Reduto tradicional de grande parte dos campistas no verão, Atafona não se resume à programação oficial dos shows de sábado e domingo, no Balneário da praia sanjoanense. Desde hoje começou a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Padroeira dos pescadores de Atafona, a imagem da santa sai nesta sexta (01) em procissão da sua capela no Pontal. De lá, segue ao Píer do Pescador, parte em procissão fluvial, desembarca nas areias do Pontal e volta à capela. Segundo o livro “Uma dama chamada Atafona”, do jornalista e pesquisador João Noronha, é uma tradição que ocorre anualmente desde 1955.
No sábado (2), dia em que os católicos celebram Nossa Senhora dos Navegantes, a programação começa bem cedo, com alvorada às 6h. Já às 18h30 será celebrada a missa solene (campal). Depois, a procissão terrestre percorre as principais vias públicas de Atafona. Na chegada, acontece a cerimônia de coroação e uma queima de fogos, encerrando as atividades religiosas. A Prefeitura colabora com a parte de estrutura, mas as flores que enfeitam a festa, assim como os fogos, são bancados pelos próprios pescadores do Pontal.
É na base da colaboração que amigos e parentes da bilbiotecária Cláudia Arenari irão homenageá-la (aqui) com um luau, também nas areias do Pontal de Atafona, a partir das 18h de sábado. Tradicional veranista de Atafona, Claudinha estava lá quando passou mal e foi internada na Santa Casa de São João da Barra, onde morreu (aqui) na última sexta (27). Ela tinha 62 anos. Após o velório em Campos, seu corpo foi cremado em Nova Friburgo. E suas cinzas serão lançadas no encontro das águas do rio Paraíba do Sul com o oceano Atlântico.
A data da homenagem a Cláudia é simbólica: no sincrestismo religioso brasileiro, 2 de fevereiro é a data de Nossa Senhora dos Navegantes. E também de Iemanjá, rainha dos mares e divindade do candomblé e da umbanda. Claudinha era sua devota. Nas redes sociais, os organizadores pedem aos presentes: se possível usem vestimenta branca e cada um leva sua bebida, velas ou lanterna e madeira para a fogueira.
Morreu hoje a bibliotecária Cláudia Arenari, mais conhecida como Claudinha. Ela tinha 62 anos e estava em Atafona, onde era uma tradicional veranista. No domingo, começou a passar mal, com quadro de vômito, ficando de cama o resto da semana. Nesta madrugada, sem apresentar melhora, deu entrada na Santa Casa de São João da Barra e passou à UTI, onde foram dignosticados insuficiência renal, anemia profunda e queda de pressão. Foi tentada uma tranferência ao Hospital Dr. Beda, em Campos, mas havia risco na remoção, mesmo numa UTI Móvel. Na tarde de hoje, ela não resistiu e morreu.
Claudinha foi casada com o professor de história Augusto Soffiati, o Tata, com quem teve dois filhos: Bernardo e Bárbara. Filho desta, deixa também um neto: Noah. Aposentou-se como bibliotecária da Bilblioteca Municipal Nilo Peçanha. Nos anos 1970 teve destaque em Campos como bailarina. E, desde então, era figura frequente da vida artística da cidade. Sua morte inesperada deixa saudades nos parentes e muitos amigos que colecionou numa vida breve, mas intensa.
O velório ocorrerá ainda hoje no Campo da Paz. Familiares e amigos tentam depois levar o corpo para ser cremado fora da cidade.
Em toda a cidade, ontem não houve outro assunto. A prisão e o envolvimento confesso do empreiteiro José Maurício dos Santos Ferreira Júnior no sequestro do amigo e também empreiteiro Cristiano Tinoco, em 3 de dezembro. Zé Maurício, como é mais conhecido, foi preso por volta das 6h30 em sua casa, no luxuoso condomínio Sonho Dourado, atrás do Shopping Estrada. Ele foi apontado por outros dois participantes da ação criminosa como seu mentor. Um deles, o vigilante Junio dos Santos Costa, também foi preso ontem e confessou ter sido o elo de ligação entre Zé Maurício e os três autores do sequestro.
