Artigo do domingo — Brasil, qual é o nome do teu sócio?

 

 

Suponha, leitor, que alguém considere Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Anthony Garotinho políticos populistas. Lula e Bolsonaro, faces opostas da mesma moeda cunhada ao ferro do dogma e ao fogo da paixão; enquanto Garotinho, um troco da metade do valor.

Seria juízo por certo distinto do que fazem os numerosos seguidores dos três líderes políticos. Mesmo que não seja feito sem reconhecer, entre outras qualidades, a genialidade política do petista, o senso de oportunidade do ex-capitão do Exército e a determinação do radialista.

Suponha ainda que esse alguém seja defensor do Judiciário, do Ministério Público e da imprensa. E que veja nas críticas às três instituições o reflexo nítido da bipolaridade dos críticos. Como enxerga, na cara de cada representante das três esferas legislativas, o rosto sem maquiagem de quem votou para ser — e é — representado.

Ainda assim, e se esse alguém também encarasse os últimos acontecimentos com Lula, Garotinho e Bolsonaro à luz da razão? E visse na censura prévia do ministro do STF Luiz Fux à entrevista do ex-presidente à Folha de São Paulo um exercício desvelado e deslavado de autoritarismo?

Base do Iluminismo, da democracia representativa, da separação dos poderes e da não supressão do direito do indivíduo entre eles, onde colocar a batida máxima de Voltaire: “posso não concordar com uma palavra do que diz, mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizer”? Data vênia, máxima vênia, onde rezar sua missa de corpo presente?

Pode ser que esse alguém não tenha questionado a condenação de Garotinho, na 4ª Vara Criminal Federal do Rio, como chefe de quadrilha armada por sua atuação no governo estadual Rosinha. Não questionou em 18 de agosto de 2010, quando saiu a sentença. Nem quando o filme “Tropa de Elite 2”, baseado naqueles bárbaros crimes de Estado, foi lançado.

Mas talvez até o Eremildo, idiota criado pelo jornalista Elio Gaspari, indagasse: por que o TRF-2 só julgou e confirmou a condenação em 4 de setembro de 2018? Passados mais de oito anos da decisão de primeira instância, o que mudou na celeridade da segunda, além das urnas a governador do mês seguinte?

Adiante dos motivos aparentemente insondáveis da Justiça, e se esse alguém também encarasse o último extremo da grande mídia brasileira? Mais precisamente, a veiculação da matéria sobre a separação de Bolsonaro da sua ex-esposa Ana Cristina Valle, que estava sob segredo de Justiça na 2ª Vara de Família da Barra da Tijuca.

No limite muitas vezes tênue entre interesse público e interesse do público, fica cada vez mais difícil saber qual é o observado pela imprensa. Mas expor as vísceras de uma separação litigiosa com disputa de bens e guarda de filho, sem prova de nenhum crime que não acusações passionais sepultadas pelo tempo, deveria referenciar alguma fronteira ética.

Independente do resultado da agrimensura, serve para resguardar a vida pessoal de quem fez a matéria e de quem a leu. Nem mais, nem menos do que a de um candidato a presidente líder em todas as pesquisas a pouco mais de uma semana da eleição.

Não gostar de Lula, Bolsonaro e Garotinho é um direito. E, convenhamos, os três deram e dão motivos para isso. Mas até onde são capazes de ir a Justiça e a imprensa com quem elas não gostam, ou não gostamos nós, é a medida a ser adotada com cada cidadão que gere contragosto — inclusive conosco.

Goste-se ou não de futebol, quem assistiria a uma partida em que juiz, bandeirinhas, VAR, comissões técnicas, gandulas, maqueiros e crônica esportiva passassem a ser protagonistas sobre os jogadores do campo? Sejam estes craques, ou pernas de pau enganadores, ao gosto das torcidas.

Quando Judiciário, Ministério Público e imprensa avançam sobre seus papeis institucionais, dão liberdade a outros entes para também fazê-lo. Para quem ainda não percebeu, as Forças Armadas, humilhadas em uma intervenção desastrosa do governo Temer na Segurança do Rio, voltaram a entrar no campo civil. E tinham abandonado esse jogo por W.O. desde 1985.

De volta ao nosso hipotético alguém do início deste texto, a sete dias da eleição, ele é o sujeito que despertou à realidade do seu país afunilada entre Bolsonaro e Haddad. E com uma única opção concreta para ainda tentar fugir da polarização e buscar o centro: Ciro Gomes.

Diante do cearense como derradeira alternativa ao equilíbrio nacional, o dilema remete à máxima de outro filósofo, que revelava a verdade pelo humor. Foi Marx — o Groucho, não o Karl — quem disse: “nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio”.

 

Publicado hoje (30) na Folha da Manhã

 

Eduardo Paes: “considero Campos a segunda capital do Estado”

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

Eduardo Paes (DEM) já era líder isolado em todas as pesquisas quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnou a candidatura de Anthony Garotinho (PRP), na última quinta (27), com base na Lei da Ficha Limpa. Mas as perguntas desta entrevista foram enviadas antes do fato, cujas consequências sobre o pleito do próximo domingo ainda não foram medidas. O ex-prefeito do Rio falou abertamente sobre seus próprios problemas com a Justiça e de alguns dos seus ex-secretários. Mais importante, apresentou suas propostas ao Governo do Estado à Segurança Pública e aos servidores, aos quais acenou com a possibilidade de reajuste. Sobre o Norte Fluminense, ele reafirmou seu compromisso com a Ponte da Integração, a Uenf e o Porto do Açu. E foi além: “considero Campos a segunda capital do Estado”.

 

 

Folha da Manhã – Talvez seu maior feito na campanha tenha sido suplantar, aos olhos do eleitor, sua ligação com o ex-governador Sérgio Cabral, o atual, Luiz Fernando Pezão, e o ex-presidente da Assembleia, Jorge Picciani, todos do MDB. Foi isso ou o fato de seus principais concorrentes nas pesquisas, Romário e Garotinho, terem defeitos considerados ainda piores?

Eduardo Paes – Como prefeito do Rio trabalhei em parceria  com o então governador Sérgio Cabral. E lamento profundamente que ele tenha ido pelo caminho que resolveu percorrer. Está pagando caro por isso e respondendo pelos seus crimes. Eu respondo pelos meus atos. Fui aliado dos três governadores e dos três presidentes que passaram por mim, mas não posso responder por eles. E sendo governador, vou ser aliado dos 92 prefeitos do estado e do próximo presidente da República. A meu favor eu tenho o meu trabalho de oito anos como prefeito do Rio.  Enquanto o Estado já estava em crise, decretando estado de calamidade pública, na Prefeitura estávamos assumindo dois hospitais estaduais, as Bibliotecas Parque e os servidores municipais continuaram a receber os salários em dia, as nossas contas estavam sendo pagas e  as  obras sendo entregues.

