Esperava entrar de férias só a partir desta quinta (11). Mas devido a problemas técnicos inesperados e indesejados, tanto no IPhone, quanto no lap top, a opção foi iniciar desde hoje a pausa nas atividades profissionais em rádio, jornal e no blog. A partir da segunda semana de março, se Deus quiser, a gente se reencontra. Inté!
Entre os várias equívocos cometidos pelos bolsonaritas, como antes pelos petistas, é cobrar a suposta insenção jornalística em textos de opinião. Que, por textos de opinião — a repetição é necessária a quem parece ignorar o óbvio —, serão sempre parciais, frutos da análise pessoal dos fatos. Da narração impessoal destes, é composto o noticiário. E qualquer órgão de imprensa divide sua produção entre noticário e opinião. Nesta, para se buscar o equilíbro, é necessário abrir espaço às visões constrastantes. Muito antes do alemão Johannes Gutenberg criar a prensa de tipos móveis, no séc. 15, foi a partir dessa mesma multiplicidade de opiniões, com paridade no direito de se manifestar em sua ágora, que os gregos antigos inventaram a democracia.
A despeito das revoluções tecnológicas, seja a imprensa de Gutenberg há mais de meio milênio, seja a da Internet e das redes sociais, entre o final do séc. 20 e este início do 21, o contraste entre opiniões distintas continua sendo fundamental à democracia. Que vive e se alimenta da discordância, sem transformar quem pensa diferente em “inimigo”. Os argumentos, que precisam se fundamentar para além das meras opiniões, podem e devem se confrontar dialeticamente. Mas não as pessoas.
Não por outro motivo, antes de publicar (confira aqui) no sábado (06) a crônica “Petistas e bolsonaristas sob o juízo da mesa de bar”, com críticas frontais ao que o lulopetismo e o bolsonarismo têm de comum, sobretudo em sua radicalidade e intolerância, franqueei previamente o texto a dois jovens estudantes universitários de Campos. E pedi que o petista Gilberto Gomes e o bolsonarista Eraldo Duarte também se manifestassem. Abaixo, com meu respeito e minhas discordâncias, seguem os textos dos dois:
Petistas x Bolsonaristas: a verdade absoluta da falsa simetria
Por Gilberto Gomes
Fui convidado pelo amigo Aluysio a discorrer sobre sua crônica publicada ontem, a despeito de uma suposta relação entre petistas e bolsonaristas.
Desde o resultado catastrófico das eleições de 2018, teses e mais teses buscavam tentar explicar a ascensão de um projeto conservador e negacionista no Brasil.
E uma das teses de maior adesão, sem dúvidas, é a de que o PT teria optado pela manutenção de sua hegemonia, em detrimento do bem estar social do país, defendida principalmente por figuras que há muito tempo tentam jogar o PT a um extremo que nunca lhe coube, visando a vacância de representação para o centro liberal, outrora representado por Marina, hoje por Ciro, há quem diga que até por Doria ou Huck.
E é ao lançar o PT a um extremo que o partido jamais frequentou, que o maior equívoco dessa tese encontra abrigo: a falsa simetria com o outro extremo, o bolsonarismo. Essa tese é, claramente, uma visão distorcida de quem não conhece, por óbvio, dos debates e disputas internas do maior partido de esquerda da América Latina. Lança Lula a um extremo que ele sequer ocupa dentro do próprio partido, onde seu grupo político é considerado dos mais moderados e conciliadores.
A superficialidade desta simetria vem se tornando mantra e “verdade absoluta” para aqueles que apenas fingem não possuir interesses políticos em 2022, condenando o PT por seu próprio motivo de existência enquanto partido político: disputar os rumos da sociedade brasileira, não somente através de eleições, mas principalmente através delas para a projeção de um programa democrático-popular ainda muito atual.
Na crônica, Aníbal acerta que nós, petistas, somos geralmente muito mais inteligentes que bolsonaristas, a quem eu agradeço o elogio, mas não trata essa constatação com a devida importância. Afinal, qualquer pessoa que não pense com o fígado poderia identificar as fragilidades desta falsa simetria tida como verdade absoluta, uma vez que nossa militância jamais tocou nos extremos que o bolsonarismo toca.