Todas as instruções
Quem também apontou Zé Maurício como mentor do sequestro foi outro vigilante, Marven Chagas Batista. Ele foi preso em 17 de janeiro, próximo à Feira de Santana, na Bahia. Na Delegacia de Homicídios de lá, deu a confissão mais detalhada sobre o caso. Ele conhecia Junio, que ajudou Zé Maurício a planejar o sequestro, desde que ambos trabalharam juntos como seguranças da boate Vip Night, em Guarus. Segundo Marven: “Zé Maurício ligou certa vez e disse: ‘Junio lhe passou todas as instruções? Quando você pode agir?’ (…) todas as instruções eram repassadas por Junio, que recebia as ordens de Zé Maurício”.
A preparação
Municiado pelas informações de Zé Maurício, Marven detalhou o preparo antes da ação: “durante quatro meses, ia à casa de Cristiano Tinoco, onde ficava esperando o mesmo sair e o seguia, para ver os locais que ia”. Com o roteiro e hábitos de Cristiano mapeados, Marven contou: “um dia Junio ligou para o declarante, informando que estaria embarcado no dia do sequestro, mas que Zé Maurício já teria dado ‘sinal verde’ para cometerem o crime”. Só a partir daí entraram os outros dois bandidos que, junto com Marven, executaram a ação: Carlos José Gonçalves do Espírito Santo, o “Cacá”, e André Ângelo Monteiro, o “Cabeça”.
A ação
Como foi o único que participou da elaboração do plano e sua execução, o depoimento de Marven foi o mais completo. Foi ele quem abordou Cristiano no dia 3, que saía da secretaria municipal de Obras. Ele o chamou pelo nome, levantou a blusa, exibiu o revólver e assumiu a direção do seu carro, sendo seguido em outro veículo por Cacá e Cabeça. Pararam no Posto do Contorno e depois seguiram à residência de Cristiano. Como o empresário não tinha dinheiro em casa, ele lhe deu algumas joias e negociou com os três bandidos. Ligou para um amigo, que lhe levou R$ 192 mil. Antes de saírem, a esposa de Cristiano chegou e foi também rendida.
Contradição
Após ser preso ontem, Junio também admitiu sua participação no sequestro e apontou Zé Maurício como seu mentor: “por volta do mês de julho, do ano de 2018, foi procurado por José Maurício para planejarem e o declarante executar um roubo a um empresário chamado Cristiano Tinoco”. Zé Maurício confessou ter participado do crime. Ele disse que “incialmente receberia uma parte do proveito obtido com o crime, mas posteriormente avisou a Junio que não queria mais nada do que fosse obtido”. Junio, no entanto, o desmentiu: “Marven havia fugido com o dinheiro do resgate” e “José Maurício se revoltou com o desfecho”.
Detalhe do Rolex
Em parte, a versão de Junio foi confirmada pelo próprio Zé Maurício: “Junio contou que Marven, após o assalto, teria fugido com todo o dinheiro, dando ‘banho’ em todo mundo”. Foram de Marven as afirmações mais fortes sobre a autoria intelectual: “Zé Maurício não participou no dia do crime, mas foi o mentor do sequestro”. A atenção policial ao empresário surgiu por um detalhe. Uma pergunta dele sobre um relógio Rolex de Cristiano, no convívio de ambos como amigos, foi repetida durante o sequestro. As suspeitas sobre Zé Maurício foram confirmadas pela investigação. E reforçadas ontem pela confissão da sua participação.
