Urgente! — Da reação de Nahim à reação da sociedade

Já tive meus problemas com Vitor Menezes. Mas, nunca, nada que me fizesse não considerá-lo como jornalista de talento e professor cioso. Isso prévia e publicamente posto, vale a pena conferir, aqui e abaixo, sua pertinente análise sobre a reação do presidente da Câmara de Campos, vereador Nelson Nahim (PPL), à reação da sociedade civil, expressa nas redes sociais, contra o aumento salarial máximo (de 61,8%) condecido pelos edis que lá estão aos 25 que serão eleitos daqui a menos de um mês…


Para vereador, cidadania é “pura maldade”

Na cabeça de um político tradicional, é altamente inconcebível que um movimento social possa ter nascido de uma iniciativa espontânea, de cidadãos interessados apenas no bem comum, e não a partir de uma conspiração partidária de oposicionistas.

Não foi diferente agora com o presidente da Câmara de Vereadores de Campos, Nelson Nahim, que classificou a reação de internautas contra o aumento dos salários do Legislativo (em 60%) como “pura maldade” (a propósito, um bom nome para um movimento), e o atribuiu ao momento eleitoral.

Os meninos e meninas do movimento reagiram hoje com uma nota, onde afirmam que “o que parece é que eles já viveram tempo demais na zona de conforto provocada por nossa inércia, e se esqueceram que aqui ainda existe uma sociedade pensante”.

Nahim é o mesmo que, há não muito tempo, chamou os críticos do legislativo na internet de “blogueiros desocupados”.

Enquanto isso, segue a petição online contra o aumento, que neste momento está próximo das duas mil assinaturas, e pode ser acessada aqui.

Para saber mais sobre o movimento, acesse o Manifesto de uma Tribo no Face, aqui.

Gustavo Matheus na blogosfera

Após a evidência colhida das denúncias contra o tio Anthony Matheus, o Garotinho, seu sobrinho Gustavo Matheus lançou um blog. Anunciando-se como “jovem aspirante a escritor”, sua primeira postagem, por óbvio, não poderia ser outra. Para conferir, basta clicar aqui

Para o bem e o mal

Para o bem e o mal, lapidar o texto do jornalista e escritor Ocinei Trindade, publicado aqui e reproduzido abaixo…

A morte da colunista na fogueira

Ela era fogo. Do fogo viera, do fogo vivera, talvez, até morresse na fornalha. Seu nome também era inflamável: Mary Fuego. Nome de feiticeira para uns, de bruxa para outros. Era a colunista social mais temida, odiada e falsamente bajulada da metrópole. Os adúlteros fugiam dela. Pior que ter certeza de um escândalo sexual estampado no jornal, é a dúvida, a desconfiança e a especulação de estar corneando ou sendo corneado, de ser gay ou lésbica clandestinamente. E nisto, Mary Fu (seu nick name) era craque. Sagaz, inteligente e muito ferina, sobreviveu até onde pôde, multiplicou o tempo de sua existência feito gato diante dos perigos cavados.

Mary Fu tinha estilo. Nunca foi bonita, mas chegou a ter olhos expressivos e cabeleira de Farrah Fawcett. Somente. Era difícil imaginar alguém sendo seu amigo. Dizem que tinha. Pelo menos um. Será que não? Bem, muitos se aproximavam dela para ferir os adversários. Mulheres invejosas, homens falidos e sexualmente impotentes, bichinhas e putinhas alpinistas, alguns poucos ricos e uma infinidade de pseudorricos e pseudopoderosos. Mary Fu se fazia de serva, mas ao final, ela era a senhora da notícia e do comércio de pessoas fúteis a fazerem poses e a expressarem opiniões vulgares ou minimamente inteligentes.

Entretanto, contar com anos de poder não é para qualquer um. Poucos se mantêm no topo por muito tempo. Isso é coisa para Madonna ou Nossa Senhora. E, Mary Fu não foi muito longe. Durante um período, se dividiu entre o ostracismo e o banimento, cortejou alguns endereços da boemia onde poderia encontrar-se com a nata industrial, comercial e afins: alcoólatras pederastas, pedófilos e pervertidos. Mary Fu bebeu todas ou quase. Embriagou-se e envereredou-se pela desconstrução. Era visível a cada dia a decadência física e moral. Acidentes, sobreviveu a vários. Perdeu dentes, cabelos, estatura. Altiva, não se curvava nunca e seguia mancando pelos corredores e avenidas. Patético, diziam.