Embora como petista e socialista que sou eu desejasse, jamais houveram passeatas pela por revolução ou pela “ditadura do proletariado” durante a década passada, incentivadas pelo governo ou que fossem consenso entre a militância. No máximo, era um tema acadêmico ou aventada por correntes minoritárias do partido. Nunca houve qualquer discurso de ruptura da democracia, enquanto os bolsonaristas, incentivados pelo presidente e seus filhos, só falam a todo momento em fechar o Congresso, o STF e decretar AI-5.
O PT fortaleceu a democracia brasileira e suas instituições, teve as experiências mais exitosas de participação popular, ascendeu camadas
da sociedade historicamente desprezadas nos projetos nacionais, combateu a fome e a miséria. Muito, mas muito distante do obscurantismo bolsonarista que nega até mesmo a pandemia que vivemos.
A crônica tem um ato falho revelador quando diz que o que está jogo, de verdade, são os 60% da sociedade “espremidos” entre os polos PT x Bolsonaro. E revelaria mais ainda se viesse assinada pela visão oportunista liberal de Hannah Arendt (pausa para um riso e um gole na mesma Eisenbanh que compartilho com a crônica).
É nesta massa definidora que reside o principal interesse e a principal frustração do “centro”, pautado convenientemente como solução para a crise de representação que nossa jovem democracia enfrenta.
Se há alguma similaridade entre o PT e o fenômeno que elegeu Bolsonaro, é que este último foi a primeira experiência de massas posterior à eleição de Lula e Dilma, cooptando principalmente os emergentes que outrora viam no “lulismo” a afirmação de sua dignidade através da inclusão social e com o passar do tempo se tornaram empreendedores fomentados a compreender o Estado como um obstáculo. A própria Fundação Perseu Abramo identificou recentemente este perfil liberal entre parcelas mais vulneráveis da sociedade brasileira.
Sem conseguir estabelecer qualquer diálogo com esta massa que ainda busca transformação, cabe ao “centro” lançar o PT a um extremo que jamais lhe coube, torcendo para que a principal experiência democrática das últimas décadas seja apagada pela corrupção sistemática nacional, injustamente atribuída quase que exclusivamente a este único partido, que mais fortaleceu mecanismos e instituições de combate à corrupção, ao contrário de Bolsonaro que assumidamente interfere na chefia de investigações policiais.
No fundo, a falsa simetria traz um grande problema, que é reduzir o debate político ao ponto de, na prática, colocar o próprio centro liberal como um dogma, único caminho e verdade absoluta, nada aberto a projetos de mudança e transformação reais necessários e ainda desejados pela população brasileira.
Acaba por se estabelecer como o velho conservadorismo tradicional do Brasil, já rejeitado por mulheres e jovens, principalmente, maioria crescente na população brasileira.
A falsa simetria é tão nociva para a oposição ao bolsonarismo quanto qualquer erro estratégico que o PT possa ter cometido algum dia. É frágil e perde tempo ao não apresentar um projeto político ao país que não necessite destroçar o petismo para garantir viabilidade.
Acontece que defender essa tese poderá custar caro se a ideia é conquistar — e reconquistar — novas mentes para um projeto alternativo ao bolsonarismo.
Essa alternativa liberal do centro incorre no erro fatal de igualar um adversário político, mas aliado na luta democrática, como o PT, a um inimigo da própria democracia, como Bolsonaro, oferecendo em troca apenas a conservação de uma institucionalidade esgotada e rejeitada pelos mesmos milhões de brasileiros que elegeram Bolsonaro.
Bolsonaro é uma das possibilidades de reencontramos a história do Brasil
Por Eraldo Duarte
Para o filósofo e professor John N. Gray (*), a história política contemporânea se enquadra perfeitamente como um capítulo da história das religiões. Em sua análise esboçada no livro “Missa Negra — Religião Apocalíptica e o Fim das Utopias” (Ed.Record, Rio de Janeiro, 2007), o autor sintetiza que as correntes políticas contemporâneas se apegaram a versões seculares de crenças religiosas.
