Rosinha queria discursar

Diante do povo e das câmeras, a união pelos royalties entre o prefeito carioca Eduardo Paes, a prefeita Rosinha Garotinho, o governador Sergio Cabral e seu colega capixaba Paulo Hartung (foto de Leonardo Berenger)
Diante do povo e das câmeras, a união pelos royalties entre o prefeito carioca Eduardo Paes, a prefeita Rosinha Garotinho, o governador Sergio Cabral e seu colega capixaba Paulo Hartung (foto de Leonardo Berenger)

 

 

Na passeata que levou 100 mil pessoas no Rio, em protesto contra a partilha dos royalties, um mal estar foi criado entre o governador Sergio Cabral e a prefeita Rosinha Garotinho. É que, por sugestão do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, apenas o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, discursou ao final da passeata, na Cinelândia. Rosinha, que se programou para também falar, teria ficado bastante aborrecida.

 

Manifestantes de Campos na passeata que parou o Centro do Rio (foto de Leonardo Berenger)
Manifestantes de Campos na passeata que parou o Centro do Rio (foto de Leonardo Berenger)

 

 

Apesar da chuva, cerca de 100 mil pessoas acompanharam a passeata até o final na Cinelândia, entre o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional (foto de André Luiz Mello/Agência O Dia)
Apesar da chuva, cerca de 100 mil pessoas acompanharam a passeata até o final na Cinelândia, entre o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional (foto de André Luiz Mello/Agência O Dia)

Furada

“Furo”, no jargão jornalístico, é obter a notícia que ninguém mais tem, aquela que se divulga com exclusividade. Dos jornais impressos à mídia eletrônica, como esta, dos blogs, o incômodo é sempre o mesmo para quem é “furado”, podendo ser atestado, por exemplo, em seus números inferiores de acessos e comentários — que nem o questionável anonimato consegue inflar. 

Recalques até naturais à parte, só se aconselha evitar a queda no ridículo de querer questionar a notícia de uma reunião, como a que o blog antecipou (aqui), entre a vereadora e blogueira Odisséia Carvalho (PT) e o advogado e blogueiro Cesar Tinoco, para depois ter que se “atualizar”, dando dia, hora e local de onde a reunião anunciada vai, de fato, ocorrer.

Cargos e salários dos professores: erro da Prefeitura, culpa do jornalista

Também na sessão de ontem na Câmara, acabou suspensa a suspensão dos Plano de Cargos e Salários (PCS) dos professores da rede pública municipal, sob alegação de contenção de despesas com a ameaça aos royalties.  Ao questionar a suspensão, a vereadora Odisséia Carvalho (PT) usou na tribuna a lógica que já havia sido externada por este blog (aqui): se o próprio secretário municipal de Administração e Recursos Humanos, Fábio Barreto, dizia que o PCS seria custeado por recursos próprios do município, como poderia ser afetado pelos royalties?

Ato contínuo ao questionamento, o presidente da Câmara, Nelson Nahim (PR) informou que havia recebido ligação de Fábio para “esclarecer” a questão. Em seguida, o líder go governo, vereador Jorge Magal (PMDB), subiu à tribuna para dizer que a suspensão havia se convertido num simples adiamento, garantindo que o PCS não iria mais esperar a definição da questão dos royalties pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas seria pago ao magistério em abril, retroativo a março.

Magal alegou que foi um erro de interpretação, jogando a culpa no jornalista da secretária de Comunicação que redigiu o texto inicial (providencialmente susbstituído por um novo). Também professora e sindicalista, a vereadora petista se deu por satisfeita com a revisão da suspensão do PCS para sua classe — num passo atrás do governo Rosinha que lembrou muito o ocorrido com o IPTU —, mas não deixou de ironizar:

— Pois é… A culpa acaba sempre sobrando para o jornalista!

As desculpas de Odisséia

Cobrada pelo vereador Albertinho (PP), na tribuna da sessão da Câmara de ontem, por um pedido de desculpas aos vereadores que acusou de omissos por negarem sua proposta pela CPI dos Royalties, a vereadora petista Odisséia Carvalho, ainda no final da noite de ontem, publicou em seu blog (aqui), hospedado no site da Folha, um pedido de desculpas a quem entendeu ser direito: o povo de Campos. Segue abaixo a transcrição, mas sem a reprodução da íntegra do seu requerimento da CPI, posto que este blog já havia feito sua divulgação (aqui) em primeira mão…

 

PEDIDO DE DESCULPAS A POPULAÇÃO CAMPISTA

Por odisseia, em 16-03-2010 – 23h45

A trajetória política de uma militante partidária, que há mais de 20 anos integra o mesmo partido, o PT, é marcada de vitórias e derrotas.

Por quatro vezes, nós do PT choramos a derrota do presidente Lula nas urnas, para depois comemorarmos o melhor governo da História desse País.

Assolada pela tristeza da morte de meu antecessor, o saudoso e eterno vereador Renato Barbosa, pude superar a dor, e encontrar forças para exercer o mandato de vereadora, com o compromisso de manter, sem vacilar, os ideais desse partido como legado de Renatinho.

Hoje, eu confesso. É um dia de vergonha. Para mim, não só como vereadora, mas principalmente, como cidadã.

Diante de uma situação tão grave, como a possibilidade de perder royalties, onde os argumentos que moveram os nossos adversários é o desvio e mau uso do dinheiro público, a Câmara não aprovou o requerimento solicitado de abrirmos uma CPI(Comissão Parlamentar de Inquérito )para investigarmos como foram utilizados,onde e como está sendo utilizado os royalties de petróleo em nosso município.