 

Folha – Como vê a sobrevivência de Cabral, Picciani e do ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (MDB), nas candidaturas dos seus filhos a deputado federal: respectivamente Marco Antônio Cabral, Leonardo Picciani e Danielle Cunha, todos do MDB e em sua coligação? Na manutenção de oligarquias políticas, como essas candidaturas se diferem das de Clarissa (Pros) e Wladimir Garotinho (PRP), também candidatos a deputado federal?

Paes – Eu não posso criminalizar as pessoas, os crimes não são hereditários. O que nós sabemos é que quem cometeu crimes está pagando por eles.

 

Folha – Como avalia os dois governos Cabral e o de Pezão? O que neles serve como exemplo a ser seguido e a ser evitado? Sendo o mais sincero possível, que influência os dois, além de Picciani e Cunha, teriam em seu governo?

Paes – Eu quero olhar pra frente. Apresentar propostas do que precisa ser feito para que o nosso Estado possa avançar. Agora, mesmo tendo sido do PMDB, você nunca viu estes personagens mandando no meu governo, na Prefeitura do Rio. Se não foi assim quando eu era do partido, agora não será diferente.

 

Folha – O senhor e o deputado federal Pedro Paulo (DEM) foram condenados em dezembro de 2018, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a oito anos de inelegibilidade, por abuso de poder político e econômico na eleição municipal de 2016. Em abril deste ano, seus direitos políticos foram restituídos em decisão liminar do ministro Jorge Mussi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Concorrer sob liminar não transmite insegurança ao eleitor?

Paes – Não. Esta decisão se refere ao planejamento estratégico que deixamos pronto para o governo que me sucederia. Ao longo dos oito anos do meu governo fizemos os planejamentos estratégicos dos dois mandatos (2009-2012 e 2013-2016). Esses planejamentos estratégicos nortearam as nossas ações e obras. Preparei o planejamento estratégico para o governo que me sucederia porque é natural que se busque uma continuidade das políticas públicas. A população está cansada de projetos que não têm continuidade. Então, à luz do que já tinha sido feito, propusemos discussões com a sociedade civil organizada. Isso durou semanas, foi amplamente divulgado e o resultado virou um documento que foi publicado. Uma vez público, ele poderia ter sido usado por qualquer candidato. O Pedro Paulo era o candidato da situação, que representava a continuidade dessas políticas públicas que fizemos. Não adotar aquelas propostas como base seria um contradição.

 

Folha – No primeiro debate entre os candidatos a governador, promovido pela Band em 16 de agosto, Garotinho (PRP) falou da prisão pela Lava Jato do seu ex-secretário de Obras na Prefeitura do Rio, Alexandre Pinto, e perguntou ao candidato Wilson Witzel (PSC): “Vem mais uma delação aí?”. Ex-juiz federal, ele confirmou a delação e garantiu que os mandados dela advindos estão para sair. Isso preocupa após a eleição? Por quê?

Paes – Eu sempre digo que tenho delações negativas. Oito delatores foram claros em dizer que não pedi propina ou qualquer outro benefício pessoal no trato da coisa pública. Um deles relata inclusive ter sido questionado por mim se alguém na prefeitura adotava esse tipo de prática. Não tem nenhum agente privado ou delator que tenha feito referência à cobrança de propina, desvio, aditivo na máquina pública da prefeitura com a minha participação. Problemas aconteceram no governo. São públicos e notórios. Inclusive não era um quadro político. Era um quadro técnico. Eu assumo a responsabilidade por ter escolhido esse quadro técnico. E fico triste de não ter um sistema de controle ainda mais efetivo que permitisse detectar isso. Esse é um cuidado que eu quero reforçar ainda mais no governo do estado. No meu plano de governo, proponho mecanismos mais modernos e eficientes de combate à corrupção.

 

Folha – No debate, do SBT em 19 de setembro, um jornalista o questionou pela prisão de Alexandre Pinto e pelas acusações contra seus ex-secretários de Saúde Hans Dohmann e Daniel Soranz, por falta de fiscalização nos contratos com a OS Biotech, mesmo após o Tribunal de Contas do Município ter apontado indícios de fraude e superfaturamento. O senhor lavou as mãos no primeiro caso, mas defendeu com firmeza os outros dois acusados. Por que a diferença de atitude?

Paes – Eu não lavei as mãos em caso algum. O caso do Alexandre Pinto foi comprovado, houve uma confissão, e muito me entristece saber que tomou esse caminho, porque era um quadro técnico que eu considerava de qualidade. Meus secretários de saúde, diferentemente do que a pergunta aponta, não estão respondendo a qualquer denúncia criminal. Não há o que  desabone a idoneidade de Daniel Soranz e Hans Dohmann. Imediatamente, quando houve a suspeita de fraude na OS, cancelaram os contratos e bloquearam os repasses de recursos. Hoje os donos da instituição estão presos e respondem aos danos causados. Eu pedi o afastamento imediato dos gestores e punição exemplar à quadrilha. A Biotech também foi descredenciada na SMS e desqualificada para não participar de outro chamamento público.

 

Folha – Líder em todas as pesquisas, sua presença parece estar garantida no segundo turno. Lá, nas simulações feitas nas últimas pesquisas Ibope e Datafolha, o senhor dá uma lavada em Garotinho: respectivamente, por 41% a 24% e 43% a 25%. Venceria também Romário, mas no empate técnico da margem de erro de três pontos para mais ou menos: 37% a 31% na Ibope, e 38% a 32%, na Datafolha. Por ter uma rejeição menor (22% contra seus 31% na Ibope, e 29% contra seus 34%, no Datafolha), o senador seria seu adversário mais difícil em 28 de outubro?

Paes – Não falo sobre pesquisa. Deixo a análise política para os analistas políticos. Eu não sou analista político. Eu faço campanha. Claro que fico feliz com pesquisa. Mas não visto salto alto quando é boa e nem me deprimo quando é ruim. Então sigo trabalhando, apresentando as minhas propostas para o estado. Discutindo, tentando mostrar na televisão, nos debates, nas entrevistas aquilo que a gente quer fazer pelo estado.

 

Folha – Na última terça (25), Pezão visitou as obras da Ponte da Integração, entre São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. A despeito de todas as promessas dele, a ponte não será concluída em seu mandato. Compromete-se em fazê-lo no seu? Seria capaz de fixar prazo?

Paes – Essa ponte é fundamental para a economia do Norte Fluminense, pois além facilitar o escoamento da produção da fruticultura e das usinas de cana de açúcar, essa ligação ajudará a incrementar o turismo e outras atividades econômicas da região. Garanto que, no meu governo, não haverá obra parada, pois vou arrumar as finanças do Estado para investir fortemente em infraestrutura. Tenham certeza que  a ponte de São João da Barra será uma das minhas prioridades na região.

