Com DiCaprio e De Niro, novo filme de Scorsese em Campos

 

Lily Gladstone, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro estrelam “Assassinos da Lua das Flores”, novo filme de Martin Scorsese, em cartaz em Campos

 

“Martin Scorsese é o maior cineasta vivo do mundo”. Também candidato ao posto, foi o que Francis Ford Coppola afirmou com convicção após assistir às 3h26 de projeção de “Assassinos da Lua das Flores”. O novo filme coescrito e dirigido por seu colega de geração é estrelado por Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. Antes, os dois protagonizaram nada menos que 16 outros trabalhos de Scorsese. Mas, pela primeira vez, se juntaram sob a sua direção.

“Assassinos da Lua das Flores” chegou às telas de Campos na última quinta (26), no Cineflix, no Shopping Avenida 28. Em sessões às 15h20, 16h e 20h. Embora com uma semana de atraso da estreia nacional, se fosse para aguardar que um novo filme de Scorsese fosse exibido pelo Cine Araújo, no Boulevard Shopping, ou pelo Cine Uniplex, no Guarus Plaza Shopping, talvez demorasse menos esperar seu lançamento em alguma plataforma de streaming.

Com roteiro de Eric Roth e do próprio Scorsese, a partir do livro homônimo de David Grann, é baseado em fatos reais dos anos 1920, em Oklahoma, estado do Meio Oeste dos EUA. Onde se dá o choque sorrateiro entre o homem branco e o povo índio Osage. Que, com a descoberta de petróleo em suas terras, passa de peão a rainha no tabuleiro do “sonho americano” — desvelado na realidade mais amoral da cobiça.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, que vem dos campos de batalha da França na I Guerra Mundial (1914/1918). Longe da figura romantizada do “herói de guerra”, serviu como cozinheiro de infantaria. Por conta de um ferimento no abdômen, não pode fazer serviço braçal. O que combina com sua contradição diante do tal “sonho americano”: é tão assumidamente preguiçoso, quanto assume mais de uma vez: “adoro dinheiro”.

A beleza física de DiCaprio é mirada como arma pelo tio, o rancheiro de gado William Hale. Gosta de ser chamado de “King” (“Rei”) e acolhe o sobrinho na cidade que gira em torno do dinheiro do petróleo dos Osage. Na pele de De Niro, se revela um vilão capaz de causar inveja ao gângster Jimmy Conway, que o ator dos atores interpretou em “Os Bons Companheiros” (1990), ou ao psicopata Max Cady, que viveu em “Cabo do Medo” (1991), ambos sob direção de Scorsese.

Escalados ao lado dos dois ícones da interpretação de Hollywood, outros atores não fazem feio. Jesse Plemons está muito bem, como de hábito, na pele do agente federal Thomas Bruce White. Para investigar os assassinatos dos Osage, ele é enviado pessoalmente a Oklahoma pelo primeiro e longevo diretor de um FBI ainda engatinhando, J. Edgar Hoover. Que DiCaprio já encarnou na cinebiografia “J. Edgar” (2011), dirigida por Clint Eastwood.

Oscar de melhor ator deste ano, por sua atuação em “A Baleia” (2022), de Darren Aronofsky, Brendan Fraser também está bem como o advogado de De Niro. Necessário quando os assassinatos dos Osage para se apossar de sua terra rica em petróleo geram um inesperado julgamento. Por que inesperado? Como o roteirista e diretor escancara numa fala do filme: “é mais fácil um homem (branco) ser preso por matar um cachorro do que por matar um índio”.

Quem também está no novo filme de Scorsese é John Lithgow, veterano com mesmo tempo de janela de De Niro, como o promotor Leaward. No entanto, a maior surpresa positiva de “Assassinos da Lua das Flores” fica por conta da soberba atuação da atriz nativa americana Lily Gladstone. Na pele real da também nativa Mollie Burkhart, que cai na arapuca dos olhos azuis de DiCaprio, armada por De Niro, pelo negro do petróleo e o verde do dólar.

