De férias

Caros leitores, estou saindo para gozar de merecidas férias, do mesmo modo que o meu parceiro de blog, Aluysio, que também saiu para descansar, depois de muita dedicação as eleições 2014. Se Deus quiser e permitir, em breve estaremos de volta! Abraços!

Após Copa e eleições, sua licença para descansar

pausa

 

 

Ano de Copa do Mundo no Brasil, seguida das eleições mais disputadas na história do país, enquanto o rio Paraíba definha diante dos nossos olhos e da nossa impotência, para não dizer cumplicidade. Os últimos cinco meses foram de muito, muito trabalho. Mas o resultado está aí, em tempo real, na sua tela, e preto no branco nas cores impressas todos os dias nas páginas da Folha. A todos da sua redação  e demais setores do jornal, responsáveis pela logística sem a qual nenhum bom jornalismo é possível, bem como aos blogueiros hospedados na Folha Online e aos seus colaboradores em versão impressa, e sobretudo a você, leitor, início, meio e fim de todos nós, meu muito obrigado. Do coração do meu coração, como diria o príncipe da Dinamarca, obrigado a todos pela chance de manter vivo o legado do meu pai.

Para onde quer que eu vá, levarei esses momentos guardados num estojo. Mas agora peço licença para descansar.

 

Ponto final — Em reunião tensa, vereadores pressionam e Garotinho ganha tempo

Ponto final

 

 

Vacas no mesmo brejo

Que a vaca de Anthony Garotinho (PR) foi para o brejo, todos no Brasil ficaram sabendo desde 5 de outubro, quando o deputado federal não conseguiu sequer chegar ao segundo turno de uma eleição a governador do Rio que chegou a liderar nas pesquisas na maior parte da campanha. Isso foi antes dele ajudar a conduzir ao mesmo destino brejal, no último domingo, a vaca de presépio do senador Marcelo Crivella (PRB), a quem deu seu apoio no segundo turno.

 

Rejeição no RJ e Campos

Bem verdade que, na disputa final com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), Crivella não foi prejudicado só pela enorme rejeição de Garotinho, talvez a maior entre os políticos fluminenses, mas também por aquela provocada pela Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), da qual o senador é bispo licenciado, e pelo seu tio Edir Macedo. Todavia, ao perder feio o segundo turno em Campos, onde Pezão ganhou em cinco das sete zonas eleitorais, Crivella revelou por tabela como hoje também é grande a rejeição ao próprio Garotinho dentro da cidade deste.

 

Os “independentes”

Como não há nada que não possa piorar, ontem, ao lado do filho Wladimir, Garotinho teve uma reunião muito tensa, na sede da Prefeitura de Campos, de quatro horas, das 16h às 20h, com 11 vereadores que se intitulam “independentes”: Genásio (PSC), Jorge Magal (PR), Gil Vianna (PR), Albertinho (Pros), Alexandre Tadeu (PRB), Dayvison Miranda (PRB), Thiago Virgílio (PTC), Neném (PTB), José Carlos (PSDC) e Miguelito (PP) e Álvaro César (PMN). Para se manterem governistas, os 11 reivindicaram que o próximo presidente da Câmara seja Genásio, Magal ou Gil.

 

Reunião na lama

Acuado, Garotinho reagiu da única maneira que sabe: atacando. Ele centrou fogo em Magal, Gil e Albertinho, que concorreram às eleições legislativas de 5 de outubro contra a vontade do líder. Exaltado, Garotinho teria cobrado na frente de todos:  “E seus 300 cargos na Prefeitura, Gil? E o convênio do município com sua escola Santana de Azeredo, Magal”. Mas foi com o terceiro que o (ainda) deputado federal de direito e prefeito de fato teria batido mais pesado: “Eu tirei você da lama, Albertinho!”.

 

Tadeu reagiu

Depois de cobrá-los duramente, por julgar que os três, entre os 11 descontentes, são os que mais recebem vantagens do governo municipal, Garotinho os teria ameaçado: “Magal, Gil e Albertinho podem sair daqui, entregar tudo que têm na Prefeitura e ir para oposição”. Os três se levantaram e saíram, quando Tadeu reagiu e disse na cara de Garotinho: “Se eles saírem e forem para a oposição, vamos todos os 11”. Enquanto isso, Álvaro César saiu da sala para chamar os três de volta e Wladimir tentava negociar em separado com Genásio, oferecendo-lhe uma secretaria para abandonar o grupo.

 

PRB ajuda Rosinha?

Quando Magal, Gil e Albertinho voltaram, Wladimir tentou repreendê-los, fazendo com que todos os vereadores questionassem sua presença. Diante de todos, Garotinho teria mandado o filho “calar a boca” e ligado para Crivella, numa tentativa de enquadrar Tadeu. O sobrinho de Edir Macedo se limitou a enviar uma mensagem de WhatsApp por celular para Dayvison, pedindo para os seus dois vereadores “ajudarem Rosinha”. Não custa lembrar que Crivella aceitou o apoio de Garotinho no segundo turno estadual contra o conselho pessoal do mesmo Tadeu.

