Ícaro Barbosa na mesa da redação da Folha e ofício que herdou do avô, o jornalista Aluysio Barbosa (Foto: Genilson Pessanha/Folha da Manhã)
Dois mil e vinte e três foi um ano muito difícil. À Folha da Manhã, aos seus leitores e a toda Campos — como qualquer tribo que perde um jovem muito promissor — marcou a morte do jornalista Ícaro Paes Pasco Abreu Barbosa, com apenas 23 anos, na noite de 13 de maio.
Como foi na morte do seu avô paterno, o jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, em 15 de agosto de 2012, aos 76 anos, Ícaro marcou por ser querido. Não apenas pela família, amigos e colegas de trabalho, mas por suas fontes e a comunidade que buscou dar voz através da Folha. Cuja transição à era digital ele passou a liderar desde 2021, como diretor de redes sociais do jornal.
Aluysio e Ícaro representam três gerações destes 45 anos da Folha da Manhã, 46 no próximo dia 8 de janeiro. Neste quase meio século, a retrospectiva de Campos e do Norte Fluminense se conta através das páginas deste jornal. Que, órfão de ambos, chega ao ano eleitoral de 2024 com a missão de manter vivo o legado de jornalismo profissional de um avô e seu neto.
Capa da Retrospectiva de 2023 publicada hoje na Folha da Manhã
Wladimir Garotinho e Carla Caputi, favoritos em todas as pesquisas de 2023 à reeleição em 2024 como prefeitos, respectivamente, de Campos e São João da Barra (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
“Não acredito em pesquisas. Eleição é na urna”. Desde a eleição presidencial de 1989, primeira pelo voto popular após a ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985, são as frases mais repetidas por 10 em cada 10 candidatos atrás nas pesquisas. Todos derrotados nas urnas. Como pela minoria dos seus eleitores. Recentemente, foi o que aconteceu com os bolsonaristas. Que, das suas bolhas, negaram todas as pesquisas da eleição presidencial de 2022 que projetavam a vitória de Lula. E agora testemunham, entre 2023 e 2024, o final do primeiro ano do governo Lula 3.
Como projetaram todas as pesquisas eleitorais de 2022, Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto para tomar posse pela terceira vez como presidente do Brasil, em 1º de janeiro de 2023 (Foto: Tânia Rego/Agência Brasil)
Wladimir e Caputi mais favoritos que Lula — Ainda com mais vantagem do que Lula tinha e confirmou em 2022, os prefeitos Wladimir Garotinho (PP) e Carla Caputi (sem partido) são os grandes favoritos em todas as pesquisas de 2023 às urnas de 2024. Respectivamente, em Campos e São João da Barra (SJB). À espera das próximas pesquisas e da consumação do pleito em 6 de outubro, daqui a pouco mais de 9 meses. Dá para gerar um novo ser humano. Mas, como é a política humana, vale também a sábia ressalva do falecido ex-vice-presidente conservador Marco Maciel: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”.
Wladimir no primeiro turno? — Nas três pesquisas divulgadas, após serem analisadas na íntegra pela Folha, Wladimir sai de 2023 em curva ascendente. Na consulta estimulada, com apresentação dos nomes dos possíveis candidatos, ele saiu de 50,4% de intenções de voto na GPP feita entre 10 e 12 de março, passou a 55,4% na Iguape realizada em 10 de julho e chegou a 66,8% na Prefab Future colhida entre 29 e 30 de agosto.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Reforço e ressalva — Como a Iguape de julho em Campos foi encomendada pelo grupo do presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (União), não há melhor teflon aos seus números e à possibilidade de Wladimir liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Como cabe questionamento à Prefab, por ter usado um universo de campistas diferente do IBGE, aumentando o percentual de eleitores de 0 a 2 salários mínimos e evangélicos, em tese, mais favoráveis aos Garotinhos.
