De 600 mil a 750 mil pessoas presentes na tarde de domingo (25) à av. Paulista (confira aqui), segundo a Polícia Militar do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Rep), ou os 185 mil contabilizados (confira aqui) no estudo da USP coordenado pela excelência do filósofo Pablo Ortellado? Quaisquer que sejam os números reais, a certeza: mesmo apeado do poder há mais de 1 ano, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou ainda ter considerável força popular e política, com a presença também de quatro governadores de estado.
O que mudou?
Prestígio de Bolsonaro posto e racionalmente aceito, resta outra pergunta: o que o ato de domingo muda nas investigações que têm o ex-presidente e seus generais como alvo da cada vez mais evidenciada tentativa de golpe de estado no Brasil? Segundo apurado (confira aqui) junto a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo jornalista Guilherme Amado, ao site Metrópoles, é como cantou Léo Jaime nos anos 1980: “nada mudou”.
Do grupo majoritário do STF, composto pelos ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino, não foi nominado quem disse o quê. Mas o juízo geral do que foi dito não é nada favorável ao capitão:
— Bolsonaro está se sentindo emparedado. O discurso mais contido, sem ataques diretos, mostra isso.
— Isso ocorre porque o próprio saberia que a prova para condená-lo não é mais teórica, de uma suposta influência intelectual sobre todo o esquema para o golpe, como o domínio do fato usado para condenar petistas no Mensalão. A prova agora é material.
— Bolsonaro procurou terceirizar para o pastor Silas Malafaia os ataques ao STF, mas sem gerar o mesmo efeito na multidão. Ministros veem nessa estratégia a aposta de que Malafaia teria uma blindagem, por ser religioso, mas concordam que isso tem limite. Se Malafaia usar dinheiro de sua igreja ou de associações privadas para financiar os atos, será envolvido.
— A baixa adesão de políticos ocorreu porque muitos têm complicações eleitorais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e temem o efeito que isso teria sobre seus casos.
— O efeito deste tipo de ato era um com Bolsonaro presidente. É outro com ele fora do poder.
Falas da Paulista compremetem Bolsonaro?
Ao admitir em seu discurso na Paulista que sabia da minuta do golpe, cuja primeira cópia foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, Bolsonaro pode ter (confira aqui) se complicado juridicamente na assunção de crime. Ademais, ao pedir anistia aos presos pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente reforçou para Polícia Federal (confira aqui) sua ligação direta e posição de liderança do evento golpista.
Herdeiros em 2024 e 2026
Com Bolsonaro inelegível até 2030, a sua popularidade é disputada por quem pretende herdar seus votos. Na próxima eleição municipal daqui a exatos 7 meses e 10 dias, a Paulista apresentou o fio da navalha — no qual é fácil cair ou cortar o pé — como piso ao prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB). Que sem os votos de Bolsonaro, talvez não se elegesse nem a vereador. E que, em sua tentativa de se manter prefeito, enfrenta em sua cidade uma rejeição ao ex-presidente consideravelmente maior do que no resto no estado de São Paulo.
Já a eleição a presidente e governador de 2026, noves fora a certeza de que Bolsonaro não participará, além de mais distante, é mais complexa. A não ser que o cavalo lhe passe selado, o que os atuais índices de aprovação popular de Lula e seu governo não indicam, Tarcísio de Freitas tentará a reeleição como governador de São Paulo. Também presentes, Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União) já são governadores reeleitos, respectivamente, de Minas Gerais e Goiás. Entre eles, hoje, se projeta o candidato da direita a presidente, daqui a dois anos e meio. A ver.
Aqui, o jornalista, blogueiro do Folha1 e sevidor federal Edmundo Siqueira também analisou os fatos de ontem.