 

Martin Scorsese, Lily Gladstone e Leonardo DiCaprio no set de produção de “Assassinos da Lua das Flores”

 

Scorsese é fruto de uma brilhante geração de cineastas estadunidenses, que tomou de assalto e virou de ponta à cabeça o então decadente esquema dos grandes estúdios de Hollywood, entre os anos 1960 e 1980. Que, além dele e Coppola, foi integrada por criadores como Brian De Palma, George Lucas, Peter Bogdanovich, Terrence Malick e Steven Spielberg. Contemporâneos do movimento hippie, ficariam mais conhecidos como “os cabeludos”.

De Spielberg e sua reverência ao “sonho americano”, Scorsese talvez seja a melhor antítese, na realidade exumada em pesadelo. Onde o purgatório é destino mais certo que o céu ou o inferno. E este pode ser terreno na sua impossibilidade da razão. Como quando médicos brancos, comprados por um rancheiro branco com o dinheiro do latrocínio dos Osage, abrem o crânio do cadáver de uma índia diante da sua irmã.

Apesar de toda a crueza levada à tela a partir de fatos reais, mais que o primeiro western de Scorsese, ou outro de seus filmes policiais, “Assassinos da Lua das Flores” é uma história de amor. “Percebi que a trama de Mollie e Ernest era antes de tudo uma história de amor, e que esse era o coração da obra”, vaticinou seu roteirista e diretor. Em parceria com a fotografia de Rodrigo Prieto, a música dos anos 1920 garimpada por Robbie Robertson — falecido este ano — e seu casamento artístico de mais de 40 anos com a editora Thelma Schoonmaker.

No universo de Scorsese, o amor nunca é idealizado ou predestinado. Como na dramaturgia de Nelson Rodrigues, é um sentimento complexo, sujeito a traições e deslealdades, muitas vezes refém do desejo e, outras tantas, mesquinho, com as vindas e idas do livre arbítrio. Princípio cristão que, para o ex-seminarista católico convertido em diretor de cinema, sempre redunda em ascensão, queda e busca de redenção.

Prestes a completar 81 anos em novembro, Scorsese não dá sinal de queda. Coppola parece ainda ter razão sobre ele. Entre seus tantos “filhos” assumidos, Quentin Tarantino ainda tem asfalto a lamber.

 

Assista ao trailer do filme:

 

 

Capa da Folha Dois de hoje

 

Carla Machado pode ou não vir a prefeita de Campos?

 

Carla Machado, Rodrigo Bacellar, Wladimir Garotinho, Robson Maciel Júnior, Priscila Marins, Victor Queiroz, João Paulo Granja, José Paes Neto e Gabriel Rangel (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Carla pode ou não vir a prefeita de Campos?

Prefeita de São João da Barra quatro vezes, incluindo sua reeleição em 2020, para renunciar e se eleger deputada estadual em 2022, Carla Machado (PP) pode ou não ser candidata a prefeita de Campos em 2024? Como a coluna adiantou (confira aqui) na última terça, essa possibilidade vem sendo articulada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado campista Rodrigo Bacellar (União). Ele demanda um ou mais nomes com densidade eleitoral para enfrentar o favoritismo do prefeito Wladimir Garotinho (PP) em todas as pesquisas (confira aqui). Que, a 11 meses da urna, apontam à possibilidade de reeleição em turno único.

 

Robson Maciel Júnior

Na disputa de espaço às eleições de Campos em 2024, a possibilidade de Carla concorrer a prefeita foi endossada (confira aqui) pelo procurador-geral da Alerj, o advogado campista Robson Maciel Júnior. No entender dele, como a ex-prefeita de SJB renunciou ao mandato antes do término, para se candidatar e se eleger a deputada, o caso dela seria diferente do que é lembrado no Supremo Tribunal Federal (STF) como impedimento à candidatura seguida a prefeita de Campos em 2024. “Tudo dependerá da interpretação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas, como os casos são diferentes, a revisão legal permite a possibilidade”, ensejou o procurador.

 

Maioria acha que não

No bordão do ex-árbitro de futebol Arnaldo Cezar Coelho: “a regra é clara”. Mas, como nos campos políticos, não existe o VAR, a definição da Justiça Eleitoral será sempre subjetiva, por depender de interpretação. O que valerá será o juízo do ministro do TSE que julgar o caso de Carla, se ele lá chegar. Antes disso, a coluna buscou a opinião de outros juristas campistas com experiência em direito eleitoral, como Robson. Entre eles não houve consenso, o que mostra como a questão pode ser complexa, mesmo aos especialistas. Mas a maioria opinou pela impossibilidade de a ex-prefeita reeleita de SJB se candidatar em 2024 a prefeita de Campos.