 

Folha – O senhor tem dito que mesmo depois de encerrada a intervenção federal no Estado, com o Exército no comando da Segurança Pública, vai pedir ao próximo presidente que apoio das Forças Armadas continue. Qual a sua avaliação da intervenção? E o que mais pretender fazer para solucionar a explosão da criminalidade na capital e no interior fluminense?

Paes – Eu sempre digo que não tem essa de ser contra ou a favor da intervenção. Ela era necessária pelo momento atual do Rio. De certa maneira, havia uma falta de comando no estado e a intervenção acabou sendo necessária. Ela se encerra em 31 de dezembro, mas, se eleito, vou pedir ao próximo presidente que as Forças Armadas continuem trabalhando conosco sob uma nova estratégia de ação e sob o comando do governador.  A Segurança Pública é o grande desafio que temos e a solução não vai ser a curto prazo, mas podemos ter resultados rápidos investindo no que é fundamental. Sou candidato a governador para cuidar da Segurança Pública. Será minha responsabilidade. Precisamos recuperar o nosso direito de ir e vir. Mas não tem solução mágica. Tem, sim, trabalho, esforço, planejamento, novos modelos de policiamento e gestão. Nossa prioridade será reduzir as mortes violentas e os roubos. Isso se faz com mais policiais nas ruas. Essa ausência de paz não é mais algo exclusivo da Região Metropolitana. Queremos reduzir a violência nas ruas de forma significativa já no primeiro ano de governo, implantando um novo modelo operacional para o patrulhamento territorial. Vamos criar os Centros de Operações Policiais (C.O.P.) para integrar as atividades das forças de segurança, coordenando a vigilância nas ruas, o patrulhamento tático-ostensivo e as atividades de investigação criminal. O estado do Rio tem hoje cerca de 44 mil policiais e muitos deles não estão nas ruas. Parte do efetivo está afastada, cedida ou em atividades administrativas. É preciso remanejar pessoal, aumentar o efetivo que faz o patrulhamento das ruas para reduzir os indicadores de roubos e de homicídios.  Vamos instituir também a Força da Paz, uma força-tarefa de inteligência e operação integrada contra o Crime Organizado, com a participação da Polícia Civil, da Receita Federal e da Secretaria de Fazenda. O foco do trabalho é levantar e cruzar informações para asfixiar as fontes de financiamento do tráfico e da milícia. O maior investimento em inteligência vai nos permitir atuar de forma mais cirúrgica contra as organizações criminosas e com isso, evitar esse número absurdo de tiroteios nas comunidades. Tem muito policial, morador, gente inocente morrendo. Vamos restabelecer um sistema de corregedoria independente, coordenada com o Ministério Público e a Polícia Federal, para juntas atuarem no combate à corrupção policial e a Penitenciária.

 

Folha – Além da violência, o Estado do Rio vive também um quadro de insolvência financeira. O que pensa sobre o regime de recuperação fiscal firmado entre os governos Michel Temer e Pezão, ambos do MDB, seu ex-partido. Propõe algo diferente?

Paes – Recuperar as finanças do Estado é tão importante quanto resolver o problema de Segurança. Porque precisamos retomar urgentemente os serviços básicos para a população. É preciso fazer o chamado feijão com arroz, que é colocar a saúde e a educação para funcionarem, dar aos servidores as condições mínimas de trabalho. Um dos meus primeiros atos depois de eleito será procurar o presidente eleito e rediscutir o Regime de Recuperação Fiscal. Ele foi importantíssimo para que o Estado pudesse voltar a pagar os servidores em dia, garantir o mínimo de prestação de serviço, mas precisamos ajustar as contas, fazer o dever de casa, para depois poder repactuar, porque terminado o período do regime, a conta continuará muito alta. Só assim conseguiremos avançar. O governador que assume tem a obrigação de ajeitar as contas do estado. Eu vou ajeitar as contas do estado. Não vou ficar preso a acordo de recuperação fiscal. Ele era necessário porque o estado não cumpria com a sua obrigação. Então foi um puxão de orelha do governo federal. Uma situação momentânea, conjuntural, que a gente vai resolver.

 

Folha – A face mais cruel da falência financeira do Estado se dá sobre os servidores ativos e inativos. Qual o seu compromisso em honrar mensalmente esses vencimentos?

Paes – Vou recorrer à minha experiência à frente da prefeitura do Rio para responder essa. Quando assumi o município, o país também estava em crise. E na minha gestão arrumei a casa, saneei as contas da prefeitura, renegociei contratos, ampliei a arrecadação do município, fiz economia. Nos meus 8 anos de gestão paguei os funcionários em dia, até o segundo dia útil do mês. Honrei com 13º salário, adiantando parte dele no meio do ano. E ainda fiz com os servidores de cada secretaria acordos de resultados que, uma vez cumpridos, garantia um 14º salário ao servidor. No estado, quero adotar esse mesmo caminho. A gente tem que chegar e arrumar a casa. Tem espaço pra isso. Não estou dizendo que é simples. Mas tem caminho. Exige conhecimento, profissionalismo. Eu aprendi a cuidar das finanças, nesses anos de muita crise, a prefeitura manteve seus servidores em dia e a capacidade de investimento. Isso que a gente pretende fazer no governo do estado. Portanto, não vamos sacrificar o servidor pela incompetência do estado. Se for possível, ajeitando as contas do estado, quero dar aumento, reajustar servidor. Eu fiz isso na prefeitura, quando reajustava servidor anualmente, pelo menos pelo índice da inflação.

 

Folha – Outra face do caos financeiro se dá sobre o abandono da Uenf e do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. No debate da Band, quando perguntados sobre a Uerj, apenas o senhor, Garotinho e Tarcísio lembraram que a Uenf também existe. O que planeja para a mais importante instituição de ensino superior da região?

Paes – Já visitei a Uenf nesta campanha e me reuni com seus diretores. Na ocasião, firmei compromisso de, se eleito, garantir os repasses constitucionais de recursos, os duodécimos, tanto para a Uenf como para a Uezo e a Uerj. Me comprometi ainda a garantir recursos à Faperj. Eu considero que as universidades podem ser importantes aliadas na recuperação econômica do Rio, por serem berço de inovação do conhecimento e de geração de novas vocações econômicas.  A Uenf tem um papel fundamental no desenvolvimento do estado. Para mudar a matriz econômica, o estado do Rio tem que encontrar vocações que vão além da matriz óleo e gás, que tenham a ver com a sociedade do conhecimento, com a inovação, com a pesquisa. A universidade cumpre com esse papel fundamental. Então eu assumi um compromisso com o reitor e os docentes de que nós vamos ajeitar as contas do estado e viabilizar os recursos necessários: não só os 2% para pesquisa da Faperj, como também garantir os duodécimos para as universidades. Elas não podem ficar reféns da má gestão e da incompetência do governo. Eu vivi uma experiência interessante como vice-presidente para a América Latina de uma empresa chinesa de novas energias, que começou a partir de uma universidade, onde um químico desenvolveu um novo modelo de bateria e hoje é a maior fabricante de veículos elétricos do mundo. A partir da inovação e pesquisa, de uma experiência universitária, dei o exemplo da China que começa a acertar em inovação. Olhe para a Califórnia, nos EUA. A economia daquele estado é só conhecimento, inovação. Tem indústria, mas o grande ativo, quando se olha para a economia do estado da Califórnia, é isso. E eu acho que essa é vocação do Rio. A gente tem o estado mais educado do Brasil. O capital humano fantástico e é a segunda economia do país e localização excepcional.