Caputi mais favorita que Wladimir — Única pesquisa divulgada de São João da Barra, após ser também analisada na íntegra pela Folha, a Iguape foi realizada entre 21 e 23 de outubro. E deu a Caputi uma vantagem ainda maior que a de Wladimir em Campos. Nos três cenários da consulta estimulada, ela ficou entre 72,2% e 72,9% das intenções. Como, diferente de Campos, os sanjoanenses têm menos de 200 mil eleitores, não há segundo turno. Mas, mesmo se houvesse, tudo até aqui indica que a fatura também seria liquidada em turno único.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Intenção de voto consolidada — A consulta espontânea, sem apresentação dos nomes dos candidatos, onde o eleitor fala ao pesquisador o que já definiu em sua consciência, portanto com pouca chance de mudar, evidencia como as lideranças de Wladimir e Caputi são consistentes. O prefeito de Campos teve 38,6% de intenção de voto consolidada na GPP de março, 27,8% na Iguape de julho e 48,8% na Prefab Future de agosto.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Em SJB — Por sua vez, a prefeita de SJB bateu 44,6% de intenção de voto consolidada na consulta espontânea da Iguape de outubro.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Aprovação do governo — A grande vantagem de Wladimir e Caputi é proporcional à aprovação popular majoritária aos seus governos. O de Campos foi considerado na GPP de março como ótimo e bom por 55,5%, com 34,8% de regular e ruim e péssimo para apenas 8,8%. Na diferença de metodologias, foi aprovado na Iguape de julho por 74,7% (entre 12,6% de ótimo, 38,5% de bom e 23,6% de regular positivo) e reprovado por 22% (entre 9,7% de regular negativo, 6,2% de ruim e 6,1% de péssimo). Já na Prefab, 77% dos campistas responderam “sim” à pergunta “Você aprova o governo Wladimir Garotinho?”, com 12,8% de “não” e 9,3% que não souberam responder.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Em SJB — Como ocorre nas intenções de voto, a aprovação popular ao governo Caputi em SJB consegue ser ainda maior do que a de Wladimir em Campos. A gestão da prefeita foi aprovada na Iguape de outubro por 86% dos sanjoanenses (entre 27,6% de ótimo, 46,3% de bom e 12,1% de regular positivo), sendo reprovada por apenas 11,3% (entre 4,8% de regular negativo, 3,8% de ruim, 2,7% de péssimo), com outros 3% que não souberam responder.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Caio Vianna distante em Campos — Os possíveis concorrentes mais próximos de Wladimir e Caputi estão distantes. E, nas idas e vindas da política, podem revelar inversões entre os dois municípios. O deputado federal Caio Vianna (PSD) apareceu em 2º lugar em todas as três pesquisas de 2023 a prefeito de Campos. Na consulta estimulada, Caio teve 18,1% na GPP de março (32,3 pontos atrás de Wladimir), 8,6% na Iguape de julho (46,8 pontos atrás de Wladimir) e os mesmo 8,6% na Prefab de agosto (68,2 pontos atrás de Wladimir).
Elísio Rodrigues distante em SJB — Na Iguape de outubro em SJB, quem apareceu como 2º colocado em dois dos três cenários da consulta estimulada foi o vereador de oposição Elísio Rodrigues (PL). Ele teve 6,8% de intenções de voto (65,4 pontos atrás de Caputi) no cenário com o secretário estadual de Habitação Bruno Dauaire (União) na disputa. Que, após a pesquisa, declarou à Folha que não é pré-candidato a prefeito. Sem Bruno, antigo aliado de Wladimir, Elísio ficou com 7,6% (65,3 pontos atrás de Caputi).
Caio a prefeito de SJB? — Com Bruno fora, Caio passou a ser especulado como candidato a prefeito de São João da Barra. Não por coincidência, foi após sua aproximação recente com Wladimir, com quem disputou um segundo turno duríssimo a prefeito de Campos em 2020. Para sondar essa possibilidade de Caio em SJB em 2024, uma pesquisa qualitativa andou sendo feita reservadamente, em um quarto do tradicional Hotel Cassino, em Atafona.
Carla Machado a prefeita de Campos? — O movimento costurado por Wladimir com Caio, através do prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, presidente estadual do PSD do deputado federal cujo mandato controla, foi uma resposta à aproximação entre os deputados estaduais Rodrigo Bacellar e Carla Machado (PT). Esta mudou seu domicílio eleitoral de SJB a Campos em 5 de outubro para se lançar pré-candidata a prefeita dos Bacellar contra Wladimir. Domicílio eleitoral que Caio ainda não mudou no sentido inverso da BR 356.
