Por fim, o médico infectologista analisará os trabalhos da CPI da Covid no Senado Federal, além das atuações dos governos federal e estadual na pandemia. Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
“A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil (…) Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas (…) O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter”. O puxão de orelhas ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) foi feito hoje publicamente. Mas não pela oposição. E, sim, por um dos setores tradicionalmente mais ligados ao bolsonarismo: o agronegócio.
Em defesa da harmonia entre os Poderes, sempre posta à prova pelos ataques de Bolsonaro ao Judiciário e ao Legislativo, assinaram o manifesto sete entidades do setor agroindustrial: 1) a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), 2) a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), 3) a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), 4) a Associação Brasileira de Produtores de Óleo De Palma (Abrapalma), 5) a CropLife Brasil (entidade ligada a pesquisa, desenvolvimento e inovação nas áreas de germoplasma, biotecnologia, defesa vegetal e agricultura), 6) o Instituto Brasileiro do Algodão (Ibá) e 7) o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
Na dúvida, leia abaixo a íntegra da advertência do agronegócio, pilar das exportações e da balança comercial do país:
Manifestação de entidades do setor agroindustrial
As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua História agora prestes a celebrar o bicentenário da independência.
A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.
As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos —para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará.
Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.
A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.
Abag
Abiove
Abisolo
Abrapalma
CropLife Brasil
Ibá
Sindiveg
Por George Gomes Coutinho(*) e Aluysio Abreu Barbosa(**)
— Eric Clapton deu uma pirada nos últimos tempos. Mas uma coisa não anula a outra, né? O que ele fez com o Cream, o que ele fez em carreira solo são pedras fundamentais da música anglo-saxã na segunda metade do século 20, com certeza! — abriu Jorge o diálogo virtual, que se estenderia entre arte, humanidade dos gênios e Covid, nos dias seguintes.
— Não concordo com as opiniões dele sobre a pandemia. Mas há contextos para a “pirada” de Clapton, como suas graves reações à AstraZeneca. E, ainda que não houvesse, não arranha o que ele foi, é e será para a música do mundo. Na certeza de que, felizmente, o politicamente correto é como laticínio em sua datação de validade, só espero que seu patrulhamento neostalinista não nuble em vida o reconhecimento que o grande artista terá depois da morte! — respondeu Aníbal, iniciando meio de sola sua participação no debate.
— Patrulhamento neostalinista? — queixou-se Jorge da entrada mais ríspida do velho amigo de data recente.
— É como eu e gente muito melhor julgamos ser esse binarismo radical e pequeno-burguês!
— Eu acho que fiz foi crítica a posicionamentos públicos feitos por uma figura pública na comunicação de massa. Nada mais condizente com sociedades de massa e capitalistas. E se Clapton não desejar ouvir críticas ao que diz publicamente, talvez seja mais inteligente não participar de nenhum debate ou questão pública até o fim dos seus dias. É sim, para mim um gênio pelo que fez. E pura decadência no que é no presente!
Lady Day, Billie Holyday
— Não estou falando da sua posição pessoal, Jorge. Falo da esquizofrenia de se condenar em vida um artista do tamanho de Clapton, pelo que concordo ser um erro, mas contextualizo. Lembra o que fizeram com Billie Holiday, morta algemada a uma cama de hospital, por suposta posse de narcóticos. Condeno essa mistura de udenismo com jacobinismo. Seja dos “homens de bem” dos anos 1950, que roubaram a dignidade da morte da maior cantora que já existiu, seja dessa lacração de espectro político oposto, mas igualmente pequeno-burguesa de hoje.
Paul McCartney
— Ah, sim, sim. Mas isso aí é um problema do moralismo, cara. Que está nos dois lados do espectro político, tanto na esquerda, quanto na direita, isto é certo. Mas, cara, sem dúvidas: sem “vacas sagradas”. Porque, se não, o debate não avança. O cara pode ser fantástico no âmbito da música e ser um imbecil no âmbito das relações humanas. E o trabalho de Clapton durante a pandemia foi um desfavor. Tanto que foi “ostracizado” por todos os caras tão grandes quanto ele no mundo da música contemporânea, até Paul McCartney, etc. Clapton? Que pena, né? Que pena!
Richard Wagner, Charlie Parker e Chico Buarque (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
— Não se trata de “vaca sagrada”. Mas de reconhecer que Richard Wagner foi um canalha antissemita, que confessamente inspirou Hitler na sua concepção do nazismo. Que Charlie Parker pegava o dinheiro da sua banda, privando seus colegas de subsistência em regime de trabalho escravo, para comprar heroína. Que Chico Buarque defendeu o PT e o governo de Dilma acriticamente, quando já não havia mais defesa. Nunca deixei que isso contaminasse os gênios da música que foram e são. Tanto ou pior que os erros que eles e Clapton cometeram, é juntar alhos com bugalhos pelo moralismo da moda. Mas, enfim, pensamos diferente. E concordamos no essencial: são gênios da música. Este, para mim, é o ponto. Não o que Clapton disse ou fez durante a pandemia.
Martin Heiddeger
— Pois é, bom, vamos lá. Eu também penso a mesma coisa, vide, por exemplo, o Heidegger, um dos maiores filósofos alemães do século 20 e aderiu, de pleno, ao nazismo. Agora, a grande questão é que isso aí mostra a inflexão na biografia daquela personalidade. E eu acho que conta. Que fala tanto daquele personagem, quanto fala daquele momento histórico. E evidencia o mais importante: gênios são humanos! E, invariavelmente, são capazes, enquanto humanos, até mesmo de cometer as piores coisas. Que esses exemplos, que acontecem durante a biografia desses sujeitos, funcione como uma espécie de alerta para nós, os comuns. Se eles são capazes, que a gente redobre a vigilância em termos das atrocidades que podemos cometer.
Erza Pound e Fernando Pessoa (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
— Sim, como Erza Pound apoiou em vida o fascismo e Pessoa, o salazarismo. E continuam a ser dois dos maiores poetas do século 20 e da literatura universal. E, sim, continuam sendo humanos. O que me leva a confessar: tanto quanto pela elegância do seu futebol, admiro Zidane pela humanidade da sua cabeçada no peito de Materazzi, na final da Copa de 2006.
Após provocar Zidane, zagueiro italiano Materazzi é nocauteado com cabeçada do craque francês, custando a este a expulsão da final e o título da da Copa de 2006
— Talvez, aí, neste caso, eu admire ainda mais Zidane por causa da cabeçada! — pontuou, entre risos, Jorge.
— Enfim, chegamos a um consenso!
— Pois é, cara, esse lance aí, do Fernando Pessoa com o salazarismo, eu admito que é algo que me incomoda profundamente. Depois ele fez uma revisão disso, fez um mea culpa. O que que deu? Uma das mentes mais avançadas da língua portuguesa de todos os tempos, né, cara? Mas os consensos sempre são possíveis dentro de determinados elementos civilizatórios! — aquiesceu Jorge, novamente entre risos.
— Como guitarrista, Clapton é deus. Como homem, é homem. Abraço fraterno!
— É, é isso, é isso. E mais uma vez, os deuses nunca foram tão humanos, dado as criaturas que são dos próprios homens. Abraço, nego véio!