 

Folha – Quais são seus planos para Porto do Açu na questão do desenvolvimento do Norte Fluminense?

Paes – O porto do Açu é um empreendimento fantástico, enorme, que vai gerar muito emprego, e que precisa ter sua ligação com a malha ferroviária do Sudeste. É necessário que o próximo governador negocie com o governo federal a concessão de uma ferrovia que atenda o escoamento de produção do Porto do Açu. O governo federal está renovando concessões de ferrovias. E essa outorga a gente tem que puxar para essa ligação ferroviária, para não ir para outras prioridades. E nessa hora a força política conta. Por isso defendo a eleição de senadores com grande capacidade de articulação política, para que possamos atrair recursos e oportunidades para o Rio. O momento não é para amadores e nem para gente que não esteja comprometida com o desenvolvimento do estado.

 

Folha – Com sua foz em Atafona assoreada, o rio Paraíba do Sul sofre em período de estiagem. Há registro de língua salina já no distrito de Barcelos. Há vida para Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana sem o rio que os formou? Como recuperá-lo?

Paes – A localidade sofre com um problema grave de erosão. É preciso fazer um estudo hidráulico da região, que é uma área muito importante. A partir de um projeto executivo detalhado, vamos buscar recursos, seja estadual ou federal, para que este problema possa ser definitivamente resolvido.

 

Folha – O que Campos, Norte e Noroeste Fluminense devem esperar de Eduardo Paes governador?

Paes – Eu considero Campos a segunda Capital do estado, por sua importância econômica, política e social. Nesta campanha, já visitei inúmeras vezes a região, onde reafirmei o compromisso com a recuperação das finanças do estado, cuja crise se faz sentir de forma mais dramática no Interior do Rio. Me comprometi ainda com a retomada do desenvolvimento econômico do Norte e Noroeste fluminense e dos serviços básicos de Saúde, Educação e Segurança Pública da região. Vamos trabalhar junto com as prefeituras locais para resgatar os serviços à população. Faço questão de afirmar o meu compromisso com o Interior. O governo do estado é muito mais importante para as cidades do Interior. Nós vamos botar a máquina do estado para funcionar e ajudar as prefeituras a atender a população. A gente precisa de gestão. Gosto de andar por aí. Eu sou um cara feliz governando. O desafio não me assusta. Os problemas não me assustam. Eu acordo com disposição e orgulho e eu vou caminhar muito por aqui. Vocês vão ter um governador presente, que vai ajudar muito o Interior. O Norte Fluminense é muito forte, a nossa indústria do óleo e gás tem um papel fundamental a cumprir, mas precisa ter mais apoio do governo do estado e ter suas vocações econômicas ainda mais desenvolvidas. O Norte Fluminense é uma joia de nossa coroa. É uma área do estado muito forte, com um potencial econômico enorme e que precisa se desenvolver para que a gente possa gerar emprego. Precisamos ainda melhorar as condições para que o produtor rural possa trabalhar. Temos que melhorar as condições de infraestrutura e logística, recuperar as estradas, que estão em péssimas condições. A gente não precisa aceitar certas coisas como estão. E essa indignação, além da certeza do que a gente é capaz de fazer, que me move a disputar essa eleição.

 

Pàgina 2 da edição de hoje (30) da Folha

 

Publicado hoje (30) na Folha da Manhã

 

Entre 2018 e 2020, as candidaturas a deputado federal de Campos

 

 

Quem tem garrafa vazia?

Na edição da última sexta (28) deste jornal, Murillo Dieguez escreveu em sua coluna algo que parece senso comum: “Na segunda feira, dia 8 (de outubro), começa a arrumação do tabuleiro eleitoral de 2020. Será a hora de conferir quem mostrou ter garrafa vazia para encher, ou não”. Especula-se que a disputa entre os candidatos a deputado federal Marcão Gomes (PR) e Wladimir Garotinho (PRP), nas urnas de Campos daqui a sete dias, será termômetro da eleição a prefeito em 2020. Não só para eles, como para outros candidatos a deputado federal em 2018 — e a terceira via em 2020. São os casos de Marcelo Mérida (PSD) e Caio Vianna (PDT).

 

Marcão e Wladimir: cenários

No embate particular entre Marcão e Wladimir, nenhum deles terá vida fácil. O presidente da Câmara Municipal de Campos está na coligação PR/Podemos, que deve eleger dois ou três à Câmara Federal. Ele tem chances reais, mas disputa contra outros candidatos fortes, como o deputado estadual Dica e os já deputados federais Alexandre Valle, Luiz Carlos do Chapeu e Altineu Cortes, todos do PR. Já o filho do casal Garotinho só tem o PRP, legenda difícil legada pelo pai, que deve eleger um ou dois deputados federais. Também com chances, ele disputa a(s) vaga(s) com Ricardo da Karol, Deucimar Talon e Marcelle Cozzolino.

 

Deixa, irmã?

Se conseguir uma cadeira no Congresso Nacional em seu batismo de fogo eleitoral, não é segredo que Wladimir, antes mesmo de tomar posse em 1º de janeiro de 2019, passará a mirar na eleição a prefeito de Campos em 2020. Mas para chegar lá, terá antes que fazer sua irmã, a deputada federal Clarissa Garotinho (Pros), ser mais fraternal e menos “gulosa” na campanha da sua reeleição. E é só perguntar ao deputado federal Paulo Feijó (PR), cumprindo o final do seu quinto e último mandato em Brasília, para saber o quanto foi difícil, em 2014, segurar a “fome” de Clarissa até sobre os eleitores de Campos.

 

Prévia de 2020

Há anos radicada no Rio, a briga de Clarissa é menos pela reeleição, tida como certa, do que para estar entre os representantes fluminenses mais votados à Câmara Federal. Ela integra esse seleto grupo junto com os deputados estaduais Marcelo Freixo (Psol) e Wagner Montes (PRB), além dos já federais Benedita da Silva (PT), Rodrigo Maia (DEM) e Leonardo Picciani (MDB). Em patamar inferior, Marcão e Wladimir também têm um objetivo além das suas simples eleições. Com o primeiro representando o prefeito Rafael Diniz (PPS) e o segundo, a si mesmo, só os eleitores de Campos serão contabilizados nessa prévia de 2020.