Gray não endereça esse comentário apenas aos apologetas de ideologias e partidos revolucionários, mas o estende até mesmo aos supostos luminares da razão, isto é, às manifestações políticas e filosóficas cujo berço são o humanismo, o racionalismo e outras crenças oriundas ou subsidiárias do Iluminismo.
Concordo com o pensador britânico e desejo introduzir, com algumas alterações, sua análise aos leitores deste blog a fim de defender que tanto o bolsonarismo quanto o lulopetismo são fenômenos similares ao descrito no livro supramencionado. Todavia há entre eles uma grande diferença que torna um mais defensável que o outro, ao menos em minha perspectiva
Em uma época em que o individualismo e o agnosticismo ganham tremendo destaque na sociedade, o pertencimento a uma instituição tradicional — família, igreja, associações, etc — começam a ser substituídos por outras organizações. O espaço que antes era ocupado pelos símbolos e instituições formadoras da nossa cultura e pátria foram escanteados e substituídos pelas “maravilhas” tecnológicas, programas de televisão, canais de YouTube, times de futebol, cantores e webcelebridades.
Tal situação acarretou uma lenta mudança em nossos valores éticos e morais que agora refletem a religião secular progressista, cujo cerne “igualitarista” busca incinerar qualquer ideia ou força que lhe faça oposição, ainda que timidamente.
Nesta realidade, a política desempenhará papel de grande organizador social e atuará na criação de comunidades unidas em torno de projetos de poder. Com a dissolução e enfraquecimento de outras instituições tradicionais, a política será a principal mediadora na relação entre o indivíduo e o Estado, e o caminho para a reação dos defensores das antigas instituições.
Não é por menos que pululam extensa iconografia e relatos que conferem aos líderes destes dois grupos políticos brasileiros uma aura messiânica. O espaço que estes ocuparam era antes destinado a santos, beatos e outros personagens comuns da nossa religião cristã que foi substituída por políticos, celebridades, etc.
Se há semelhança entre o bolsonarismo e o lulopetismo no sentido de nadarem em um rio de significância religiosa e teológica, firmando-se como religiões seculares, como pode ser extraído em analogia aos escritos de Gray, há também uma grande diferença no conteúdo desses movimentos cujas proposições são antípodas.
Enquanto o lulopetismo se fia no progressismo e busca reorganizar toda a estrutura social tradicional, valores e instituições de modo que sirvam para acelerar o processo de desestruturação de nossa tradição e história, garantindo-lhes a hegemonia a perpetuação do seu líder; o bolsonarismo, malgrado seus defeitos, serve como cabeça de ponte para ideais que exaltam nossa tradição cristã, a família tradicional e nossa pátria, valores que os primeiros julgam eurocêntricos, racistas, machistas entre outras adjetivações que nós, conservadores, conhecemos bem.
É óbvio que Bolsonaro tem capacidade e perfil inferior do que muitos conservadores desejam, todavia seu valor está mais no fato de servir como cabeça de ponte para um movimento organizado que visa aquilatar devidamente nossa história e reconectar o brasileiro com formas de pensar e falar que lentamente lhe estavam sendo retiradas pelos arautos progressistas.
Nesse sentido é preciso conceber o bolsonarismo como antessala de um movimento conservador que não pode se fiar num indivíduo, tampouco num político, mas na história e cultura do nosso povo, cujo legado é, novamente, a fé cristã, a família tradicional e nossa pátria. Sendo assim, as articulações do presidente, seus erros e acertos servem apenas como meio de sua continuidade no poder, questão minúscula em comparação com a sua maior tarefa, que foi defender — ao menos em alguns discursos — e trazer de volta à agenda política uma perspectiva que muitos brasileiros já haviam esquecido ou tinham medo de defender.
