— E a assessora da Anielle Franco, irmã da Marielle Franco e ministra da Igualdade Racial de Lula? — indagou Diego, após tomar o primeiro gole de cerveja artesanal no dia de abertura do 1º Concurso de Cerveja Caseira da Villa, em pé e diante do amigo que encontrara ao acaso nos jardins de Finazinha Queiroz.
— Foi tão idiota, na sua agressão gratuita e provavelmente ébria à torcida do São Paulo na decisão da Copa do Brasil no Morumbi de domingo, quanto a patriotária Ana Priscila de Azevedo, que depôs na quinta à CPMI do 8 de janeiro. Após ser uma das líderes das invasões às sedes dos três Poderes em Brasília, a maluca disse que acreditava que Bolsonaro era um “infiltrado de esquerda”. Porque elogiou no passado a Hugo Chávez na Venezuela — comparou Aníbal, antes de também experimentar do seu copo de fermentado caseiro de cevada, com tons de maracujá para acalmar.
— Você acha que a tal da Marcelle Decothé, agora ex-assessora da Anielle, estava doidona?
— Acho que quem inventar um bafômetro que bloqueie smartphone, lap top e acesso às redes sociais após umas cervejas a mais, o que é normal para aliviar a tensão de um jogo de decisão, vai ficar milionário. Nem sei como o Steve Jobs, que era um grande babaca como ser humano, mas um gênio em criar e atender demandas humanas, não pensou nisso antes de morrer.
— Minha avó já dizia: quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza.
— Como a avó de Raul Seixas dizia para ele sair sem se molhar. E o neto respondia: “mas a chuva é minha amiga e eu não vou me resfriar”. No seco, o fato é que foi assim no primeiro governo do PT, com Lula, a partir de 2003.
— Que estava esperando na fila há 14 anos, desde o segundo turno presidencial de 1989, vencido por Fernando Collor de Mello.
— Exato. Como voltaria a ser assim a partir de 2019. Com todo tipo de medíocre ressentido, incluindo o Collor e seus mesmos eleitores 30 anos mais velhos e de cara mais repuxada, que se sentiu representado com Bolsonaro no poder.
— E o avião da FAB para ir ver a final do Flamengo? A festa do PT já recomeçou?
— É cedo para dizer. E não gosto desse tipo de bipolaridade nivelada por baixo. Mas, ao que se saiba, pelo menos ninguém transportou 37 kg de cocaína nesse avião da FAB. Nem as milionárias joias sauditas de propina pela venda aos árabes, por R$ 2 bilhões abaixo do preço de mercado, da refinaria de petróleo baiana Landulpho Alves.
— Você está querendo mudar de assunto, Aníbal. O fato é que, como a Anielle e a tal da Marcelle, você é Flamengo, né?!
— Como você, Diego, pertence à segunda maior torcida de futebol do estado do Rio: a antiflamenguista. Que tem suas subdivisões no Vasco, no Fluminense e até no seu Botafogo.
— Mais respeito! Você está falando com o virtual campeão brasileiro de 2023.
— Até aqui, tudo indica que sim. E é mais que merecido ao clube que deu ao futebol Mané Garrincha, Heleno de Freitas e Nilton Santos.
— Você esqueceu logo do campista Didi?
— Esqueci, nada. Só que, após o Americano, o clube carioca que revelou Didi foi o Madureira. E ele ganhou fama pelo Fluminense, no qual jogava quando disputou pelo Brasil a Copa do Mundo de 1954, antes de também brilhar no Botafogo.
— O que importa é que agora é o Botafogo. Não o Flamengo. Ou Flamengue, na linguagem neutra com que a ex-assessora da irmã de Marielle usou para ofender a torcida do São Paulo: “Descendente de europeu safade. Pior de tudo pauliste”.
— Fruto da mesma arrogância associada ao flamenguista, a tal linguagem neutra tem futuro tão “neutre” quanto o presente do esperanto. Quanto ao Botafogo, após 28 anos na fila, já estava na hora. Em você, reconheço que se manteve fiel esse tempo todo, na primeira ou na segunda divisão do Brasileirão. Porque, com a boa fase atual, começou a sair botafoguense até do ralo. Parece aquele filme dos anos 1980, “Os Gremlins”: não pode jogar água que brotam outros das costas. Aí fica esse cheiro de naftalina danado nas ruas, das camisas da Estrela Solitária escondidas há tanto tempo no fundo da gaveta.
— É a mesma gaveta em que vocês vão esconder as faixas de todos os vice-campeonatos que acumularam este ano?
— Chico Buarque já disse gostar mais de futebol que do Fluminense. O que eu superlativizo: gosto muito mais de futebol do que do Flamengo. A verdade é que o São Paulo mereceu vencer. Pelo jogo de ida no Maracanã e pelo tapa de luva que o Dorival Júnior deu na cara da diretoria do Flamengo. Que o demitiu no final do ano passado sem até hoje dizer por quê.
— Isso é verdade. Após a final da Copa do Brasil deste ano, o próprio Zico lembrou que mandaram Dorival embora após ele conquistar a Copa do Brasil e a Libertadores pelo Flamengo em 2022. Para contratarem quem? O português Vítor Pereira. Que, treinando o Corinthians, tinha perdido para o Flamengo de Dorival nas duas competições.
— Verdade, Diego. Não há monopólio de gênero, ideologia política ou cores de clube de futebol para ser imbecil.
— Sei. E, agora, sai Sampaoli e entra Tite? O que você acha?
— Sobre Tite? Jesus! — ironizou Aníbal, seguido dos risos comuns, umedecidos de cerveja artesanal nos jardins da Villa.
Publicado hoje na Folha da Manhã.