Felipe Fernandes — Napoleão naufraga em sua condução

 

 

 

Felipe Fernandes, filmmaker publicitário e crítico de cinema

Por Felipe Fernandes

 

Estrategista, conquistador, cônsul, imperador. Napoleão Bonaparte é uma das figuras históricas mais famosas, mas é como general que ele é constantemente lembrado, muito por suas estratégias e vitórias, que o fizeram posteriormente Imperador da França. O cinema é responsável por parte dessa fama. São vários os filmes que direta ou indiretamente abordam a vida de Napoleão, passando inclusive por uma lendária produção que Stanley Kubrick nunca conseguiu tirar do papel.

Agora, chega aos cinemas Napoleão, cinebiografia do líder francês, dirigido por Ridley Scott e que traz o vencedor do Oscar Joaquin Phoenix encarnando o protagonista, em um longa grandioso, que busca um olhar diferente para o personagem e abordar diversos segmentos de sua intensa e controversa história.

O roteiro de David Scarpa traz um recorte de Napoleão planejando sua ofensiva contra o cerco inglês em Toulon, vitória que lhe rendeu o título de general, até o fim de sua vida no exílio. Cronologicamente não é muito tempo, mas dada a intensidade de sua história, o roteiro tenta lidar com muita coisa, usando como foco principal a relação de Bonaparte com sua primeira esposa, Josephine.

Utilizando como base as cartas do protagonista para a Imperatriz, o longa busca construir o personagem por meio de sua intimidade com sua esposa, uma proposta até ousada, mas que não funciona. A química entre Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby não existe e o longa dispensa muito de seu tempo em um romance conturbado, que não cativa e não agrega muito à história, deixando em segundo plano questões políticas e até mesmo militares, espaço onde Napoleão fez sua fama.

Quando não se utiliza de cartelas para estabelecer seu contexto e período histórico, uma escolha preguiçosa e pouco elegante, o filme faz uso de diálogos expositivos para estabelecer a questão temporal. Nesse sentido, o filme é realmente uma bagunça. A montagem é problemática, algumas cenas parecem jogadas e passam a sensação de terem sido cortadas ao meio. Essa sensação é muito forte nas cenas no Egito, um período muito mal explorado pelo filme.

Ridley Scott já anunciou uma versão de 4 horas que vai sair direto no streaming da Apple. Uma decisão recorrente na carreira do diretor, mas que ao ser anunciada na mesmo na época de seu lançamento nos cinemas, certamente vai prejudicar a bilheteria do próprio filme e principalmente, vai contra todo o movimento que Hollywood vêm fazendo para que o público retorne aos cinemas. Talvez essa “versão do diretor” corrija muito dos problemas de montagem do longa e consiga abordar melhor questões que ficaram em segundo plano no corte para os cinemas,

A fotografia do polonês Dariusz Wolski (parceiro habitual de Scott) traz várias cenas bem escuras e trabalha cores saturadas, tirando a vivacidade e criando um aspecto desgastado que é eficiente em ressaltar a miséria do período, mas se torna esteticamente pobre. O design de produção é muito rico, repleto de detalhes que reproduzem de forma impressionante a época retratada.

O filme retrata cinco batalhas, que englobam o período histórico abordado dentro da narrativa. As cenas, apesar de serem razoavelmente curtas (com exceção do clímax), são o ponto alto da produção. A primeira delas traz inclusive um Napoleão inseguro, nervoso, uma escolha interessante que humaniza o personagem e contrasta com a imagem prévia que o espectador têm de um comandante seguro e implacável. Ao contrário do restante do longa, as batalhas são intensas e surpreendentemente violentas. Com um bom ritmo e bem dirigidas, as sequências no campo de batalha acabam por se provar um pouco do que poderia ter sido o longa.