— Adendo rápido. No consenso sobre a humanidade de Zidane, só agora fui notar a coincidência em versos escritos, 10 anos antes da final da Copa de 2006, para Clapton. Que usei ao escrever sobre o Dia do Rock. Mas que não deixam de dialogar também com a nossa discordância: “falo de encruzilhadas de vida/ atravessadas a cabeçadas/ nas convenções/ mesmo a que convenciona não tê-las”.
— É, cara, esse debate todo está merecendo virar um texto, sabe? — propôs Jorge, em meio a mais risos.
— Rapaz, sabe que é uma boa ideia? — concluiu Aníbal, rindo pela primeira vez.
(*)Sociólogo, cientista político, professor da UFF-Campos e músico
(**)Poeta, jornalista e diretor de redação do Grupo Folha
Por Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel
Pré-candidato a governador que vem até aqui liderando as pesquisas, a pouco mais de um ano das urnas de 2022, o deputado federal Marcelo Freixo deixou recentemente o Psol para ingressar no PSB. No que analistas consideram uma tentativa de contornar a rejeição que o fez perder o segundo turno da eleição a prefeito do Rio, em 2016, para Marcelo Crivella (Republicanos). A ida ao novo partido foi articulada com outros nomes de expressão nacional, como o bem avaliado governador do Maranhão, Flávio Dino, que foi do PCdoB para o PSB, na tentativa de formar um leque mais amplo de aliança. Nela, Freixo não descarta nem o PDT, que tem como pré-candidato a governador o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.
Muito crítico à gestão estadual Cláudio Castro (PL), a quem deu nota 0, ele considera que a pré-candidatura do governador está atrelada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Falou do diálogo que pretende abrir com municípios da região, como Macaé e Campos. E foi mais generoso na avaliação do governo Wladimir Garotinho (PSD), com quem tinha programado almoçar ontem (27), em sua visita à cidade, junto do também deputado federal Alessandro Molon (PSB) e do prefeito de Maricá, Fabiano Horta (PT). Um dia antes, na quinta (26), em entrevista ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Freixo deu nota 7 aos oito primeiro meses de gestão do prefeito campista.
Marcelo Freixo (Foto: Antonio Leudo/Folha da Manhã)
Marcelo Freixo – Eu daria nota 7 ao Wladimir. Vou ouvi-lo bastante sobre as suas dificuldades e sei que são grandes. O Rio passou por uma situação muito grave de decadência da economia do petróleo. Começa a se recuperar a partir de 2018, mas chegamos a uma situação de crise muito profunda. A região Norte Fluminense inteira é muito dependente dessa economia, então você tem ainda as consequências dessa crise. E, queira ou não, é um início de governo ainda na pandemia. Tem gente falando em pós-pandemia, mas a pandemia não passou. Então, é evidente que, por essas dificuldades de um reerguimento econômico ainda no início e uma situação de saúde, de crise sanitária, muito profunda, eu dou nota 7, porque é uma nota com que você passa, mas, evidentemente, ainda tem muita coisa a fazer. Não tenho dúvida de que ele acha isso também. Mas, eu vou ouvi-lo.
Folha – Por que saiu do Psol ao PSB? Em Campos, o Psol teve uma das revelações da eleição para prefeito de 2020: a Natália Soares, professora universitária como o senhor e o Molon, ficou em quinto lugar na eleição, quase ultrapassou o então prefeito Rafael Diniz (Cidadania). O senhor espera ter apoio dela e do Psol na sua pré-candidatura a governador?
Freixo – Sem dúvida alguma. O desempenho da Natália foi extraordinário. Eu conversei bastante com ela, a apoiei. E a minha saída do Psol foi muito conversada, muito amadurecida. Sou muito grato por tudo o que eu vivi no Psol. Foram muitos anos. Ajudei a construir ali um espaço que elegeu muita gente boa, muita gente importante. Elegeu Marielle, elegeu uma bancada de sete vereadores no Rio de Janeiro, vereadores em outros municípios, elegeu uma bancada de cinco deputados estaduais, quatro deputados estaduais. Então, tenho muito orgulho do que fiz ali. Mas, na vida, os desafios vão sendo colocados, e a gente não deve ter medo da mudança. A minha ida para o PSB foi muito amadurecida, muito conversada, e, para nós superarmos a dificuldade que a gente está enfrentando hoje, o preço da gasolina, o preço do arroz, preço do feijão, dificuldade para pagar um aluguel, o desemprego, fome; nós voltamos a ter fome! Eu moro no Flamengo, não há um viaduto no Aterro do Flamengo que não tenha famílias inteiras morando embaixo. É muito triste o que a gente está vivendo hoje no Brasil, pertinho da gente, no alcance dos nossos olhos. A gente tem que encarar esse desafio. E, nesse sentido, a gente precisa disputar o governo do Rio de Janeiro. O Rio tem que ser refeito, tem que sair das mãos de uma máfia. O crime governando o Rio de Janeiro é o que a gente está assistindo hoje. Quem governa o Rio é o crime. E enfrentar isso não pode ser sozinho. Tenho certeza que a minha ida para o PSB corresponde a isso: à possibilidade da construção de uma frente que tenha bastante gente, que tenha, inclusive, o Psol. Tenho certeza que vão estar juntos com a gente nessa frente. Fiz esse movimento junto com o governador do Maranhão, Flávio Dino, quem aliás, é o melhor governador em relação ao combate à pandemia. Lá é o lugar com os melhores resultados. Então, eu e o Flávio Dino (PSB) amadurecemos muito essa decisão. O Flávio Dino saiu do PCdoB, eu saí do Psol, para a construção de uma frente que mude o destino do Brasil, que tire o Brasil do fanatismo, dessa seita que hoje governa o Brasil. E, no Rio de Janeiro, que enfrente a máfia que levou o Rio ao fundo do poço. Agora, até acordo com traficante eles fazem. Eu sempre denunciei acordo com milícia, mas, realmente, eles se superaram, estão fazendo acordo com o tráfico. A minha ida ao PSB é com muito respeito ao Psol, contando com o Psol nesse leque de aliança.
Folha – De 0 a 10, qual sua nota ao governo Cláudio Castro? E por quê?
Freixo – Nota 0. Eu não posso dar um décimo. E olha que fui um professor generoso na minha vida. Já dei muita aula para alunos de Campos quem iam fazer pré-vestibular em Niterói ou no Rio de Janeiro. Sempre fui um professor muito amigo dos alunos. Mas, o Cláudio Castro, como aluno da política, é 0, porque não pode ter um governo que faça acordo com milícia e acordo com o tráfico. O que aconteceu com o (ex-)secretário de Administração Penitenciária (Raphael Montenegro), a pessoa que é responsável pelas prisões, sair do Rio de Janeiro, pegar um avião, ir para outro estado, visitar líderes do Comando Vermelho para fazer acordo. Não sou eu que estou dizendo, isso foi reportagem do “Fantástico”. As gravações foram mostradas. O secretário dizendo para o líder de uma facção que ele é a pessoa mais importante do Rio de Janeiro, mais importante que o secretário de Segurança. Em que mundo vivemos? O que é isso? Eu não posso dar um décimo para uma coisa dessa? Em 2008, eu fui presidente da CPI que investigou as milícias e levou à prisão mais de 200 milicianos. Ali, eu coloquei a minha vida em risco, com muita consciência do que estava fazendo. E não me arrependo, faria novamente. Aquela CPI que virou filme, o “Tropa de Elite 2” (2010, de José Padilha). Tem que ter um governador que tenha comando, que tenha moral. Não pode ser um governador que não consegue explicar o que está dentro da mochila, não pode ser um governador que faz acordo com tráfico, com milícia. Tem que ser um governador que tenha moral para ter um plano de segurança que envolva o Governo Federal, envolva a sociedade. E que discuta um destino. O Rio precisa de segurança e desenvolvimento, e uma coisa está atrelada à outra.