 

Será?

Isso quer dizer que, se bater Marcão (e Rafael) em Campos, Wladimir passa a ser o favorito na eleição a prefeito? Em julho deste ano, nesta mesma coluna, o presidente do Legislativo goitacá contestava esse raciocínio: “Eleição reflete o momento. Em 2006, por exemplo, Arnaldo (Vianna) ganhou de Pudim para deputado federal. E na eleição seguinte, em 2008, perdeu a prefeito para Rosinha. Já em 2014, Clarissa e elegeu deputada federal, sendo a mais votada em Campos para o cargo. E, em 2016, Rafael venceu para prefeito, ainda em primeiro turno”, disse Marcão.

 

Mérida e Caio

Na ponte entre 2018 e 2020, Mérida e Caio correm por fora. O primeiro está no PSD, que deve fazer de três a quatro deputados federais, incluindo Hugo Leal, puxador da legenda. Já o filho de Arnaldo está na coligação PSB/PDT, que deve fazer de dois a três à Câmara Federal, puxados por Alessandro Molon (PSB). O desempenho de Mérida irá cacifar, ou não, outro nome a 2020: o empresário Joílson Barcelos. Caio tenta lançar para si mesmo. Ele ganhou fôlego nesta quinta (27), quando finalmente conseguiu o apoio do próprio pai. E foi obrigado a aceitar a dobrada com a madrasta, Edilene Vianna (MDB), candidata a deputada estadual.

 

Governo Rafael

Quem também corre por fora é José Maria Rangel. Militante do Sindipetro-NF, ele deve ter os votos da militância orgânica petista, mas enfrentará dificuldade para estar entre os seis ou sete deputados federais que o partido deve eleger. Assim como os demais candidatos locais dificilmente farão algo além de contribuir para a nominata das suas legendas. Quase tão certo quanto a reforma administrativa no governo de Campos, como Murillo também adiantou em sua coluna da última quinta, a partir do resultado das urnas do próximo domingo. Se Marcão se eleger, talvez com mais parcimônia. Se Wladimir se eleger, provavelmente a toque de caixa.

 

Publicado hoje (30) na Folha da Manhã

 

Contraditório sobre fiscalização eleitoral nas universidades públicas de Campos

 

No último dia 13, houve uma ação da Justiça Eleitoral (aqui) no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos. Inclusive com a presença do chefe da fiscalização eleitoral na comarca, juiz Ralph Manhães, depois do que ele entendeu ter sido um flagrante de resistência. De lá para cá, o conflito se avolumou, com novas ações da fiscalização eleitoral e reações (aqui) das comunidades docentes e discentes das instituições públicas de ensino superior no município: além da UFF, o Instituto Federal Fluminense (IFF) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).

Toda a polêmica gira entre o que se entende como manifestação democrática em período eleitoral nos espaços das universidades públicas, com a imposição dos seus limites na lei pelos órgãos de fiscalização: Justiça Eleitoral, Ministério Público Eleitoral (MPE) e Polícia Federal (PF). Todas são instituições credoras de Campos e do Norte Fluminense, seja na formação de seus quadros e na oxigenação do pensamento, seja no cumprimento da lei em condições de equidade a todos. Pela importância dos entes públicos envolvidos, a temperança de lado a lado é sem dúvida o desejo da comunidade e do cidadão.

Sobre o caso, o blog recebeu na noite de ontem o manifesto do Colegiado do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF-Campos. Ele segue publicado abaixo, junto do artigo do promotor eleitoral Marcelo Lessa tratando do mesmo assunto. Publicado na Folha da Manhã, em sua edição da última quinta (27), ele oferece o contraditório, tão necessário quanto à míngua nestes tempos de polarização que vive o país:

 

 

Manifesto do Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF em Campos dos Goytacazes a favor da autonomia universitária.

 O Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes decidiu manifestar seu posicionamento sobre os acontecimentos ocorridos após o último dia 13/09/2018, por ocasião da apuração, por parte do Tribunal Regional Eleitoral, de denúncia sobre supostas irregularidades no cumprimento da Lei Eleitoral n.9504/97. Compreendemos que a forma autoritária através da qual se desempenhou sua atuação exibe, infelizmente, um padrão de tratamento conferido às instituições de ensino, pesquisa e extensão, no atual momento, que parecem estranhas à democracia, à legalidade, às garantias de liberdades previstas oficialmente, bem como a autonomia universitária como um todo.

A história da Universidade Federal Fluminense na cidade de Campos dos Goytacazes já dura 56 anos, figurando, em sua gênese, a reconhecida Escola de Serviço Social. A partir do ano de 2009, com o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais, o Reuni, foram abertos novos cursos e departamentos, possibilitando que hoje a UFF, em Campos, atenda mais de 3.000 discentes de todo o Brasil. Atualmente, totalizamos sete departamentos de ensino, seis cursos de graduação (três deles com a modalidade bacharelado e licenciatura) duas pós-graduações acadêmicas stritu senso, um conjunto de pós-graduações lato sensu, programas como a Universidade da Terceira Idade (UNIT) e o SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) que atendem à sociedade campista. Todos os cursos são gratuitos e de qualidade reconhecida, tanto pelo alto nível técnico dos professores, (90% do quadro atual formado por doutores de reconhecido mérito acadêmico), funcionários técnico- administrativos bem formados e qualificados, e estudantes que têm obtido sucesso profissional mesmo na etapa de formação na graduação, como no ingresso no mercado de trabalho dentro e fora da cidade, além daqueles que optam pelo ingresso na pós- graduação nos melhores Programas do país, alguns deles, inclusive, fora do Rio de Janeiro. Dessa forma, os mais de 130 docentes e 60 técnico-administrativos são comprometidos seriamente com o pleno desenvolvimento de seus trabalhos, bem como com o retorno da produção de conhecimento de alto nível para a sociedade campista e do norte-fluminense como um todo, região de atuação precípua desta comunidade universitária.

A universidade pública, embora tenha sido criada tardiamente em nosso país – o que certamente explica parte de nossas contradições e de nossas características enquanto sociedade – se consolidou, ao longo de sua história, como um lugar especial de formação de quadros técnicos, como um espaço para o exercício de atividades científicas refinadas e necessárias para nossa própria compreensão e de transformações sociais e como um espaço plural no qual a diversidade de pontos de vistas, perspectivas e expressões do pensamento encontraram aderência. Na história recente, como sabemos, durantes os anos que estivemos regidos pela Ditadura Militar, cujos direitos civis e as liberdades individuais estiveram sob ameaça, esta multi-vocação, que caracteriza a vida universitária, ficou intimidada, mas, o empenho, a resistência e a luta de profissionais e estudantes ao longo de décadas, foram significativos para sua continuidade, sua expansão e sua excelência. A espinha dorsal deste processo foi e sempre será a autonomia, conceito este que, sublinhamos, não significa aversão às normas oficiais ou descumprimentos, mas, indica, semanticamente, uma gramática que preza pela possibilidade de realização plena do trabalho acadêmico e extensivo, bem como ao exercício de nossas liberdades de pensamento que estimulam nossa produção de conhecimento e o debate aberto e plural de ideias.