 

Priscila Marins

“Com respeito às opiniões diferentes, não vejo viabilidade para a deputada disputar a eleição a prefeita de Campos. Estaríamos diante da tese de prefeito itinerante. Que foi fixada no Recurso Extraordinário (RE) 637485, que estabelece a interpretação do artigo 14, § 5º, da Constituição. Neste caso, uma candidata que foi eleita prefeita e reeleita em um município, e posteriormente renunciou ao cargo, concorrendo e sendo eleita como deputada estadual, estaria sujeita à restrição de não poder se candidatar a uma terceira eleição subsequente para o cargo de prefeita, mesmo que seja em um município diferente”, frisou a advogada Priscila Marins.

 

Victor Queiroz

“A Constituição, nos parágrafos 5º e 6º do artigo 14, estabelece a possibilidade de eleição a prefeito, de modo consecutivo, apenas duas vezes. Pela criatividade dos políticos brasileiros, surgiu a figura do ‘prefeito itinerante’. Que, tendo sido reeleito, muda o domicílio eleitoral para concorrer a prefeito em outro município. Desde 2008, o TSE entende a inadmissibilidade do ‘prefeito itinerante’, mesmo com a desincompatibilização do mandato. Esse entendimento foi confirmado pelo STF no julgamento do RE 637.485, em 2012. As normas e a interpretação que têm sido dadas pelo TSE e pelo STF são essas”, salientou Victor Queiroz, promotor de Justiça.

 

João Paulo Granja

“No artigo 14, § 5º, da Constituição, só é possível a qualquer cidadão disputar dois mandatos consecutivos no Poder Executivo. Esse dispositivo teve abrangência ampliada pelo STF e TSE, ao considerarem que os mandatos em municípios vizinhos contam. Por este entendimento, a ex-prefeita Carla Machado estaria impedida de disputar a Prefeitura de Campos, pois foi eleita como prefeita de SJB nas duas últimas eleições, mesmo tendo renunciado para disputar as eleições de 2022, quando se elegeu deputada estadual. O TSE já analisou hipóteses similares e manteve o mesmo entendimento em todas”, ressaltou o advogado João Paulo Granja.

 

José Paes Neto

“A Constituição não trata especificamente da impossibilidade de um terceiro mandato consecutivo de prefeito em município vizinho. A vedação ao chamado ‘prefeito itinerante’ se deu por construção jurisprudencial do TSE e do STF, que fixou tese pela proibição da segunda reeleição, mesmo em município diverso. Contudo, o segundo mandato de prefeita Carla Machado foi interrompido com a sua renúncia para disputar o cargo de deputada estadual, ao qual foi eleita. É razoável a interpretação de que no caso em questão não restaria caracterizado o terceiro mandato consecutivo”, ponderou, como Robson, o advogado José Paes Neto.

 

Gabriel Rangel

“Na interpretação do artigo 14, §5º da Constituição, pelo STF, no Recurso Extraordinário 637.485, e pelo TSE, no Recurso Especial Eleitoral 32.507, a deputada Carla Machado está inelegível ao próximo pleito de prefeito de Campos. Em 2012, ao julgar o leading case ‘prefeito Itinerante’, o STF manteve o entendimento do TSE, ratificado em 2023, no Recurso Ordinário 060083352. Que estendeu o efeito a quem exerceu dois mandatos consecutivos de prefeito, mesmo em município diverso. Ademais, o STF fixou que ‘as decisões do TSE que, no curso do pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança de jurisprudência não têm aplicabilidade imediata’”, reforçou Gabriel Rangel, procurador de Campos.

 

Publicado hoje, na Folha da Manhã.

 

Da guerra à ética na política goitacá no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Bispo diocesano de Campos, o uruguaio Dom Roberto Ferrería Paz é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar desta sexta (27), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará, sob a ética do cristianismo, a nova guerra entre muçulmanos e judeus na Terra Santa das três grandes religiões monoteístas.