Freixo – Se forem compromissos que a economia local, a sociedade e os prefeitos considerem prioridades, ótimo. Quando se fala de posto do Detran, eu sempre fico preocupado. Acho ótimo que tenha um posto do Detran em Guarus. Precisa saber se ele vai entregar o posto do Detran para algum aliado político, como eles fazem sempre, o que, aliás, gerou a prisão de muitos aliados do Cláudio Castro. A investigação Furna da Onça, na Alerj, era justamente isso. Está certo em atender a demanda de prefeito e da economia local. Mas, por exemplo, me estranha ele não falar sobre a Ferrovia Centro-Atlântica. São 650 quilômetros de ferrovia, houve uma concessão para o Governo Federal, o investimento não foi feito. O Rio tem que ser indenizado, inclusive. Há uma indenização pelo não investimento. O governo Bolsonaro está anunciando que o valor dessa indenização vai ser usado para construir o metrô de Belo Horizonte. Tem um trecho dela, inclusive, que passa por Campos, Vitória. Por que esse dinheiro não vem para o Rio de Janeiro? É um dinheiro que tinha que ser investido aqui. Aí você vai ter que enfrentar o Governo Federal. E me parece que o governo Cláudio Castro não consegue muito ter coragem para falar um pouco mais alto com o Governo Federal na hora de defender o Rio de Janeiro, é muito submisso ao governo Bolsonaro.
Folha – Perguntado sobre os compromissos do Cláudio Castro, o Molon disse que não poderia ficar contra, mas que resta saber se vão ser cumpridos. Mas ele, que também é pre-candidato ao Senado, também falou que quando chegar o momento do PSB fazerem as propostas, Campos e o Norte Fluminense poderiam se surpreender. O que o senhor e Molon pensam para o município e a região?
Freixo – Primeiro, é uma região estratégica, muito importante pela economia do petróleo e pela necessidade de superar a dependência da economia do petróleo. A primeira coisa que eu acho que um governador tem que fazer é chamar o prefeito de Maricá, que, aliás, vai me acompanhar nessa visita a Campos. O Fabiano Horta é um extraordinário prefeito, morador de Maricá não paga passagem de ônibus, tem um hospital público e uma rede de educação de grande qualidade. Isso é com dinheiro público, com política pública. Uma moeda local que aqueceu a economia, o Mumbuca, que eles criaram em Maricá. Quero chamar o prefeito de Maricá, chamar o prefeito de Macaé e o prefeito de Campos e criar um grupo de trabalho em cima das questões dos royalties, para atingir com investimento toda uma região. As estradas estaduais que ligam os municípios da região estão abandonadas há muito tempo. Com investimento nessas estradas, você atinge mais de 900 mil pessoas. Você tem, hoje, uma quantidade enorme de caminhões, por causa da BR 101, que cruzam por dentro de Campos todos os dias, provocando um inferno na cidade. Quando você fala que vai chamar três prefeitos e dizer que o Governo do Estado quer, junto com eles, dar um destino para os royalties que atinja a uma quantidade enorme de municípios e qualifique, melhore a vida das pessoas de toda uma região. Quantas vezes os prefeitos de Campos, Macaé e Maricá sentaram para o governador com um projeto para uma região mais extensa? Não falo só da região Norte, estou falando de um projeto que possa ser mais amplo e possa ser de estado, com políticas públicas de estado. Porque governador passa, você tem que criar políticas públicas que vão ficar ali. Então, acho que esse é um caminho importante a se pensar.
Folha – Pesquisas apontam que, no estado do Rio, o antibolsonarismo é menor, como o antipetismo maior do que as médias nacionais. Em 2016, o senhor perdeu a eleição de segundo turno a prefeito do Rio para Marcelo Crivella. E é considerado um candidato de piso alto, o que é bom no primeiro turno, mas de teto baixo, por conta da rejeição, o que é ruim no segundo turno. Como encara essas condições eleitorais?
Freixo – Os números das pesquisas, hoje, não mostram isso. Mostram o contrário. E 2016 não pode ser comparado com 2022. Em 2016, nós tínhamos o pior momento possível da política para qualquer candidato do campo progressista. Eu fui um dos poucos que cheguei ao segundo turno. Dos candidatos progressistas, todos perderam no Brasil inteiro. Foi o pior momento. Tinha uma conjuntura em 2016, que era a conjuntura de ascensão do bolsonarismo, uma conjuntura de uma extrema direita e um momento muito crítico de toda uma esquerda, de todo um pensamento progressista. O que a gente tem, hoje, é uma outra situação. Hoje, o governo Bolsonaro está derretendo e a extrema direita precisa ser superada. A rejeição maior no Brasil, hoje, é ao Bolsonaro. O governador do Rio, hoje, é um candidato do Bolsonaro. Ele só tem vida do lado do Bolsonaro, todas as pesquisas indicam isso. A gente está fazendo uma aliança, como não fizemos em 2016. A gente vai ter uma possibilidade de disputar o Governo do Estado junto com o Governo Federal. Eu não tenho nenhuma denúncia contra mim, em tantos anos de vida pública. Hoje, a gente está na frente de qualquer pesquisa e consegue chegar ao segundo turno. Mas, nós vamos ter uma realidade de segundo turno muito mais favorável do que em qualquer eleição anterior. Não dá para pensar em 2022 à luz do que aconteceu em 2016. E, mesmo assim, em 2016 eu cheguei a 42% dos votos. Eu acho que, agora, a chance de a gente chegar ao segundo turno e vencer a eleição é muito maior.
Freixo – A gente tem uma vantagem de ser muito mais conhecidos do que outros candidatos. A eleição é curta, a lei mudou. É uma eleição de 45 dias. Então, quem tem rede social e capacidade de comunicação mais fortes antes da eleição, cresce e chega numa eleição mais forte. Hoje, nós temos o PSB, o PT, o PCdoB, Psol e a Rede muito próximos dessa aliança. E eu estou conversando com outros setores, outros partidos fora desse campo, com conversas já bastante avançadas, mas que ainda não posso dizer. Mas, a gente pode ir com um leque de aliança grande. Ou seja, nós temos uma capacidade de comunicação na pré-campanha que é grande. A gente tem 3 milhões de seguidores somando todas as redes, uma visibilidade grande, e a gente vai ter uma campanha estruturada, com tempo de televisão. Eu quero muito contar com o PDT com a gente. Quero muito. Sempre converso com o (Carlos) Lupi (presidente nacional do PDT), e a porta está aberta. Em 2022, há o cenário de Bolsonaro de um lado, e quem quer derrotar Bolsonaro, do outro. Esse é o leque de aliança. Eu vejo o PDT, hoje, muito isolado. E tem uma questão muito séria. Em todas as pesquisas que estou fazendo, e estou fazendo muitas, pesa muito no Rio a questão da corrupção. Mais do que em qualquer outro estado. Corrupção e violência. E a gente entende, por ter governadores presos, enfim. O fato de o Rodrigo Neves já ter tido muitos problemas é um peso contra ele, e o fato de ele não conseguir fazer uma aliança ampla também dificulta muito. Mas, eu tenho muito respeito pelo PDT e quero muito o PDT com a gente. O Rio vai exigir um governador que seja ficha limpa, não tenha dúvida disso. O Rio já teve um monte de governador preso, não quer mais um.
Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã
Confira nos três blocos abaixo, em vídeo, a íntegra da entrevista de Marcelo Freixo ao Folha no Ar, na manhã de quinta (26):
Por fim, Caio falará do Brasil de Bolsonaro (sem partido), da crise entre os Poderes que o país atravessa e tentará projetar as urnas de 2022.Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
A partir das 7h desta quinta (26), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato a governador do estado do Rio. Ele falará sobre a agenda que ele e o PSB cumprem em Campos nesta sexta (27) e sábado (28), e dará a sua visão da gestão Wladimir Garotinho (PSD). Também falará da sua saída do Psol ao PSB, com o objetivo de se candidatar a governador em 2022, e analisará a administração estadual Cláudio Castro (PL).
Por sim, Freixo analisará o governo federal Jair Bolsonaro (sem partido), a crise entre Poderes em Brasília e as eleições presidenciais do próximo ano. Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel
A pouco mais de 12 meses de 2 de outubro, o PSB promete vir com força nas duas eleições majoritárias do estado do Rio. Deputados federais do partido, Alessandro Molon e Marcelo Freixo virão a Campos na sexta (27), bem cotados nas pesquisas, respectivamente, ao Senado da República e ao Governo do Estado em 2022. Ambos estarão em Campos nesta sexta, onde se encontrarão com o prefeito Wladimir Garotinho (PSD) e cumprirão agenda com representantes locais da educação pública superior. O programa Folha no Ar na manhã de ontem (24), na Folha FM 98,3, foi com o deputado Molon, líder da oposição na Câmara Federal. Na avaliação dos governos nas três esferas, ele deu nota 7 a Wladimir, mas disse esperar outras avaliações “para ver se é aprovado ou não”; nota 3 ao governador Cláudio Castro (PL), mas sem “nada contra às propostas que foram feitas” a Campos e região; e nota 0 ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), lamentando “porque não posso dar -1 ou -2”.
Alessandro Molon, líder da oposição na Câmara Federal (Foto: Divulgação)
Agenda em Campos – É bom lembrar a tradição de Campos do rádio, da imprensa, dos jornais, mas também a importância histórica dessa cidade para o estado do Rio de Janeiro e o Brasil, com uma tradição econômica importante. Uma cidade que marcou o desenvolvimento do país, com quadros políticos também muito importantes. Portanto, é um grande prazer estar conversando com vocês e, na sexta-feira e no sábado, estar em Campos. Nós vamos fazer uma série de agendas. Entre elas, encontraremos profissionais da Educação, encontraremos o prefeito da cidade, encontraremos o bispo Dom Roberto (Ferrería Paz), um amigo querido que conheci antes de se tornar bispo de Campos. Estaremos também com o prefeito (Wladimir Garotinho), visitaremos a Uenf, que é um orgulho para o estado do Rio de Janeiro e o Brasil. Aproveito para mandar um abraço para o reitor da Uenf, o professor Raul (Palacio). Estaremos também com o reitor do IFF, professor Jefferson (Manhães de Azevedo); com a professora Ana (Costa), que assumiu recentemente a direção da UFF em Campos. Portanto, haverá também um encontro com esse polo de ciência, tecnologia, inovação, que são as universidades localizadas em Campos, lugar importante de produção de conhecimento. No dia seguinte, terei oportunidade de encontrar profissionais da Saúde, que é uma área fundamental, especialmente neste quadro dramático de pandemia que a gente vem vivendo, e também profissionais da Segurança Pública. Vou ter um encontro também com os dirigentes do PSB local, com a Roberta (Barcellos), que é a presidente, com a direção e a militância do partido, e também com lideranças locais, pessoas que estão envolvidas na luta por uma cidade, um estado e um país melhor.
Emenda do novo prédio da UFF-Campos – Eu fiz graduação e depois o mestrado em História também na UFF, no campus do Gragoatá. E, para mim, é um orgulho imenso ter sido aluno da UFF. Ultimamente, tenho feito várias emendas parlamentares para a UFF. Recentemente, inauguramos, no campus de Niterói, na verdade na faculdade de Direito, um elevador para pessoas com deficiência poderem acessar o auditório. Tenho tentado, aos poucos, retribuir muito do que eu recebi da UFF, de forma que considero ser um privilégio para Campos ter um campus avançado da UFF. Cumprimento o reitor (Antonio Claudio da Nóbrega) por essas obras que ele está fazendo, que são importantes. Essa construção desse outro prédio da UFF recebeu uma emenda minha também (como de outros parlamentares fluminenses, em emenda de bancada comandada em 2019 pelo então deputado federal Wladimir Garotinho). Então, essa iniciativa que está tendo aí em Campos, felizmente, pôde contar com o meu apoio também, direcionando recursos para que essa construção ocorresse.
Encontro com Wladimir – O encontro com o prefeito será institucional, provavelmente, por volta por volta das 13h (na sexta). Talvez seja um almoço. O que importa é um encontro para falar das necessidades da região Norte Fluminense. Campos não é apenas uma cidade importante, mas o polo principal do Norte Fluminense. (Queremos) Entender os desafios da região, as dificuldades que ele (Wladimir) tem enfrentado e ver como podemos ajudá-lo. Esse é um pouco o espírito também da nossa presença, como parlamentares eleitos pelo estado do Rio de Janeiro. Daí a visita institucional a ele, para discutir desafios do local, quais seriam prioridades, se tem alguma obra estruturante com a qual ele deseja a colaboração da bancada federal. Afinal de contas, eu estou como deputado federal, o deputado Marcelo Freixo também está como deputado federal. Então, é uma tarefa para ver como podemos ajudar Campos em alguma necessidade que seja sentida pela Prefeitura. E também ouvir do prefeito como ele pretende enfrentar os muitos desafios que tem pela frente, como ele está vendo o cenário de Campos, do estado e do país. E também falar sobre a necessidade de derrotar o atraso na próxima eleição nacional. É fundamental oferecer ao país um caminho, uma alternativa que não seja do extremismo, do ataque à democracia, o que tem sido trilhado por Bolsonaro e seus aliados.
Câmara Federal ao Executivo Municipal – Foi uma eleição (de 2020) muito disputada (para Wladimir) e é uma Prefeitura que começa. A sensação que eu tenho, primeiro, é de que o prefeito queria muito ganhar a Prefeitura, ser Poder Executivo. E não é uma transição simples. O nosso trabalho como parlamentar é discutir, debater, angariar recursos, enfim, um esforço de colaborar com o desenvolvimento das regiões. Já o papel de prefeito, de governador ou presidente, é de executar, fazer. Não é uma transição muito simples. E acho que ele está enfrentando esses desafios agora. Acho que está com desejo de ser bem-sucedido, está se esforçando, se dedicando. Não é uma tarefa banal. Não é simples administrar uma cidade, quanto mais da importância e da complexidade de Campos. Sinceramente, eu torço para o sucesso dele e da Prefeitura, porque quem tem a ganhar é a população. Eu acho que a gente tem que colocar o interesse da população acima das diferenças partidárias, das opiniões, das visões que contrastam muitas vezes.