Sem nenhuma necessidade de Messias políticos ou de “fim da história”, é preciso que os conservadores estejam atentos a isso ao votarem no atual presidente. Afinal, ele é o semeador deste movimento, não seu fruto.
(*) Professor de Filosofia na Universidade de Oxford
No início da noite de ontem, o amigo comum Pedro Vianna me ligou para dizer que Daniela Duncan tinha morrido, vítima de infarto, em Grussaí, de onde foi levada à Santa Casa de São João da Barra, à qual já chegou sem vida. Ela tinha apenas 45 anos, completos no último dia 2 de janeiro, e deixa a filha Bárbara, de 18 anos, fruto do seu primeiro casamento com Horácio Duncan, e viúvo Edlucio Paes. Era professora de educação física, vocação profissional da sua família materna desde o avô, e lecionava no Centro Escola Riachuelo e no Externato Brasil, como informou aqui o Christiano Abreu Barbosa, ao noticiar sua morte, sentida por toda uma geração de classe média que foi adolescente e jovem nas décadas de 80 e 90 do século passado. Quando éramos mais conhecidos pelos apelidos com os quais nos tratávamos.
Dani Coxuda era irmã de Marcelo Duncan, o Colorau, que depois também seguiria a tradição familiar, ao se formar e lecionar como professor de educação física. Mas naquela época, muito antes do termo “empoderamento” se tornar moda às mulheres que se afirmam entre homens, Dani já convivia, conversava e bebia de igual para igual com qualquer um da galera. Fosse seu irmão, seu então namorado Grilinho (Leonardo Rosa), Pedro Maluco, Ovo (Christiano), Gordinho (Marcelo Cordeiro), Aranha (Paulo Vitor Cortes Lopes), Otacílio (Luiz Rodrigo Cortes Lopes), Fred Calcinha (Frederico Rangel), Pancinha (Vinícius Teixeira), Sili (Luiz Otávio Moreira) e a “Lenda Viva”, como se autointitulava Rodrigo Rosa, irmão de Grilinho e de Flávia Rosa, outra mulher que habitava em igualdade de termos aquela nossa juventude masculina de província. Outros, como César Boynard, Gustavo Emílio e eu, tínhamos a vantagem de ter como apelidos apenas o diminutivo dos nossos nomes de batismo.
Conheci Dani entre o final dos anos 80 e início dos 90, na casa que seu pais, tia Iêda e Márcio, tinham em Grussaí. Era um carnaval e Dani comandava as meninas que nos maquiavam para sair no bloco de piranhas. Alta e vigorosa, então atleta de vôlei, tinha presença física imponente, com corpo e atitude de mulher desde a adolescência. Sempre de alto astral, sua característica mais marcante talvez fosse aquele riso largo, fácil e cheio de dentes. Que, creio, não será esquecido por ninguém que teve a chance de conviver com ela. Desde a ligação ontem de Pedro, várias são as histórias, caras e de parto dolorido, que brotaram na lembrança sobre Dani. Mas existe uma, capital, da qual talvez só nós dois saibamos.
Era o verão de 1992, quando meus pais tinham alugado uma casa em Grussaí. Jogávamos frescobol, quando minha inabilidade de vida inteira para esse esporte fez com que isolasse a bola de borracha com a raquete de madeira em cima do telhado da garagem. Subi no muro para pegá-la, escorreguei e caí de uma altura de três metros, arrebentando a fronte interna do meu crânio ao bater com força no chão de cimento, ainda que não tivesse produzido nem um galo na parte externa. Meu irmão e minha mãe tinham saído com o saudoso Fernandinho Gomes, para comprar cerveja. Fred Calcinha, com muita presença de espírito, pela qual devo a vida, arrumou um carro, para me levar ao Hospital Ferreira Machado.