Oposição a Machado, aliado de Caputi — No exercício de um quarto governo muito inferior aos três primeiros, Carla Machado renunciou em 4 de abril de 2022. Passou o cargo à vice, Caputi, se candidatou e se elegeu deputada estadual em outubro daquele ano. Ironicamente, um dos motivos à sua renúncia foi a aliança de Elísio com Rodrigo Bacellar. Quando o primeiro elegeu para sucedê-lo no comando do Legislativo sanjoanense o edil Alan de Grussaí (Cidadania). Feito presidente em oposição a Machado, ele hoje está fechado com Caputi.
TSE e STF contra “prefeito itinerante” — Caputi colocou o governo parado que herdou para andar. E exibe um estilo mais agregador que o da sua combativa antecessora, de quem se mantém aliada. Porém, no que se refere à disputa da Prefeitura de Campos ou de qualquer outro município do Brasil em 2024, Machado está inelegível. Por já ter sido reeleita prefeita de SJB no pleito municipal de 2020, não pode disputar um terceiro mandado consecutivo a esse cargo. É o que diz até aqui toda a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para banir a figura jurídica do “prefeito itinerante”.
Página 4 da Retrospectiva de 2023 publicada hoje na Folha da Manhã
Alcimar das Chagas Ribeiro, economista, professor da Uenf e Diretor científico do Nuperj/Uenf; e William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística pelo Ence/IBGE e analista estatístico do Nuperj/Uenf (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Produto Ilusório Bruto campista
Por Alcimar das Chagas Ribeiro e William Passos
A análise do Produto Interno Bruto (PIB) de municípios produtores de petróleo, como Campos dos Goytacazes, revela ilusões e merece ponderações. O pico do PIB de Campos foi registrado em 2012, ao valor de R$ 59,5 bilhões. Em 2013, o PIB campista desceu para R$ 58,3 bi, caindo para R$ 58,0 bi em 2014, despencando para R$ 34,2 bi em 2015, descendo ao mínimo de R$ 17,3 bi em 2016, e tornando a subir para R$ 21,1 bi em 2017 e para R$ 32,3 bi em 2018, para tornar a descer para R$ 29,1 bi em 2019 e para R$ 23,9 bi em 2020. Em 2021, o PIB campista fechou o ano totalizando R$ 37,2 bi. Portanto, pelas contas do IBGE, a economia campista cresceu 56% somente entre 2020 e 2021, número que reflete, na verdade, a ilusão da produção do petróleo no mar, e não a realidade da dinâmica econômica na terra.
Este apontamento é importante porque, na imprensa, muitos gestores municipais vincularam o resultado do PIB dos Municípios Brasileiros 2021, divulgado pelo IBGE no último 15 de dezembro, ao efeito de uma administração municipal propositiva, com consistente investimento público e geração de emprego formal.
Na verdade, o PIB dos chamados “municípios produtores de petróleo” é inflacionado tanto pela produção de óleo e gás na plataforma continental, contabilizado como Valor Adicionado Bruto (VAB) da Indústria destes municípios, quanto pela arrecadação de royalties e participações especiais do petróleo pelas prefeituras, sobretudo a parcela convertida em massa salarial no setor público e no setor privado pela circulação das “petrorrendas” na economia.
Assim, o PIB não deve ser tomado como um indicador representativo da dinâmica econômica local, captada muito melhor pelo emprego formal, especialmente o emprego no comércio, de natureza mais endógena. O comércio costuma empregar trabalhadores que residem nas proximidades do próprio estabelecimento (ou, pelo menos, que residem no mesmo município), adicionando consumo, faturamento, contribuição tributária, massa salarial e mais consumo na própria circunvizinhança geográfica.
Os números da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), contabilizam um total de 85.094 trabalhadores formais em Campos em dezembro de 2021, com uma remuneração média de R$ 2.830,11. A data de 31 de dezembro de 2021 foi encerrada com o comércio campista assinando a carteira de 22.758 funcionários e pagando remuneração média de R$ 1.890,43.
Quando confrontados, a título de exemplo, aos números de Macaé – segundo o IBGE, com um PIB bastante inferior ao de Campos (apenas R$ 17,7 bi contabilizados em 2021) –, observa-se, com maior nitidez, a fragilidade comparativa da dinâmica econômica campista. Macaé encerrou 2021 gerando 122.420 vínculos formais, com remuneração média de R$ 6.720,92 (esta, naturalmente, inflacionada pelos valores pagos pela indústria do petróleo, que oferece as maiores remunerações do trabalho em todo o planeta). Já o comércio macaense, que assinou a carteira de 12.963 funcionários, remunerou com a média de R$ 2.587,84.