Para alguns políticos, Mary Fu era útil. Uma espécie de Mata Hari infiltrada com ou sem disfarces, com ou sem informantes. Houve uma época em que a resgataram das sombras e do lodo. Devolveram-na um pedaço de papel para que ali publicasse as supostas opiniões e a suposta formação de opiniões. Os sobrenomes dos falidos ainda poderiam causar alguma impressão, desde os Guinle, os Mayrink Veiga, os Oliveira ou os Silva, entre outros. Já que o mundo muda e não pode parar, a nova safra de ricos emergentes poderia ser agora um filão, quiçá uma nova mina de ouro, para Mary Fu. Não foi bem assim como imaginou.

O declínio e a falência de tudo tomaram conta da colunista. Os mais otimistas e poucos cristãos de coração cogitavam uma mudança ou redenção por parte dela. Alguns acreditam que os maus-carácteres podem e têm a chance de mudarem. Nisto estão incluídos os calunidadores, chantagistas, mentirosos, maledicentes, invejosos, soberbos, venenosos, perigosos, e sobretudo, os impuros de alma. Alguns afirmavam que Mary Fu era tudo isso e mais um pouco. Diziam também que ela gostava dos comentários que chegavam aos seus ouvidos. Assim, sentia-se ao menos respeitada, embora respeito e desprezo nunca tenham combinado.

Não é possível afirmar se Mary Fuego era vilã em tempo integral. Cogitam que dentro de todo ser pérfido se esconde um mínimo de afeto e mimo. Desconheciam suas relações pessoais, pois estas nem sempre foram compartilhadas. Sabe-se que ela gostava de gatos. Em sua casa, havia vários exemplares belos e bem alimentados. Há quem prefira os bichos e até se refugiem entre esta ou aquela fauna. Os gatos a veneravam. Exceto um: o Amador, sonso e violento. Todavía, Mary Fu amava Amador, o gato amarelo de olhos amarelados. Ninguém acredita piamente que bruxas amem, porém é preciso. Mary Fuego amava.

A inveja era uma companheira inseperável da colunista. Mary invejava os maridos ricos, os maridos belos, as mulheres lindas e chiques, os bens materiais alheios, as joias, os carros, as mansões e as viagens para a Europa que todos faziam, menos ela. Mary afirmava para si mesma: “Minha coluna tinha que ser escrita no Le Monde ou no Le Figaro, ou no mínimo, no New York Times”, suspirava sulforosa. No entanto, seguia ela a sua rotina na Gazeta Canavieira, datilografando ácidos e venenos em forma de letras e frases na velha Olivetti, bem lá no fundo da redação do jornal, plec, tac, plec, tac, plec, tac…

Havia dias em que os editores e proprietários do folhetim se divertiam e se orgulhavam das notas cabeludas. Isto costumava render dividendos para plantar em seguida desmentidos e exaltações às figuras públicas da época. O lucro era mais ou menos dividido com Mary, que sempre ficava com no máximo vinte por cento. Era pouco. Mary Fu não gostava de ser dizimista em dobro. Dentro de si, praguejava e blasfemava toda sorte de injúrias e maldições contra os patrões. Ficava furiosa quando suas notas sofriam alguma alteração ou eram suprimidas por completo. Ela não se preocupava nem um pouco com os processos judiciais, diferentemente dos donos do jornal.

Mary Fuego, mesmo manca, não descia do salto. Houve uma vez em que sua coluna sofrera modificações por parte do dono do jornal. Faltando poucos minutos para a edição ser fechada, o editor deu seu jeito para tapar o buraco em branco que ficara. Na ausência de Mary Fuego, ele não perdeu tempo. Inventou uma viagem glamurosa das irmãs Colares, suas amigas pessoais: belas e suburbanas toda vida, jovens que nunca haviam frequentado a chamada alta roda da sociedade. O jornal foi publicado. No dia seguinte, Mary Fu entrou na redação cuspindo fogo e marimbondos. Queria saber quem autorizou aquela nota e quem eram as jovens que ela nunca ouvira falar. O editor, cínico e faceiro, disse que ninguém autorizou, que foi preciso cobrir o buraco e que as Colares eram suas amigas de Guarus. Mary Fu, ultrajada, disse que nunca na sua vida de colunista um pobre saiu em sua coluna. Ele, categórico, disse: Ah, Mary Fu, na vida sempre tem uma primeira vez para tudo. Ela nunca mais lhe dirigiu a palavra.