Nota 7 a Wladimir — Como professor, profissão da qual tenho muito orgulho, eu aprendi que, para avaliar um aluno, a gente tem que submetê-lo a vários testes, para dar uma nota e decidir se passa ou não passa de ano. Acho que é cedo para dar uma nota ao prefeito. Prefiro, em vez de dar uma nota, fazer uma avaliação conceitual. Eu acho que o prefeito vem enfrentando dificuldades na Prefeitura, especialmente, na área da Saúde. A vacinação não foi uma tarefa simples. No desafio da vacinação em Campos, que foi um desafio importante, enfrentou algumas dificuldades. Nós temos o tema agora do fechamento do Hospital Geral de Guarus (HGG, para reformas). Portanto, acho que temos ali desafios importantes na Saúde que ele precisa enfrentar. Agora, eu acho que seria cedo para dar um aprovado ou reprovado. Eu diria que ele tem, de alguma maneira, sido esforçado para enfrentar os seus desafios. Se insistir numa nota, eu daria uma nota 7 no momento, mas fazendo a consideração de que é começo de governo, de que acabou de assumir. Quem acaba de assumir o governo tem algumas dificuldades até colocar a casa do jeito que entende como vai funcionar melhor. Não é simples. Então, eu diria algo próximo de 7, mas considerando que há várias outras provas, várias outras avaliações para serem feitas até o fim do período letivo, para ver se é aprovado ou não.
Emenda para a Uenf – Eu tenho muito orgulho de ter ajudado a Uenf também, porque acredito muito nisso. E a gente tem que tirar o estado do Rio do fundo do poço. Acho que o papel de parlamentar federal, um deputado, um senador, é trazer recursos para o estado, ajudar o estado a se desenvolver, entendendo as vocações do estado. E acho que uma grande vocação do estado do Rio de Janeiro é a produção de conhecimento. Nós temos várias universidades federais e estaduais, aqui no estado do Rio, que são referências para o Brasil. A Uenf é uma delas. Ela, a UFF, o IFF são instituições que merecem o nosso apoio e que podem ajudar o Rio de Janeiro a alavancar o seu desenvolvimento. O reitor Jefferson, por exemplo, recentemente em Brasília, inaugura em breve, na Região Metropolitana do Rio, um novo campus (do IFF), com tecnologia de ponta para pesquisa, investimento e formação de pessoas especializadas em energias renováveis: eólica, solar. É nisso que eu acredito para o futuro do Brasil, nesse tipo de desenvolvimento, um desenvolvimento sustentável, que mude a matriz energética do país. Um tema que é tão importante para Campos, região tão rica em petróleo, mas que enfrenta agora o desinvestimento da Petrobras. É importante preparar o Brasil, preparar Campos para o pós-petróleo. Por isso a minha aposta nas universidades.
Nota 3 ao governo Cláudio Castro – No caso do governo Cláudio Castro, embora tenha assumido relativamente recentemente, ele faz parte de um projeto que foi eleito em 2018. Então, eu daria uma nota muito ruim para o governo Cláudio Castro, porque o considero um governo completamente perdido, sem projeto. Embora ele tenha assumido recentemente, já é vice-governador há pelo menos dois anos. Então, daria uma nota abaixo da nota para passar. Daria uma nota muito abaixo de 5. Um 3, por exemplo; um 2. Um governo que vendeu a Cedae e, simplesmente, agora vai usar os recursos para asfaltamento. Evidentemente, nossas estradas precisam ser cuidadas. Mas, governar é mais do que recapear vias. O Rio de Janeiro tem um índice enorme de desempregados, uma juventude que está sem perspectiva. Muitos jovens nem estudam nem trabalham. A nossa economia patina, dependia e ainda depende muito do petróleo, sem saber exatamente para onde vai. E o governo não tem projeto. Recentemente, o (ex-)secretário de Administração Penitenciária (Raphael Montenegro) foi preso, flagrantemente, por um contato com um integrante do crime organizado, fazendo acordo com o crime. O crime decidindo os caminhos do Rio. É preciso construir um outro rumo para o estado, porque o governador Cláudio Castro se dedica a uma distribuição de poder por vários grupos políticos e se sustenta fazendo isso, dando secretarias para grupo A, B, C, D. Só que isso não compõe uma visão, um projeto.
Compromissos de Castro com Campos e NF – Evidentemente, quando um governador vai a uma cidade (Castro esteve em Campos entre 5 e 7 de agosto), faz uma série de promessas, não há por que ficar contra promessas de construção de um Restaurante Popular (para Guarus, em novembro), construção de um posto do Detran (em Guarus), finalização de uma ponte (da Integração, entre São João da Barra e São Francisco de Itabapoana) que não fica pronta. Não há por que ser contra isso. Resta saber se isso vai ser cumprido, porque ir e prometer é fácil. Evidentemente que eu sou favorável às iniciativas que foram anunciadas. Agora, eu acho que é preciso ter um olhar especial para o interior. Acho que o interior do estado, o interior de Campos também, as regiões mais distantes do Centro, elas ficam muito esquecidas muitas vezes. Não há desenvolvimento permanente, duradouro, se ele é muito pontual, se é centralizado. É preciso distribuir prosperidade. Então, não tenho nada contra às propostas que foram feitas, a população mais sofrida do nosso estado deve ter direito à alimentação, foi uma pena a interrupção de programas como esse. Agora, é preciso fazer mais. E é preciso cumprir as promessas que são feitas. Então, a gente vai cobrar. E, na hora de apresentar nossas propostas para Campos, nós iremos além. Podem ter certeza disso. Agora, serão promessas factíveis, promessas que podem ser cumpridas.
Freixo no PSB – A minha relação com o deputado Marcelo Freixo é uma antiga, porque ele também fez História na UFF, também é professor de História. A nossa relação vem desde os tempos do estudo na faculdade. E, depois, também a convivência na luta política, com uma visão de mundo focada na redução das desigualdades, com a geração de emprego e renda, com o desenvolvimento que abra oportunidade para os filhos das classes médias, das classes populares, dos trabalhadores e das trabalhadoras, é o que nos une há muito tempo. Agora, nos unem também o desejo de um futuro melhor para o estado do Rio de Janeiro e o compromisso de trabalharmos juntos por isso no PSB. No começo desse ano, eu assumi a liderança da oposição da Câmara dos Deputados, e ele assumiu a liderança da minoria. São dois cargos relevantes aqui na Câmara e que organizam, em alguma medida, os partidos de oposição para enfrentarem o governo (Bolsonaro).