Estes números são indicativos de um maior dinamismo e uma maior produtividade da economia macaense na comparação com a atividade campista. O dinamismo e produtividade superiores de Macaé estimula a conhecida pendularidade de residentes campistas por motivo de trabalho. Predominantemente de perfil masculino e de classe média, esta pendularidade é uma das responsáveis pela manutenção da primeira residência em Campos de um total não desprezível de trabalhadores da indústria do petróleo. A continuidade da divulgação dos resultados do Censo 2022, sobretudo com a disponibilização dos microdados, indicará a dimensão e o impacto desta pendularidade para a economia, a demografia e a urbanização não apenas campista, mas de todos os municípios da Região de Bacia de Campos.
Assim, a observação do PIB, sem as necessárias ponderações, enquanto variável isolada, especialmente em um território produtor de petróleo, como Campos dos Goytacazes, pode levar a equívocos de avaliação do cenário econômico municipal. Dessa forma, o objetivo deste artigo é o de oferecer a contribuição do Nuperj/Uenf para o debate público, para a discussão sobre o PIB e para a interpretação dos resultados do PIB dos Municípios Brasileiros, divulgado no último 15 de dezembro, pelo IBGE, chamando a atenção para a necessidade de uma maior dinamização da economia campista, com estímulo à diversificação de sua estrutura produtiva.
No teatro político do ciclo eleitoral de 2024, no palco da agenda dos prefeitáveis, a proposição da sustentabilidade econômica para Campos e Região para o período pós-petróleo e pós-royalties precisa assumir o papel de protagonista, em vez da figuração de simples coadjuvante. Afinal, tanto a extração de óleo e gás pelas plataformas marítimas quanto as receitas do petróleo têm natureza extraordinária, finita e volátil e, uma vez esgotadas, revelarão o produto ilusório do Produto Interno Bruto campista.
Bradley Cooper, diretor e protagonista como o maestro Leonard Bernstein, e Carey Mulligan, na pele da atriz e esposa Felícia Montealegre
Felipe Fernandes, filmmaker publicitário e crítico de cinema
Arte, boemia e família
Por Felipe Fernandes
O segundo longa-metragem dirigido pelo também ator e roteirista Bradley Cooper tem várias similaridades com seu primeiro longa, o remake de “Nasce uma estrela” (2018). Mesmo que se tratando de universos completamente diferentes, são obras sobre músicos e principalmente sobre suas relações amorosas em conflito com sua arte ou estilo de vida.
Produzido por Martin Scorsese e Steven Spielberg (ambos chegaram a se envolver com a direção do projeto), “Maestro” é a grande aposta da Netflix para o Oscar 2024. E já chega como um forte candidato, como um longa que abraça o cinema clássico estadunidense e traz características que vão agradar a ala mais tradicional da Academia, para narrar a cinebiografia de uma figura marcante da música e do cinema no final do século passado.
O longa traz um recorte da vida do Maestro e compositor Leonard Bernstein (interpretado pelo próprio Bradley Cooper), onde começa com o protagonista sendo convocado de última hora para reger a Filarmônica de Nova York, sendo este fato reconhecido pelo mesmo como prova definitiva de reconhecimento. Sua fama cresce a partir dali, o levando a conhecer a atriz em ascensão Felícia Montealegre (Carey Mulligan) e dessa relação o filme constrói sua narrativa.
Apesar do título, o filme é sobre as duas personagens, mesmo que reconheça Bernstein como figura central, ponto que vai de encontro a relação dos dois, já que é Felícia quem abandona sua promissora carreira para acompanhar a do marido. Um ponto recorrente em uma sociedade machista, que perdura em menor grau até hoje.
O primeiro ato do longa, que retrata principalmente as décadas de 1940 e 1950, é todo em preto e branco, com um ritmo acelerado, que incorpora a energia e o estilo de vida atribulado de Bernstein, com sua vida boêmia, seus romances e seus diversos projetos em diferentes áreas. Com algumas passagens de cena bem inspiradas, esse primeiro ato é muito eficiente em mostrar os dois se apaixonando e o quanto Felícia é sugada para a vida do seu futuro marido, tratado como um gênio.
A química entre Cooper e Mulligan é forte e ambos convencem enquanto casal. Nesse sentido, é interessante o quanto Cooper dá espaço não só para a personagem, mas para a atuação de Mulligan. Que brilha mais que o próprio diretor, uma característica também encontrada em seu longa anterior.
