Por Igor Franco, Christiano Abreu Barbosa, Luciana Portinho, José Renato Duarte, Amyr Moussallem, Felipe Drumond, José Alves de Azevedo Neto, Edmundo Siqueira, Renato Siqueira, Humberto Nobre, Wladimir Garotinho, Robson Lessa e Aluysio Abreu Barbosa
Considerado entre os mais conceituados de Campos, o blog Opiniões e o programa Folha no Ar comungam um mesmo grupo de WhatsApp. Que, pela diversidade de pensamento e atividades dos seus integrantes, reflete a diversidade da sociedade goitacá. Nele, o especialista em finanças Igor Franco levantou a bola do assunto que tem dominado e dividido muitas rodas de conversa: a instalação de novas ciclofaixas, mais largas, pelo governo Wladimir Garotinho (PP), nas ruas centrais asfaltadas em parceria com o governo estadual Cláudio Castro (PL).
— Tento me segurar para falar, mas realmente é difícil não ficar abismado com essas intervenções. A ciclofaixa da Barão da Lagoa Dourada tem a largura maior que um veículo. Devem caber três ciclistas emparelhados. A faixa da direita da pista tem uma largura menor que a ciclofaixa e a pintura semelhante a outras faixas de estacionamento de ruas próximas, causando uma confusão dos diabos nos motoristas — disse Igor, antes de dar exemplos para tentar fundamentar seus questionamentos:
— A escola infantil Vivendo e Aprendendo também perdeu a sua faixa de estacionamento. Os negócios que possuem estacionamento próprio também foram rasgados pela ciclofaixa. O fluxo de ciclistas é mínimo e as vagas foram totalmente abolidas da rua, inclusive ao lado do Hospital Álvaro Alvim. Gostaria de saber qual foi o embasamento de estudos que amparou a definição da ciclofaixa nessas ruas, especificamente. E também qual foi a medida para se definir a largura. O que a PMCG pretende fazer com os negócios e instituições que foram afetados pelas mudanças drásticas no trânsito. É um completo disparate. Às vezes parece que a oposição colocou no departamento de trânsito de Campos alguém para sabotar o governo.
Curiosamente, o contraditório a Igor foi feito por alguém no grupo que sempre ecoa seu mesmo pensamento liberal na economia. Só que o empresário e blogueiro Christiano Abreu Barbosa, diretor do Grupo Folha, é também ciclista em seus treinamentos quase diários como atleta amador ranqueado internacionalmente em triátlon. Onde seu calo doeu:
— Países desenvolvidos e com bom IDH estimulam o uso de bicicletas como meio de transporte, alguns deles sendo referências em mobilidade urbana como Dinamarca e Holanda. Qualquer medida que privilegie bicicletas em detrimento de carros tem o meu total apoio. Campos é uma cidade plana, que historicamente tem largo uso de bicicletas, especialmente no deslocamento ao trabalho, muito pelas classes menos favorecidas, que até bem pouco tempo só tinham a avenida 28 de Março para um deslocamento seguro. Basta ver o fluxo de ciclistas nos horários de entrada e saída do trabalho na 28 de Março, em Guarus, entre Ururaí e Campos, ou em outros trechos da BR-101.
Como Igor, Christiano foi além. E creditou à reclamação dos motoristas e comerciantes a um comodismo desnecessário:
— No trânsito, boa parte dos carros tem somente o motorista dentro. Não raro, para deslocamentos pequenos, que poderiam ser facilmente cobertos a pé. Com relação aos ciclistas que transitam entre os carros, as ciclofaixas evitam exatamente isto. Eventualmente terão que fazer retornos fora da ciclofaixa. Há também um grande desconhecimento por parte dos motoristas das regras de trânsito. Bicicletas que andam acima de 20 km/h não podem transitar em ciclofaixas; têm que andar na pista. Se houver acostamento, no acostamento. Se não houver, na pista mesmo. O carro deve guardar uma distância lateral de 1,5m, prevista pelo Código de Trânsito. A bicicleta é um veículo de transporte. Costumamos olhar sempre para o nosso umbigo, para o que nos atinge. No caso, para o que atinge o nosso meio de locomoção. Felizmente o carro não é a única opção. Temos uma legião de ciclistas, a trabalho e a lazer, que também tem o seu lugar ao sol. E há como conviver de forma harmônica.