Por todo caminho pela BR 356, até chegar ao HFM, fui deitado no banco de trás do carro, com a cabeça no colo de Dani, que me fazia cafuné e tentava me acalmar com palavras de carinho. Em meus lapsos de consciência, como ocorre com pancadas na cabeça, lembro de ter aberto os olhos uma vez, enxergando o rosto de preocupação amiga e solidária de Dani, enquanto, pelo vidro do carro, passava o Solar dos Airizes. Depois der operado por Makhoul Moussallem na Santa Casa de Misericórdia de Campos, e de ter alta do hospital, voltando à mesma casa alugada de Grussaí, descobri que a galera tinha pegado a tal bolinha de frescobol, pintado nela com esmalte uma cara de mau, apelidando-a de “Chucky, o Brinquedo Assassino”. Não perderam o amigo, nem a piada. Mas o fato é que, ainda sem poder sair de casa em meu processo de recuperação, Dani todo dia ia me ver.
Sobrevivi aos 29 anos seguintes àquele episódio. No qual, não tenho dúvida, o carinho de Dani foi tão fundamental em minha briga para continuar vivo, como foram a presença de espírito de Fred e a habilidade de Makhoul como neurocirurgião. Mesmo estando em Atafona, bem perto da Grussaí onde Dani ontem passou mal e morreu, não pude estar ao seu lado, como ela esteve do meu naquela mesma praia, quase três décadas atrás. E por isso lhe pedirei desculpas pessoalmente, de preferência com uma gelada, se existirem vida e cerveja depois daqui.
Até lá, guardo a risada aberta e o colo de Dani, no qual apoiei a cabeça e a vida, dentro de mim.
— E o PT, hein?! — abriu os trabalhos Artur, no papo regado a cerveja com o amigo no boteco.
— Essa é a pergunta preferida dos bolsonaristas. Talvez a única que tenham para tentar justificar a excrecência que colocaram no Palácio do Planalto — devolveu Aníbal, antes de virar seu primeiro copo de Eisenbahn.
— Mas Bolsonaro elegeu na segunda-feira o presidente do Senado e da Câmara. Esta, no primeiro turno, por 302 votos de Arthur Lira contra 145 de Baleia Rossi, dando uma coça em Rodrigo Maia.
— Sim, Maia perdeu não só o Centrão, ao qual Bolsonaro sempre pertenceu e que reconquistou com o general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da secretaria de Governo apelidado de “Maria Fofoca” pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo “Passando a Boiada” Salles. O “Nhonho”, como chamam os bolsonaristas, perdeu até o DEM na reta final.
— E ao perder o DEM no domingo, Maia ameaçou botar na roda um dos 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
— Esse foi um erro que Arthur Lira não irá cometer. Ex-pupilo de Eduardo Cunha e também condenado por corrupção na Justiça, o deputado das Alagoas sabe bem o poder que o presidente da Câmara tem. Se Bolsonaro fez barba, cabelo e bigode no Legislativo, o barbeiro e dono da navalha agora é o Centrão. Se o capitão se engraçar, como fez com Maia, Lira não terá pudor de pressionar o fio da navalha contra a carótida de quem quer manter a cadeira.
— Estou começando a achar você virou mesmo bolsonarista, Artur. O PT só faz merda. Foi por conta da sua incompetência amazônica que perdeu o prazo e permitiu a Lira, como seu primeiro ato na presidência da Câmara, anular todo o bloco que apoiou Rossi. Os petistas pisaram no próprio rabo e acabaram perdendo a poderosa primeira secretaria da Mesa Diretora, por serem a maior bancada, para terem que se contentar com a segunda secretaria. Não é à toa que, no Rio, Lula é Vasco. Até como coadjuvante, acabou vice mais uma vez.
— E se puder concorrer a presidente em 2022? Será que vai ser vice de novo?
— O PT não aprendeu nada com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Só pensa no tal hegemonismo que herdou do leninismo de Zé Dirceu. Na mesma segunda-feira em que Bolsonaro fez os presidentes do Senado e Câmara, para se segurar na cadeira até tentar a reeleição de 2022, Lewandowski liberou à defesa de Lula o que os hackers da Vaza Jato descobriram nos celulares de Moro e Dallagnol. E, em todo o país, os petistas invadiram as redes sociais para gritar que Lula é inocente, tentando vencer pela altura e insistência do grito.