Napoleão de Ridley Scott é uma cinebiografia que peca por sua abordagem, não conseguindo construir um personagem complexo e interessante, fugindo dos principais temas da história do protagonista. Ao usar a relação do protagonista com a Imperatriz como base, o filme busca um olhar diferente sobre uma figura conhecida, uma decisão que faz sentido, mas que naufraga em sua condução.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Subjetivo e objetivo na ação da PF na casa dos Garotinho

 

Rosinha e Garotinho após operação da PF de terça na casa mais famosa da Lapa (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

PF na casa da Lapa

O dia de ontem amanheceu movimentado em Campos (confira aqui e aqui) com a operação Rebote, da Polícia Federal (PF), na casa mais famosa da Lapa. O motivo foi uma suposta fraude na PreviCampos em 2016, durante o governo da ex-prefeita Rosinha Garotinho (hoje, União), que teria deixado um rombo de cerca de R$ 383 milhões. Ao todo, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão, 12 deles em Campos, a casa de Rosinha entre eles. Não foi a primeira operação policial em Campos relativa ao caso. Em 12 de abril de 2018, na operação Encilhamento, a PF já tinha cumprido (relembre aqui) mandado de busca e apreensão na sede da PreviCampos.

 

Garotinho e Rosinha em live

Após a saída da PF da casa da Lapa, o ex-governador Anthony Garotinho (União) e Rosinha gravaram lá uma live, divulgada em suas redes sociais. “Houve hoje, em nossa residência, um mandado de busca e apreensão, cujo objetivo era recolher algum tipo de documento, qualquer tipo de prova que tentasse envolver Rosinha numa apuração” disse Garotinho. Para perguntar e responder a si mesmo: “Quem é o autor dessa denúncia, feita em 2017? É o ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania). E qual denúncia ele fez: houve uma fraude, um rombo, no Fundo de Previdência (dos Servidores Municipais de Campos, PreviCampos)”.

 

 

Versão da defesa

Depois, Garotinho passou a questionar na live a suposta responsabilização jurídica de Rosinha nos fatos. Mas isso se explica melhor no que o advogado Rafael Faria disse em defesa da ex-prefeita: “Os supostos fatos que ‘justificaramֹ’ a busca e apreensão na casa de Rosinha teriam ocorridos cerca de 10 anos atrás. A única explicação ao que aconteceu na Lapa foi criar um constrangimento à família, pois o fato é completamente atemporal. Não queremos acreditar que seja retaliação ou intimidação política. A única questão imputada à ex-prefeita é ela ter indicado pessoas sem qualificação técnica para a diretoria e o conselho da PreviCampos”.

 

Rafael Diniz como Geni

De volta à live, Rosinha aproveita a deixa de Garotinho: “E logo quem que fez a denúncia? Um ex-prefeito que desmoralizou a cidade, foi o pior prefeito que Campos teve, que deixou pagamentos atrasados, o senhor Rafael Diniz”, disse a ex-prefeita. É fato que Rafael deixou ao governo Wladimir (hoje, PL), filho de Rosinha e Garotinho, duas folhas de pagamento do servidor atrasadas. E que, ao juízo soberano do mesmo eleitor que elegeu Rafael à Prefeitura de Campos em 2016, ainda no 1º turno, com 151.462 votos, ele foi um prefeito ruim. Na tentativa de se reeleger em 2020, teve só 13.530 votos. Perdeu em quatro anos quase 138 mil votos.

 

O que é subjetivo e objetivo?

Dizer que Rafael foi o pior prefeito de Campos é, no entanto, subjetivo. Aos Garotinhos, esse posto sempre foi ocupado pelo prefeito que sucederam, mesmo os que ajudaram a eleger: Sérgio Mendes, Arnaldo Vianna, Alexandre Mocaiber. Ademais, por pior prefeito que Rafael tenha sido, isso não invalida sua denúncia. Questionar a responsabilidade de Rosinha, também subjetiva, é válido. O que não dá para negar é a perda objetiva, no apagar das luzes do governo dela, dos investimentos da PreviCampos. Que, em 31 de dezembro de 2015, tinha investimentos de R$ 1,3 bilhão. E despencou, em 31 de dezembro de 2016, a R$ 804 milhões.

 

(Arte: IFF)

 

Stefania Chiarelli, professora da UFF-Niterói

Década de Letras no IFF

Aberta no dia 7, a programação pelos 10 anos do curso de Letras do IFF traz hoje a palestra “Partilhar a língua: apontamentos sobre a literatura brasileira contemporânea”, da professora Stefania Chiarelli, da UFF. Começa às 19h, no auditório Miguel Ramalho. “Abordará a produção literária do Brasil nos últimos tempos, com uma perspectiva crítica a todos os interessados nas questões literárias”, definiu o professor Ronaldo Freitas, coordenador do curso de Letras do IFF. Cujas comemorações se encerram amanhã, com a mesa “Essa história é só o começo: Apontamentos e desafios para o profissional de Letras 10 anos depois”, a partir das 18h.