Dom Roberto também analisará o Brasil de Lula, o Uruguai do conservador Luis Alberto Lacalle Pou e o segundo turno presidencial da Argentina, que se consumará no dia 19, entre o peronista Sergio Massa e o anarcocapitalista Javier Milei. Por fim, ele falará da falta de decoro da política goitacá (confira aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) e do Encontro Diocesano (confira aqui) que promoverá no dia 25, entre os prefeitáveis de Campos às eleições de 6 de outubro de 2024, daqui a pouco mais de 11 meses.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Rio refém da milícia e Segurança no Folha no Ar desta 5ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Policial federal e especialista em Segurança Pública, Roberto Uchôa é o convidado do Folha no Ar desta quinta (26), ao vivo, a partir das 7h da manhã. Ele analisará as causas e consequências dos ataques da milícia à Zona Oeste da cidade do Rio na segunda (23), quando incendiaram (confira aqui) um trem e 35 ônibus, após a morte de um criminoso.

Uchôa também falará da proposta de Federalização da Segurança Pública no país. E do papel que cabe à União, aos estados e municípios no setor. Quem quiser participar do Folha no Ar desta quinta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Wladimir pede cargos dos indicados pela oposição

 

Wladimir pediu cargos indicados pelos vereadores de oposição nas secretarias de Turismo e Qualificação e Emprego, que eram comandadas por Hans Muylaert e Robinho Pedala (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

“Diga a verdade, nada melhor do que ela. Estávamos dentro de uma pacificação que foi desfeita e anunciada da tribuna pelo presidente da Câmara (Marquinho Bacellar, SD). Tive a hombridade e humildade de chamar todos vocês para comunicar o que eu faria, mesmo podendo fazer só pelo DO. Agradeci pelos serviços prestados e lamentei como o fato se deu. Não tenho do que reclamar pessoalmente de ninguém”. Foi o que disse o prefeito Wladimir Garotinho (PP), na tarde de ontem (24), aos indicados pelos vereadores de oposição nas secretarias de Turismo e Qualificação e Emprego, para comunicar o desligamento dos cargos.

A secretaria do Turismo tinha à frente psicólogo Hans Muylaert. Apesar de chegar ao governo incialmente pela Emahb, como indicação do vereador Nildo Cardoso, ele assumiu o Turismo como indicação de Marquinho e seu irmão, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União), presidente da Alerj. Também deixarão os cargos na pasta a subsecretária Isabela Barreto, o chefe de gabinete Fabiano Gomes e o advogado Daniel Matos. Eles eram indicados, respectivamente, pelos edis Dandinho Rio Preto (PSD), Igor Franco (SD) e Raphael Thuin (PTB).

A secretaria de Trabalho e Renda era comandada por Robson da Silva Barboza, o Robinho Pedala. Indicação do vereador Helinho Nahim (Agir), ele já teria pedido exoneração do cargo há uma semana.

De saída do Turismo, Hans lembrou o que conseguiu fazer como secretário enquanto durou a pacificação entre Garotinhos e Bacellar:

— Foi um grande reconhecimento retornar no momento de criação da secretaria de Turismo. Em apenas seis meses, pudemos desenvolver projetos significativo para o desenvolvimento econômico e social. Realizamos a captação de recursos para implantação de equipamentos turísticos importante para nossa região turística Costa Doce. Facilitamos o processo de organização de eventos a partir do decreto do Nada a Opor Único, recuperação da via de acesso a APA do Itaoca, construção da nova sede do turismo no Cais da Lapa, parte do projeto de revitalização do centro histórico. Retomamos as tratativas com a Marinha para utilização do espaço em Farol de São Thomé. E, junto ao Sesc, retomamos a parceria e melhor implantação e produção dos eventos no verão. Iniciamos o ordenamento de Lagoa de Cima, visando não só o verão, mas uma política de uso continuo e definitivo. Conduzimos de maneira técnica e política as ações na secretaria. Fizemos bastante, com a condição que nos foi dada. Sabemos que há muito ainda a fazer, mas estávamos no caminho certo.