Utilizando as diversas trilhas de Bernstein para embalar o longa, em seu segundo ato o longa ganha cores, em uma estética muito característica da década de 1970 e vivendo uma nova fase da vida do casal, o longa diminui o ritmo. Para dialogar com o novo momento do casal, mais velhos e tendo a vida boêmia de Bernstein e sua bissexualidade como agente causador da discórdia entre eles.
Esse segundo ato deixa Felícia em segundo plano, um problema grave do longa, que não consegue desenvolver a personagem, nem construir um propósito narrativo para ela. A questão só vai ser resolvida posteriormente, conforme a personagem se reaproxima do protagonista.
O filme conta com uma parte técnica de excelência, com destaque para as maquiagens que impressionam e conseguem transmitir a passagem do tempo no rosto do casal. As atuações de Cooper e Mulligan também são fundamentais para a qualidade do filme. Repleta de nuances, Cooper por exemplo muda a voz conforme seu personagem envelhece. Já Mulligan irradia um brilho, uma jovialidade, que se perde com a situação da sua personagem. Um grande mérito da atriz.
A direção de Cooper é eficiente, seja na cadência dos ritmos conforme o momento de vida do casal principal, seja ao demonstrar sensibilidade ao dar foco em diversos momentos, nem sempre ao personagem que fala, mas em muitos momentos seu foco é o ouvinte. São escolhas que intensificam a carga dramática da cena. Cooper também faz uso de planos abertos e sem cortes em várias cenas de discussão, uma escolha que traz naturalidade às cenas, além de intensificar os sentimentos dos personagens.
Já repleto de indicações e prêmios, “Maestro” é um longa que deve crescer ainda mais na temporada de premiações e pode dar a Netflix seu aguardado Oscar de Melhor filme. É a aposta mais segura da gigante do streaming nos últimos anos e mesmo em uma ano repleto de filmes com enorme potencial, a cinebiografia de um ilustre membro de Hollywood pode consagrar a plataforma e seu diretor.
Com dezenas de motos, planejamento em redes sociais e até pistola 9mm com 18 munições e numeração raspada, dezenas de jovens transformaram em inferno as últimas quatro noites de Natal de mais de 500 mil campistas (Fotos: Reprodução de vídeo)
“Rolezinho”: Natal virou inferno
O Natal virou inferno. É o que Campos vive desde 2020 (relembre aqui e aqui), na virada da noite em que se celebra o nascimento de Jesus. Quando uma cidade de mais de meio milhão de cidadãos vira refém de algumas dezenas de jovens. Que, com motos de escapamento aberto, aceleram, buzinam e as empinam pelas ruas e avenidas da cidade. A Polícia Militar, a Guarda Civil Municipal, o IMTT e o Ministério Público têm se mostrado ineficazes para combater o chamado “rolezinho”. Como seus integrantes, além de planejarem, gravam e exibem imagens dos seus “feitos” nas redes sociais, um pouco de inteligência do Poder Público seria mais eficaz que a simples repressão.
Confira nos vídeos abaixo os flagrantes da noite de Natal de 2023:
Coisa de bandido!
Este ano, embora insuficiente para impedir que Campos fosse mais uma vez aterrorizada na noite de Natal, uma ação da PM revelou (confira aqui) a verdadeira face do problema. Não apenas direção perigosa, perturbação do sossego, licenciamento atrasado, falta de CNH, de placa e acessórios obrigatórios, como farol, retrovisor e capacete. Uma moto em alta velocidade, das tantas que infernizaram a cidade, foi interceptada na avenida São Fidélis, no Parque Nova Brasília. Seu condutor portava uma pistola calibre 9mm, com 18 munições e numeração raspada. O que extrapola qualquer rebeldia juvenil em busca de atenção. É coisa de bandido!
Confira nos vídeos abaixo mais flagrantes da noite de Natal de 2023:
A esquerda e a ironia
Bandido bom não é bandido morto. Mas tem que ser tratado com todo o rigor da lei. Parte da esquerda atribui o problema ao jovem da periferia. Cuja minoria generaliza para tentar relativizar o terror imposto à cidade. Nas ruas e dentro das residências invadidas na noite de Natal pelo buzinaço e aceleração de motos com escapamento aberto, imitando dolosamente o barulho de tiros. Ironicamente, foi um desses mesmos vândalos de moto que roubou e quebrou (relembre aqui) a bandeira de uma militante de Lula, xingando o então candidato a presidente. Foi em 21 de outubro de 2022, no cruzamento das avenidas José Alves de Azevedo e 28 de Março.