 

Canudos da Folha à Harvard

Em 2002, após expedição a Canudos, no sertão da Bahia, a Folha publicou um caderno especial sobre os 100 anos de “Os Sertões”. A obra de Euclides da Cunha narra a Guerra de Canudos (1896/1897), testemunhada por ele. Um dos personagens do caderno foi o sertanejo Paullo de Régis, então com 14 anos, descendente dos personagens do livro e residente do Parque Histórico de Canudos. Hoje, aos 35, ele lá trabalha. E teve sua história e do seu povo também contada este mês pela Universidade de Harvard, dos EUA, em publicação sobre a América Latina. O texto (confira aqui) é da brasileira Anita Rivera Guerra, doutoranda em Português e Espanhol em Harvard.

 

Arte da baixaria

Um artista veterano da cidade se torna parceiro de um artista jovem de município vizinho, após este convidar aquele a participar de um show. O jovem leva de “paga” do veterano uma boquinha na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL). Até que o jovem alega que a “parceria artística” foi longe demais. E, com receio de perder a boca, abre a sua: a ex-esposa teria sido assediada pelo veterano dentro do Palácio da Cultura. Mesmo antes deste ser reaberto ao respeitável público. Como arte nem sempre rima com caráter, não há certeza. Só duas. Além da tremenda baixaria, que a FCJOL precisa ter mais critério com quem emprega sem concurso.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Em Campos, Napoleão de Ridley Scott entre arte e entretenimento

 

 

“Se eles são famosos, sou Napoleão”. É um conhecido verso da música “Balada do Louco”, composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee, na época dos Mutantes. Interessante registrar que a fama de Napoleão Bonaparte ainda seja tão forte e controversa, 208 anos após sua derrota militar definitiva na Batalha de Waterloo, em 1815. E que seu nome seja sempre mais lembrado como general do que como o cônsul da França, depois Imperador, que legou ao mundo os Códigos Napoleônicos, presentes ao cotidiano de todos como base do Direito Civil.

Ainda que a primeira exibição de cinema tenha se dado, pelos irmãos Louis e Auguste Lumiére, na França de 1895, só 74 anos após a morte de Napoleão exilado na ilha britânica de Santa Helena, a sétima arte também investiu desde sempre para ampliar a fama militar do vulto histórico. Foi assim desde o clássico do cinema mudo “Napoleón” (1927), dirigido pelo francês Abel Gance, com 5h21 de duração. E continua assim nas 2h38 do “Napoleão” dirigido pelo inglês Ridley Scott. Que estrou nas telas de Campos e do Brasil na última quinta (23).

Se, com 81 anos completos no último dia 17, o cineasta ítalo-estadunidense Martin Scorsese impressionou pela excelência técnica do seu filme mais recente, “Assassinos da Lua das Flores”, Ridley Scott também impressiona pelo domínio do fazer cinema que ainda exibe aos 85 anos — 86 daqui a cinco dias. Não é o ator estadunidense Joachin Phoenix, que interpreta um Napoleão inseguro e com quem Scott já havia trabalhado em “Gladiador” (2000), o grande protagonista do filme. É o seu diretor, estrategista tão meticuloso quanto a personagem.

As cenas de batalha, no cerco à cidade francesa de Toulon dominada pelos britânicos, nas campanhas napoleônicas do Egito e da Rússia, ou nas batalhas de Waterloo e de Austerlitz, são todas feitas para serem assistidas em tela grande. Mas, mesmo a quem é capaz de reduzir toda a artesania do cinema a uma tela de smartphone — onde trabalhos como a esmerada direção de fotografia do polonês Dariusz Wolski simplesmente desaparecem —, o efeito deve ser o mesmo: olhos vidrados à imagem enquanto o corpo cola à poltrona.

Sequência mais eletrizante do filme, as cenas finais da batalha de Austerlitz, com os soldados austríacos e russos conduzidos como ratos pela tática felina de Napoleão, até afundarem em meio ao fluxo de sangue na água de um lago congelado e liquefeito pelo canhoneio francês, não devem nada às cenas iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), de Steven Spielberg. Que retrata o desembarque aliado na praia de Omaha, na Normandia do Dia D, dominada por nazistas nas casamatas de 1944 elevadas como a artilharia francesa de 1805.