Este Colegiado, no mínimo, estranha a forma de atuação Tribunal Regional Eleitoral, tal como relatado, observado, por membros da comunidade universitária, o ocorrido no último dia 13/09, e seus desdobramentos, uma vez que a UFF, na sua presença em 56 anos na cidade de Campos, nunca esteve “fechada” para a sociedade, nem para os órgãos oficiais de gestão e fiscalização. Ao contrário, sempre que recebeu notificações, pedidos de esclarecimentos, ou mesmo denúncias através dos canais legais sob os assuntos mais diversos, seus gestores e seus setores administrativos nunca deixaram de colaborar e auxiliar na condução razoável dos processos, independente de posicionamentos políticos ou controvérsias procedimentais.

Infelizmente, a referida e desastrosa atuação pareceu longe de uma etiqueta justa e condizente com a função e importância de órgãos ligados à fiscalização por parte do Poder Público – estes, sem dúvida, considerados instituições fundamentais para o exercício pleno da democracia e da garantia de direitos. Tal ação, até onde nos chegam as notícias, parece estar encontrando reverberações em outras Instituições de Ensino Superior de Campos e região, o que nos faz pensar que não se trata, apenas, de uma controvérsia local e sim de um processo maior e mais amplo, que está colocando em xeque a autonomia universitária no país como um todo.

Por fim, conclamamos não apenas a comunidade acadêmica da UFF-Campos, mas a UFF como um todo, juntamente com todas as Instituições de Ensino Superior, como também, é claro, a sociedade campista e do norte-fluminense, para unirmos forças e resistirmos juntos neste momento tão sensível pelo qual passa a Universidade Pública. Depende de nós mantermos este espaço de excelência, autonomia, pluralidade e legalidade.

 

 

As Universidades, a Justiça e a Lei

Por Marcelo Lessa

 

As Universidades são o principal foco do conhecimento científico, reunindo as mentes mais privilegiadas e capazes de oferecer soluções para mudar a vida das pessoas. Não se compreende o porquê de determinados comportamentos arredios, que não se mostram compatíveis com o nível intelectual que se presume predominar dentre as pessoas que integram as comunidades universitárias.

É verdade que a Constituição Federal assegurou às Universidades a autonomia universitária: didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial (art. 207 da Constituição Federal). Porém, isto não assegura aos membros da comunidade universitária imunidade diplomática, muito menos transforma o campus em embaixada.

Ora, a Lei (civil, penal e eleitoral inclusive) vale dentro das Universidades, vigora dentro de seu campus e se aplica aos seus professores, alunos e funcionários. E a Justiça e o Ministério Público, nos exatos termos de suas funções, têm autoridade dentro das Universidades, goste ou não a comunidade acadêmica. Aliás, não precisa gostar, porque a Jurisdição é um ato de poder e se sobrepõe a todos, ainda que contra suas vontades, dispondo de mecanismos dissuasórios específicos em caso de se resolver medir força.

A Lei Geral das Eleições, em seu art. 37, caput, é de uma clareza lapidar ao estabelecer que: “os bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados.” (Lei nº 9.504/97). Nas dependências das Universidades públicas é vedado manter comitê partidário, centro de distribuição de panfletos, adesivos ou qualquer outro material de propaganda, ainda que em salas sem uso ou destinadas às representações acadêmicas. Isto porque se quer evitar o aparelhamento das Instituições públicas, inclusive as de ensino, via de regra por determinadas ideologias que não convivem com a ideologia contrária, a quem costumam rotular e perseguir, o que constitui abuso do poder político, com potencial de desequilibrar o Pleito, já que não dá oportunidades iguais a todos os candidatos.

Cabe à Justiça Eleitoral, no exercício do poder de polícia inerente à fiscalização da propaganda eleitoral, coibir esse tipo de irregularidade, adotando todas as providências cabíveis para fazer valer a Lei.

Um bom ensinamento que os professores poderiam dar aos seus alunos, para fazer jus à autonomia didático-científica da Universidade, seria cumprir a Lei e acatar as ordens judiciais, o que é primordial dentro de um Estado de Direito. Uma outra boa lição, em consonância com a autonomia administrativa e de gestão patrimonial, seria o Administrador do campus exercer sua autoridade perante a comunidade acadêmica, para ele próprio velar pelo cumprimento da Lei em suas dependências, não permitindo a prática de ilícitos eleitorais. Fizessem isto, o Ministério Público e a Justiça Eleitoral não precisariam agir…

 

Atualização às 14h40 de 30/08 para colocar novas informações, mais os links do fruto da ação da fiscalização eleitoral na UFF e da reação dos docentes

 

Datafolha confirma Ibope. Na Paraná, vantagem de Bolsonaro é maior

 

 

Datafolha a presidente e governador

A Datafolha divulgou ontem suas novas pesquisas a presidente e governador do Rio. Na disputa ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) lidera com 28% das intenções de voto, seguido de Fernando Haddad (PT), com 22%. Na corrida ao Palácio Guanabara, o líder Eduardo Paes (DEM), com 25%. Entre os candidatos válidos, ele veio seguido de Romário Faria (Podemos), com 14%. Anthony Garotinho (PRP) teve 15%, mas teve sua inelegibilidade confirmada no final da manhã de quinta (27) pelo juízo unânime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com base na Lei da Ficha Limpa, o político da Lapa está fora da campanha e do pleito.

 

Datafolha e Ibope x Paraná

A diferença de seis pontos entre Bolsonaro e Haddad no Datafolha foi a mesma registrada na última pesquisa Ibope, divulgada dia 26. Também divulgada neste dia, a consulta do instituto Paraná deu números diferentes, com vantagem de 11 pontos, bem superior, para Bolsonaro. Nas Datafolha e Ibope mais recentes, ele teria respectivamente 28% e 27% das intenções de voto, com 21% e 22% para Haddad. Na Paraná, até ontem a mais recente, o ex-capitão do Exército teria 31%, com apenas 20% ao ex-prefeito de São Paulo. Nas três pesquisas, Ciro Gomes (PDT) é o terceiro colocado: 11% na Datafolha, 12% no Ibope e 10,1%, na Paraná.

 

Quem leva o 2º turno?

