Existem “pais” e “mães” políticos dos R$ 51,41 milhões projetados para Campos dos Goytacazes pelo novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado (confira aqui) na última quinta (7) pelo presidente Lula (PT)? Pré-candidatos à Prefeitura de Campos, o prefeito Wladimir Garotinho (PP), o professor Jefferson de Azevedo (PT), reitor do IFF, e a deputada estadual Carla Machado (PT) tentaram (confira aqui) surfar essa onda na semana passada.
Mas, afinal, o PAC deve ser encarado como um “favor” de políticos com olhos nas urnas, ou uma simples obrigação do Governo Federal (confira aqui), por integralmente custeada pelos impostos do contribuinte? Para tentar responder a essas perguntas, o blog ouviu também a professora, ex-vereadora, presidente do PT em Campos e pré-candidata a vereadora, Odisséia Carvalho; o economista Alcimar das Chagas Ribeiro, professor da Uenf; o presidente do Sindipetro NF, Tezeu Bezerra (PT); e o jornalista Sebastião Carlos Freitas, ex-editor-geral da Folha da Manhã.
Confira abaixo:
Odisséia Carvalho – “A reconstrução de um país após quatro anos de um processo contínuo de desinvestimento, passam por superar as posições partidárias. Campos é mais um exemplo a ser observado. Mesmo com o alinhamento entre o atual prefeito e o ex-presidente Jair Bolsonaro, serão investidos R$ 51,41 milhões no PAC. Estes investimentos serão importantes em uma cidade que, mesmo recebendo vultosos valores advindos do repasse dos royalties, ainda tem graves problemas em áreas como transporte, moradia e um expressivo número de pessoas em situação de vulnerabilidade. Fundamental o reconhecimento pelo prefeito de Campos, Wladimir Garotinho e pela população, deste empenho em retomar o crescimento do país demonstrado pelo Governo Federal neste momento. Campos terá uma candidatura própria do Partido dos Trabalhadores. Ao colocar Campos no PAC, o Governo Federal deixa clara seu compromisso com a cidade”.
Alcimar das Chagas Ribeiro – “Enquanto se discute a importância das poucas dezenas de milhões e os responsáveis pela transferência ao município de Campos, não se investiga o que realmente importa: como os recursos são executados e a favor de quem? Em 2023, dos R$2,9 bilhões de receitas correntes no município, foram executados em investimento só 5,21%. O restante foi para custeio da máquina: 40,23% em pessoal e 46,81% em despesas outras. Apesar do volume representativo de receitas correntes, o município mantém forte dependência das transferências de benefícios sociais do Governo Federal. No ano passado esse volume somou R$ 677,9 milhões. A fragilidade socioeconômica de Campos pode ser confirmada na geração de emprego em 2023: do saldo de 4.151 novas vagas, 68,34% ocorreu no setor de serviços, cujo perfil é de baixo padrão tecnológico e rendimento limitado. A discussão sobre as transferências no contexto do PAC, sua importância e, sua origem, podem não ter a relevância que se imagina”.
Tezeu Bezerra – “Acho que o prefeito tenta navegar na onda do PAC como um bom articulador, mesmo tento uma visão ideológica diferente do PT, ele tem porta aberta com o companheiro André Ceciliano. E a partir disso consegue ter espaço de diálogo do governo Lula. De fato, o papel do gestor municipal é pensar na cidade e acho que bater na porta do governo Lula mostra maturidade. E Lula abre a porta a todos os gestores municipais e estaduais, diferente do candidato perdedor na eleição de 2022, que perseguia e tentava atrapalhar os gestores que pensavam diferente. Vamos ver se o prefeito vai saber retribuir a generosidade do governo Lula e o apoiar em 2026. Os investimentos do PAC são muito importantes. Acho que o prefeito poderia falar como foi a priorização dos projetos, pois o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) existe de 1990 e só agora Campos passa a ter esse programa tão importante à Saúde Pública”.
Sebastião Carlos Freitas – “Com relação ao PAC, tem sempre alguém querendo ser o pai e a mãe da criança bonita. Se todos tivessem consciência política, não teria espaço para esses aproveitadores. Assim como surgiu a desculpa “rouba, mas faz”, slogan criado para definir o ex-governador paulista Ademar de Barros (1901/1969) e sempre reforçado pelos eleitores de Paulo Maluf (PP), no caso do PAC, além da tentativa de aproveitamento eleitoreiro, vem também a narrativa do ‘sim, ele está fazendo o que obrigação, mas os outros não fizeram’”.