Para tentar humanizar a personagem para além das cenas épicas em que Scott sempre foi mestre, o roteiro do estadunidense David Scarpa — que também trabalha com o diretor inglês em “Gladiador 2”, em fase adiantada de produção — investe na relação de Napoleão com a sua primeira esposa e imperatriz, Josephine. Que está muito bem, obrigada, na pele da atriz britânica Vanessa Kirby, mais conhecida no Brasil pelo papel da princesa Margareth jovem na popular série The Crown, da Netflix.

A relação infiel, abusiva, complexa e intensa de Napoleão e Josephine, de mão dupla entre os papéis de dominador e dominado, é uma marcha lenta engatada entre a vertigem das cenas de batalha. Mas também pode ser considerada um anticlímax à especialidade de Scott. É uma aposta. Como foi no passado a do diretor alemão radicado nos EUA Henry Coster em “Desirée, o Amor de Napoleão” (1954), com a atriz inglesa Jean Simmons no papel título, trocada pela frívola aristocrata Josephine (Merle Oberon) por um Napoleão vivido por Marlon Brando.

O Napoleão de Phoenix, sempre oscilando entre a grandeza e a insegurança, lembra mais a composição que outro grande ator estadunidense do passado, Rod Steiger, deu à mesma personagem no filme “Waterloo” (1970). Que, dirigido pelo soviético (hoje, seria ucraniano) Sergei Bondarchuk, é ainda o melhor filme para se conhecer a batalha final do Imperador da França de ascendência italiana, nascido na ilha mediterrânea da Córsega.

Quem julga filme dublado um aborto e cinema uma expressão de arte, irá encontrá-la no “Napoleão” de Ridley Scott. Mesmo aquele que, conhecendo o todo da sua obra, continue a considerar seu primeiro filme, “Os Duelistas” (1977), o melhor que ele já produziu sobre as guerras napoleônicas. Quem julga cinema só como entretenimento e prefere filme dublado, mesmo sem ser analfabeto, também pode gostar. Essa conexão com os dois tipos de espectador talvez seja a grande virtude do diretor.

Na França de hoje, 202 anos após a morte de Napoleão, o jornal Le Figaro disse que “Napoleão” poderia ser renomeado como “Barbie e Ken sob o Império”. Enquanto um biógrafo de Bonaparte, Patrice Gueniffey, disse à revista Le Point que o filme é uma versão “muito anti-francesa e muito pró-britânica” da história. O que não deixa de se acentuar pelo final do épico dirigido por um britânico, onde a cifra de 3 milhões de mortos das guerras napoleônicas é o “The End”. “Os franceses não gostam nem de si mesmos”, respondeu Scott às críticas.

Que venha “Gladiador 2”!

 

Capa da Folha Dois de hoje

 

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Da América do Sul ao mundo, não há coincidência no futebol

 

Em escanteio gerado após a zaga brasileira rebater a única conclusão a gol de Messi no Maracanã de terça, o zagueiro Otamendi ganha o lance pelo alto de André e Gabriel Guimarães para selar a terceira derrota do Brasil seguida nas Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo, marca inédita em 69 anos

Histórico é um adjetivo muitas vezes usado de maneira fútil. Não raro por quem supõe, justamente por ignorar a História, que esta só passou a existir a partir do seu próprio nascimento ou sua suposta tomada de consciência de determinado assunto.

O futebol é um assunto que sempre envolverá paixão. Vale a ele, mais que talvez a qualquer outro esporte, a ressalva do romântico dos EUA Edgar Alan Poe à poesia: “Se não emocionar, não é nada”. Lógico que a poesia também tem que ser muito mais. Como o futebol.

O Brasil disputa as Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo desde a de 1954, na Suíça. E, 69 anos depois, nunca tinha perdido nenhum jogo para a Colômbia, nenhum jogo dentro de casa e nunca duas vezes seguidas. Tudo isso caiu em 2023. Quando, depois da terça (21) contra a Argentina, no Maracanã, o “melhor futebol do mundo” contabilizou sua inédita terceira derrota seguida no quintal do próprio continente.

Essas marcas não foram feitas ou perdidas, nem seu vazio ainda mais alargado, por obra do acaso. Nada que se mantém por 69 anos, para virar fumaça em apenas 39 dias, é aleatório.