Freixo pré a governador, Molon pré a senador – Na Câmara, nós passamos a conviver ainda mais intensamente e, nessas conversas, ele me colocou o desejo de ser pré-candidato ao governo do Estado. Eu já havia me comprometido a ajudá-lo, mesmo antes de ele vir para o meu partido; tinha dito que gostaria de apoiá-lo naquilo que eu pudesse contribuir, achava importante essa disponibilidade dele de se colocar à disposição para disputar o Governo do Estado. Contei para ele da minha intenção de ser pré-candidato a senador pelo estado, ao que ele reagiu também muito bem, com muito entusiasmo pela minha pré-candidatura. Quando ele se encantou com essa possibilidade de ir para o PSB, eu disse que teria um prazer redobrado em apoiá-lo, pois, se já iria apoiá-lo em outro partido, quanto mais no meu, no partido que eu tinha escolhido, para o qual eu vim ainda em 2018. E estamos reconstruindo o PSB. Nós estamos criando um partido com novas bases aqui no estado. É um partido com muita tradição, mas um partido que se refunda, que se reinicia, recomeça. Está atraindo muita gente. A gente tem tido muitas filiações. Em Campos mesmo, tem muita gente procurando o PSB para se filiar, para colaborar com essas duas pré-candidaturas: a minha para o Senado e a do Freixo para o Governo do Estado. Então, estamos trabalhando e estaremos juntos, unidos, aí também na sexta-feira, conversando sobre Campos e sobre os desafios que a cidade e o estado têm, como enfrentá-los, para oferecer uma vida melhor à nossa população.
Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã
Nota 0 a Bolsonaro – Se eu dei 7 para Wladimir e 3 para Cláudio Castro, para o Bolsonaro eu dou 0. E só dou 0 porque não posso dar -1 ou -2. Senão, daria -1, -2 ou -10. E digo isso com uma certa tristeza, porque é péssimo o que está acontecendo com o Brasil. Eu gostaria de poder ser uma oposição que apenas está discutindo quais são os melhores avanços para o país, e não como evitar os retrocessos que o governo quer impor. O Brasil tem andado para trás, está destruindo tudo aquilo que levou décadas para construir. Vou dar um exemplo: o que aconteceu com o ministério das Relações Exteriores. O Itamaraty não é mais notícia. Mas antes era, provavelmente para dar as péssimas notícias do ex-chanceler (Ernesto Araújo), que era um irresponsável, como o presidente da República. A imagem que o Brasil tinha no exterior foi destruída pelo ex-chanceler, que foi um desastre completo. Eu poderia falar da educação, do desmonte das universidades, do fim das bolsas, da perseguição a professores.
“Roubo na compra de vacinas” – Eu poderia falar também do desastre que foi a gestão da pandemia na Saúde, da sabotagem ao enfrentamento à pandemia, da tentativa de roubar na compra de vacina em um governo que dizia não ter corrupção. Tentaram roubar na compra de vacinas. Felizmente, não conseguiram porque foram denunciados. Eu poderia falar de tantas áreas. Em Ciência, Tecnologia e Inovação, não tem nada que a gente possa apontar, um projeto que a gente possa apontar. No Meio Ambiente, o ex-ministro Ricardo Salles agora vive mudando de endereço para não ser encontrado pela Justiça e não ser notificado. Teve que sair fugido do ministério do Meio Ambiente pelos crimes que cometeu, pelos quais ainda vai responder um dia. Se você olhar para qualquer área, é um desastre completo o governo.
“O que vai ser do 7 de setembro?” – Se fosse apenas um governo que não fizesse nada, mas é um governo que destrói. E, mais do que isso, um governo que ameaça a democracia. O que é que vai acontecer no dia 7 de setembro? O presidente da República está convocando as pessoas para irem às ruas para, no fundo, tentar um golpe de Estado. É muito grave isso. O Brasil não merece isso que está vivendo. O Brasil tem que andar para frente. O mundo vai olhar para o Brasil como uma república de bananas. Isso aqui não é baderna, tem gente séria, o povo brasileiro é sério, é trabalhador. Mas, o governo só faz o caos.
Volta da inflação – A economia está um desastre, a inflação está alta, o alimento está caro, as pessoas estão desempregadas. O país vai mal, e é graças ao governo. O mundo todo teve pandemia, mas olha como os outros países enfrentaram a pandemia. Olha como eles estão se recuperando, como já estão crescendo. E o Brasil patinando, porque o presidente, em vez de governar, fica criando confusão com o Supremo, criando confusão com o Congresso, criando confusão com não sei quem, atacando, criticando, brigando com a imprensa. Não respeita a liberdade de expressão, ataca jornalista. O que é que há? É uma situação muito grave, vai demorar um tempo para a gente reconstruir o que está sendo destruído. Eu vejo com muita tristeza esse momento do país. Acho que mesmo quem sabia que o governo ia ser ruim, ninguém imaginou que pudesse ser tão ruim. Eu sabia que ele ia ser um péssimo presidente, mas não imaginava que ele conseguiria ser tão péssimo como é. O Brasil sofre muito, está muito mal, e nós vamos ter que trabalhar muito para recuperar.
Terceira via? – É tudo o que eu desejaria. Mas eu acho, nesse contexto, ainda pouco provável. Apesar desse desastre que Bolsonaro é, ele ainda mantém um núcleo de apoiadores importante. O número de apoiadores não é desprezível, é de 20%, 25%, e isso o coloca no segundo turno. E Lula tem uma base muito grande também, algo em torno de 40%. Se você tem um de 40% e um de 25%, alguém poderia dizer que, em tese, sobram 35%. Mas, acontece que esses 35% que sobram não se organizam em torno de um único candidato. Isso vai se pulverizar em várias candidaturas. Não acredito que a terceira via seja capaz de se unir em torno de um nome. Vejo já sinais de que (João) Doria (PSDB) será candidato, vejo sinais de que Ciro (Gomes, PDT) será candidato, vejo sinais de que outros nomes podem disputar, como (Luiz Henrique) Mandetta (DEM), por exemplo, ou outros nomes que estão no cenário. O próprio Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, não sabemos se ele vai ficar no PSDB, ou se vai para outro partido para ser candidato a presidente. Ou seja: à medida em que há uma pulverização da terceira via e que os dois polos permanecem muito fortes, eu acho pouco provável que haja um terceiro nome com condições de ir ao segundo turno, embora fosse o melhor para o país. Qualquer nome que fosse para o segundo turno no lugar de Bolsonaro (para disputar com Lula) seria um nome para o Brasil, porque o debate no segundo turno seria um debate propositivo. O país ia estar discutindo qual é o melhor projeto para o Brasil, e não evitar o desastre que é o Bolsonaro. Seria uma discussão em outro nível, em outro patamar. Uma coisa é quando a gente tem divergência ideológica, de proposta de governo. Isso é da democracia, é saudável. A gente aprende com quem pensa diferente da gente, a gente melhora. Nossos argumentos têm que se aperfeiçoar, isso é bom.
“Intolerância aos intolerantes” – O problema é quando você enfrenta alguém que está querendo jogar, como disse ele mesmo, fora das quatro linhas da Constituição. Aí é outro tipo de debate, aí não tem conversa. A gente não pode tolerar os intolerantes. Então, quem quer acabar com a democracia não pode ser visto como alternativa democrática. Não é! Dentro da democracia é quem defende a Constituição e, dentro dela, vai defender um governo um pouco mais à direita, um pouco mais à esquerda, um governo de centro. Tudo bem, isso é do jogo, não tem problema. Isso, a alternância vai corrigindo, um governo vai cumprindo o que o outro não fez. É ótimo. O problema é quando você tem alguém que quer acabar com a democracia, quer acabar com a alternância, quer destruir quem pensa diferente. Então, infelizmente, eu não vejo ainda, hoje, um cenário provável de um segundo turno que tenha alguém da terceira via no lugar de Bolsonaro, embora fosse o que eu mais desejasse. Pode ter certeza disso.
