ZE de Campos diferente em 2020
Na edição da última quarta (31), esta coluna alertou (relembre aqui) à importância estratégica que a 98ª Zona Eleitoral (ZE) de Campos, a chamada “pedra”, tem na eleição a prefeito daqui a exatos 7 meses e 29 dias. No disputadíssimo segundo turno de 2020, a 98ª foi a única das quatro ZEs do município em que o atual deputado federal Caio Vianna (hoje, PSD) ficou à frente de Wladimir Garotinho (hoje PP). Que venceu aquele pleito e levou a Prefeitura pela vontade da maioria das 75ª, 76ª e 129ª ZEs. Para a tentativa de reeleição em 2024, segundo (confira aqui) as pesquisas de 2023, Wladimir teria assumido a liderança das intenções de voto também (confira aqui) na 98ª.
Diferente desde 1989
Com 114.444 eleitores aptos a votar, a maior ZE de Campos é a 75ª, que vai da Penha ao Farol, por toda a Baixada Campista. Com 99.549 eleitores, a segunda ZE é a 76ª, de Guarus à direita da BR 101, no sentido Vitória, até a divisa com o Espírito Santo. Com 93.199 eleitores, a central 98ª é só a terceira ZE de Campos, embora lidere na média socioeconômica. E é onde os Garotinhos, de 1989 a 2020, sempre tiveram votação proporcionalmente menor entre as ZEs de Campos. Com 63.431 eleitores, a 129ª vai da Guarus à margem esquerda da BR 101, no sentido Vitória; e, no sentido Rio, até o limite sul do município. É a menor ZE dos campistas.
Convite dos Bacellar e de Wladimir
Ainda que, eleitoralmente, seja só a terceira das quatro ZEs de Campos, sua importância estratégica foi endossada no Folha no Ar de ontem, com o empresário, arquiteto urbanista e ex-presidente da CDL-Campos, Edvar Chagas Júnior. Antes de aceitar ser subsecretário de Turismo de Wladimir, ele confirmou que chegou a ser sondado como possível candidato nas eleições municipais de outubro. Não só pelos governistas, mas também pela oposição. Edvar confirmou que foi procurado pelo grupo político dos Bacellar. Para tentar compor a chapa de oposição que ainda se tenta formar à disputa da Prefeitura.
Para tentar equilibrar na 98ª ZE
“Tive mais convites da oposição do que da situação. Especificamente, no grupo dos Bacellar. Sem definir quem seria cabeça ou vice; mas para compor chapa. A conversa, no meio do ano passado, não foi diretamente com o (presidente da Alerj, Rodrigo) Bacellar. Mas o convite mais claro foi de Wladimir. Lógico, ele também é muito bem informado e soube de todos os convites que recebi da oposição. Na minha saída (da presidência da CDL), em janeiro, ele (Wladimir) fez o convite em público”, relembrou Edvar Júnior. Que teria sido sondado pelos Bacellar para tentar equilibrar a vantagem do prefeito também na 98ª ZE.
Representantes da 98ª ZE
Vereador de oposição, além de também empresário e cria da 98ª ZE, Raphael Thuin (de saída do PTB) disse e a coluna registrou na quarta: “Nessa política assistencialista (do governo Wladimir), não só nos RPAs, a LOA deste ano reservou R$ 48 milhões ao Cartão Goitacá, aumento de R$ 12 milhões em relação ao ano passado”. Foi para tentar reativar um histórico antigarotismo na pedra, após a votação da LOA ter sido imposta (confira aqui) à oposição na Câmara Municipal pela sociedade civil organizada. Aquela que, como a advogada Pryscila Marins, presidente da Apoe, e como o subsecretário Edvar e o edil Thuin, representa emblematicamente a 98ª ZE: a pedra.
Da 98ª ZE, outra visão dela
O eleitor da 98ª não é uniforme. Como ocorre nas outras três ZEs de Campos, tem diferentes visões. Inclusive, de si mesmo: “Minha única questão é um pressuposto sobre a 98ª ZE. Que este eleitorado seria mais propenso a tomar decisões pautado por maior qualidade da reflexão e menos refratário a políticas públicas ou movimentos da máquina. Eu realmente discordo. Parte da classe média local, do empresariado, é tão ou mais dependente da máquina do que as classes D e E”, ampliou o cientista político George Gomes Coutinho. Que é professor da UFF em Campos — cidade em que nasceu, se criou e até hoje reside na pedra.
“Clientelismo transclassista” de Campos
O cientista político foi além no juízo do campista de classe média e eleitor da 98ª ZE, perfil que também integra. E questionou a análise do vereador de oposição: “A perspectiva de Thuin identifica um ‘assistencialismo‘ somente com os de baixo. Mas ignora solenemente privilégios, isenções, tráfico de influência, sabujice e favores na pedra. Já chamei isso (a dependência generalizada da Prefeitura) de ‘clientelismo transclassista’, justamente por conta do perfil socioeconômico da cidade. Que é dotado de um setor produtivo que gera poucos empregos de qualidade, caracterizado por baixo investimento e gestão temerária”, afirmou George.
75ª ZE foi Minas Gerais em 2020
Simbólica por ser a ZE de Campos em que os Garotinhos têm mais dificuldades, a 98ª não é o melhor retrato do eleitor campista. Na última eleição a prefeito, essa condição de termômetro foi da 75ª, maior ZE do município. Com base nas pesquisas, foi possível projetar (relembre aqui) em 21 de novembro de 2020, oito dias antes do segundo turno a prefeito: “A ZE da mítica Baixada da Égua deve definir a eleição”. Oito dias depois, a 75ª registrou nos votos válidos: Wladimir 50,54% x 49,46% Caio. Entre as quatro ZEs, deu o placar mais próximo ao total: Wladimir 52,40% x 47,60% Caio. A prefeito de Campos, foi o que Minas Gerais é a presidente do Brasil.
Publicado hoje na Folha da Manhã.