— E Moro e Dallagnol são inocentes?
— Moro ultrapassou seus limites de juiz desde que liberou, a seis dias do primeiro turno de 2018, uma delação de Palocci que não aceitou no julgamento da ação penal do ex-homem forte do PT. Só para prejudicar Haddad e favorecer a Bolsonaro, de quem aceitou depois ser ministro da Justiça. A Vaza Jato do site esquerdista Intercept só revelou depois, com o trabalho sujo dos hackers, o que todos já sabiam. E Lewandowski, amigo de Lula desde os velhos tempos dos dois em São Bernardo do Campo, tornou a coisa oficial pelo STF.
— Então?
— Então um erro não justifica os outros. Os erros de Moro não apagam a montanha de evidências da corrupção sistêmica dos 13 anos do PT no governo. Que os petistas pensam poder fazer desaparecer, como em um passe de mágica. E são tão incompetentes para Houdini como são para cumprir os prazos regimentais da Câmara.
— Realmente, só os petistas e os “não sou petista, mas…” acreditam na inocência de Lula. Tirando eles, você conhece alguém capaz de dar alguma credibilidade a um site como o Brasil 247? A Janaina Paschoal ficou famosa por ter assinado o pedido de impeachment de Dilma. Mas sua maior contribuição à história política recente do Brasil foi quando ela definiu, ainda na campanha presidencial de 2018, o bolsonarismo do qual fazia parte: “petismo de sinal trocado”.
— Bolsonaristas e petistas vivem em suas bolhas. Criam e acreditam em seus mundos paralelos. Até que o real lhes estapeia as fuças. E, pior, também a de quem nada tem a ver com seus delírios e tem vergonha na cara. Pode ser pela maior recessão econômica da história do Brasil, com a desastrosa “nova matriz econômica” de Dilma e Mantega. Pode ser pelos 230 mil brasileiros mortos em asfixia lenta e sôfrega, como o Cristo crucificado, pela condução criminosa da pandemia da Covid por Bolsonaro e Pazuello.
— Mas você não respondeu: se puder concorrer em 2022, Lula tem chance contra Bolsonaro?
— Cada um sairia da base aparentemente consolidada de 20% de intenções de voto. E seria muito difícil para qualquer outro presidenciável chegar lá. Os dois teriam, portanto, boa chance de ir ao segundo turno. Lá, Bolsonaro quer Lula e Lula quer Bolsonaro. Lulistas e bolsonaristas sonham confirmar seu universo binário nas urnas de 2022. Nós somos a realidade dos 60% espremida entre essa esquizofrenia. Lula é a melhor aposta à reeleição de Bolsonaro. Como Bernie Sanders seria, caso levasse as primárias democratas que esteve perto de ganhar, para o mundo ter que suportar mais quatro anos de Donald Trump.
— E como fazer para o Brasil rumar ao centro, pacificar o país como Joe Biden tenta fazer nos Estados Unidos?
— A melhor chance que tivemos foi com Marina Silva em 2014, catapultada pela comoção da morte de Eduardo Campos. Mas aí a ex-petista foi alvo das mesmas fake news, ecoadas cruelmente por Lula e Dilma contra sua ex-correligionária, que o PT acusa Bolsonaro de ter usado em 2018. A direita histérica dos tios e tias bolsonaristas só levou para o WhatsApp o que o PT introduziu nas eleições presidenciais brasileiras quatro anos antes, em suas campanhas milionárias de TV, custeadas com dinheiro público desviado. É que em 2014 ainda não havia o termo “fake news”, criado em 2016 pela imprensa dos EUA para classificar as notícias falsas de Trump contra Hillary Clinton, na disputa presidencial deles naquele ano.
