Ilsan, Bacellar e a duplicação de Rosinha

Os leitores do blog e da Folha Online não estão sozinhos nos questionamentos à municipalização da BR 101, anunciada na quarta-feira pela prefeita Rosinha, para bancar com R$ 109 milhões a duplicação do trecho entre Ururaí e a av. Alberto Torres, com quadruplicação da estrada do Contorno. O vereador Marcos Bacellar (PT do B) julgou a iniciativa “muito estranha”. 

Por sua vez, a vereadora Ilsan Vianna postou em seu blog (aqui) uma série de ressalvas. Aprovada na polêmica suplementação de verba aprovada pela Câmara no mesmo dia do anúncio de Rosinha, a obra não foi prevista no Plano Plurinanual (PPA), não foi enviada na forma de projeto de lei, não foi aprovada pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), nem teve apresentada a minuta do convênio com a Autopista Fluminense, concessionária do trecho Campos/Rio da BR 101.

Bacellar e Ilsan disseram que vão debater a questão com a bancada de oposição, antes de apresentar qualquer posição em plenário. No lado oposto, também ninguém sabe ainda se Jorge Magal (PMDB) cederá ou não aos apelos do ex-governador Anthony Garotinho (PR), que está neste momento numa reunião em Campos, tentando convencer o vereador a voltar atrás na decisão de abandonar a liderança da bancada governista. De qualque maneira, a sessão dessa próxima terça na Câmara promete…

Jogo de cartas marcadas com dinheiro público na BR 101 privatizada?

Ao anunciar o adiantamento da duplicação da BR 101, a pedido de Cabral, nem o bem informado Ancelmo Gois foi capaz de prever que o único adiamento no trecho seria bancado, quatro meses depois, pela generosidade de Rosinha
Ao anunciar o adiantamento da duplicação da BR 101, a pedido de Cabral, nem o bem informado Ancelmo Gois foi capaz de prever que o único adiamento no trecho seria bancado, quatro meses depois, pela generosidade de Rosinha
O que deveria ser causa de alegria, a duplicação da BR 101 pelo governo Rosinha, anunciada pela própria prefeita na última quarta-feira (aqui), tem se tranformado em motivo de suspeitas entre muitos leitores comentaristas da Folha Online (aqui). Embora a obra seja fundamental, não só aos campistas, mas a todos os usuários da rodovia, o questionamento é relativamente simples: Privatizada para que sua conservação e reforma fosse custeada pela iniciativa privada, por que agora gastar dinheiro público na BR? Sobretudo, por que se gastar, numa rodovia federal privatizada, o dinheiro público de Campos?

Mas, para quem tem boa memória, os motivos de estranhamento são ainda maiores. Se, em 17 de dezembro do ano passado, a coluna do Ancelmo Gois, de O Globo, anunciou que, a pedido do governador Sérgio Cabral, o prazo para duplicação do trecho Campos/Rio tinha sido adiantado de 2023 para 2015, no mesmo dia este blog noticiou  (aqui), com exclusividade, que a concessionária Autopista SA havia antecipado o início das obras já para este ano de 2010. O colunista de O Globo, este blog e, no dia seguinte, a Folha, só ressalvaram que o único adiamento, naquela revisão dos prazos, ficou por conta da Estrada do Contorno, cujas obras eram incialmente previstas para 2013, mas que ficaram sem data a partir do adiantamento no resto da BR.

Como o Contorno é justamente o trecho que Rosinha anunciou agora que será não mais duplicado, mas quadruplicado, às custas da Prefeitura, fica a dúvida: ou é um jogo de cartas marcadas, no mínimo desde dezembro, ou uma espetacular coincidência…

 

A capa da Folha de 18/12/09 noticiava o adiantamento das obras da BR para 2010, com destaque ao contraste com o adiamento apenas às obras no Contorno, que agora serão bancadas pelos cofres públicos de Campos
A capa da Folha de 18/12/09 noticiava o adiantamento das obras da BR para 2010, com destaque ao contraste com o adiamento apenas às obras no Contorno, que agora serão bancadas pelos cofres públicos de Campos

A saga de Chucky

Quem criou o personagem foi o próprio vereador Marcos Bacellar (PT do B), quando disse, em 23 de março do ano passado, que seu colega Nelson Nahim (PR), quando criança, deveria ter medo por dormir ao lado de Chucky. De lá para cá, foram sete charges do José Renato com variações sobre o tema, até chegar à publicada ontem no blog (aqui) e reproduzida na edição impressa de hoje da Folha.