Confira no vídeo abaixo a ação política dos vândalos de moto em 2022:
Contra as ciclofaixas, comerciantes incendiaram pneus para fechar a rua Barão de Miracema em 1º de dezembro (Foto: Redes sociais)
A direita e a ironia
No mesmo tipo de generalização que confunde minoria com regra, parte da direita atribui o “rolezinho” aos motoboys. Que, realmente, cometem abusos diários no trânsito de Campos. Incentivados pela mesma falta de fiscalização do Poder Público. Como são os pais de classe média e classe média alta que param o carro em fila dupla na rua, em frente às escolas particulares, para deixarem e buscarem os filhos. Ou os comerciantes que atearam fogo em pneus para fecharem (confira aqui) a rua Barão de Miracema, em 1º de dezembro, em protesto contra a instalação de ciclofaixas. Que lhes tiraram a via pública como estacionamento privado.
Novela da LOA
Entrevistado ontem no Folha no Ar, o vereador de oposição Helinho Nahim (de mudança ao PL) disse que não há data para colocar em votação a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. Mais tarde, na sessão da Câmara, o presidente de oposição Marquinho Bacellar (SD) repetiu a na tribuna: enquanto o prefeito Wladimir Garotinho (PP) não se sentar para conversar com a oposição sobre o que considera erros do governo na proposta na LOA, esta não entra em pauta. A oposição não detalha os erros. O governo diz não existirem. Sem erro, Wladimir tem hoje, em qualquer votação, a maioria de 15, talvez 16 votos, contra apenas 9 da oposição.
Apoe e o dedo na ferida
Helinho também garantiu na Folha FM 98,3, que nenhuma instituição de assistência do município será afetada pela não votação da LOA. Presidente da Apoe, além de advogada com a experiência de ex-procuradora da Câmara de São João da Barra, Pryscila Marins tem opinião diferente. No Folha no Ar da última quinta (21), ela foi taxativa (confira aqui): “Não é questão de estar ou não estar do lado do prefeito, é questão de estar do lado do povo. Se uma decisão vai impactar a população, não é porque eu sou da oposição que eu vou continuar com uma postura inflexível. Essa queda de braço não ajuda o político A ou o político B, ela prejudica o povo”.
Pryscila Marins, advogada e presidente da Apoe, uma das 13 instituições de assistência de Campos que podem sofrer as consequências da não votação da LOA (Foto: Divulgação)
Audiência, CPI e judicialização
Helinho e Marquinho também criticaram a CDL-Campos. Que hoje, às 17h, sedia a audiência pública marcada por Wladimir e convocada em Diário Oficial, necessária à votação da LOA do ano eleitoral. Aparentemente, o caminho escolhido pelo governo é a judicialização. Na certeza de que quem perde é a população, difícil prever quem vencerá essa disputa. O Judiciário, por exemplo, em 8 de novembro suspendeu (confira aqui) a CPI da Educação da oposição em decisão liminar da 4ª Vara Cível de Campos. E, em 18 de dezembro, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) derrubou (confira aqui) a liminar e liberou a CPI. O governo recorre e, na defensiva, aguarda.
Enquanto a Casa do Povo passou por cima do pedido de CPI da Enel, o péssimo serviço da concessionária deixou as comunidades de Itereré e da Linha com o Natal sem luz elétrica, provocando protestos na RJ 158 e na BR 101 (Fotos: Rodrigo Silveira/Folha da Manhã)
A Enel, o povo e a Casa do Povo
No mesmo 10 de outubro em que anunciou (confira aqui) o fim da pacificação com os Garotinhos, Marquinho tirou da caixa de ferramentas a CPI da Educação. Questionada porque o presidente pulou três pedidos anteriores de CPI, sem apreciação. Entre eles, o pedido de CPI da Enel, feito pelo líder governista Álvaro Oliveira (PSD). Ontem, pelos péssimos serviços prestados pela Enel, moradores da comunidade de Itereré fecharam pela manhã (confira aqui) a RJ 158, em protesto. À tarde, moradores da comunidade da Linha fecharam (confira aqui) a BR 101 pelo mesmo motivo. Revoltados pelo Natal sem luz, essas parcelas do povo campista não têm representação na Casa do Povo de Campos.