Houve um tempo em que Mary Fuego pensou na morte. A vida de ataques pessoais ao high society lhe rendeu alguns cobres e eletrodomésticos, além de um carro usado, e o financiamento do apartamentinho pelo extinto BNH. Evitava chegar a esta conclusão, pois odiava a ideia de que todo mundo sabia que ela era mortal, e pior: pobre mortal. Dizem que sua fé era inabalável, independentemente para qual deus rezasse. Alguns mais aprofundados diziam que a quantidade de gatos na residência era para absorver toda sorte de pragas e ódios que lançavam sobre ela os colunáveis. Há quem diga que felinos são bons para-raios. Sabe-se lá. Dizem tantas coisas a respeito dela e de todo mundo. A língua é peçonha quase sempre, e altamente inflamável.

Não se sabe como exatamente, Mary Fuego foi marcada para morrer na fogueira. Há alguns dias, a companhia elétrica cortou sua luz, pois há dois meses não pagava a conta. Naqueles dias, a bebida era consumida em doses maiores. À noite, em sua cama, acendeu uma vela na cabeceira sobre o criado mudo. Ali, ficou a beber a garrafa de cachaça sem copo, preferindo o gargalo, iluminada pela pequena chama. Embriagou-se tanto que, sem paciência, despejava o álcool pela boca aberta que se espalhava pelo rosto, pescoço e colo. Banhou-se de cachaça, e zonza, meio que adormeceu. Os gatos ficaram aos seus pés. Já Amador, o gato amarelo de olhos amarelados preferiu a guarda da cama. Mary Fu adormeceu com a língua à mostra.

Sabe-se lá o que se passa na mente de um felino assombrado. Amador pulou da guarda até o criado-mudo, empurrou a vela acesa em direção ao rosto da colunista. A chama atingiu primeiro sua língua e rapidamente, se espalhou pela face e toda a cabeça. Um horror. Os gatos, desesperados, gritaram. Algum vizinho ouviu e pediu socorro. Começava ali a morte de Mary Fu.Uma cena triste e muito violenta, além de emblemática. Durou dias sua agonia sobre o leito do hospital público. Amador quis sua morte. Conseguiu. Ninguém foi ao seu enterro, dispensaram o velório. Com o rosto desfigurado era mais difícil dar “o último adeus”. Houve quem lamentasse esse fim, mas também houve muitas comemorações no melhor do sadismo. Piadas de humor negro não faltaram. Alguns (poucos) rezaram por ela e intecerderam para que se arrependesse de seus muitos pecados, e que o Criador a perdoasse e lhe desse uma nova chance, uma vida melhor e mais simples e sábia em outro plano espiritual.

Em meio à fogueira de tantas vaidades, ninguém cogitou uma última inquisição, a não ser o gato Amante. Com a casa vazia, nenhum dos outros gatos por ali ficou. Partiram daquela para melhor.

Da inutilidade da hipocrisia

O espaço de charges no blog é do Zé Renato e ninguém tasca, mas para começar bem o feriadão, nada como o traço incisivo de uma das tantas manifestações que pululam nas redes sociais contra a inutilidade da hipocrisia petralha…

Rumi — Vertigem do Amor

Folha Letras, na contracapa da Folha Dois, na edição da Folha da Manhã de hoje
Folha Letras, na contracapa da Folha Dois, na edição da Folha da Manhã de hoje

Travei meu primeiro contato com o poeta Rumi (1207/1273) ainda nos anos 90, através do médico e ora candidato do PT à Prefeitura de Campos, Makhoul Moussallém. Libanês, filho orgulhoso da tribo dos cananeus, que os gregos antigos chamavam fenícios, Makhoul sempre foi homem de boa cultura, cioso daquela milenar à qual seu povo está integrado, com forte influência islâmica, presente entre outras coisas na língua árabe, apesar dele próprio ser cristão maronita.