Inquirindo o general Braga Netto – Vejo a questão militar com muita preocupação. Há uma semana, participei da audiência pública em que esteve o ministro da Defesa, Braga Netto (general da reserva). Eu fiz uma inquirição a ele, inclusive postamos essa minha fala, depois, quem quiser, pode olhar. Fiz uma fala muito dura com ele, e muito respeitosa, porque acho que a gente, na democracia, tem que ser respeitoso, mas duro quando é necessário ser duro. E eu falei do artigo 142 e do papel dos militares. A nossa Constituição, quando fala das Forças Armadas, é falando da preservação das instituições democráticas. Ou seja: o papel das Forças Armadas é proteger a democracia, e não a ameaçar. Não é papel das Forças Armadas decidir para onde o país vai. As Forças Armadas estão a serviço dos poderes constituídos, que são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. E elas devem agir para conservar, para proteger a lei e a ordem. E eu disse para o general Braga Netto: “ministro, as Forças Armadas por acaso têm papel de Poder Moderador (que só existia no Brasil Império, como prerrogativa exclusiva do imperador) para arbitrarem conflitos entre os Poderes? O senhor acha que têm? Porque aqui, na Constituição, não têm”. E ele acabou tendo que dizer, diante da minha pergunta insistente, que, no entendimento dele, conflito entre os Poderes era com os Poderes. Ou seja, que não cabia às Forças Armadas arbitrar. Quem é o último intérprete da Constituição? É o Supremo Tribunal Federal. Não é o ministro da Defesa, não é o comandante do Exército ou da Marinha ou da Aeronáutica. É o STF. Então, não cabe às Forças Armadas, por exemplo, dizer que o Supremo está interpretando a Constituição mal ou bem, porque o papel das Forças Armadas não é interpretar a Constituição, é garantir a lei e a ordem a pedido dos poderes. Não pode o poder Executivo invocar as Forças Armadas para pressionar o Judiciário a julgar dessa ou daquela forma. Isso não é democracia.
Exemplo das Forças Armadas dos EUA – Eu terminei a minha fala (na audiência pública com Braga Netto) dizendo para que o ministro se espelhasse no exemplo do general Mark Milley (principal autoridade militar dos EUA), que preparou uma renúncia coletiva quando viu que Trump não ia aceitar o resultado das eleições (de 2020). E ele disse para os colegas dele uma coisa que saiu recentemente num livro: “Nós não vamos permitir que isso aconteça, porque o que o Trump quer fazer, que é dar o golpe, ele não consegue fazer sem nós. Nós somos os caras que têm as armas”. E aí eu disse para o ministro: “Ministro, os senhores têm as armas e, por isso, têm que ter consciência de que o que o povo brasileiro espera dos senhores é que não aceitem esse tipo de papel de desestabilizar eleições ou pressionar outros Poderes. Não se permitam fazer isso, porque a Constituição não permite e o povo não espera isso dos senhores”. Então, foi uma fala dura, firme, forte, mas respeitosa. E ele reagiu bem, disse que de fato não é papel das Forças Armadas. E a impressão que eu tenho é que predomina hoje nas Forças Armadas Brasileiras esse pensamento de responsabilidade. Eu não diria que é unânime. Infelizmente, acho que há alguns ali que flertam com o autoritarismo. Mas, acredito que não é majoritário. Eu acho que a maioria do alto comando das Forças Armadas está comprometida com a democracia, com a Constituição, não vai entrar em aventuras, não vai apoiar o presidente nessa tentativa de pressionar os outros Poderes, portanto não vai infringir a lei e a Constituição. Quem fizer isso vai responder pelos seus atos mais cedo ou mais tarde, porque essa conta chega uma hora. Mas, sinceramente, eu não vejo as Forças Armadas embarcando nisso. O compromisso com a Constituição e a democracia vai prevalecer.
General Heleno, do GSI, ameaçou usar o artigo 142 em intervenção militar – Essa fala do general Heleno é de uma irresponsabilidade atroz, porque o artigo 142 não existe para isso. O artigo 142 existe para garantia da lei e da ordem a pedido dos Poderes constituídos. Isso significa que os Poderes devem pedir essa intervenção das Forças Armadas para garantirem a lei e a ordem, e não para desestabilizarem a lei e a ordem.
“Se Bolsonaro insistir, vai preso” – Na minha opinião, o presidente quer, no dia 7 de setembro, o caos. Se houver o caos nas ruas do país, melhor para ele. É o que ele pensa. Porque aí ele vai usar o caos para pedir a garantia da lei e da ordem às Forças Armadas. Você cria o caos e depois, para impedir a bagunça que está acontecendo, chama as Forças Armadas. Esse é o roteiro da confusão que o presidente da República quer causar ao país. Mas, nós não vamos permitir isso, não. Estamos alertando, estamos avisando, e se ele insistir nesse caminho, vai terminar preso. E quem o acompanhar, será preso. Não há espaço para isso no Brasil. Ele não pode fazer isso. Quem dizer isso com ele, vai responder pelos seus atos também. É inaceitável. O general Heleno está inteiramente equivocado. Infelizmente, não é de hoje que ele está equivocado. Tem uma visão distorcida sobre democracia e o papel das Forças Armadas. Está errado o que ele está dizendo, e nós não vamos tolerar isso, não vamos aceitar, o Congresso não vai aceitar.
Resposta do Senado – Esse pedido de impeachment do Alexandre de Moraes (feito por Bolsonaro ao Senado) causou uma péssima repercussão no Congresso. A primeira coisa que o Senado fez foi suspender a votação do André Mendonça (ex-advogado geral da União, indicado por Bolsonaro) no Supremo. O Congresso está mostrando que não vai aceitar que o Executivo acosse o Judiciário. O Legislativo não vai ficar ao lado do Executivo nessa briga, vai ficar ao lado do Judiciário. Mas, não é porque prefira o Judiciário, é porque é o que a Constituição manda. Nós, quando tomamos posse dos nossos mandatos, juramos defender a Constituição. E assim o faremos. Nós vamos cumprir o nosso dever. Apesar da irresponsabilidade e inconsequência do presidente, espero que o resto do Executivo tenha juízo e não embarque nessa maluquice. Por isso eu disse ao general Braga Netto o exemplo do general Mark Milley, dizendo que as Forças Armadas podem dizer ao presidente da República que não vão. Que ele não faça isso, porque não terão companhia. E, se disserem, ele não fará. E eu, sinceramente, acredito que é o que as Forças Armadas farão. Não serão inconsequentes como o presidente. Têm responsabilidade, têm compromisso com a Constituição e a democracia e não vão abandoná-las. É a aposta que eu faço.
Presidente da Câmara, Arthur Lira em cima do muro – Infelizmente, eu preciso concordar no sentido de que a Câmara não tem feito aquilo que lhe caberia fazer no enfrentamento a Bolsonaro, apesar dos esforços da oposição, apesar das cobranças que nós temos feito. Eu, inclusive, da tribuna, já cobrei o presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP/AL), sobre uma reação mais dura ao presidente da República. Está faltando. E o presidente da Câmara não pode continuar se esquivando de reagir aos ataques do presidente à democracia. Ele não pode, não tem o direito de ficar calado. E, nesse sentido, o Rodrigo Pacheco (DEM/MG, presidente do Senado), mesmo que discreto, contido como ele é, tem sido mais firme, tem deixado claro que não aceita. E o presidente da Câmara precisaria ser mais incisivo. Ele precisa reagir. Independentemente do que ele pense do governo, se foi o líder do Centrão, se levou o Centrão para a base do governo, de ser base do governo, tem um papel institucional como presidente da Casa que precisa cumprir. Ele tem que separar as coisas. E a nossa cobrança vai continuar. Infelizmente, eu concordo que existe, sim, uma omissão da Câmara, como Casa, especialmente a partir da presidência da Câmara, em relação aos ataques de Bolsonaro à democracia. Nós temos cobrado isso e vamos continuar cobrando.