Ao não aprovar o requerimento entendo que a Câmara deixou de dar respostas a população campista e cumprir seu papel constitucional de: FISCALIZAR, E JULGAR POLITICAMENTE os atos administrativos do Poder Executivo, expressos em políticas públicas desastrosas que, durante 20 anos, jogaram pelo ralo 6 bilhões de reais,aí eu me pergunto:

Como essa cidade ainda tem pobres inscritos no programa federal Bolsa-Família?

Por que o transporte público é péssimo, e por que as empresas de ônibus parecem fazer o que querem na cidade?

Por que alugar ambulâncias a preço de ouro, quando adquirí-las seria muito mais barato?

Por que nossa coleta de lixo é uma das mais caras do país?

Quantos funcionários tem a Prefeitura?

Por que a merenda que era considerada de alto padrão passou a ser terceirizada por preço dez vezes maior?
 
Eu poderia, ficar o resto da noite citando fatos e fatos A população merece e tem o direito de saber com que se gasta dinheiro dessa cidade.

Mas reafirmo, o silêncio e a omissão  me assustam mais do que as possíveis respostas que obteria com a CPI dos Royalties..”A carapuça é para quem servir.”

Uenf, UFF, IFF e os royalties

O jornalista Gustavo Smiderle enviou ao blogueiro, por e-mail, desde o início da noite de ontem, mas no corre-corre de assuntos correlatos, a divulgação da nota oficial sobre os royalties da Uenf, UFF e IFF acabou ficando só para hoje. Antes tarde do que nunca, e até porque é muito grande o número de leitores que tem neste espaço sua principal fonte de informação acerca da polêmica dos royalties, vamos a ela…

 

Nota oficial do IFF, UENF e UFF sobre a legislação dos royalties

Neste momento crucial, em que se discutem mudanças abruptas na legislação que altera regras da distribuição de royalties do petróleo, nossas três instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão vêm defender a manutenção do princípio de que as regiões produtoras devem receber as receitas compatíveis com a riqueza que geram para o país. Afinal, são elas que realmente sofrem os diversos impactos da exploração petrolífera.

Nossas três instituições têm atuado juntas na formulação, implementação, supervisão e avaliação de boas políticas públicas. Desta forma, entendem que a pura e simples redivisão — e, o que é mais grave, a pulverização — de toda esta riqueza reforça um desequilíbrio inaceitável diante de questões tributárias que justificaram sua implementação, bem como a tornam ineficaz como suporte ao desenvolvimento das áreas contempladas. Como se sabe, a atual regra de rateio dos royalties veio compensar a norma de cobrança do ICMS sobre o petróleo.  Ao contrário do critério geral, o ICMS do petróleo incide sobre o destino e não sobre a origem.

A UENF, o IFF e a UFF entendem que a interrupção brusca desta receita acarretaria um ônus de proporções gigantescas, ainda não completamente avaliadas. Esta diretriz não suprime a necessidade da implantação de instrumentos de controle social, que garantam uma utilização que leve em conta a situação temporária da receita deste bem finito, assim como torna imperativo que as administrações municipais das regiões produtoras implementem políticas eficazes de diversificação produtiva, com sustentabilidade ambiental, e de autossustentação de despesas de custeio a partir das receitas próprias municipais, assumindo as responsabilidades da sustentabilidade perante as gerações futuras.

Neste sentido, as direções destas três instituições se colocam ao lado do movimento comunitário em defesa do direito aos royalties para os estados e para os municípios produtores de petróleo em nosso país.

Campos dos Goytacazes (RJ), 16 de março de 2010

 

Almy Junior – Reitor da UENF

Cibele Daher – Reitora do IFF

José Luis Vianna da Cruz – Diretor do Polo da UFF em Camposdos Goytacazes

Extra: Campos pega carona com a Mãe Loura do Funk

Enquanto ainda ocorre a passeata comendada pelo governador Sergio Cabral no Centro do Rio, contra a partilha dos royalties, parece que a participação de Campos impressionou bem menos do que era previsto, tendo, inclusive, que pegar carona com a Mãe Loura do Funk carioca. Segue abaixo a reprodução do site do jornal Extra (aqui)…

 

Odisséia vai à Justiça para ter o que não consegue na Câmara

Acabei de falar agora ao telefone com a vereadora Odisséia Carvalho (PT), que estava chegando ao Rio, para participar da passeata comandada pelo governador Sergio Cabral (PMDB) contra a partilha dos royalties. Ela não queria adiantar publicamente, mas como teve a estratégia vazada, revelou que deve usar ações populares para conseguir investigar, junto ao Ministério Público (MP), aquilo que não consegue na Câmara Municipal de Campos. Não só os fatos determinados (aqui) que a levaram a pedir a CPI dos Royalties negada por todos os demais colegas, como os três pedidos de informação sobre obras do governo Rosinha, igualmente sonegados por aqueles que têm o dever de fiscalizar as ações do Poder Executivo.

A estratégia será definida em reunião da vereadora ainda esta semana, tão logo volte do Rio, com a advogado e blogueiro Cesar Tinoco (aqui), a quem procurou a conselho do jornalista e blogueiro Alexandre Bastos (aqui).

Ações populares: a partir do apoio colhido pela vereadora em sua luta solitária na Câmara, raras vezes um instrumento jurídico teve nome mais apropriado.

 

Atualização às 21h32 de 17/03/10: Em comentário a este post, o advogado Cleber Tinoco, cuja atuação como blogueiro é referencial para todos, confirmou o contato mantido com ele pela vereadora Odisséia Carvalho, sugerido a ela pelo jornalista Alexandre Bastos e antecipado pelo blog.