Antes de ampliar sua série de três derrotas nas Eliminatórias, o Brasil já tinha perdido por contusão seus dois principais jogadores: Neymar e Vini Jr. O primeiro, no 0 a 2 Uruguai de 17 de outubro; o segundo, no 1 a 2 Colômbia de 16 de novembro.

Neymar e Vini Jr. são atacantes. Mas não centroavantes. Escalado na posição por Fernando Diniz contra a Argentina, Gabriel Jesus pareceu atrasado ao admitir após a derrota: “Gol não é meu ponto forte”. Quem o viu escalado por Tite como centroavante titular em todos os cinco jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, sem marcar um gol sequer, já sabia disso há cinco anos.

A verdade é que desde a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno, em 2011, o Brasil não tem um centroavante que inspire confiança. Se tivesse contra a Argentina, teria vencido o jogo em que criou as duas chances mais claras de gol, mas não teve competência para definir.

Antes da Copa do Mundo de futebol ser criada, no Uruguai de 1930, o Brasil teve sua primeira grande conquista internacional no Sul-Americano de Futebol que sediou em 1919. Que teve como craque e artilheiro Arthur Friendereich, apelidado ali de “El Tigre”, com 4 gols.

Na Copa do Mundo de 1938, na França, o Brasil ficou em 3º lugar e deu o artilheiro da competição: Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, com 8 gols. Com a Copa do Mundo interrompida durante a II Guerra (1939/1945), coube ao centroavante Heleno de Freitas, o “Gilda”, ser o artilheiro do Sul-Americano de 1945, com 6 gols.

Com a volta da Copa do Mundo em 1950, o Brasil a sediou e perdeu a final para o Uruguai, de virada, por 1 a 2, dentro do Maracanã. Ainda assim, voltou a dar o artilheiro da competição: o centroavante Ademir Menezes, o “Queixada”, com 9 gols.

Nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, no Bicampeonato do Brasil na Suécia e no Chile, o centroavante Vavá, o “Peito de Aço”, ficou atrás do francês Just Fontaine e de Pelé na artilharia da primeira. E empatado com Mané Garrincha e outros como goleador da segunda. Nas duas, Vavá marcou 9 gols.

No Tri do Brasil em 1970, no México, embora não fosse propriamente um centroavante e tenha ficado atrás do alemão Gerd Müller na artilharia, Jairzinho marcou 7 gols. O “Furacão” é, até hoje, o único jogador a ter marcado gols em todos os jogos de uma Copa do Mundo.

Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o centroavante Roberto Dinamite ficou atrás do argentino Mario Kempes e de outros na artilharia, mas marcou 3 gols. Na Copa do Mundo de 1982, Zico nunca foi centroavante e ficou atrás do italiano Paolo Rossi e do alemão Karl-Heinz Rummenigge como artilheiro. Mas o “Galinho” fez o grito de gol cantar 4 vezes na garganta.

Nas Copas do Mundo de 1986 e 1990, respectivamente, no México e na Itália, o centroavante Careca ficou atrás do inglês Gary Lineker na primeira, e do italiano Totò Schillaci e de outros na segunda. Mas o brasileiro anotou nas duas 7 gols.

Na Copa de 1994, nos EUA, o centroavante Romário não foi o maior goleador, como disse que seria. Ficou atrás do búlgaro Hristo Stoichkov e do russo Oleg Salenko, e empatado com alguns outros na artilharia. Mas os 5 gols do “Baixinho” foram fundamentais para que ele cumprisse outras promessas mais importantes: ser campeão e craque daquele Mundial.

Do momento em que Friendereich marcou seu nome em 1919, ao que Ronaldo pendurou as chuteiras em 2011, foram 92 anos em que o Brasil produziu, sempre com renovação, alguns dos maiores artilheiros da história do futebol. Em dimensão continental e mundial. Não de campeonatos cariocas, paulistas ou brasileiros. Como este Brasileirão, que tem no veterano Luisito Suárez, do Internacional, seu melhor centroavante. E, hoje, é só banco do Uruguai.

Do plano coletivo ao individual, é autoexplicativa a decadência do futebol brasileiro. Que, ainda assim, jogou melhor que a Argentina na terça. O que pôde ser constatado até por quem estava lá para testemunhar Lionel Messi em seu último jogo oficial no Maracanã.