Eficiência policial
Como os depoimentos confirmam a versão inicial do resgate de R$ 192 mil, caíram por terra as especulações feitas por um perfil nas redes sociais ligado ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP). Nele foi dito que os bandidos teriam encontrado R$ 1,8 milhão na casa do empresário. A intenção era tentar explorar politicamente o caso, já que Cristiano é irmão do também empresário Cesinha Tinoco, chefe de gabinete do prefeito Rafael Diniz (PPS). Mais do que o envolvimento de um amigo no caso, só outra coisa ontem foi tão comentada: a eficiência da investigação da Polícia Civil de Campos, comandada pelo jovem delegado Pedro Emílio Braga.
“Afirmativamente, que confessa ter participado do sequestro das duas vítimas, Cristiano Tinoco e Thais Dinelli, mas nega que tenha planejado o crime, apenas executou a ordem de outros elementos (…)
Junio dos Santos Costa, conhecido como Junio, que planejou o crime com José Maurício Santos Ferreira Júnior, conhecido como Zé Maurício (…)
Que o declarante durante esses quatro meses, ia à casa de Cristiano Tinoco, onde ficava esperando o mesmo sair e o seguia, para ver os locais que ia (…) Que o declarante informa que Zé Maurício ligou certa vez e disse ‘Junio lhe passou todas as instruções? Quando você pode agir?’ (…)
Que todas as instruções eram repassadas por Junio, que recebia as ordens de Zé Maurício; Que Zé Maurício passou para Junio que repassou ao declarante que o sequestro de Cristiano deveria ocorrer em um momento oportuno e que iria avisar quando fazer, mas que ainda não havia data prevista, Que um dia Junio ligou para o declarante, informando que estaria embarcado no dia do sequestro, mas que Zé Maurício já teria dado ‘sinal verde’ para cometerem o crime (…)
Que Cristiano perguntou se a quantia de R$ 200.000,00 estaria bom para eles; Que Cristiano pediu que decidissem rápido, pois sua esposa e filhos estariam para chegar; Que disseram para Cristiano que poderia ser o valor, e que de imediato Cristiano ligou para um amigo, que o declarante não sabe quem é, e Cristiano pediu a quantia de R$ 192.000,00 emprestada; Que após desligar, cerca de vinte minutos depois, o amigo de Cristiano chegou com um pacote e, quando iam saindo, a esposa de Cristiano entrou na casa e os flagrou, sem esboçar nenhuma reação (…)
Que o declarante esclarece que Zé Maurício não participou no dia do crime, mas foi o mentor do sequestro; Que o declarante esclarece que tinha mais contato com Junio, pois trabalharam juntos em uma boate de Campos, e que os demais conheceu durante a articulação do sequestro (…) Que o declarante afirma que quem idealizou o sequestro de Cristiano Tinoco e Thais Dinelli foi José Maurício Santos Ferreira Júnior, o qual reconhece por fotos neste ato.”
Esses são trechos de depoimento de Marven Chagas Batista, dado em 17 de janeiro, na Delegacia de Homicídios de Feira de Santana, na Bahia. Ele foi preso lá pelo sequestro do empreiteiro Cristiano Tinoco, praticado em Campos, em 3 de dezembro. Cristiano foi pego na rua, feito refém e conduzido à sua casa por Marven, Carlos José Gonçalves do Espírito Santo, o “Cacá”, e André Ângelo Monteiro, o “Cabeça”. Sem dinheiro em casa, o empresário negociou sua libertação e da esposa com os bandidos por R$ 192 mil, levados por um amigo.
Também empreiteiro e amigo pessoal de Cristiano, José Maurício dos Santos Ferreira Júnior, o Zé Maurício, foi apontado por Marven como autor intelectual do crime. Ele foi preso hoje (aqui), em sua residência, no condomínio de luxo Sonho Dourado, atrás do Shopping Estrada. Zé Maurício confessou sua participação no sequestro em depoimento na 134ª DP. Mas disse que “incialmente receberia uma parte do proveito obtido com o crime, mas posteriormente avisou a Junio que não queria mais nada do que fosse obtido”.