A partir do aprofundamento na obra de Rumi, passei com o tempo a considerá-lo o maior entre todos os poetas medievais, superior mesmo aos italianos Dante (1265/1321) e Petrarca (1304/1374). De fato, grande foi minha emoção quando, junto com meu filho Ícaro, então com 10 anos, visitei o túmulo do poeta no Museu Mevlana, em Kônia, capital religiosa da Turquia, numa tarde quente de julho de 2009.

O local é um disputado centro de peregrinação, pois além da literatura, Rumi foi também um teólogo influente, considerado pelos islâmicos quase como um santo, ou o mais próximo disso que seus dogmas religiosos permitem. Ele fundou a ordem dos dervixes girantes, na qual homens com chapéus cônicos e longas saias dançam e rodopiam até entrarem em transe, buscando contato com o Divino. Embora a ordem tenha sido posteriormente proibida, os dervixes ainda existem, atraindo fiéis e turistas com a vertigem da sua fé.

Abaixo, para ilustrar o belo trabalho gráfico da artista estadunidense Lisa Dietrich, não por coincidência batizado “Rumi”, escolhi também sem acaso dois poemas do grande vate, que escreveu toda sua obra em persa, sendo um dos principais responsáveis para que a língua tivesse se mantido viva até nossos dias, resistindo ao longo dos séculos contra o domínio esmagador do árabe, que mesmo hoje detém o monopólio da expressão da fé islâmica.

Ao que Rumi nos diz no segredo dos seus versos, revelado na vertigem de quem dança em busca de Deus, a única resposta possível é a mesma que ele sempre reservou ao amor: “Colhe-me, colhe-me, colhe-me!”

Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


“Rumi”, de Lisa Dietrich
“Rumi”, de Lisa Dietrich

Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
— Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!

Conselhos petistas

Enquanto comemora, com razão, o deferimento da sua candidatura a prefeito de Campos, por unanimidade, ontem, no TRE, Makhoul Moussallem (PT) poderia aproveitar o feriadão, neste mês que resta antes da eleição de 7 de outubro, para madurar os conselhos de uma raposa felpuda do seu partido. Isso, sem, é claro, deixar cair o ritmo da sua boa campanha.

Em primeiro lugar, bater mais na questão da parceria sempre bem vinda entre governos municipal, estadual e federal. Como o próprio senador petista Lindbergh Farias já ressalvou, não bastaria dizer que se está com Cabral, Dilma e Lula, mas mostrar de maneira mais enfática o que já foi feito na planície com recursos do Estado e da União, além de projetar didaticamente, e com mais ambição, o que poderia ser feito administrativamente em Campos, a partir do alinhamento político da sua Prefeitura.

Em segundo lugar, explorar melhor a inaceitável colocação de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Não basta dizer que o município foi o pior de todo o Estado no Ideb. Colocar mães e filhos diante à constatação de que estes terão mais chance de ter um futuro melhor se estudarem numa escola pública municipal, por exemplo, de Cardoso Moreira, que já foi distrito de Campos, certamente causaria maior impacto.

Em terceiro, ser mais incisivo como candidato de oposição. Makhoul estaria se segurando pela possibilidade de Rosinha sair da disputa na última hora, por conta da sua inelegibilidade pela lei do Ficha Limpa, sendo substituída por outro candidato. Se isso acontecesse, os votos da prefeita migrariam para o petista de maneira mais fácil se ele evitasse antagonismos com ela. O pensamento não está errado, assim como acerta quem se lembra que a campanha está na reta final, fase na qual as opções se afunilam.

Embora oriundos de um petista experiente, não só nos processos eleitorais de Campos, mas de todo Norte e Noroeste Fluminense, esses são só conselhos, aqueles dos quais se diz merecer cobrança, não doação, se forem mesmo bons. Todavia, o fato é que não só Makhoul, mas todos os demais candidatos de oposição, trabalham para tirar cerca de 45 mil intenções de voto que hoje já seriam de Rosinha, para que o segundo turno seja possível. É muito difícil, quase impossível, mas ficará ainda mais se não for tentado.

Publicado hoje, na coluna Ponto Final, da Folha da Manhã

Ironia de antes do feriadão…

E para os escroques do planalto à planície que se achavam donos (e, por conseguinte, imunes) da opinião pública expressa democraticamente nas redes sociais, nada como mais um dia seguindo à frente do outro, com a ironia adequada ao estado de espírito de quem vai partir ao merecido descanso do feriadão…