O único oito vezes Bola de Ouro como melhor jogador da Terra não reeditou a poesia da Copa do Mundo que conquistou em 2022, no Qatar, à Argentina. Mas, após sua única conclusão contra a meta brasileira ser desviada pela zaga, Messi gerou a cobrança de escanteio ao gol de cabeça do zagueiro Otamendi. Que fechou o placar e ampliou à História a escrita do Brasil.

Da América do Sul ao mundo, nunca houve coincidência no futebol.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Comunismo e Jefferson ou Carla no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Presidente do PCdoB em Campos e graduando de geografia da UFF, Maycon Maciel é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar nesta sexta (24), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Em meio a tantas fake news sobre o tema, ele tentará explicar o que é, de fato, o comunismo no Brasil.

Maycon também analisará os governos Lula 3 (PT), Cláudio Castro (PL) e Wladimir Garotinho (PP). E falará da aliança do PCdoB com o PT dividido entre o professor Jefferson Azevedo e a deputada estadual Carla Machado a prefeito de Campos, como da noninata do seu partido para 2024.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Futebol entra em campo no Folha no Ar desta quinta

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Com o radialista Cláudio Nogueira e os jornalistas Matheus Berriel e Aluysio Abreu Barbosa, o futebol entra em campo no Folha no Ar desta quinta (22), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3.

Matheus, Cláudio e Aluysio analisarão os desempenhos de Fluminense, Botafogo, Flamengo e Vasco durante o ano e na reta final do Brasileirão. Por fim, os três falarão do Brasil do treinador Fernando Diniz nas Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo de 2026. Em que foi derrotado pela Argentina do craque Lionel Messi, dentro do Maracanã, na noite de terça (21).

Quem quiser participar do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Milei presidente da Argentina no Folha no Ar desta terça

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Historiador, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e especialista de História da América Latina, Alberto Aggio é o convidado do Folha no Ar desta terça (21), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará as causas e possíveis consequências da eleição do anarcocapitalista Javier Milei a presidente da Argentina, no segundo turno do último domingo (19).

Aggio também analisará os 11 primeiros meses do governo Lula 3. E, por fim, falará da guerra de Israel, por enquanto, com o Hamas, na Faixa de Gaza. Quem quiser participar do Folha no Ar desta terça pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Porque hoje é sábado e na terça tem a Argentina de Messi

 

Messi encara a Copa do Mundo após a final de 2014, quando a Argentina foi derrotada para a Alemanha dentro do Maracanã, que o craque admitiu recentemente ter sido a grande frustração da sua carreira

 

“Hoje é sábado, amanhã é domingo”. É o primeiro verso de “O dia da criação”, escrito em 1946 pelo poeta, compositor, diplomata, boêmio e botafoguense Vinicius de Moraes. “Porque hoje é sábado” repete várias vezes como refrão do poema, em chamado e resposta a outros versos. E porque hoje é sábado, última edição da Folha da Manhã antes da seguinte de quarta (22), é a última chance de falar em papel impresso do Brasil e Argentina de terça (21), pelas Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo de 2026, antes do apito inicial no Maracanã

Não será um Brasil e Argentina qualquer. Será, talvez, o último tango de Lionel Messi no maior estádio de futebol do mundo, em jogo oficial do maior clássico da América do Sul. Se muito se debate quem foi melhor entre Messi e Diego Maradona, nenhum brasileiro, mesmo tendo Pelé acima dos dois argentinos, poderá discordar: por mais brilhante que tenha sido, Maradona nunca levou tantos brasileiros a torcer pela Argentina como faz Messi. De fato, muitos deles irão ao Maracanã no sábado não para ver o Brasil, mas para testemunhar Messi jogar.

Há, no entanto, muitos motivos para se torcer pelo Brasil. Que é hoje o 5º colocado nas Eliminatórias da América do Sul, atrás até da Venezuela. E só não é o 6º porque o Equador iniciou a disputa continental por uma vaga à Copa do Mundo de 2026 com -3 pontos. A punição foi imposta pela Fifa pela utilização de um jogador em condição irregular nas Eliminatórias à Copa de 2022, no Qatar.

Nas Eliminatórias à próxima Copa, que será sediada no México, EUA e Canadá, o Brasil vem reescrevendo para pior sua própria história. Nunca havia perdido um jogo de Eliminatórias para a Colômbia. E perdeu o último na noite de quinta (16), de virada, por 1 a 2, com dois gols do atacante Luis Díaz. Cujo pai havia sido sequestrado, liberto e quase passou mal de tanto que comemorou a façanha do filho nas arquibancadas de Barranquila.