 

Carla a prefeita de Campos em 2024? “Depende do TSE”

 

Deputada Carla Machado e o procurador-geral da Alerj, o jurista campista Robson Maciel Júnior, em cerimônia no Legislativo fluminense (Foto: Alerj)

 

Após renunciar ao segundo mandato consecutivo de prefeita de São João da Barra, para se eleger deputada estadual pelo PT em 2020, Carla Machado pode ou não ser candidata a prefeita de Campos em 2024? Hoje, a coluna Ponto Final, da Folha da Manhã, aventou (confira aqui) que uma tese jurídica favorável à possibilidade teria sido elaborada pelo procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o campista Robson Maciel Júnior. Ele descartou qualquer envolvimento no caso. No entanto, opinou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia, no caso de Carla, revisar o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que veda a candidatura seguida a prefeito antes reeleito em município limítrofe.

No entender de Robson, como Carla renunciou ao mandato de prefeita de SJB antes do término, para se candidatar e se eleger deputada estadual, o caso dela difere do que é lembrado no STF como impedimento à candidatura a prefeita de Campos no próximo ano. E abriria espaço para sua revisão legal no TSE. O procurador-geral da Alerj ressalvou que é apenas sua opinião técnica. E não tem nenhuma ligação com a eventual articulação do presidente da Assembleia, o deputado campista Rodrigo Bacellar (União), de uma opção de oposição à tentativa natural de reeleição do prefeito Wladimir Garotinho (PP).

— Tudo dependerá da interpretação do TSE. Mas, como os casos são diferentes, a revisão legal permite a possibilidade. Mas, que fique claro: não assinei nenhuma petição, não assumi nenhuma representação em processo nesse caso. Sou procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. E, em função do meu cargo, respondo diariamente a denominações políticas de todo o estado do Rio. Mas sempre tecnicamente, não politicamente — ressalvou o procurador campista do Legislativo fluminense.

 

Rodrigo Bacellar articula Carla Machado a prefeita de Campos

 

Carla Machado, Rodrigo Bacellar, Caio Vianna, Bruno Calil, Wladimir Garotinho, Jefferson Azevedo, Filippe Poubel e Rodrigo Amorim, quando quebrou em 2018 a placa da vereadora carioca do Psol Marielle Franco, executada a tiros naquele ano (Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Carla quer, mas pode ser candidata a prefeita?

Deputada estadual e ex-prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PT) quer ser candidata a prefeita de Campos em 2024? Quer! E pode? Por entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que proíbe a terceira candidatura a prefeito consecutiva em município limítrofe, não! Mas há uma tese jurídica que começa a ecoar no PT fluminense: a última candidatura de Carla foi a deputada estadual, em 2022, na qual se elegeu. Não sua reeleição de prefeita em 2020. De onde passa a contar? Como qualquer definição jurídica, depende de interpretação.

 

Articulação de Rodrigo Bacellar

A tese jurídica que poderia abrir espaço para Carla disputar a eleição de 2022 a prefeita de Campos, na qual seu nome é sondado desde 2016, teria sido elaborada por Robson Maciel Júnior. Advogado conceituado de Campos, com larga experiência em direito eleitoral e público, ele é procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O que revela o grande articulador dessa eventual candidatura de Carla a prefeita: o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União).

 

Procura-se candidato

Na última eleição a prefeito de Campos, em 2020, Rodrigo ainda não era secretário estadual de Governo de Cláudio Castro (PL). Com quem, como relator do impeachment do ex-governador Wilson Witzel (PSC) na Alerj, teve fatura aberta. Mas o deputado viveu três anos atrás um dilema que, para 2024, seria resolvido com Carla. Porque em 2020 Rodrigo apoiou e rompeu com Caio Vianna (hoje, PSD), depois aventou lançar um juiz e dois outros médicos ao cargo, antes de finalmente vir com Dr. Bruno Calil (hoje, MDB).

 

Demanda do 3º ao 2º turno

A quem acompanhou a eleição a prefeito de 2020 pela objetividade fria dos números das pesquisas, confirmados nas urnas do primeiro e segundo turnos, é fato aritmético: Wladimir Garotinho (hoje, PP) só não se elegeu prefeito em turno único, por conta da alavanca no canto que Rodrigo engatou na campanha de Bruno Calil. E o fez terceiro colocado na disputa, acima dos dois dígitos: 13,17% dos votos válidos. Ficou atrás dos 42,94% de Wladimir e dos 27,71% de Caio, que disputaram um segundo turno duríssimo vencido pelo primeiro.