Nestes oito dias que separam o eleitor das urnas do primeiro turno, tudo indica que Bolsonaro e Haddad disputarão a presidência no segundo. Mas suas simulações também foram diferentes nas três últimas pesquisas, com a mesma margem de erro de dois pontos para mais ou menos. Fora dela, Haddad ganharia de Bolsonaro na Datafolha: 45% a 39%. Na Ibope, com resultados próximos no primeiro turno, a simulação do segundo deu um empate técnico: Haddad 42% a 38% Bolsonaro. Já na Paraná, a vitória fora da margem seria de Bolsonaro: 44,3% a 39,4%. Pelos três institutos, Ciro ganharia tanto do capitão, quanto do petista.

 

E a rejeição?

As taxas de rejeição, que costumam determinar a vitória dos candidatos no segundo turno, também foram diferentes nos três institutos. Com números também próximos, Bolsonaro lidera o índice negativo na Datafolha e na Ibope: respectivamente, 46% e 44%. Em ambas, Haddad também ficou em segundo na rejeição: 32% na Datafolha e só 27%, no Ibope. Com outra metodologia, a Paraná novamente trouxe números bem diferentes. Quando o eleitor respondeu sobre cada candidato “não votaria nele de jeito nenhum a presidente”, o petista foi escolhido por 57,6% dos eleitores. Foi menos do que os 51,8% que não votariam no capitão.

 

Estranhamento

Com o descrédito da Vox Populi, a partir da produção de resultados favoráveis ao PT, Datafolha e Ibope passaram a ser os dois institutos de pesquisas mais conceituados do país. O Paraná cresceu muito na eleição presidencial de 2014, também acirradíssima. No dia 27, esta coluna já havia registrado a diferença grande dos números entre Paraná e Ibope. Assim como a coluna de Murillo Dieguez, proprietário do instituto de pesquisas Pro-4, na edição de ontem da Folha. O estranhamento foi registrado antes da Datafolha de hoje, muito próximo ao Ibope. Se os dois estiverem errados e a Paraná correta, mudar-se-á o paradigma de pesquisas no Brasil.

 

Improvável

O problema com a Paraná é o grande espaçamento das suas pesquisas. A última que fizeram sobre a disputa a governador do Rio foi a divulgada em 31 de agosto. Na que saiu ontem da Datafolha, é impossível saber a migração dos votos de Garotinho, que só voltaria a ser candidato por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF). Após seus insuspeitos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli suspenderam, respectivamente, os julgamentos das operações Chequinho e Caixa D’Água, que renderam as três prisões do político da Lapa, nada parece impossível. Mas diante da sua condenação unânime no TSE, é muito pouco provável.

 

Legado de Bolsonaro

Com Garotinho ainda na pesquisa Datafolha, ele permaneceu líder isolado na rejeição: 47%. Com ele fora, a liderança no índice negativo é assumida por Romário, com 36%, seguido de Paes, com 31%. A diferença se reproduz na simulação de segundo turno, onde o ex-prefeito do Rio bate o senador por 44% a 32%. Sem Garotinho, o mais pitoresco no debate de ontem da Record foi a disputa entre Indio da Costa (PSD) e Wilson Witzel (PSC) pela herança de Bolsonaro. E não é sem motivo. Segunda a Ibope do dia 25, o capitão lidera com 35% as intenções de voto no Estado do Rio. Segundo colocado, Haddad tem apenas 14%.

 

Publicado hoje (28) na Folha da Manhã

 

Marcão aposta na renovação do Congresso e critica Garotinho

 

Como vereador de primeiro mandato no segundo governo municipal Rosinha, Marcão Gomes fez parte de uma minoria ruidosa de oposição. O barulho foi tanto que o grupo acabou se tornando governo em 2016, com maioria na Câmara Municipal que ele preside e agora quer trocar por uma cadeira na Câmara Federal. Para tanto, aposta na mesma renovação no Planalto Central da qual participou na Planície Goitacá. Na proposta de falar mais como analista política, que como candidato, o olhar equilibrado só pendeu à crítica sobre Anthony Garotinho (PRP), ontem considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sobre o governo Rafael Diniz (PPS), apostou: “acredito que o pior ficou para trás”.

 

 

Jair Bolsonaro – Bolsonaro em pouco tempo amealhou uma parcela significativa do eleitorado. É um fenômeno político que merece ser analisado. Ele encarna uma revolta muito profunda de uma fatia do eleitorado brasileiro que não vê mais no sistema político atual o grande mediador dos problemas complexos da nossa sociedade.

Fernando Haddad – Uma aposta muito alta do PT confiando na potencial de transferência de votos de Lula. Haddad tem experiência e possui qualificação, e pode ser uma surpresa nessa eleição. É esperar para ver.

Ciro Gomes – Um quadro experiente na política brasileira e que tem potencial para contribuir com qualquer governo. Pode ser uma surpresa nas urnas mesmo na contramão dos apontamentos das pesquisas.

Geraldo Alckmin – Mesmo com tempo de TV não conseguiu decolar nas pesquisas, mas pode ser fiel da balança em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, ou Bolsonaro e Ciro.

Marina Silva – Assim como Ciro, Marina é um quadro com qualificação técnica e política elevada e pode vir a contribuir muito a eventuais governos e/ou no processo de pacificação entre os extremismos tanto da direita quanto da esquerda. Essa eleição precisa também ser um apaziguador dos ânimos políticos no país.

Luiz Inácio Lula da Silva – Ao mesmo tempo em que está cumprindo pena é também um supermassivo eleitoral e faz com que boa parte de todo processo gravite em torno do seu potencial eleitoral e da memória afetiva que parcela da população tem por seus governos. Ignorar Lula é não dimensionar o potencial que ele tem de influenciar o eleitorado brasileiro.

Eduardo Paes – Foi prefeito de uma das principais capitais do país, o Rio de Janeiro, o que certamente o credencia para pleitear a vaga de governador. Luta contra o desgaste de ter feito parte do MDB no Rio, ao mesmo tempo em que explora na campanha suas realizações como gestor.

Romário Faria – Demonstrou ser um parlamentar sensível às causas das pessoas com deficiência, o que é uma grande virtude. Tem como sua aliada a memória afetiva da população sobre os tempos em que foi jogador de futebol.

Anthony Garotinho – Ficha suja, como confirmou o TSE. A condenação por órgão colegiado, como é o caso dessa por desvio de R$ 234,4 milhões da Saúde do nosso Estado, é só mais uma prova do que a gente vem falando há tempos. Garotinho é chefe de quadrilha que tem como o hábito iludir, mentir e difamar. Tem propensão ao drama e é dissimulado. Em Campos, nossa luta é desfazer os estragos que anos de gestão de seu grupo político legaram para as futuras gerações de campistas.

Tarcísio Motta – Tarcísio é oriundo de uma das categorias mais nobres da nossa sociedade que é o professor. Respeito sua biografia. Sou filho de professora da rede pública e conheço bem essa realidade. É importante que tenhamos multiplicidade de postulantes para que a população possa fazer um juízo mais equilibrado.