 

Oposição banida

Resumo da ópera bufa: hoje, antes da sessão marcada para às 10h da manhã, os 11 “independentes” se reúnem com os outros 10 vereadores ainda governistas. Garotinho, que até então pretendia reeleger Edson Batista (PTB) a presidente da Câmara, ou alterná-lo no posto com Paulo Hirano (PR), cobrou ao final da reunião de ontem que os dissidentes escolham um dos três nomes apresentados por eles para presidir o Legislativo, impondo a condição de que não haja ninguém da oposição na mesa diretora.

 

O tempo e a hipocrisia

Enfraquecido politicamente, com uma Prefeitura inexplicavelmente quebrada, apesar do seu orçamento de R$ 2,5 bilhões, mas ainda bom enxadrista, Garotinho ganhou o tempo necessário para negociar separadamente com cada um dos 11 e tentar enfraquecer o grupo. O primeiro alvo (e mais fácil) é Miguelito. Se o Brasil revelado nas urnas do último domingo se mostrou dividido como “nunca antes na História deste país”, em Campos as coisas não parecem diferentes. Diante dos métodos muito semelhantes de se governar, a mudança fica na conta da hipocrisia de quem apoia uma prática em Brasília e condena os males da sua clonagem só na própria terra.

 

 

Publicado hoje na Folha

 

Garotinho: “Magal, Albertinho e Gil podem ir”. Tadeu: “Se eles saírem, vão todos os 11”

Racha Garotinho e vereadores
Arte de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.

 

 

Acabou agora há pouco uma reunião muita tensa, na sede da Prefeitura, que durou quatro horas, das 16h às 20h, da qual participaram o deputado federal Anthony Garotinho (PR) com os 11 vereadores governistas Genásio (PSC), Jorge Magal (PR), Gil Vianna (PR), Albertinho (Pros), Alexandre Tadeu (PRB), Dayvison Miranda (PRB), Thiago Virgílio (PTC), Neném (PTB), José Carlos (PSDC) e Miguelito (PP) e Álvaro César (PMN). O grupo de parlamentares que se intitula “independentes” fez uma única reivindicação para continuar a integrar a bancada governista: fazer de Genásio o próximo presidente da Câmara Municipal, que Garotinho tencionava manter com Edson Batista (PTB), ou alterná-lo com Paulo Hirano (PR). Acuado, Garotinho respondeu centrando o fogo da sua conhecida metralhadora giratória sobre Magal, Gil e Albertinho, que se lançaram às eleições legislativas de 5 de outubro contra a vontade do líder:

— Magal, Gil e Albertinho podem sair daqui, entregar todos os seus cargos na Prefeitura e ir para a oposição! — disse um exaltado Garotinho.

A novidade, pelo menos desta vez, é que os vereadores se comportaram como homens, solidários na resposta forte de Tadeu, na cara de Garotinho:

— Se eles forem para a oposição, vamos todos os 11!

Na dúvida se a coragem e a união demonstradas hoje será mantida, uma certeza: A sessão de amanhã na Câmara Municipal vai pegar fogo.

 

Mais informações amanhã, na coluna Ponto Final, da Folha

 

Ponto final — Urnas definiram quem fica e o que deve mudar no Brasil, RJ e Campos

Ponto final

 

 

Decisões da tribo

“A democracia é o pior dos regimes, o problema é que ainda não inventaram um melhor”. A frase é do velho leão inglês Winston Churchill (1874/1965). E talvez não haja nenhuma melhor para definir essa invenção grega, anterior a Cristo, de se eleger sem distinção entre os cidadãos qual deles governará a tribo. E a tribo preferiu manter quem já estava no lugar, seja no Estado do Rio, com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), ou no Brasil, com a presidente Dilma Rousseff (PT).

 

Vitória tranquila

Bem verdade que a vitória de Pezão foi bem mais tranquila. Com 55,78% dos votos válidos, contra os 44,42% do senador Marcelo Crivella (PRB), ele confirmou sua folgada diferença de dois dígitos apontada por Datafolha e Ibope. Entre os 12 pontos de vantagem previstos pelo primeiro instituto e os 10 projetados pelo segundo, o governador cravou 11,36 pontos à frente do sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e proprietário da Rede Record.

 

Tática acertada

Dada sua índole conciliatória e jeito bonachão, por mais que o papel de agressor tenha caído mal para Pezão em determinado ponto da campanha no segundo turno, os resultados das urnas provam que foi acertada a tática de associar a rejeição a Edir Macedo e sua Iurd à imagem de bom moço de Crivella. E este também pagou o preço das alianças desastradas, como a com o deputado federal Anthony Garotinho (PR), dono talvez da maior rejeição entre os políticos fluminenses.