No e além do binarismo direita e esquerda a prefeito de Campos em 2024: Jair Bolsonaro, Wladimir Garotinho, Clodomir Crespo, Alexandre Buchaul e Filippe Poubel; Rodrigo Bacellar, Marquinho Bacellar, Carla Machado, Luiz Inácio Lula da Silva e CVC Direita Campos (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Direita em Campos a prefeito
Derrotado nacionalmente pelo presidente Lula (PT) na eleição duríssima de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve naquele segundo turno 171.999 votos em Campos (63,14% dos válidos). Na busca desse espólio considerado da direita no município, o pleito à Prefeitura em 2024 apresenta vários pré-candidatos. Além do próprio prefeito Wladimir Garotinho (PP), que declarou voto em Bolsonaro (confira aqui) no segundo turno de 2022 e promoveu para ele (confira aqui) uma grande carreata em Campos, o empresário Clodomir Crespo (DC), o odontólogo Alexandre Buchaul (Novo) e até o deputado estadual bolsonarista Fillipe Poubel (PL), que é de Maricá.
Clodomir Crespo
“É preciso pensar na Prefeitura de Campos como empresa, qualificar a prestação de serviço, com o cidadão como cliente e patrão do Poder Público. Sou de direita, não de extrema-direita, mas precisamos acabar com essa mentalidade da esquerda, de que o empresário é o vilão da sociedade. Quando é ele que gera os empregos e as divisas que sustentam a máquina pública. Paga impostos e quer retorno. Sou empresário e produtor rural, ando o município todo. E não vejo esse retorno sendo dado pelo governo Wladimir”, alfinetou Clodomir. Que assumiu (confira aqui) a DC em Campos, onde está em fase de acabamento a nova sede da legenda, no centro da cidade.
Alexandre Buchaul
“Muitos políticos se colocaram como ‘de direita’, sem nem saber do que se trata, por mera conveniência eleitoral ditada por pesquisas. Conservadora e de direita, tendo dado votos majoritariamente a Bolsonaro, Campos foi palco desse oportunismo e é órfã de representação verdadeiramente de direita. A minha pré-candidatura a prefeito pelo Novo vem justamente oferecer uma alternativa que traga os valores do partido: liberdade, respeito à livre iniciativa, respeito ao empreendedor que gera riquezas, um governo enxuto, com transparência e eficiente, com menos impostos e mais empregos”, enumerou (confira aqui) Alexandre Buchaul.
Filippe Poubel
Embora de Maricá, da Zona Metropolitana do Rio de Janeiro, o deputado Filippe Poubel não descarta entrar (confira aqui) no debate sobre a Prefeitura de Campos. “Não é de hoje que tenho olhar atento para Campos. Na pandemia da Covid, quando o prefeitinho (Wladimir) era deputado federal e aliado do então governador Witzel, quem defendeu o povo de Campos e mostrou aquele hospital fantasma de campanha na 28 de Março fui eu. Entrei naquela tenda e mostrei a verdade à população de Campos. E agora estou novamente fiscalizando e descobrindo absurdos, como médico fantasma que ganha de Campos e atende na Bahia”, denunciou.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Bacellar x Garotinhos a prefeito
Diferente de Wladimir, Clodomir e Buchaul, a maior ligação de Poubel com Campos é ser aliado político do presidente campista da Alerj, o deputado Rodrigo Bacellar (União). Que, apesar da origem sindical da família, também apoiou Bolsonaro a presidente em 2022. E cujo grupo encomendou uma pesquisa Iguape em julho de 2023. Que confirmou (confira aqui) o favoritismo de Wladimir à reeleição em 2024, talvez ainda no primeiro turno, com 55,4% das intenções de voto na consulta estimulada. Enquanto Marquinho Bacellar (SD), presidente da Câmara Municipal e irmão de Rodrigo, ficou em terceiro, com apenas 3,1% das intenções de voto.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Marquinho fora?