— Em 2018, também tivemos uma chance. Ciro tinha um projeto para o país. Podia ter erros, mas tinha projeto. Tentou chegar ao centro, colocou a pecuarista Kátia Abreu de vice. Era o único com condições, em todas as pesquisas, de bater Bolsonaro no segundo turno. E daí, da cadeia, o Lula entregou a cabeça de Marília Arraes, neta do Miguel Arraes, de bandeja para o PSB dos Campos em Pernambuco, só para tirar o apoio nacional do partido ao cearense. E depois os petistas ainda tiveram a cara de pau de reclamar que ele foi para Paris, no lugar de abraçar o afogamento do nado poste de Haddad. Ironia do destino, mesmo sem o apoio do seu PT, Marília levou agora a segunda secretaria de Lira na Câmara.
— O “projeto” do PT é parnasiano: é o poder pelo poder. Só para fazer contra as instituições, até pela inveja danada e não admitida pelo que seu carbono Bolsonaro já fez, para tentar se perpetuar no poder. Você leu o projeto de governo de Haddad? Viu o que o PT propunha para o Ministério Público e a imprensa? Já se o capitão conseguir mais quatro anos, o general Emílio Garrastazu Médici é o limite. Só não será porque, com Biden no poder dos EUA, se voltar a ensaiar golpe por aqui para cantar de macho, Bolsonaro apanha como moleque ou mia. Como já fez em sua cartinha tipo “Não esqueça da minha Caloi” ao novo ocupante da Casa Branca.
— Mas você não vê diferença entre os petistas e os bolsonaristas, além do “sinal trocado”?
— Os petistas geralmente são mais inteligentes. E, em geral, pessoas mais interessantes. Mesmo que a grande maioria deles seja de pequeno-burgueses que se veem “revolucionários” ao espelho no qual o próprio ridículo é como vampiro: não reflete. Mas os bolsonaristas, além de gente obtusa em sua maioria, são muito cafonas, né? O fato é que, quando tão parecidos em método, causa e efeito, é menos difícil perdoar o burro que o inteligente — distinguiu Aníbal, antes de outro gole longo de Eisenbahn gelada.
A partir das 7h da manhã desta sexta, quem fecha a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o deputado federal Hugo Leal (PSD/RJ). Ele falará da eleição de Arthur Lira (PP/AL) à presidência da Câmara Federal (confira aqui), que o parlamentar apoiou, e seu reflexos ao Brasil, ao Estado do Rio, ao Norte Fluminense e a Campos.
Hugo também falará do papel que desempenhará na busca do “dinheiro novo” no Congresso Nacional para Campos. Que foi prometido pelo seu correligionário Wladimir Garotinho (PSD), ainda como candidato a prefeito em 2020, para enfrentar a grave crise financeira do município (confira a série da Folha sobre o tema, em 11 painéis publicados entre junho e setembro de 2020, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
Por fim, o deputado analisará o primeiro mês do governo Wladimir. Assim como o do seu aliado e representante político em Campos, o vereador reeleito Igor Pereira (SD), que se licenciou da Câmara Municipal para assumir a Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ).
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
A partir das 7 da manhã desta quinta (04), a convidada do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é a deputada federal Clarissa Garotinho (Pros). Ela falará da eleição de Arthur Lira (PP/AL) à presidência da Câmara Federal (confira aqui), que a parlamentar campista apoiou, e seu reflexos ao Brasil, ao Estado do Rio, ao Norte Fluminense e a Campos.
Clarissa também falará da sua busca do “dinheiro novo” prometido pelo irmão na campanha eleitoral a prefeito de Campos em 2020, para enfrentar a grave crise financeira do município (confira a série da Folha sobre o tema, em 11 painéis publicados entre junho e setembro de 2020, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). E analisará o primeiro mês do governo Wladimir Garotinho (PSD).
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpriu a promessa feita em 7 de outubro de 2020, quando afirmou (relembre aqui): “eu não quero acabar com a Lava Jato, eu acabei com a Lava Jato”. Desde hoje a Lava Jato do Paraná, que teve início em 2014 e gerou outras forças-tarefa homônimas em outros estados brasileiros, inclusive no Rio e São Paulo, deixou oficialmente de existir (confira aqui). Suas investigações agora passam ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná.