Esta última, fatalmente, foi a que motivou Bacellar, ao ser entrevistado hoje pelo jornalista e blogueiro Alexandre Bastos (aqui), a reavivar o  personagem que criou em março do ano passado, para culpá-lo agora pelas agressões verbais que o vereador Jorge Magal (PMDB) disse ter sofrido, numa reunião com a cúpula do governo Rosinha, na noite de terça, e que o motivaram a renunciar à liderança da bancada governista na sessão de ontem. Para Bacellar, portanto, à pergunta feita ontem pelo blog (aqui), suas suspeitas se voltam à personagem criada por ele próprio: Chucky, o Brinquedo Assassino!!!…

Para lembrar a trajetória de Chucky, bem como de suas supostas vítimas na política de Campos, segue abaixo uma coletânea das charges do Zé Renato, até a última, a oitava, que será publicada novamente amanhã, na edição impressa da Folha…

 

Charge publicada em 26/03/09
Charge publicada em 26/03/09

 

 

Charge publicada em 21/03/09
Charge publicada em 21/03/09

 

 

Charge publicada em 29/04/09
Charge publicada em 29/04/09

 

 

Charge publicada em 01/05/09
Charge publicada em 01/05/09

 

 

Charge publicada em 13/05/09
Charge publicada em 13/05/09

 

 

Charge publicada em 02/03/10
Charge publicada em 02/03/10

 

 

Charge publicada hoje
Charge publicada hoje

 

 

Charge que será publicada amanhã
Charge que será publicada amanhã

Opiniões sobre Câmara e governo — Qual é a sua?

Tanto neste blog (aqui) e no do Alexandre Bastos (aqui), tratando da renúncia do vereador Jorge Magal (PMDB) à liderança de Rosinha (PMDB) na Câmara, bem como já havia acontecido antes, no “Ponto de Vista” (aqui), do Christiano Abreu Barbosa, sobre o azedume da relação entre o vereador Papinha (PP) e o ex-governador Garotinho (PR), boa parte dos comentários dão a entender que a opinião pública começa a detectar uma saturação na relação dos vereadores com a Prefeitura de Campos.

A leitura começa a ser feita por uma parcela cada vez maior da população, fruto das críticas recentes da própria bancada de situação à situação da saúde pública municipal, com a convocação do diretor do Hospital Geral de Guarus (HGG), o ex-vereador Otávio Cabral (aqui), para dar satisfações, assim como pelas alterações no projeto de suplemetação orçamentária de R$ 347 milhões, promovidas pela Comissão de Justiça da Câmara, que passou a ser integrada pela vereadora Ilsan Vianna (PDT), mais nova blogueira de Campos (aqui).

Mesmo com a aprovação, ontem, do pedido de suplementação de Rosinha, o estrago nas relações, além de inevitável, se tornou público, com a renúncia de Magal à liderança na mesma sessão, alegando ter sido ofendido numa reunião com a cúpula do governo municipal, na noite anterior, por uma misteriosa personagem.

No dia 24, o leitor Silvio Pessanha, ao alertar Papinha no “Ponto de Vista”, já havia acendido a luz amarela para Magal e toda a bancada governista acusada de “fazer joguinhos”, três dias depois: “Papinha X Papão. Já dá para imaginar quem será engolido. O papão tem boca grande”.

Hoje, dia 29, um dia após a renúncia de Magal, o comentarista Douglas deixou sua opinião no “Blog do Bastos”: “Magal jogando a toalha e não está mais na liderança do governo, saúde está à beira de uma falência, Papinha revoltado com o “CORONEL” e Albertinho um papagaio de pirata perdido, já esta claro que o governo rosinha está patinando na lama e a beira de uma total falência !!!! FIM DA LINHA PARA O GOVERNO”.