Indio da Costa – É um quadro experiente, mas que por vezes não se situa bem definido no espectro político, mesmo tendo feito parte de vários governos. Às vezes faz parecer que é uma linha auxiliar do garotismo, Às vezes parece que é polo oposto.

Voto útil – Todo voto é útil. É importante que as pessoas votem com sua consciência, sem se deixar influenciar por pesquisas. A convicção é o que deve contar nessa hora. Analisar o projeto e a vida pregressa dos candidatos é um bom caminho para avaliar qual melhor representas seus anseios. Isso só fortalece nossa democracia.

Segundo turno – O cenário brasileiro está difícil de ler até para os mais experientes. Tudo pode acontecer. Vimos em 2014 uma eleição presidencial decidida por detalhes.

Novo Congresso – Acredito que haverá um índice de renovação maior que na última eleição. O Brasil passa por um processo profundo de revisão de seus valores, de sua perspectiva. E todo esse desejo passa pela renovação dos quadros. Se realmente conseguimos interpretar todos esses movimentos que tivemos desde as jornadas de 2013, certamente vislumbramos uma mudança mais brusca na composição das casas legislativas. É natural que o eleitor expresse seu desejo de mudança através do voto.

Governo Rafael Diniz – O prefeito Rafael Diniz pegou uma cidade quebrada pela péssima gestão anterior, que, mesmo tendo muito mais dinheiro em caixa, deixou R$ 2,4 bilhões em dívidas, incluindo um rombo de R$ 180 milhões no PreviCampos. Na prática, Rafael administra a cidade com metade do dinheiro que o governo anterior tinha em caixa. Mesmo assim, com tantas dificuldades, não deixou Campos quebrar. Acredito que o pior ficou para trás, e que daqui pra frente virão grandes realizações.

 

Página 3 da edição de hoje (28) da Folha

 

Publicado hoje (28) na Folha da Manhã

 

Fora do ringue eleitoral e sob risco de ser preso, o que resta a Garotinho?

 

 

Charge do José Renato publicada hoje (28) na Folha

 

 

Garotinho e Tyson

Quem viveu em Campos na segunda metade dos anos 1980, com alguma consciência da cidade e do mundo, deve se lembrar de dois jovens que revolucionaram em suas áreas: Anthony Garotinho e Myke Tyson. O primeiro tinha apenas 28 anos quando se elegeu prefeito do município pela primeira vez, em 1988. Dois anos antes, o segundo havia sido o campeão mundial peso pesado de boxe mais novo da história, título que conquistou aos 20 anos. Ambos impressionavam por características comuns: o talento natural indiscutível, a agressividade no estilo, a impiedade com os adversários, a obsessão pela vitória. E elas foram muitas.

 

Ficha Suja

Na manhã de ontem, Garotinho teve sua condenação pela Lei da Ficha Limpa confirmada por unanimidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Antes, a condenação já havia sido unânime no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). As duas foram consequência de uma outra condenação, por improbidade administrativa, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O motivo de tantas condenações, uma criminal e duas eleitorais, se deve pelo mesmo fato: o desvio de R$ 234,4 milhões da Saúde, no governo estadual de Rosinha, que seriam usados para financiar sua campanha presidencial em 2006.

 

Tempos de Cabral e Temer

Com o desvio revelado pela mídia à época, Garotinho fez uma greve de fome de 11 dias. Nela não foi até o fim, como pediram alguns gaiatos. Ele interrompeu o protesto para ir à convenção do PMDB, quando era aliado íntimo de Sérgio Cabral. Não teve o nome confirmado, no que teria sido um golpe do hoje presidente Michel Temer, 10 anos antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Com o sonho desfeito de também chegar à presidência, as consequências cobraram o preço 18 anos depois. Se a justiça tardou, não se pode dizer que tenha falhado. O político da Lapa agora não pode nem tentar voltar a ser governador.

 

Só o STF salva

Segundo todas as pesquisas, Garotinho já não conseguiria voltar ao poder. Na Ibope divulgada no dia 25, ele até empatou com Romário (Pode) no segundo lugar das intenções de voto. Mas com uma espantosa rejeição de 50%, mesmo se chegasse ao segundo turno com o líder Eduardo Paes (DEM), lá levaria uma coça: 24% a 41%. Na dúvida, certo é que o político de Campos está fora da campanha eleitoral. Seu retrato ainda aparecerá nas urnas eletrônicas já inseminadas de 7 de outubro. Mas quem por ele optar, não terá o voto reconhecido. Só uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) mudaria essa realidade melancólica.

 

Sobrevida nos filhos

Garotinho não está morto. A reeleição de Clarissa (Pros) como deputada federal é considerada certa. Ela pode ser novamente uma das mais votadas no Estado. Wladimir também tem chances à Câmara Federal. Se conseguir, passará a mirar a eleição a prefeito de Campos em 2020. Os dois filhos têm orgulho do legado do pai. Mas dificilmente continuarão a se submeter aos seus caprichos. Clarissa não aceitará mais ser humilhada, como foi na votação do impeachment de Dilma, com sua ausência trocada pela “venda do futuro” de Campos. E Wladimir não aceitará mais ser descartado, como foi na eleição a deputado estadual de 2014.

 

Quarta prisão?

Fora de uma eleição na Justiça, quando tudo indica que seria também pelo voto, o político da Lapa precisa se adequar à realidade. Sobretudo porque depois de ser preso duas vezes pela operação “Chequinho” e uma pela “Caixa D’Água”, ele pode acabar atrás das grades pela quarta vez. É ameaça a cada dia mais iminente com sua condenação como chefe de quadrilha armada confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), pela atuação como secretário de Segurança da gestão estadual Rosinha. E dizer publicamente que “só falta juiz ser preso”, como fez no último debate a governador do SBT, não melhora em nada sua situação.

 

Mordida na orelha

O político da Lapa teve seu auge na eleição presidencial de 2002. Em terceiro lugar, fez 15 milhões de voto e quase foi ao segundo turno. Ainda elegeu Rosinha governadora naquele mesmo ano, em turno único. Isso deveria ser pendurado na parede como cinturão de um campeão que o tempo envelheceu aos ringues. Garotinho tem só 58 anos. Mas, como Tyson, teve um início tão precoce quanto a decadência. Ainda no primeiro turno, perdeu as eleições de governador, em 2014, e pela Prefeitura de Campos, em 2016. Não bastou para reconhecer que sua glória virou lembrança. E acabou desclassificado como quem mordeu a orelha.

 

Publicado hoje (28) na Folha da Manhã

 

Por unanimidade, TSE barra candidatura a governador de Garotinho

 

Por unanimidade, a candidatura de Anthony Garotinho (PRP) acabou de ser barrada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele está probido de seguir com a campanha e a propaganda eleitoral. O político de Campos poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas não tem efeito suspensivo: o cumprimento da decisão do TSE é imediata.