Tubo de ensaio para incomodar
Fenômeno típico do bolsonarismo, que usa a truculência e o smartphone para tentar converter engajamento nas redes sociais em voto, o deputado estadual Filippe Poubel (PL) nunca foi um pré-candidato sério a prefeito de Campos. A não ser a quem suponha que um município de tradição política nacional desde o ex-presidente Nilo Peçanha (1867/1924) daria palco a um aventureiro de Maricá. Aliado do presidente campista da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), Poubel só serviu para incomodar o governo Wladimir Garotinho (PP). E, de fato, incomodou a ponto de trocar o comando do PL em Campos, trazido ao arco de apoio à reeleição do prefeito.
No PL, entra Alfredo e sai Ferrugem
Na última segunda (18), o blog Opiniões revelou que o PL goitacá passaria a ser presidido pelo empresário Alfredo Dieguez, secretário municipal de Abastecimento e ligado aos grupos de direita da cidade. Ele era o vice municipal da legenda, cargo que passa ao médico Jober Brito, bolsonarista raiz. Chefe de gabinete de Wladimir, o ex-vereador Thiago Ferrugem chegou a ocupar a presidência do PL em Campos. Em certidão emitida pela Justiça Eleitoral, datada do último dia 7. Com as mudanças, ele passou a assumir a coordenação dos partidos no arco de apoio à reeleição de Wladimir.
“L” de Lula, mulher e alvo
Enquanto Rodrigo trabalhava no Rio com seus aliados bolsonaristas da Alerj, Wladimir costurou em Brasília. No dia 21, ele apareceu em vídeo ao lado do senador Flávio Bolsonaro, que declarou seu apoio e do PL à reeleição do prefeito de Campos. Contornado por cima, Poubel passou a fazer ataques em suas redes sociais a membros do governo Wladimir pelo apoio a Lula no segundo turno presidencial de 2022. Nem que este tivesse sido dado pela esposa, como ocorreu com a de Ferrugem, exposta por Poubel em foto fazendo o “L”. No que há de mais abjeto no bolsonarismo: sempre eleger mulheres como alvos preferenciais.
Ataque e defesa
Com a foto da esposa de Ferrugem, Poubel escreveu: “Em destaque, a esposa do atual presidente do PL Campos, fazendo o L. Peço atenção das lideranças do partido”. Como o aluno do ensino fundamental que dedura à “tia”, após a ausência desta, quem teria feito bagunça na sala de aula. Ferrugem reagiu: “Lamentável o comportamento do deputado que, ao invés de vir para o debate, se esconde atrás de bravatas. Agora, usar a imagem da minha esposa, mãe dos meus filhos, só demonstra o caráter desse rapaz. Tenho muito orgulho da minha esposa. Diferente desse sujeito, ela é forte, corajosa e livre para tomar suas próprias decisões”.
Posição de Alfredo
O fato é que a “tia” deu ouvidos à fofoca. Para o PL colocar internamente Poubel de cara virada à parede, o partido em Campos passou a ser liderado por militantes orgânicos de direita. “A gente vem trabalhando para fortalecer a nominata do PL. Mas, para isso, temos que alinhar o todo, pois tem os outros partidos. Já tínhamos conversado na semana passada que Ferrugem poderia, sim, assumir a coordenação de todos os partidos da aliança para a campanha. Enquanto eu vou trabalhar com a ala de direita no PL, conversando com lideranças bolsonaristas da cidade para fortalecer o grupo à eleição”, disse Alfredo Dieguez.
Posição de Jober
Novo vice-presidente do PL goitacá, Jober Brito também se posicionou: “Sempre fui bolsonarista. Acho que a política deve ser assim, porque tem muita gente que pula de um lado ao outro. Acho honroso ter um pensamento e mantê-lo. Seguir uma linha não passa a imagem de falsidade. Sempre mantive a minha como bolsonarista e me associei às ideias do Partido Liberal de Bolsonaro. E continuo até hoje, perdendo ou ganhando. A política tem que ser assim, não esse pula-pula. Isso mostra que muitos não são verdadeiros no pensamento. E seguem a onda do momento. Fico feliz de ter sido lembrado e de estar ajudando com o PL”.
Elísio tem convite, mas fica com Caputi
“Estou fechado com a prefeita Carla Caputi (União). Recebi, sim, na última quarta (13), numa ligação telefônica, o convite de Washington Reis (presidente estadual no MDB) e de Garotinho (pré-candidato a vereador carioca pelo Republicanos) para me candidatar a prefeito de São João da Barra pelo MDB. Respondi que o movimento de oposição perdeu força no município e que esse convite teria que ser feito lá atrás. Vou concorrer à reeleição a vereador em apoio à prefeita Caputi”. Foi o que garantiu na segunda o edil sanjoanense Elísio Rodrigues (PL). Após a versão de que seria candidato de oposição a prefeito ter sido ventilada no final de semana.
Analiel vai ou fica?
Mesmo antes de Caputi assumir a Prefeitura em 5 de abril de 2022, após a renúncia de Carla Machado (PT) ao cargo, Elísio já era considerado o candidato natural da oposição a prefeito em SJB. Mas, como esta coluna adiantou desde 6 de março, o edil de SJB compôs politicamente com a prefeita. Também foi adiantado que o outro vereador de oposição, Analiel Vianna (Cidadania) poderia seguir os mesmos passos, no apoio à reeleição de Caputi. Mas isso ainda continua a demandar conversa entre a prefeita e Analiel. Em Brasília, Elísio se encontrará com o deputado federal Altineu Côrtes (PL). Com quem decidirá se permanece no PL para outubro.
Publicado hoje na Folha da Manhã.