Pos sua vez, neste blog, também hoje, a leitora Auxiliadora chegou à seguinte conclusão: “Absurdo, mas aos poucos as cobras vão comendo as cobras. O problema é o Magal como outros não conhecerem esse grupo baixo que faz o que faz. Ridícula a postura de quem insultou, mas nesse caso demonstra que a intolerância por dinheiro está enorme. Porque será? O problema é que precisa avisar que esse dinheiro é do povo, onde eles estão para administrar em pról de nosso bem estar e não em pról de tercerização, ou obtenção de dinheiro facil. Vergonha demais”.

E você, qual a sua opinião?

Quem foi o agressor verbal que levou Magal a renunciar???

Quem foi a pessoa que, na noite de ontem, numa reunião com a cúpula do governo Rosinha, disse ao até então líder da situação na Câmara, vereador Jorge  Magal (PMDB): “Se a bancada da situação continuar a fazer joguinho, nós vamos atropelar vocês!”? Hoje, depois de anunciar sua renúncia à liderança de Rosinha, na sessão da Câmara, Magal foi entrevistado pelo jornalista e blogueiro Alexandre Bastos, a quem desmentiu a versão de que teria sido até agredido fisicamente, na tal reunião. “Fui agredido com palavras”, garantiu Magal, mas sem revelar quem teria sido o agressor.

Segundo o agredido, o raciocínio desse misterioso agressor teria sido motivado pela demora na votação da suplementação orçamentária de R$ 347 milhões. Magal, porém, argumenta que o atraso foi por erro, por parte da Prefeitura, na elaboração do projeto, aprovado na sessão de hoje, mas com as mudanças propostas pela Comissão de Justiça da Casa, que junto com os governistas Albertinho (PP) e Kelinho (PR), passou a ser integrada também pela oposicionista Ilsan Vianna (PDT), desde que esta assumiu a vaga de Ederval Venâncio.

Ao dar certeza de que não voltará atrás na decisão de não ser mais líder de Rosinha, Magal deixa duas dúvidas. A primeira é saber quem será o seu sucessor. Nos bastidores, já se especulam os nomes do ex-secretário de Administração de Mocaiber, vereador Altamir Bárbara (PSB), e do primeiro suplente do PMDB, o ex-vereador Edson Batista, atualmente secretário de Governo. Agora, a dúvida que aguça ainda mais a curiosidade é saber quem foi o misterioro agressor verbal que levou à renúncia do líder da bancada da situação, embora Magal ainda se mantenha aliado do governo.

Quem você acha que foi:

A) Marco Soares

B) Suledil

C) Garotinho

 

Atualização às 13h46 de 29/04/10: Neste madrugada, o Alexandre Bastos publicou em seu blog a entrevista que fez com o vereador Jorge Magal. Confira aqui

A conquista do Pólo Sul no feriadão

 

Enquanto dava um beiço neste espaço virtual, dediquei o feriadão da semana passada a uma mídia antiga, que exige uma intersecção de sentidos infelizmente cada vez mais na contramão dos dias de hoje, na qual a visão faz comunhão com tato e olfato: o livro. Li, em quatro dias, num fôlego interrompido só pela respiração pesada e vencida pelo sono, as quase 700 páginas de “O Último Lugar da Terra — A Competição entre Scott e Amundsen pela Conquista do Pólo Sul”, do jornalista e escritor sul-africano Roland Hunteford, tradução de José Geraldo Couto, editado pela Companhia das Letras em 2002.

Robert Falcon Scott foi o oficial da Marinha Real Britânica que comandou uma confusa expedição à Antártida, entre 1900 e 1904, no navio Discovery, e depois uma outra, a bordo do Terra Nova, entre 1910 e 1912, que conseguiu ser ainda mais desastrada, pois além de só alcançar o Pólo Sul cinco semanas após seu concorrente (Amundsen), terminou com a morte dos cinco integrantes da equipe no caminho de volta à base, incluído o próprio Scott. Por sua vez, o explorador noruguês Roald Amundsen já havia integrado a primeira expedição a passar um inverno na Antártida, entre 1887 e 1889, a bordo do navio Bélgica, além de ter sido o primeiro a completar a navegação pela passagem ártica Noroeste, entre o Atlântico e o Pacífico, contornando o norte do Canadá no comando do pequeno veleiro Gjoa, entre 1903 e 1905, caminho buscado por nautas de todas as plagas nos 400 anos anteriores.