Também preso hoje, Junio dos Santos Costa ajudou Zé Maurício a planejar o sequestro. Junio e Marven se conheciam por terem atuado juntos como seguranças da boate Vip Night, em Guarus. Seu proprietário, Jean Carlos Caetano Guimarães foi assassinado a tiros (aqui) no último dia 9. Em depoimento à Polícia Civil, Junio admitiu sua participação no sequestro de Cristiano e apontou Zé Maurício como mentor do crime: “por volta do mês de julho, do ano de 2018, foi procurado por José Maurício para planejarem e o declarante executar um roubo a um empresário chamado Cristiano Tinoco”.
Pelos depoimentos, fica claro que Junio serviu como elo de ligação entre Zé Maurício e Marven. Este executou o sequestro junto com Cacá e Cabeça, que só entraram na ação perto da sua realização. Junio também desmentiu que Zé Maurício tenha desistido de receber sua parte do resgate pago por Cristiano Tinoco: “Marven havia fugido com o dinheiro do resgate; que o declarante passou essa versão a José Maurício, que se revoltou com o desfecho”. Junio foi em parte confirmado pelo depoimento do próprio Zé Maurício: “Júnio contou que Marven, após o assalto, teria fugido com todo o dinheiro, dando ‘banho’ em todo mundo”.
Delegado responsável pela investigação do caso pela 134ª DP, mesmo já tendo assumido a titularidade da 146ª DP de Guarus, Pedro Emílio Braga considerou o caso resolvido com as três prisões de hoje. Além de Zé Maurício e Junio, Cabeça também foi preso na operação Avaritia (cobiça em latim). Cacá havia sido preso em 3 de janeiro, enquanto Junio foi capturado na Bahia, 14 dias depois. Com os cinco presos, Pedro Emílio esclareceu:
— Foram 45 dias de investigação, inclusive com escutas telefônicas, e, com as prisões de hoje, o crime foi elucidado, com todas as autorias identificadas e esclarecida a participação de cada um, com todas as condutas individualizadas. O mentor intelectual é uma pessoa de relação muito próxima, amigo das vítimas, que frequenta o mesmo círculo e, bem por isso, tinha acesso à rotina, ao modo de vida, aos bens que possuíam; informações que foram repassadas aos executores do crime e possibilitaram o sequestro e que o empresário e a esposa fossem feitos reféns até o pagamento de R$ 192 mil, a título de resgate.
Apontado por dois companheiros na ação criminosa como seu mentor, Zé Maurício teve a atenção policial incialmente atraída sobre si por um detalhe. Uma pergunta feita por ele sobre um relógio Rolex de Cristiano, no convívio de ambos como amigos, foi depois repetida por um dos bandidos durante o sequestro. As suspeitas sobre o empresário foram confirmadas pela investigação. E reforçadas hoje com sua prisão e confissão.
Leia a cobertura completa, com os depoimentos de Zé Maurício, Junio e Marven na edição desta sexta (25) da Folha da Manhã
Com a operação Avaritia (em latim: cobiça) da Polícia Civil, que hoje amanheceu o dia (aqui) efetuando três prisões em Campos, parecem ter se encerrado as investigações do sequestro e cobrança de R$ 200 mil de resgate do empresário Cristiano Tinoco. Ele foi abordado na rua, chamado pelo nome por dois homens em um carro, em 3 de dezembro. Após pegarem outro homem na Estrada do Contorno, os quatro foram até à casa do empresário, onde sua esposa chegou e também foi feita como refém. Sem encontrarem nada na casa, os bandidos só soltaram o casal após Cristiano conseguir que um amigo levasse até eles a quantia de R$ 200 mil, exigida como resgate.