Se já estava quente na quarta (29), quando se iniciou entre Igor e Christiano, o debate se incendiou literalmente na tarde de sexta (1º). Quando comerciantes da rua Barão de Miracema atearam fogo a pneus e interditaram a via pública para protestarem contra as novas ciclofaixas:
— Retrato de um dos tipos de comerciantes da área nobre de Campos. Brasil ililililil! Amanhã, os vizinhos que não foram consultados irão cobrar pelo prejuízo das pinturas das suas fachadas — satirizou o protesto a professora Luciana Portinho.
— Vão quebrar todos os pequenos e médios comerciantes onde (as ciclofaixas) foram implantadas. Sugiro aos que planejaram esses espaços, que apresentem o quantitativo de ciclistas que utilizam, por cada hora. Tem local que não passam nem 10 usuários. Há uma gigantesca desproporcionalidade. Os comerciantes destas áreas vão pagar o pato e cada vez mais os informais dos bairros se fortaleceram. Para toda a ação há uma reação — justificou o servidor municipal e advogado José Renato Duarte.
— Vamos ser sinceros, os verdadeiros usuários dessas faixas são os próprios comerciantes e moradores da região que não tem garagem para guardar os carros. Sempre foi assim, raras são as vezes que alguém, diferente desses, consegue parar o carro nessas vagas. Vamos parar com essa hipocrisia. Outro ponto importante é tentar diminuir o fluxo de carros circulando, diminuindo diversas mazelas causadas pelo excesso de veículos e, ao menos, estimular o uso de outros meios de locomoção, tanto bicicletas normais como as elétricas — pontuou o advogado Amyr Moussallem.
— Com todo o respeito, mas não me parece que isso seja argumento procedente para política pública de transporte. A ausência de vagas tem sido sentida por diversos usuários. Além disso, vamos agora estreitar as ruas para diminuir uso de carros? É sério isso? Vamos deixar o trânsito mais caótico como solução? — questionou o advogado Felipe Drumond.
— As faixas estão democratizando o espaço público na nossa cidade, além de humanizá-lo. Excelente iniciativa do prefeito Wladimir. Ouvimos com frequência na nossa cidade da boca de empresários, comerciantes e outros empreendedores, que Curitiba é modelo de cidade no trânsito. Agora, o prefeito tenta oferecer uma alternativa de convivência mais humana no trânsito de Campos e assistimos esses atos de vandalismo. É inaceitável esse comportamento de uma minoria de comerciantes. Querem que Campos continue sendo a vanguarda do atraso — sentenciou o economista José Alves de Azevedo Neto.
— Após minha publicação sobre o assunto das ciclofaixas, recebi essa informação de um representante da Prefeitura: “Sem qualquer tipo de acirramento, gostaria de contribuir com uma informação. As ciclofaixas estão previstas no Plano Municipal de Mobilidade Urbana, Lei Municipal nº 9137/2022, e foram realizadas audiências públicas sobre o mesmo na Câmara de Vereadores no ano passado. A ação de implantação acontece agora, mas já esteva prevista desde 2021, quando o plano foi elaborado e passou por contribuições da sociedade civil e dos vereadores” — informou o servidor federal, jornalista e blogueiro Edmundo Siqueira.
— De todos os que opinaram, quantos participaram das reuniões e das audiências públicas de elaboração e conclusão do Plano de Mobilidade? — cobrou o arquiteto urbanista Renato Siqueira.
— Se a implantação de ciclovias em diversos países “avançados” não servir de exemplo, realmente não sei o que serve. Talvez aqui em Campos seja tudo ao contrário — lamentou o advogado Humberto Nobre.
— As ruas e os espaços públicos não são garagem e pertencem a todos os cidadãos (…) Pelo bem da cidade, não vamos recuar no plano de mobilidade urbana que Campos precisa para melhorar a qualidade de vida do nosso povo”, disse o prefeito Wladimir Garotinho através das redes sociais — atualizou a matéria do protesto o jornalista Éder Souza, editor do Folha1.
— Ando de carro e de bike pela cidade e penso que está melhor (com as novas ciclofaixas). A única dificuldade vai ser a população respeitar. O fato é que isso veio para ficar. As pessoas vão ter que se acostumar. Cada um tem o direito de gostar e não gostar. Sair da zona de conforto não é fácil. Todos dizem que Campos é uma cidade de tradição ciclística. Chegou a hora de provar. Sou adepto da bike e estou gostando! — testemunhou o publicitário Robson Lessa.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Os comerciantes de Campos estao queimando pneus nas ruas ? Que cidade é essa em que eu vivo ?
Essa iniciativa da prefeitura mascara seu fracasso na política do transporte urbano.Interessante o engajamento dos usuários de “bikes”.Nenhum deles usa a prosaica bicicleta no deslocamento para o trabalho.Ah ,a velha e manjada “elite campista”!