Não bastasse, após a derrota no jogo anterior, de 0 a 2 para o Uruguai, em 17 de outubro, foi a segunda derrota brasileira seguida nas Eliminatórias da América do Sul. Desde que a Conmebol passou a organizar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1954, na Suíça, foi a primeira vez que o Brasil perdeu dois jogos seguidos no torneio classificatório. Como, até a Colômbia na quinta, foram duas marcas que o futebol brasileiro manteve por 69 anos, não é pouca coisa.

Resta ainda uma estatística favorável que o Brasil tentará manter na América do Sul, diante da Argentina de Messi: o único país com cinco Copas do Mundo conquistadas nunca perdeu um jogo de Eliminatórias dentro de casa. E a casa em questão, mais conhecida como Maracanã, é o estádio Jornalista Mário Filho. Em homenagem ao irmão do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues que escreveu “O Negro no Futebol Brasileiro”, ainda necessário a quem quiser reconhecer o futebol no Brasil como muito mais que um mero esporte.

Na Miami de 29 de setembro, um dia antes de Messi ganhar sua oitava Bola de Ouro como melhor do mundo, a Adidas promoveu um bate-papo entre o argentino e o ex-craque francês de origem argelina, hoje técnico, Zinédine Zidane. Onde Messi admitiu que a maior frustração da sua carreira vitoriosa é a derrota de 0 a 1 para a Alemanha de Bastian Schweinsteiger. Foi na final da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, dentro do Maracanã. O argentino pode ter contas pessoais a acertar no maior estádio do mundo. E sua última chance de tentar fazê-lo.

Na mesma quinta em que o Brasil perdeu sua invencibilidade histórica para a Colômbia nas Eliminatórias, a Argentina também perdeu em plena La Bombonera, mítico estádio do Boca Juniors, seu primeiro jogo desde o tropeço da derrota contra a Arábia Saudita na estreia da Copa do Mundo de 2022 que conquistaria. A vitória de 2 a 0 do Uruguai, além das virtudes de jovens jogadores como o zagueiro Ronald Araújo e o atacante Darwin Núñez, autores dos gols e ambos com 24 anos, se deve ao seu treinador argentino, Marcelo “El Loco” Bielsa.

Só um louco poderia supor, apenas alguns anos atrás, que o Uruguai venceria a Argentina dentro da Argentina, deixando no banco os melhores camisas 10 e 9 do futebol brasileiro. Mas foi assim na quinta, quando, respectivamente, os uruguaios De Arrascaeta (Flamengo) e Luisito Suárez (Internacional) assistiram do banco de reservas à vitória merecida da sua seleção. Bielsa encarnou a ressalva sobre Hamlet: “parece loucura, mas há método”. E faz do Uruguai, após bater Brasil e Argentina em sequência, uma força novamente temida no continente.

Além do banco de reservas do Uruguai, o futebol do Brasil vive outras contradições. Tem no técnico Fernando Diniz uma unanimidade no Fluminense, que conduziu ao título inédito da Libertadores em trabalho autoral. Mas que, na tentativa de resgatar no Brasil uma filosofia de jogo que já foi sua, é unanimemente questionado pelos péssimos resultados. Se não está “preocupado com resultados”, como bravateou após perder para a Colômbia, não deveria ter assumido a Seleção Brasileira. Onde só esquenta lugar ao treinador italiano Carlo Ancelotti.

Sem Neymar e Vini Jr., respectivamente, lesionados contra o Uruguai e a Colômbia, o Brasil vai encarar a Argentina de Messi sem seus dois principais jogadores. Se perder a terceira seguida nas Eliminatórias, continuará a rasgar as melhores marcas do futebol que ainda ufana ser “o melhor do mundo”. Mas não consegue se afirmar nem no próprio continente. E se ganhar da campeã do mundo, contra o melhor jogador do mundo, os “idiotas da objetividade” de Nelson, irmão de Mário, inflarão o peito de pombo para arrulhar: “Comigo ninguém pode no futebol”.

 

“Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo

E para não ficar com as vastas mãos abanando

Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança

Possivelmente, isto é, muito provavelmente

Porque era sábado”

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.