O crédito ao fim oficial da Lava Jato cabe à Procuradoria Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras. Advogado de fato do governo Bolsonaro, em inversão institucional extremamente perigosa à República, o chefe da PGR tem outra aparente bipolaridade: é amigo do ex-ministro petista José Dirceu. Este, em agosto de 2013, prestigiou uma festa para a cúpula do PT, dada (confira aqui) por Aras em sua casa. A quem Bolsonaro escolheria a dedo, em setembro de 2019, para ocupar a PGR fora da lista tríplice do MPF.
A Lava Jato, por certo, merece críticas. Pelo menos desde a eleição presidencial de 2018, onde o então juiz federal Sérgio Moro liberou (relembre aqui) uma delação do ex-ministro petista Antonio Palocci, a seis dias das urnas do 1º turno, que não havia aceitado no julgamento da ação penal. E depois de prejudicar política e dolosamente o PT, aceitou ser ministro da Justiça de Bolsonaro, principal beneficiado da ação eleitoral de quem deveria ter a isenção de um magistrado.
Moro ultrapassou o limite da função de juiz, atuando em parceria com a acusação. Os fatos vieram à tona (confira aqui) com a Vaza Jato do site esquerdista Intercept, em junho de 2019. E desde a última segunda-feira, 1º de fevereiro, ganharam tom oficial, quando o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu (confira aqui) à defesa de Lula. Que terá acesso ao material que o grupo de hackers da Vaza Jato conseguiu ao invadir os celulares de Moro e do procurador Deltan Dallagnol, entre outros nomes da Lava Jato.
Ignorar os erros de Moro e Dallagnol só é comparável a quem pensa que, a partir deles, desaparecerá, como em um passe de mágica, a montanha de evidências da corrupção sistêmica dos 13 anos do PT no poder (confira aqui e aqui). Como as evidências reunidas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) é um ladrão reles, com suas “rachadinhas”. Ou ignorar que, bem antes do então presidente Lula nomear Lewandowski ao STF, em 2006, eles já eram amigos de longa data (confira aqui), desde os velhos tempos de ambos em São Bernardo do Campo. Falecida esposa de Lula, Marisa Letícia foi muito amiga de Karolina, mãe de Lewandowski.
Ao eleger (confira aqui) Rodrigo Pacheco (DEM/MG) e Arthur Lira (PP/AL), respectivamente, presidentes do Senado e da Câmara Federal, no mesmo dia 1º de fevereiro em que Lewandowski liberou o material de Moro e Dallagnol para Lula, Bolsonaro em tese garantiu o necessário para se manter no cargo e longe da abertura de um dos seus 60 pedidos de impeachment, até tentar sua reeleição em 2022. E ela estará mais próxima se seu adversário no provável 2º turno for novamente o PT, que voltou a apostar todas suas fichas em Lula, a partir de uma eventual anulação das suas condenações judiciais.
Chamados por seus detratores, respectivamente, de “Miliciano” e “Presidiário”, Bolsonaro, sem Lula, é o Piupiu sem o Frajola (relembre aqui). E vice-versa. Se reeditarem em 2022 a polarização de 2018, conseguirão impedir que o país siga naturalmente o pêndulo político do mundo. Que rumou ao centro — não ao direitista Centrão — com a eleição de Joe Biden (confira aqui) como presidente dos EUA, em novembro de 2020. Caminho alternativo ao binário “nós contra eles” em que o Brasil se meteu desde as eleições presidenciais de 2014. E onde chafurda, entre os aloprados de esquerda e direita guinchando seus dogmas, até hoje.
Na tragicomédia da política brasileira, fique com seu resumo híbrido na animação do carturnista André Guedes:
A partir das 7h desta quarta-feira (03), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o secretário estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos Bruno Dauaire (PSC). Ele falará da sua trajetória política e do Estado do Rio entre a liderança do governo Wilson Witzel (PSC) na Alerj até a secretaria do governo Cláudio Castro (PSC). Nesta, falará do seu papel na reabertura do Restaurante Popular em Campos. Também analisará o primeiro mês de governo do seu aliado Wladimir Garotinho (PSD) e da sua adversária Carla Machado (PP).
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.