Outro dado negativo aos Bacellar, na pesquisa que encomendaram, em seu antagonismo histórico com os Garotinho, foi a aprovação do governo Wladimir. Que, em julho, era de 74,7%, divididos entre 12,6% de ótimo, 38,5% de bom e 23,6% de regular positivo. A mesma pesquisa deu 38,6% de reprovação popular à Câmara Municipal presidida por Marquinho, aprovada por 35,5%, com 26% que não souberam responder. Como nada indica que isso mudou nos seis meses seguintes, até este final de dezembro, o nome do presidente da Câmara teria sido internamente descartado na disputa à Prefeitura, daqui a pouco mais de 9 meses.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Carla à esquerda e dentro?
Os Bacellar buscaram alternativas para tentar enfrentar o favoritismo de Wladimir. Em 5 de outubro, incentivada por Rodrigo, a também deputada estadual Carla Machado trocou seu domicílio eleitoral (confira aqui) de São João da Barra para Campos. Mesmo que toda a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) digam que ela (confira aqui) não possa vir a prefeita em Campos em 2024, após já ter sido reeleita a prefeita de SJB em 2020, Carla teve o voto de 17.936 campistas quando se elegeu à Alerj em 2022. Mas o fato de ter sido pelo PT, e em apoio a Lula, evidencia como direita e esquerda não têm nada a ver com esse jogo.
CVC Direita Campos
Cinco dias após a troca do domicílio eleitoral de Carla, Marquinho anunciou em 10 de outubro (confira aqui) o fim da “pacificação” com Wladimir. E 11 dias depois, em 21 de outubro, a Câmara promoveu (confura aqui) uma audiência pública com Poubel e outros deputados bolsonaristas aliados de Rodrigo, que foram ao Hospital Geral de Guarus (HGG) denunciar médico ausente. Ex-assessor parlamentar de Poubel, CVC Direita Campos foi citado nas pesquisas de 2023 (confira todas aqui) a prefeito. E, ouvido esta semana pela coluna, ele disse: “Não serei pré-candidato a prefeito em 2024; a vereador, sim”. CVC pode ter cedido espaço em Campos ao político de Maricá que o empregou na Alerj.
José Maria Eymael e Clodomir Crespo (Foto: Divulgação)
O empresário e produtor rural Clodomir Crespo vai assumir a Democracia Cristã (DC) em Campos, pelo qual se coloca como prefeitável em 2024. O objetivo, como de outros nomes da direita e centro-direita goitacá, incluindo o próprio prefeito Wladimir Garotinho (PP), é disputar em outubro os 171.999 votos (63,14% dos válidos) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve em Campos no 2º turno presidencial de 2022. Quando, como indicavam todas as pesquisas, o capitão foi derrotado nacionalmente pelo presidente Lula (PT).
Nova sede da DC no Centro de Campos, já em fase de acabamento (Foto: Divulgação)
Presidida nacionalmente pelo ex-deputado federal José Maria Eymael, a DC terá com Clodomir uma nova sede na cidade, já em fase de acabamento, ao lado da Faculdade de Direito de Campos (FDC). Além do empresário e de Wladimir, a direita goitacá tem outros potenciais prefeitáveis a 2024: o odontólogo Alexandre Buchaul (Novo) e até a inusitada possibilidade do deputado estadual bolsonarista Fillipe Poubel (PL).
SALADA DE FRUTAS REGIONAL E IDEOLÓGICA — De Maricá, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Poubel surgiu no cenário campista por ser aliado do presidente campista da Alerj, Rodrigo Bacellar (União). Opositor de Wladimir, ele também tenta trabalhar a prefeita de Campos o nome de Carla Machado. Que foi prefeita reeleita na São João da Barra de 2020, o que a deixaria inelegível para concorrer a prefeita pela terceira vez consecutiva, e deputada estadual eleita em 2022 pelo PT de Lula.
Ex-deputado federal, ex-presidente da Câmara Municipal de Campos advogado e servidor federal, Marcão Gomes (PL, de mudança ao MDB) é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar nesta sexta (22), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará sobre Campos travada (confira aqui, aqui, aquie aqui) com a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 na Câmara Municipal.
Marcão também analisará sua aproximação com o grupo político do prefeito Wladimir Garotinho (PP), contra quem fez oposição no passado e junto ao qual é pré-candidato a vereador, quando deve enfrentar do lado oposto o ex-aliado e ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania), no grupo do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União). Por fim, com base nas pesquisas de 2023 (confira aqui e aqui), ele tentará projetar as eleições a prefeito e vereador de Campos em 6 de outubro de 2024, daqui a pouco mais de 9 meses.
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