Por um liberal, uma historiadora e um jornalista, o 8 de fevereiro de 2024

 

Generais Walter Braga Neto e Augusto Heleno, e o capitão Jair Bolsonaro (Foto: DW)

 

 

 

Pelo envolvimento que gerou nas redes sociais e à História do Brasil que será contada quando todos formos nomes numa lápide, o 8 de fevereiro de 2024 só tem um paralelo: o 8 de janeiro de 2023. Mais que qualquer acadêmico, jornalista, artista ou outro ofício feito sinônimo de “esquerdopata” nos delírios que governaram o Brasil de um cercadinho entre 2019 e 2022, os eventos da quinta foram melhor definidos na manhã de sexta (9) por um empresário liberal:

 

“Espero que para os brasileiros que de fato pensam no país e no futuro dos seus filhos, mas discordam totalmente do PT e de suas lideranças, tenha ficado claro, com os fatos divulgados ontem (8 de fevereiro), que o voto em Lula no segundo turno das eleições de 2022 era absolutamente necessário.

Era a única forma de evitarmos um golpe que aconteceria com grande chance de sucesso em 2026. O resultado da reeleição de Bolsonaro seria um Supremo totalmente aparelhado, as Forças Armadas devidamente submetidas às suas vontades, onde a realidade seguiria sendo distorcida pela desinformação e a espionagem de adversários políticos chegaria a níveis ainda piores.

Muito provavelmente, começaríamos o ano de 2027 em um regime de exceção sob o comando de Bolsonaro.

É preciso agora punir com rigor todos os envolvidos, civis e militares, aprender com tudo que aconteceu, mas virar essa página e iniciar a construção — sem populismo, sem revanchismo, com disposição, com visão de longo prazo e lideranças coerentes — do Brasil que queremos.

Estamos atrasados”.

 

João Amoêdo assumiu a posição que qualquer liberal de verdade deveria ter. Candidato a presidente no mesmo ano de 2018 em que Jair Bolsonaro (hoje, PL) — deputado federal do baixo clero, radical de direita, histriônico e estatista — se “converteu” ao liberalismo de Paulo Guedes. Para receber a benção de boa parte do empresariado brasileiro. Como tinha se “convertido” em 2016 à boa parte do rebanho neopentecostal, ao ser batizado no rio Jordão pelo pastor Everaldo. Que seria preso em 2020 por desvio de dinheiro público da Saúde do RJ.

Recordar é viver! Mas vai que era o final da vertiginosa manhã brasileira da quinta de 8 de fevereiro de 2024. Quando, no grupo de WhatsApp do blog Opiniões e do programa Folha no Ar, a historiadora Guiomar Valdez, professora do IFF, propôs o debate:

 

“Meu prezado Aluysio, apesar da frágil democracia que vivenciamos desde o término da ditadura civil-militar, aprecio quando as investigações são discretas, como têm que ser. E o devido processo legal não se torna espetaculoso. Sobre as ações de hoje (8 de fevereiro), compreendo dessa maneira. Viva a democracia brasileira em cada pequenino passo que reforce o nosso Estado Democrático de Direito. Abaixo as fakenews! Sigamos em frente!”

 

No início da tarde, a proposta de debate foi respondida:

 

“No trabalho hoje (8 de fevereiro) antes de me desligar no Carnaval, aproveito o diálogo sempre estimulante contigo, querida Guiomar Valdez, para dar algumas impressões sobre os fatos:

1 – Só não esperava a operação de hoje (8 de fevereiro), como as que devem se seguir após o Carnaval, quem — por desinteligência, cumplicidade dolosa com crimes graves, interesse pessoal em detrimento do coletivo, ou uma soma desses fatores — tenta relativizar as causas e simular cegueira às consequências.

2 – Modestamente, endosso sua compreensão de que, até onde ora podemos enxergar, os fatos de hoje (8 de fevereiro) transcorreram de maneira republicana. Diferente da espetacularização que marcou as ações da Lava Jato, não vi, por exemplo, nenhuma imagem da prisão de Valdemar da Costa Neto. Que certamente foi registrada, até para proteção dos responsáveis pela ação.

3 – Sou leigo, mas abrir inquérito de ofício, como fez o ministro Alexandre de Moraes para investigar os crimes cometidos do bolsonarismo, rompe com o princípio da inércia do magistrado. Concordo que não havia outro caminho possível diante da prevaricação do ex-PGR Augusto Aras, mas é um princípio muito perigoso. Foi com um juiz de 1ª instância, como era Sergio Moro. É muito mais com um ministro do STF. Nos dois casos, ou em qualquer outro, discordo que os fins justifiquem os meios.

4 – Por outro lado, se convivemos por séculos com o complexo de vira-latas na inevitável comparação continental com a solidez, a eficiência e a longevidade institucional dos EUA de Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, os eventos tupiniquins desde a reação ao 8 de janeiro de 2023 até os de hoje e os que se seguirão, são didáticos aos EUA de Joe Biden e Donald Trump. E ao mundo. Onde o Brasil leciona: como as democracias podem e devem resistir.

5 – Se todas as robustas evidências reveladas hoje (8 de fevereiro), pela investigação da Polícia Federal, se confirmarem em juízo, o capitão Jair Bolsonaro e alguns de seus generais, que venderam a honra à farda por soldo acima do teto constitucional no bolso, podem ser presos. Se isso acontecer, escreverei o mesmo que escrevi em 6 de abril de 2018, véspera de Lula ser preso: ‘Um dia triste para a República’”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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Este post tem um comentário

  1. Luiz

    A diferença gritante nesse caso é que o Lula,por mais que tenha errado,sempre lutou e defendeu a democracia.Já o outro sempre foi a favor da ditadura e da tortura.
    Acredito que a frase final deveria ser:
    Um dia de justiça e vitória para a democracia!

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