O longa apressado de Ridley Scott em Napoleão
Por Edmundo Siqueira
Napoleão, um corso que subiu no conceito da burguesia francesa depois de conquistar vitórias militares, aplicou um golpe no dia 18 do mês de brumário (calendário revolucionário da França) e mudou o regime: passaria do Diretório para o Consulado, tendo o general Napoleão no comando como primeiro-cônsul.
Napoleão, filme do diretor inglês Ridley Scott que estreou em novembro nos cinemas brasileiros, trouxe em uma de suas cenas o golpe do 18 de brumário; e ela provoca um sorriso inevitável ao espectador — mas não se engane, é um dos poucos nas 2 horas e 38 minutos da película.
A sequência começa trazendo Napoleão recebendo um convite irrecusável para assumir o comando da França, segue para a tentativa frustrada de seu irmão Lucien (Matthew Needham) em conseguir os votos no Diretório, e segue para uma confusão generalizada que coloca Napoleão para correr debaixo de tapa, após ele usar a palavra.
Napoleão volta ao Diretório — uma espécie de parlamento — com um destacamento militar, e o diretor finaliza a sequência com os políticos acuados sob a mira de armas, e o então quase-primeiro-cônsul diz, ironicamente: “Vamos aos votos!”.
Com um roteiro didático e apressado ao mesmo tempo, escrito por David Scarpa, o filme vai mostrando os eventos principais que levaram Napoleão a ser Imperador da França. Em ordem cronológica, sem flashes da infância ou diálogos saudosistas.
E esse talvez seja um dos pontos fracos do filme: diálogos. A direção bem executada do experiente Scott e a fotografia luxuosa de Dariusz Wolski não conseguem levar o filme para o nível que ele merecia. Falta personagens periféricos bem construídos, alívio cômico e amarração da trama. Os diálogos são retalhados e sem nenhum brilhantismo.
Quem contrasta com a atuação sem brilho de alguns atores é Vanessa Kirby, a Josephine, primeira esposa de Napoleão e seu maior amor. Kirby dá personalidade à personagem, e mesmo sem química nenhuma com Joaquin Phoenix consegue trazer sensualidade e um sofisticação cool ao filme.
Por sua vez, Phoenix, que interpreta Napoleão, não tem uma atuação inspirada. Embora a apatia e crescente tédio que Napoleão apresenta seja parte da construção do personagem, espera-se mais de um ator do nível dele ao encarnar alguém real e tão complexo e estudado.
E nesse quesito o enredo atrapalha mais uma vez. A relação amorosa de Napoleão e Josephine concentra toda humanização do personagem principal, e com contornos freudianos, também relacionado a sua mãe. O problema é que não foi suficiente. Perdeu-se muito tempo na (in) fidelidade de Josephine.
Para quem gosta de filmes guerra e épicos, o entretenimento está mais que garantido. Um realismo sangrento com guilhotinas e canhões muito bem executado. Direção, fotografia, trilha sonora, edição e figurino entregaram tudo o que faltou nos outros quesitos. Mas o filme merecia mais.
A parte historiográfica peca em alguns detalhes, principalmente quando deixa a política em segundo plano, mas isso não é exatamente um problema, é uma decisão artística do diretor.
Quem diz que o filme é ruim não leva em consideração a destreza visual da equipe de Scott e a grandeza das locações.
Mas o filme merecia mais.
Confira o trailer do filme:
Parabéns Edmundo.
Sou liceista de coração, aprendi a amar a França e admirar o tanto o Codigo Civil de Napoleão, quanto a sua audácia de libertar os pacientes dos manicômios franceses e espanhóis, muitos vítimas da Inquisição.
Espero que Godard ou Besson possam nos brindar com um novo filme sobre ele.