Ao comandar a primeira expedição que chegou também ao Pólo Sul, em 15 de dezembro de 1911, Amundsen não o fez com base no espírito coorporativo do seu concorrente inglês, mas a partir da sua experiência individual, acumulada nos dois extremos da Terra e agregada às habilidades igualmente individuais dos seus companheiros Helmer Hassen, Oscar Wisting, Olav Bjaaland e Sverre Hassel. Íntimos do uso de esquis, dos trenós puxados por cães e da idumentária esquimó — elementos menosprezados e subaproveitados pelos britânicos, em nome de uma pretensa superioridade civilizatória ou pela simples incompetência tão típica do espírito de funcionário público —, todos os cinco noruegueses voltaram sãos e salvos à sua base.

Quando eles partiram à conquita do Pólo Sul, em mais de 1,5 mil kms de território inexplorado distante da sua base antártica, o Framheim — “Casa de Fram”, este o legendário navio norueguês que, capitaneado por Amundsen, levou a expedição ao continente gelado —, Rutford descreve o ato, em resumo histórico e poético: 

— Aquele destacamento que serpenteva em direção ao sul, nevasca adentro, emergindo e desaparecendo à medida que seguia a ondulação da barreira, como um esquadrão de navios de guerra avançando sobre as vagas, representava a culminação de uma era. Os homens estavam vestidos com roupas esquimós, os cães que rompiam a neve com eles estavam arreados à maneira esquimó; mas os trenós, os esquis, os alimentos (…), os sextantes, os fogareiros portáteis, as barracas e toda a bagagem eram produto do engenho do Ocidente. Era um casamento entre a civilização e uma cultura primitiva. A tecnologia utilizada já estava no limite da obsolescência. Aviões e tratores estavam prestes a tomar seu lugar. Essa era a última expedição clássica no estilo antigo e estava destinada a encerrar uma era de exploração terrestre que começou com a explosão do espírito humanista durante a Renascença.

Este casamento entre tecnologias passada e presente — conduzidas pelo espírito assumido de indivíduos, no lugar dos que se dizem coletivos, mas escondem interesses pessoais de todos os tipos —, que explica a vitória de Amundsen e o fracasso fatal de Scott, continua valendo, um século depois, para análise  de quaisquer projetos, seja nos pólos ou mais próximo do Equador. Destaque ainda à união entre literatura de aventura e trabalho biográfico bem escrito e extensamente pesquisado, com base nos diários não só dos líderes das duas expedições, mas nos de vários de seus companheiros.

Dos projetos aos indivíduos que os compõem, mantém também sua pertinência atemporal uma das analogias finais de Hunteford, entre suas duas personagens centrais:

— Scott queria ser um herói; Amundsen queria meramente chegar ao pólo. Scott, com sua tendência de autodramatização, representava para as galerias; Amundsen pensava no trabalho que tinha pelas mãos, não numa platéia.

 

Da esquerda à direita: Amundsen, Hanssen, Hassel e Wisting, no Pólo Sul, diante da barraca e da bandeira da expedição norueguesas (foto da Biblioteca Nacional da Noruega, Divisão de Iconografia de Oslo)
Da esquerda à direita: Amundsen, Hanssen, Hassel e Wisting, no Pólo Sul, diante da barraca e da bandeira da expedição norueguesas (foto da Biblioteca Nacional da Noruega, Divisão de Iconografia de Oslo)
Da esquerda à direita: Scott, Bowers, Wilson e Evans(todos mortos no caminho de volta) diante da mesma barraca e bandeira deixadas no Pólo Sul, cinco semanas antes, pela expedição norueguesa que os superou (foto do Insituto de Pesquisa Polar Scott)
Da esquerda à direita: Scott, Bowers, Wilson e Evans (todos mortos no caminho de volta) diante da mesma barraca e bandeira deixadas no Pólo Sul, cinco semanas antes, pela expedição norueguesa que os superou (foto do Insituto de Pesquisa Polar Scott)