Dois suspeitos, que teriam participado da ação, já haviam sido presos anteriormente. Hoje foram presos mais três. Um deles, suspeito de ser o autor intelectual do sequestro, é o empresário José Maurício Ferreira dos Santos. Ele era amigo próximo de Cristiano. Preso hoje em sua residência, no condomínio Sonho Dourado, atrás do Shopping Estrada, José Maurício teria fornecido as informações pessoais usadas no sequestro. Uma pergunta feita por ele, no convívio com Cristiano e depois repetida por um dos bandidos na ação, sobre um relógio Rolex, levantaram as primeiras suspeitas, que teriam sido confirmadas pela investigação.
Como todas as informações, inclusive passadas pelos suspeitos presos, confirmam a versão inicial do resgate de R$ 200 mil levado à casa de Cristiano por um amigo, caem por terra as especulações feitas por um perfil ligado ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP). Nas redes sociais, chegou a afirmar em 6 de dezembro que os bandidos teriam encontrado R$ 1,8 milhão na casa do empresário. Essas informações falsas tinham como objetivo tentar explorar politicamennte o caso, já que Cristiano é irmão do também empresário Cesinha Tinoco, chefe de gabinete do prefeito Rafael Diniz (PPS). Com a operação de hoje, todos os suspeitos do sequestro tiveram o mesmo destino do ex-governador, que já foi preso três vezes.
Assim que o inquério policial for concluído, poderá se passar à denúncia do Ministério Público e, se for o caso, ao julgamento. Até lá, vale a presunção da inocência e não se pode falar em culpados. Mas a operação de hoje, após investigações que levaram até Minas Gerais e Bahia, para a prisão de um dos suspeitos, parece ser um grande trabalho policial. Hoje titular da 146ª DP de Guarus, ficam os parabéns ao delegado Pedro Emílio Braga e sua equipe.
Leia a cobertura completa do caso na edição desta sexta (25) da Folha da Manhã
Desde que Edson Batista (PTB) sucedeu Nelson Nahim (PSD) na presidência da Câmara de Campos, ficou famosa em seus corredores a comparação entre bolo de fubá e bolo Amélia. Por cortar sua fatia e deixar farelos, Nahim era o bolo de fubá. Por cortar sua fatia e não deixar nada, Edson era o bolo Amélia. Novo presidente, Fred Machado (PPS) estreia como bolo de fubá. O contingenciamento de 30% nos salários dos assessores dos vereadores, chefes de gabinete e assessores das comissões permanentes, de outubro a dezembro de 2018, está suspenso. Os cerca de 150 assessores voltarão a receber integralmente a partir de janeiro.
Revolta
É difícil pensar em um crime mais revoltante do que a morte do pequeno Dione Valentim, com pouco menos de um mês de vida. Ele morreu no final da noite de terça (22) no Hospital Ferreira Machado (HFM) e seu corpo foi sepultado ontem no cemitério de São Sebastião, na Baixada Campista. O suspeito de ter matado a criança com cinco socos na cabeça é o próprio pai, Lucas do Espírito Santo Pereira, de 21 anos. No sábado (19) ele teria se irritado, jogado o filho recém-nascido na cama e o esmurrado. O motivo? O bebê golfou. A versão foi dada pela mãe de Dione. Os três veraneavam numa casa alugada no Farol de São Thomé.
O mais primitivo
Acreditar na inocência de qualquer suspeito, até que se prove em contrário, é o pilar de qualquer estado democrático de direito. A versão da mãe, que levou seu companheiro à prisão desde terça, não foi a primeira apresentada por ela. Quando os dois levaram o pequeno Dione, primeiro ao Posto de Saúde do Farol e depois ao HFM, a versão inicial foi de acidente doméstico. Inconsolável ontem no velório do seu filho, a mãe também pode ser processada por omissão de socorro, segundo informou o delegado titular da 134ª DP, Bruno Cleuder. Mas se a culpa de Lucas for provada, mexerá com o mais primitivo de qualquer ser humano.
