A 99 dias da urna, Campos já tem debate de cidade
Com George Gomes Coutinho e William Passos
A Folha antecipou, desde 3 de junho de 2023 (relembre aqui), que o professor Jefferson de Azevedo, hoje ex-reitor do IFF, seria o candidato do PT a prefeito de Campos. Como antecipou, desde 6 de novembro (relembre aqui), com base na interpretação (confira aqui e aqui) de juristas especializados em Direito Eleitoral e conceituados na comarca, que a deputada estadual Carla Machado (PT) não poderia ser candidata a prefeita de Campos em 2024.
Reeleita prefeita de São João da Barra em 2020, toda a jurispridência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Supremo Tribunal Federal (STF) veda uma terceira candidatura consecutiva de Carla a prefeita, sobretudo em município vizinho. O que foi confirmado por unanimidade pelo TSE no dia 18. Quando, seis meses depois do juízo antecipado pela Folha, o jornal confirmou: “Carla Machado não poderá ser candidata a prefeita este ano”.
Após tentar bater pezinho contra o TSE, de maneira tão patética e inútil quanto o bolsonarismo em 2022, no pastiche isolado de um petista a serviço de quem lançou o deputado estadual bolsonarista Rodrigo Amorim (PL) a prefeito do Rio em 2024, após quebrar a placa da ex-vereadora carioca Marielle Franco (Psol) em 2018, a realidade se impôs em Campos. E, na quarta (26), Carla anunciou (confira aqui) sua desistência da pré-candidatura a prefeita.
Na quinta (27), a presidente do PT em Campos, professora, ex-vereadora e pré-candidata a vereadora, Odisséia Carvalho, confirmou (confira aqui) o que a Folha havia antecipado pouco mais de um ano antes: Jefferson será o candidato do PT a prefeito de Campos. Depois de ter lançado na terça (25), na sede do Sindipetro NF, uma série de 13 encontros do partido para debater a cidade e formular seu plano de governo. Como a Folha tinha anunciado (confira aqui) na segunda (24).
Todas essas antecipações, confirmadas pelos fatos, são fruto do jornalismo. Que, a despeito das paixões ou manifestação de interesse pessoal, só se pratica a partir de fontes qualificadas, em trabalho sempre coletivo. Duas dessas fontes, o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos, e o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em estatística no IBGE, também acompanharam todo esse processo. Abaixo, as suas visões:
— Impossível não ver com bons olhos o trabalho proposto por Jefferson na mobilização programática e no planejamento interno do PT. Não é o caminho mais simples. É o oposto, o mais longo, envolve trabalho de formulação. Mas, sendo uma força política local minoritária que ainda é guiada por princípios, o PT segue aí por bom caminho para, quem sabe desde já, se tornar mais robusto justamente sendo uma usina de ideias, um espaço propositivo de diálogo com a realidade desafiadora de Campos — endossou George. E foi adiante:
— O PT de Campos foge, portanto, da fórmula da busca por se apoiar em “campeões de voto”, como já foi o caso do importantíssimo Makhoul Moussalem. E poderia ter sido com Carla Machado no pleito deste ano. Especialmente penso que o momento tem o potencial para modernizar o partido, “despessoalizar” localmente. É esta a tradição do PT nas cidades onde o partido é uma força política relevante. Um partido de quadros em mobilização permanente e dotados da capacidade de decisores políticos. A conferir! — projetou o cientista político.
— Como o encontro do PT foi aberto à população, fui ao Sindipetro na noite de terça. Na última fala, Jefferson fez um discurso muito forte. Criticou o modelo do garotismo, enfatizando a falta de planejamento da cidade para o pós-petróleo e o pós-royalties, a ausência de conversão do ciclo petrorrentista em erradicação da pobreza e do analfabetismo. Assim como o desaparecimento da habitação popular no “garotismo de Wladimir”, a ausência de solução para o transporte público do município e o fato de o garotismo se caracterizar por um modelo de “esgotamento dos recursos”, deixando sempre o governo seguinte “a ver navios”. Ele citou o legado deixado para Sérgio Mendes, Benedita da Silva e Arnaldo Vianna, além da “venda do futuro” no Rosinha 2 — testemunhou William. E foi adiante:
— Na sequência da sua fala crítica, Jefferson foi também propositivo: defendeu a necessidade de se olhar para experiências como a do PT de Maricá. Que criou um fundo soberano para preparar o município para o pós-royalties; fundo que, segundo ele, acumula hoje um patrimônio em torno de R$ 1 bilhão. Ele também defendeu a bandeira da tarifa zero e da articulação de Campos à política de neoindustrialização do Lula 3 — complementou o geógrafo e estatístico.
Única prefeitável, além do incumbente e líder Wladimir, a pontuar com 2 dígitos de intenção de voto na (confira aqui) única pesquisa registrada de 2024, Carla deixou um capital eleitoral que pode, ou não, ser explorado por Jefferson. Talvez atrapalhado pela indefinição do PT, ele tem patinado em 1 ponto de intenção de voto desde (confira aqui) as pesquisas a prefeito de 2023. As próximas dirão. Mas, hoje, a exatos 99 dias da urna de 6 de outubro, Campos já tem debate de cidade.
Publicado hoje na Foha da Manhã.