Tubo de ensaio
Ontem, o general da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro (PL), Augusto Heleno, deu depoimento tenso na CPMI do 8 de janeiro. Foi um pouco depois do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes votar pela condenação à prisão de mais cinco réus bolsonaristas pelo 8 de janeiro. Ainda assim, o bolsonarismo parece buscar relevância na disputa a prefeito de Campos, em 6 de outubro de 2024. Também ontem, a jornalista Berenice Seara lançou (confira aqui), no jornal Extra, o deputado estadual bolsonarista Filippe Poubel (PL) pré-candidato a prefeito da “capital do Norte Fluminense”.
A jogada ensaiada
O Extra afirmou que “o prefeito Wladimir Garotinho (PP) desponta como favorito”. E listou a deputada estadual Carla Machado entre os nomes do PT à Prefeitura de Campos, mesmo que o entendimento do STF a impeça por já ter se reelegido prefeita da vizinha SJB em 2020. Na mesma toada incerta, Berenice também disse que Poubel já é “o pré-candidato a prefeito em Maricá”. Ainda assim, anunciou a visita dele a Campos em 20 de outubro, com os colegas bolsonaristas de Alerj, Alan Lopes (PL) e Rodrigo Amorim (PTB). “Para audiência pública (e, quem sabe, uma operaçãozinha de fiscalização?) da Comissão Contra a Desordem Urbana”.
Bolsonarismo, CVC e Wladimir
“A Câmara dos Vereadores, presidida por Marquinho Bacellar (SD), integrante da família historicamente inimiga dos Garotinho, já estendeu o tapete vermelho (ui!) para o trio”, fechou o Extra a sua nota. Que ignorou, além do impedimento de Carla, que o bolsonarismo já tem dois prefeitáveis em Campos. O primeiro é o militante bolsonarista CVC Direita Campos, que já figura nas (confira aqui) pesquisas a prefeito. E chegou a ser preso por suspeita de envolvimento nos atentados de 8 de janeiro, quando era assessor de… Filippe Poubel. O segundo é o próprio Wladimir, que declarou voto a Bolsonaro (confira aqui e aqui) no segundo turno presidencial de 2022.
Marquinho com Jefferson
Citado na mídia carioca pelo suposto “tapete vermelho” que estenderia aos deputados estaduais bolsonaristas, Marquinho ontem apareceu mais próximo da bandeira vermelha do PT. Quando postou em suas redes sociais uma foto com o reitor do IFF, professor Jefferson Azevedo, também citado pelo Extra como possível candidato do PT a prefeito de Campos — o que esta coluna adiantou (confira aqui) desde 3 de junho. O encontro teve seu caráter institucional resguardado pelas condições de presidente do Legislativo goitacá e de reitor da maior instituição de ensino da cidade e da região. Mas, logicamente, também tratou de política.
Com Thiago Rangel e Caio
Com seu nome aventado nas pesquisas a prefeito, como CVC e Jefferson, Marquinho tem se encontrado com outros. Além de Jefferson, o edil esteve no dia anterior (25) com o deputado federal Caio Vianna (PSD). Assim como com o deputado estadual Thiago Rangel (sem partido), na semana passada. Como o próprio Wladimir teve encontro e gravou um vídeo muito amistoso com Jefferson e outros integrantes do PT, em defesa da Petrobras, na última quinta (21), durante a 6ª Feira de Oportunidades do IFF. O mesmo Wladimir que, no dia seguinte (22), fez críticas em suas redes sociais ao aborto, tentando não se afastar do eleitor bolsonarista.
Mão dupla e placa quebrada
Tudo isso faz parte da política. Embora tenham caminhado com Bolsonaro em 2022, os Bacellar nunca esconderam a admiração pelo presidente Lula (PT). Por ser egresso da política sindical, como o patriarca do clã, o ex-vereador Marcos Bacellar (SD). Reunir-se com o petista Jefferson não impede Marquinho de depois receber com “tapete vermelho” um deputado como Rodrigo Amorim. Que se notabilizou na campanha de 2018 por ter quebrado (confira aqui) a placa da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada a tiros naquele ano. Como a bandeira política trabalhista dos Garotinhos não os impediu de apoiarem Bolsonaro, com os Bacellar, em 2022.
Lição aos bolsonaristas e ao Psol
Uma eleição não garante outra. Supor que a maioria bolsonarista no 2º turno presidencial de Campos em 2022 (63,14%) vá se repetir na eleição a prefeito em 2024, é ignorar a de 2020. Quando, após Bolsonaro ter 64,87% dos campistas no 2º turno presidencial de 2018, os dois candidatos a prefeito bolsonaristas, Tadeu Tô Contigo (REP) e Jonathan Paes (PMB), tiveram juntos 2,68% dos votos. Foi pouco mais da metade dos 4,68% da estreante Professora Natália (Psol). Que, ainda assim, perdeu com a assistente social Danielle Pádua a eleição a presidente municipal do seu partido, no último sábado (23), vencida (confira aqui) pelo sindicalista Vanderson Gama.
Bruninho e Wainer
Ontem, em sessão quente da Câmara e mais um capítulo da tensa novela da pacificação entre Garotinhos e Bacellar, o jovem vereador Bruninho Vianna (PSD) se queixou de secretários municipais que dão entrevistas ao Folha no Ar, mas não atendem a requerimentos dos edis “independentes”. Após o próprio Bruno ter sido convidado e adiado sua ida ao programa, ontem foi a vez do secretário de Administração e RH, Wainer Teixeira. Ele expôs a reestruturação dos servidores e RPAs de Campos, e admitiu que pode concorrer a vereador. Bruninho tem futuro promissor. E pode, já em 2024, surpreender e concorrer a prefeito. A ver.
Publicado hoje na Folha da Manhã.