Bolsonaros (I)
Um dos maiores beneficiados com a revolta pela sucessão de crimes bárbaros cometidos na sociedade brasileira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ontem se pronunciou sobre as suspeitas sobre seu filho mais velho. Senador eleito, Flávio Bolsonaro (PSL) caiu na berlinda nacional com revelações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), levantando fortes suspeitas da prática da “rachadinha” — repasse criminoso de salários de assessores parlamentares. Isso além da sua ligação com a milícia carioca “Escritório do Crime”, cujo líder teve a mãe e a esposa empregadas por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Bolsonaros (II)
Sobre as suspeitas que pairam sobre seu primogênito, o presidente disse ontem na Suíça: “Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”. Pelo menos no plano retórico, foi uma atitude bem diferente da negação da realidade adotada pelo PT e seus eleitores sobre todos os escândalos de corrupção que envolveram o partido hoje presidido pela sua coveira, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Agora, se quando voltar ao Brasil, Bolsonaro vai honrar o que disse, afastando Flávio e os outros dois filhos do governo, como querem os militares que o compõem, é para se conferir de perto. O diabo é quase sempre converter discurso em prática.
O guarda da esquina
Único integrante do governo brasileiro a não assinar o Ato Institucional nº 5 em 1968, que suprimiu direitos e inaugurou a fase mais dura da última ditadura militar no Brasil (1964/1985), o então vice-presidente Pedro Aleixo observou: “O problema é o guarda da esquina”. Uma prova de como o discurso de força dos Bolsonaro pode influenciar negativamente a sociedade foi dado na tarde de ontem, por um guarda civil municipal, no Jardim São Benedito. Ele foi flagrado em vídeo (aqui) agredindo fisicamente um homem que, sem desrespeitar sua autoridade, não se dobrou ao seu autoritarismo.
Milionário
Um apostador de Teresópolis, na Região Serrana, acertou as seis dezenas da Mega-Sena e ganhou sozinho o prêmio de R$ 37,9 milhões. Esta foi a primeira vez em 2019 que alguém acertou a sena. A Mega estava acumulada desde o início do ano. As dezenas sorteadas foram 11, 12, 20, 40, 41 e 46. A quina teve 58 ganhadores, cada um com o prêmio de R$ 53,1 mil e a quadra, 4.135, com valor de R$ 1.064 por aposta. O próximo sorteio será no próximo sábado e o prêmio estimado é R$ 2,5 milhões.
Nesta tarde, no Jardim São Benedito, um guarda civil municipal foi flagrado em agressão física a um homem. Aparentando descontrole emocional e usando de palavras de baixo calão, o agente de segurança ficou contrariado porque o homem, identificado como Yann Maia, que afirmou ser morador de Brasília, não obedeceu sua ordem arbitrária de ficar “de boca fechada”.
Um estudante do IFF, que estava no local, filmou com o celular o ocorrido. Segundo ele, os guardas ameaçaram apreender seu celular se ele não apagasse o vídeo. O advogado do Grupo Folha, João Paula Granja, afirmou que isso seria inconstitucional. O caso chegou a ser encaminhado à 134ª DP, mas não houve registro.
Comandante da Guarda Civil Municipal de Campos, Fabiano Mariano retornou à tentativa de contato do blog. Ele afirmou que assitirá ao vídeo e, se constatar qualquer equívo na conduta do seu agente, será caso de averiguação. Para isso, se dispôs a receber pessoalmente o agredido ou as pessoas que testemunharam e filmaram a agressão, para formalização da denúncia na Guarda. “Mas posso garantir que qualquer atitude agressiva não é a orientação do comandante ou da insituição. A finalidade dos agentes da Guarda é atender aos munícipes”, disse Mariano.