“Sinal amarelo” de Lira vai virar vermelho? – Tem que virar, já deveria ter virado. A maioria da população já apoia o impeachment de Bolsonaro. Ele já deveria ter sido afastado há muito tempo, nós pedimos o impeachment dele em abril de 2020. Aí, muita gente dizia que era hora de enfrentar a pandemia, que a gente tinha que se unir e não ter briga política. E nós dizíamos que tirar Bolsonaro da presidência era salvar a vida de brasileiros. Dizíamos que a gestão da pandemia seria um desastre, que quanto mais tempo ele ficasse, mais gente ia morrer. Olha o resultado. Infelizmente, nós tínhamos razão. Morreram mais de 575 mil brasileiros. Pelo amor de Deus! Se tivesse sido tirado lá atrás, quantas pessoas a gente teria salvado? É isso que a Câmara tem que entender. O sinal já deveria ter ficado vermelho lá atrás. E o povo brasileiro espera isso da Câmara. Sinceramente, eu acho que a Câmara tem deixado muito a desejar. Digo isso lá dentro também, não falo só aqui fora, porque é o dever da gente falar aquilo que a gente pensa, representar o povo do estado do Rio de Janeiro onde a gente estiver.
Gente armada nas ruas? – Eu, honestamente, tenho esperança de que essa maluquice não prospere. Espero que fique nas bravatas do presidente, espero que as pessoas tenham responsabilidade. Agora, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) está preocupada com gente indo armada às ruas. Não tem cabimento a gente, neste momento da história do país, em 2021, estar preocupado com ter gente armada nas ruas para pressionar o Supremo a aceitar, não afastar ou não prender fulano ou cicrano. Pelo amor de Deus!
Mourão como “adulto na sala” – Eu percebo que o vice-presidente da República, em alguns momentos, discorda do presidente. Eles vivem ali entre ódio e amor, se afastam e se aproximam, se afastam e se aproximam. Mas, eu diria que a gente esperava muito mais dele, uma postura séria de dizer que é inaceitável que Bolsonaro faça isso. Ele foi eleito para esse cargo também. O general (Hamilton) Mourão (PRTB) não está ali de favor; ele foi eleito. Então, ele não pode ser demitido pelo presidente da República. Ele tinha que tomar uma posição mais contundente, dizendo: “Nós não aceitamos qualquer ataque à democracia, isso está errado, as Forças Armadas não fazem isso”. Ele fica nesse morde e assopra, não fede nem cheira. Ou seja, você só sabe que ele não concorda totalmente com o presidente, mas às vezes concorda muito, às vezes concorda pouco. Acho muito ruim. Acho que, na vida, a gente tem que ter lado. Agora é hora do lado da democracia, e não de ficar em cima do muro.
Tanques fumacentos na Esplanada dos Ministérios – Eu nunca imaginei que fosse ver as Forças Armadas submetidas a um papel tão vexaminoso. Aquilo ali pegou tão mal. Primeiro pelo ato em si, essa tentativa de intimidar o Congresso (em 10 de agosto, que votou em plenário a proposta de Bolsonaro pelo voto impresso), colocar tanque para desfilar na Esplanada dos Ministérios para os congressistas votarem a favor do voto impresso? Perderam! Erraram e levaram uma resposta da Câmara. Pior do que isso foi ainda colocar aqueles equipamentos ali, o que soa quase como humilhação para as nossas Forças Armadas. A sensação que passa com aquilo ali é até preocupante, porque, eventualmente, potenciais adversários do Brasil podem olhar aquilo ali e dizer que agora é que vão fazer qualquer coisa contra o Brasil: “porque olha como eles estão”. É uma vergonha aquilo, nunca vi fazer as Forças Armadas passarem por uma humilhação dessa. As Forças Armadas não merecem isso, são compostas em sua maioria por gente séria, honrada, lutadora, que tem amor pelo país, tem orgulho do que faz. Gente que não pode ser humilhada desse jeito, não. Foi muito feio.
Forças Armadas nas propostas de governo em 2022 – Qual é o papel da Defesa nacional? E nesse papel da Defesa entra, por exemplo, a formação dos militares. Eu acho que se deu pouca atenção ao currículo de formação dos militares, à importância de se formar militares com uma mentalidade mais moderna, com uma outra visão da História do Brasil, com uma outra visão da democracia. No comportamento do general Mark Milley (após ter sido usado por Trump em 1º de junho de 2020, para sair da Casa Branca, onde estava sitiado pelos protestos do movimento “Vidas Negras Importam” em Washington) ele foi pedir desculpas ao país. Isso é fruto de uma formação cidadão, democrática, nacional, que sabe que militar não faz política. Militar não tem partido A ou partido B, militar serve ao país. Agora, uma parte dos que Bolsonaro levou para o seu governo não tem essa consciência, acha que as Forças Armadas têm que ter uma posição no espectro ideológico, um compromisso com uma forma de ver o Brasil; uma forma, se não partidária, pelo menos ideológica. Isso está errado. Então, esses maus exemplos estão influenciando na formação de novos militares. Isso prolonga os nossos problemas. É preciso ter um outro olhar para a formação dos militares, para o currículo dos militares, para a relação das Forças Armadas com a democracia e a Constituição. Então, acho que essa é uma área para qual os progressistas precisam olhar com mais cuidado.
Confira abaixo, em três blocos, os vídeos com a íntegra da entrevista do deputado Alessandro Molon, líder da oposição na Câmara Federal, ao Folha no Ar da manhã de ontem (24):
Deputado estadual Zeidan, secretário estadual Max Lemos e prefeito Wladimir Garotinho (Foto: Divulgação)
A ocupação do conjunto habitacional Novo Horizonte, no Jardim Aeroporto, do projeto federal “Minha Casa, Minha Vida”, hoje deu um passo para um desfecho positivo, em atuação conjunto do poder público municipal e estadual. No final da manhã de hoje, o prefeito Wladimir Garotinho (PSD) se reuniu no Rio de Janeiro com o secretário estadual de Infraestrutura e Obras, Max Lemos, e a presidente da comissão de Habitação da Alerj, deputada estadual Zeidan (PT). Representantes dos três vão à ocupação nesta quinta (26) para cadastrar quem realmente precisa de assistência e moradia.
— Estivemos hoje em reunião de hoje com a presidente da comissão de Habitação da Alerj, deputada Zeidan, na sede da secretaria estadual de Obras, onde fomos recebidos pelo titular da pasta, Max Lemos. Representantes da comissão da Alerj, da assistência social estadual e municipal vão à ocupação na quinta, para realizar cadastro e cruzar todos os dados. Embora Novo Horizonte seja federal, vamos atender às reais demandas com aluguel social e a construção de um conjunto habitacional, em parceria estado/município. Só precisamos definir quem realmente precisa. Identificamos 104 famílias, enquanto os organizadores da ocupação falam de 700 famílias.