 

Perguntas de 2020 a 2024

Se, só como simples deputado estadual, Rodrigo levou ao segundo turno a eleição a prefeito de Campos em 2020, com um candidato até então cotado apenas a vereador, o que poderia fazer em 2024? Como presidente de uma Alerj cada vez mais empoderada e com uma candidata com a densidade eleitoral de Carla? Poderia repetir o seu feito no pleito majoritário de Campos em 2020? E forçar também o segundo turno em 2024? Que todas as pesquisas, até aqui, indicam ser hoje desnecessário para reeleger Wladimir prefeito?

 

Nova pesquisa e a questão PT

Como o grupo dos Bacellar fez recentemente uma nova pesquisa quantitativa a prefeito de Campos em 2024, mas não a divulgou, tudo indica que Wladimir se mantém franco favorito, a pouco mais de 11 meses da urna. Se puder ser candidata, para que Carla tivesse mais chance, os articuladores dos Bacellar entendem que ela não deveria concorrer pelo PT. Por conta dos 63,14% dos votos válidos do campista a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno presidencial de 2022. Mas, interessado em sua bancada na Alerj, o PT liberaria Carla para sair do partido?

 

Como ficaria Jefferson?

Até os Bacellar investirem na possibilidade de Carla, o reitor do IFF, professor Jefferson Azevedo, era o provável candidato do PT a prefeito de Campos. Agora, ele talvez só venha se ela puder e também o fizer por outra legenda. Já houve conversa entre Carla e a estadual do PV, aliado do PT na Federação que elegeu Lula presidente. Articuladores dos Bacellar também já especularam que as chances de Jefferson numa Campos bolsonarista seriam maiores fora do PT. Mas, diferente de Carla, o reitor do IFF não mudaria de partido para tentar ser prefeito.

 

Da esquerda à extrema-direita

Mesmo que Carla possa ser candidata e consiga concorrer fora do PT, deixando este para Jefferson, o esforço dos Bacellar não se resume à esquerda. No objetivo de pulverizar os votos a prefeito para tentar diminuir a grande vantagem de Wladimir nas intenções de voto nestes 11 meses que os separam da urna, uma candidatura de extrema-direita também está na estratégia. Neste sentido, uma nota na mídia carioca tentou até lançar a prefeito de Campos o deputado estadual bolsonarista Filippe Poubel (PL). Que é político de Maricá.

 

Governo Wladimir deve explicação

Lançado como blefe a quem conheça algo da política goitacá, ou saiba que Maricá não é SJB, Poubel esteve em Campos na sexta (20). Veio com os colegas Rodrigo Amorim (PTB) e Alan Lopes (PL), todos aliados de Bacellar na Alerj. Armaram um circo patético, no jogo de cartas marcadas com a oposição local. Só trouxeram um ás na manga: buscaram no Hospital Geral de Guarus (HGG) um médico, residente na Bahia, que “empresta o nome para outra pessoa trabalhar”. Não deve mudar a aprovação de Wladimir. Mas seu governo deve explicações.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Atualizado às 10h15 para correção de informação.

 

Legado, Wladimir, Bacellar e eleição no Folha no Ar desta 4ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Advogado, presidente da Câmara Júnior e da Juventude do PDT em Campos, além de assessor da secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico, Alonso Barbosa é o entrevistado do Folha no Ar desta quarta (25), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará do legado político do seu pai, o ex-vereador Renato Barbosa (PT), morto em 23 de setembro de 2009, e da sua atual gestão na Câmara Júnior de Campos.

Alonso também analisará o governo Wladimir Garotinho (PP), que integra, o ruidoso fim da pacificação com os Bacellar (confira aqui e aqui) e os limites éticos do decoro (confira aqui) na política goitacá. Por fim, com base nas pesquisas (confira aqui), ele tentará projetar as eleições a prefeito e vereador de Campos, em 6 de outubro de 2024, daqui a pouco mais de 11 meses.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.