Não se trata de perseguição da imprensa. Tampouco dos “esquerdistas”, como são chamados todos os que cobram explicações sobre as relações cada vez mais indefensáveis do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho mais velho do presidente. Mesmo que quem agora cobre, jornalista ou cidadão, antes tenha feito a mesma coisa sobre os escândalos de corrupção nos governos do PT. A lógica dos fatos parece não importar aos bolsonaristas bem definidos como “petistas de sinal trocado” por Janaína Paschoal. Deputada estadual paulista pelo PSL, legenda do clã Bolsonaro, ela foi autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O foro “porcaria”
Já estava muito difícil se defender das revelações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Não só sobre as movimentações atípicas de R$ 7 milhões do PM Fabrício Queiroz, quando era assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) — incluindo um repasse de R$ 24 mil para a atual primeira dama Michelle Bolsonaro. Ficou ainda pior com a tentativa de buscar foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), antes chamado de “porcaria” em vídeo por Jair e Flávio. E sem razão, já que os fatos se deram quando o primogênito do presidente era deputado estadual, não senador.
Sonegação ou lavagem de dinheiro?
O Coaf também revelaria 48 depósitos em nome de Flávio, no valor de R$ 2 mil cada, entre junho e julho de 2017, totalizando R$ 96 mil. Em entrevista, o senador disse se tratar de parte da quitação de um imóvel, mas não explicou porque isso foi feito em dinheiro vivo. Os motivos podem ser dois: ou o vendedor quis ocultar ganho de capital para driblar o Imposto de Renda, ou não pôde declarar a origem dos valores. No primeiro caso, seria crime de sonegação fiscal. No segundo, de lavagem de dinheiro. Líder do MBL, deputado federal e ícone jovem da direita, Kim Kataguiri declarou sobre o caso: “Não existe defesa plausível para Flávio Bolsonaro”.
Elo com milícias
Não bastasse, ontem foi revelado que Flávio empregou em seu gabinete na Alerj, até novembro do ano passado, a mãe e a esposa do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como líder da milícia “Escritório do Crime”. A organização criminosa é suspeita da execução da ex-vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Adriano, que está foragido, já foi homenageado por Flávio na Alerj. E Queiroz, após as primeiras revelações do Coaf, se escondeu por duas semanas na favela do Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, área dominada pelo Escritório do Crime.
Na Suíça
Enquanto o cerco se apertava sobre seu filho, Jair Bolsonaro ontem fez o discurso de abertura no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Tinha 45 minutos, mas usou apenas oito. E foi bastante criticado pela imprensa internacional. Sua fala chegou a ser classificada como “enorme fiasco” pela jornalista Heather Long, do Washington Post. Mas teve um ponto positivo, ao marcar a prevalência do pragmatismo comercial do ministro da Economia Paulo Guedes sobre os delírios contra o “globalismo” do chanceler Ernesto Araújo. Foi o que o presidente fez ao defender o multilateralismo da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Brasil ou o filho?
Quando voltar ao Brasil, Bolsonaro pode ter que optar entre o que prometeu ao país durante a campanha, ou tentar salvar seu filho. Se a opção for a primeira, ele terá que seguir o conselho do seu ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Líder inconteste do núcleo militar da administração federal, o general Augusto Heleno já advertiu o capitão para afastar os seus três filhos do governo. Se a opção for tentar salvar o mais velho, que ninguém duvide: Renan Calheiros (MDB) será novamente presidente do Senado Federal. Em troca, ele tentará fazer por Flávio o que a Câmara Alta da República fez no passado por Aécio Neves (PSDB).
Samurai
Quem cobre o cenário político fica mais atento ao Diário Oficial no início de governo. Afinal, entre as nomeações podem aparecer indicativos de alianças políticas. No entanto, o que chamou atenção da imprensa no DO do Rio de Janeiro ontem não foi nenhuma atribuição para cargo público. O governador Wilson Witzel (PSC) sancionou a lei que estabelece 24 de abril como Dia Estadual do Samurai. O projeto é do deputado Wanderson Nogueira (Psol) e foi aprovado pela Alerj no dia 20 de dezembro. Nada contra samurai nenhum, mas o Estado do Rio tem muitos assuntos mais importantes para discutir.