Fidélis uma queda 39,94% no mesmo período.

Apesar da redução no número de vacas ordenhadas em 2021, melhores práticas de manejo e apoio tecnológico elevaram a produtividade leiteira na microrregião nesta década. São Francisco de Itabapoana atingiu a maior produtividade leiteira com 1.589,54 litros vaca em 2021, seguido por Cardoso Moreira com 1.586,99 litros e Campos dos Goytacazes com 1.399,99 litros/vaca no mesmo ano. São João da Barra, apesar de dobrar o número de vacas ordenhadas, atingiu a menor produtividade de 899,94 litros/vaca em 2021.

Assim como na atividade agrícola, a pecuária leiteira apresenta dificuldade competitiva e ausência de elos fundamentais da cadeia produtiva, o que fragiliza o setor e gera forte desânimo no meio rural. Fica evidente a ausência de políticas voltadas para o fomento ao aumento da competitividade do setor e, a consequente, melhoria de vida de quem dependente das mesmas atividades.

 

Publicado aqui, no site do Nuperj.

 

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Este post tem um comentário

  1. Hélio Júnior de Souza Crespo

    Sou produtor rural do setor leiteiro e a pesquisa apresentada pelo prof. Alcimar retrata uma realidade que vem sendo enfrentada por todos nós do segmento ao longo de anos. Diante disso, urge a implementação de medidas que fortaleça a cadeia produtiva sob pena de inviabilidade do setor leiteiro na região.
    Essa situação é decorrente de longo processo de baixo investimentos no setor agrícola da região por todas gestões de governo local. Entretanto, investir em produção de alimentos é uma estratégia que traria para sustentabilidade para nossa região.

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