Mulheres resolvem “briga política” de homens na LOA de Campos

 

Wladimir Garotinho, Marquinho Bacellar, Marcos Bacellar, Paulo Hirano, Anik Assed, Maristela Naurath, Frederico Paes e Marielle Franco (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Vitória política na LOA?

Em mais uma novela tensa da política de Campos, a Câmara Municipal deve votar e aprovar hoje a LOA de 2024. Sigla de Lei Orçamentária Anual, nunca essa “sopa de letrinhas” da LOA foi tão debatida pelo povo campista. Nem tantas instituições de assistência social da cidade, que dependem da LOA para seguir abertas, se posicionaram de forma tão enfática. Como várias outras entidades da sociedade civil organizada. No que ainda precisa ser medido por pesquisas após a questão ser encerrada, a impressão geral é que o prefeito Wladimir Garotinho (PP) foi o vencedor político dessa disputa com o presidente da Câmara, Marquinho Bacellar (SD).

 

Favoritismo às urnas

Se Wladimir saiu de 2023 como franco favorito em todas as pesquisas (confira aqui) à reeleição em 6 de outubro de 2024, com possibilidade de liquidar a fatura em turno único, esse impasse da LOA pode ter aumentado esse favoritismo. Por ter sido entendido pela maioria da população, inclusive sua parcela sem ligação com nenhum dos dois grupos políticos, como uma forçação de barra da prerrogativa do presidente do Legislativo de controlar a pauta de votação. Se o prefeito também puxou a corda, a impressão reforçada por todas as instituições que se posicionaram pela votação da LOA é que o grupo dos Bacellar puxou mais. E além da conta.

 

Erro de Wladimir

Wladimir também errou. No dia 9, ele almoçou com o ex-vereador Marcos Bacellar, patriarca do clã opositor. O jovem prefeito e o veterano político apertaram as mãos, pactuando tentar baixar a corda dos dois lados, enquanto Bacellar pai conversaria com o filho e seus aliados para colocar a LOA em votação. Só que, após o secretário municipal de Saúde Paulo Hirano já ter dirigido ataques muito duros pela manhã ao presidente da Câmara, Wladimir também o fez à tarde, numa visita ao Hospital Geral de Guarus (HGG). Com a mesma dureza, Marquinho usou a tribuna legislativa para responder os dois na sessão daquele mesmo dia.

 

“É uma briga política”

A quebra do acordo do almoço do dia 9, mais a manifestação diante da Câmara Municipal na tarde do dia 11, organizada por conselheiros e representantes de entidades filantrópicas e assistenciais de Campos, assistidos e seus familiares, além de vereadores e aliados do governo, gerou resposta agressiva do patriarca dos Bacellar, em vídeo nas redes sociais naquela noite. Noves fora ataques pessoais irreproduzíveis, Bacellar pai revelou o verdadeiro motivo para o seu filho atrasar a votação da LOA: “É uma briga política, sim. É uma briga política entre vereadores da situação e da oposição, entre Wladimir e Marquinho”.

 

Estratégia desinteligente

Talvez sem querer, Bacellar pai jogou por terra o discurso da oposição que atribuía a não votação da LOA a erros na proposta do governo. O ex-vereador repetiu quatro vezes no vídeo a causa real: “É uma briga política”. Briga, por sua ausência de regras, é diferente da luta. Nenhum homem público pode ficar contra a continuidade de serviços públicos de assistência social em um município com mais de meio milhão de habitantes. Nenhuma “briga política” justifica isso. Foi também uma estratégia política muito desinteligente. No lugar de desgastar Wladimir, reforçou seu apoio na sociedade civil a pouco mais de oito meses da urna.

 

Briga de homens, protagonistas mulheres

Nessa “briga política” entre o prefeito e o presidente de uma Câmara Municipal só de homens, duas mulheres foram protagonistas na defesa da população. Em 15 de dezembro, Anik Rebello Assed, da Promotoria da Tutela Coletiva da Infância e Juventude, abriu inquérito civil para “acompanhar a elaboração e tramitação das leis orçamentárias, a LOA, para o exercício de 2024”. Em 18 de dezembro, Maristela Naurath, da 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva, solicitou à Câmara “que se coloque em pauta a votação do projeto de LOA, a fim de não prejudicar a efetiva implementação das políticas públicas de Saúde e Assistência Social”.

 

Tutela pelo coletivo

Passada a virada de ano sem LOA, as duas promotoras de Justiça de Campos se reuniram no Ministério Público Promotor Marcelo Lessa Bastos. Em 11 de janeiro com Wladimir, no dia 16 com Marquinho e, no dia 18, com ambos. Só depois disso, sob a tutela de Anik e Maristela em defesa do coletivo goitacá, o prefeito e os 25 vereadores se reuniram na tarde de segunda (22), na sede da Prefeitura. Vice-prefeito que tentou atuar o tempo todo como apaziguador da crise, inclusive no almoço do dia 9 entre Wladimir e Bacellar pai, Frederico Paes (MDB) também participou da reunião.

 

Quem mandou matar Marielle?

Quem mandou matar Marielle? Quase seis anos depois, ontem a pergunta teve resposta parcial. Domingos Brazão foi apontado como mandante na delação do PM reformado Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram a ex-vereadora carioca do Psol e seu motorista, Anderson Torres, em 14 de março de 2018. Ex-deputado estadual por 5 mandatos e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), onde foi reintegrado após ser preso, Brazão teria encomendado a morte de Marielle Franco por motivo torpe e fútil: vingança contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo Psol, hoje no PT e presidente da Embratur.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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