Após LOA e seu desnível pessoal, a 98ª ZE a 6 de outubro

 

Wladimir Garotinho, Frederico Paes, Getúlio Vargas e Alexandre Buchaul; Hamilton Garcia, Raphael Thuin, Anthony Garotinho e Caio Vianna; Pryscila Marins, Edmundo Siqueira, Alcimar Ribeiro e Rosinha Garotinho (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Após ressaca do Carnaval e da LOA

Com a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) imposta (confira aqui) à Câmara Municipal de Campos na última quarta (24), no dia seguinte (25) começou não só o recesso no Legislativo, como o prefeito Wladimir Garotinho (PP) anunciou férias de 10 dias. No reforço à sua chapa para concorrer à reeleição, deixou a cidade (confira aqui) sob o governo do vice-prefeito Frederico Paes (MDB) e retorna na segunda de 5 de fevereiro. Já o fim do recesso dos vereadores está marcado para a Quarta-Feira de Cinzas, em 14 de fevereiro. Mas sessão, mesmo, a Câmara só terá na terça seguinte, 20 de fevereiro. Dá para curar a ressaca do Carnaval e da LOA.

 

“Tiro de canhão no pé”

Se “Campos é o espelho do Brasil”, no dito atribuído ao ex-presidente Getúlio Vargas, a cidade manterá a tradição do país cujo ano só começa, de fato, após o Carnaval. Embora a aprovação da LOA já tenha sido o primeiro ato deste ano de eleições a prefeito e vereador de 6 de outubro, daqui a oito meses e seis dias. Se todas as pesquisas de 2023 (confira aqui) colocaram Wladimir como grande favorito à reeleição, com possibilidade de levar no 1º turno, tudo indica que o favoritismo aumentou. Pré-candidato a prefeito de oposição, o odontólogo Alexandre Buchaul (Novo) definiu (confira aqui) a tática da oposição de atrasar a LOA: “Foi um tiro de canhão no pé”.

 

Chantagem política?

Só as próximas pesquisas poderão dar certeza. Mas a impressão que parece predominar sobre a novela da LOA, sobretudo na central 98ª Zona Eleitoral (ZE), a chamada “pedra”, onde o eleitor de classe média tende a votar mais por formação de opinião e menos pela concessão de benesses governamentais, foi a registrada pelo cientista político Hamilton Garcia. “É necessário que o Poder Legislativo tenha maior qualidade (…) O espetáculo que a gente viu foi meramente de embate político na disputa de oligarquias, por conta do calendário eleitoral. Isso beira mais à chantagem política”, sentenciou o professor da Uenf.

 

O assistencialismo e a pedra

Vereador de oposição, Raphael Thuin (de saída do PTB) acusou: “Nessa política assistencialista (do governo Wladimir), não só nos RPAs, a LOA deste ano reservou R$ 48 milhões ao Cartão Goitacá, aumento de R$ 12 milhões em relação ao ano passado”. Esse discurso sempre rendeu frutos com a classe média da 98ª ZE. Que foi o bastião de resistência ao garotismo desde a primeira eleição de Anthony Garotinho (hoje, União) a prefeito de Campos, em 1988. Até a eleição do seu filho ao mesmo cargo, no 2º turno de 2020. Quando Wladimir ficou mais de 20 pontos atrás de Caio Vianna (hoje, PSD) na pedra: 39,69% a 60,31% dos votos válidos.

 

Campos em suas quatro ZEs

Embora com maior média socioeconômica, a 98ª é só a terceira eleitoralmente das quatro ZEs de Campos. Fica atrás da 75ª, a maior, da Penha ao Farol; e da 76ª, Guarus à margem direita da BR 101 no sentido Vitória, até a divisa com o Espírito Santo. A menor é a 129º ZE, Guarus à margem esquerda da BR 101 no sentido Vitória e, no sentido Rio, até o limite sul do município. Se não houve surpresa que Wladimir tenha vencido nessas três últimas ZEs, batendo Caio em 2020, a novidade de 2023 é que pesquisas apontaram (confira aqui) que o prefeito passou a liderar também na 98ª. E essa vantagem parece ter aumentado em 2024 com a novela da LOA.

 

Referência da 98ª ZE

O motivo para Wladimir subir na preferência da 98ª ZE, além da comparação com o governo anterior mal avaliado de Rafael Diniz (Cidadania), foi definido pela advogada Pryscila Marins: “Na complexa situação da LOA em Campos, o erro maior partiu do Legislativo. Que, ao retardar a votação da LOA, ameaçou a continuidade de serviços essenciais providos pelas instituições de assistência social do município”. Quase uma eleitora padrão da pedra, Pryscila é também presidente da Apoe. Foi uma das muitas instituições da sociedade civil organizada que foram à rua (confira aqui) pressionar a Câmara Municipal pela votação da LOA.

 

Erros também de Wladimir

Além da oposição, os erros do prefeito também foram apontados na novela da LOA. “Wladimir soube manejar bem a crise, com a habilidade de comunicação. Talvez tenha saído fortalecido, mas não atuou para elevar o debate. Ameaçou de paralisação total a Prefeitura, o que não aconteceria”, ressalvou o jornalista Edmundo Siqueira. “O Legislativo errou por não ter projetos e não respeitar os prazos à aprovação da LOA. O Executivo errou por não elaborar uma peça orçamentária de interesse real à população, abrindo espaços a questionamentos de ordem politiqueira”, ponderou o economista Alcimar Ribeiro, outro professor da Uenf.

 

O preço do desnível pessoal

Caso se confirma nas próximas pesquisas e, sobretudo, na urna, a liderança de Wladimir na pedra será um feito. Não só na comparação com o seu desempenho eleitoral de 2020, quando só perdeu na 98ª ZE. Mas porque faria o que seu pai e mãe, Rosinha Garotinho (hoje, União), mesmo tendo chegado a governadores, nunca conseguiram em Campos. Um dos motivos pelo qual Garotinho sempre foi mal visto pela classe média goitacá é o seu desnível pessoal em disputas políticas. Wladimir, nisso, se porta diferente. No tempo das redes sociais, o desnível pessoal na “briga política” da LOA (confira aqui) foi mais visto e ouvido na oposição. Com os olhos e ouvidos da pedra.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Deixe um comentário