 

Crivellinho fracassa em Campos

Para se constatar que a aliança com Garotinho não rendeu bons frutos a Crivella, não é nem preciso sair do reduto eleitoral do primeiro. Em Campos dos Goytacazes, Pezão ganhou em nada menos que cinco (98ª, 99ª, 249ª, 75ª e 100ª) das sete zonas eleitorais (mais 76ª e 100ª). Entre os oposicionistas locais, sobretudo aqueles que se engajaram na campanha de Pezão, no primeiro turno ou de carona no segundo, esse resultado campista da eleição a governador já é encarado como chance de vitória na disputa à sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR), em 2016.

 

Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.
Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.

 

O peso da máquina

Para isso, porém, a oposição de Campos terá que enfrentar a máquina. E como todos os petistas locais se incluem na oposição goitacá, talvez não seja irrelevante ressaltar que, assim como com Pezão, foi a força da máquina quem deu a reeleição à presidente. Vitoriosa com a menor diferença de votos da história da República, apenas 3,28 pontos percentuais à frente do senador Aécio Neves (PSDB), Dilma ultrapassou a marca mínima anterior, que pertencia ao hoje senador e seu aliado Fernando Collor de Mello (PTB). Diante deste fato tão incontestável quanto a vitória de Dilma, nem o petista mais assemelhado a fiel da Iurd poderia supor que ela vencesse Aécio ontem se, no lugar de presidente, fosse uma senadora, por exemplo.

 

Outros tempos

Em 1989, nos tempos em que Dilma ainda assinava a carteirinha de brizolista no PDT, Collor pegou carona no PRN para derrotar Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT no segundo turno presidencial, por exatos 6,06 pontos. Ou seja, conseguiu bater Lula com quase o dobro de diferença pela qual Dilma agora derrotou Aécio. Só que, com um pequeno detalhe desfavorável ao político das Alagoas: como o presidente à época era José Sarney (PMDB), outro aliado do PT dos dias de hoje, Collor ganhou sem ter a máquina.

 

Bom discurso

Se Dilma levar a cabo as promessas feitas ontem, em seu bom discurso de vitória, de fazer a reforma política, retomar o crescimento econômico, combater de fato a corrupção e optar pelo diálogo com a sociedade para além dos movimentos companheiros bancados por verbas públicas, sua legitimidade incontestável do novo mandato pode também se converter num apoio popular superior à beira da maioria mínima. Isso sem contar os 27,43% dos eleitores que sequer se dignaram a escolher entre ela ou Aécio.

 

Na prática

Por enquanto, das 27 unidades da Federação, 15 deram a Dilma uma nova chance, enquanto outras 12 preferiam a alternância de poder. Estas dificilmente deixarão de cobrar ao menos a mudança de algumas práticas. Quem tiver alguma dúvida da divisão acirradíssima com que os brasileiros se expressaram democraticamente nas urnas, aconselha-se uma boa olhada no mapa do Brasil desenhado pelo pleito presidencial,  no infográfico do Eliabe de Souza, o Cássio Jr, na capa desta edição da Folha. Não há estrabismo maniqueísta ou delírio megalômano que resista.

 

Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.
Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.

 

Publicado na Folha

 

Dilma é a legítima presidente de um Brasil dividido que só a soma reunificará

Brasil dividido
Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.

 

 

Desde que passou a ser disputada em dois turnos, a partir da redemocratização do Brasil em 1985 e da Constituição de 1988, a eleição presidencial do país foi vencida hoje pela presidente Dilma Rousseff (PT) pela margem mais apertada na história do país. Essa marca antes cabia a Fernando Collor de Mello, então no PRN, quando derrotou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1989, por apenas 6,06 pontos percentuais (53,03% a 46,97%). Hoje, Dilma venceu Aécio Neves (PSDB) por 3,28 pontos (51,64% a 48,36%), pouco mais da metade da vantagem anterior de Collor sobre Lula. Considerada a abstenção de 21,09%, mais 4,63% de votos nulos e 1,71% em branco, num total de 27,43% do eleitorado que sequer se dignou a escolher entre Dilma e Aécio.

Em seu (bom) discurso de vitória, Dilma disse não acreditar que o país tenha se dividido nesta eleição. Inquestionavelmente legitimada pela escolha soberana da democracia, a presidente falou aparentemente da própria boca, que a reforma política, através de plebiscito, a retomada do crescimento na economia, o combate intransigente à corrupção e o diálogo com os movimentos sociais, os setores produtivos e a sociedade civil organizada serão suas metas no próximo mandato. Admitir que a divisão do país, além de existir, nunca foi tão apertada, seria o melhor passo para costurar o que as urnas deixaram claramente em aberto e cumprir, de fato, as quatro metas que presidente reeleita anunciou para os próximos quatro anos do Brasil.