A partir do seu próprio blog, o jornalista campista Ocinei Trindade tem dado à luz (aqui) suas literatices em prosa e versos. Estes, quase sempre em tom confessional, se distinguem pela qualidade daqueles que caem na armadilha fácil (e chata) de confundir poesia com divã de analista. Muitas vezes fescenina, num erotismo latente, mas suavizado pela ironia, como ensinou nosso grande barroco Gregório de Matos, a obra de Ocinei não está mal representada no poema que o blog traz ao domingo, subvertendo em sua androginia toda a pompa e circunstância dada ao tema pelo genial Sigmund Freud, pai de todos os analistas.
Confira por conta própria:
ODE AO FALO
Falemos do falo.
O falo fala.O meu falo além de falar, canta.
Tenta encantar também.
Samba no pé, samba na mão, que mal tem?
O falo sabe das coisas “como ninguém”.
Versátil, está na boca do céu de todo mundo.
Boca cheia, boca suja, boca imunda.
Meu falo até em bunda numa quizumba do cacete
Tudo falo entre quatro paredes.Quase tudo.
Quase teso, o tesão, o tesudo.
A língua do falo é animal, é Edmundo.
É meter porrada na vala e na cara do vagabundo.
O falo está em todas, paga geral.
Mas se mete em cada uma já que se acha o tal.
Esqueçam o falo falido.
Falo tem que ser bem sucedido.
Não é mole ser falo!
Isso eu falo de cadeira, porque se falo de cama,
Só de falar, já me dá canseira.
É duro ser falo, pois nem sempre é ereto.
Estar eternamente a ponto de bala, seria o correto.
Mas nem sempre é doce a iguaria.
Falo no cuscuz, na baba de moça, no olho de sogra.
Falo também no brigadeiro,
afinal que graça tem
Comê-lo se não for por inteiro?
E como, como!
Falo é poder,
é aspiração de cumprir dever.
Falo tudo sob pressão.
Se ameaçou, já tô botando pra fora.
É, muita história tem o falo pra contar.
Sabemos que nem tudo é festa.
O falo quase sempre vive uma vida modesta.
Reservado, escondido e humilhado sob camadas de tecidos.
É louco para aparecer, mas tem medo, receio,
Pois não sabe se será bem visto, correspondido.
Todo falo tem na cabeça o desejo de ser grande.
O mal do falo é pensar demais.
Na verdade, muito falo sofre por ser calculista.
Insiste em contar errado, vantagem.
Só aceita a partir de quinze, adora se iludir,
Mas também pra quê ser tão realista?
O falo é o máximo, mas também é o mínimo.
Faz parte do salário do pecado mais ínfimo.
É refém da moral, da mulher, do varal.
É escravo do bacanal, do labirinto vaginal.
Falo também é estuprado pelos apelos da carne,
Pela fúria do ânus,
pelo estranho sexo digital.
Falo é carnal, mas sabe ser inteiramente verbal, espírito.
Em 2008, o voto na então candidata Rosinha Garotinho simbolizava desejo de mudança e esperança em dias melhores para o município, que enfrentava um período difícil politicamente em meio a denúncias que culminaram com uma operação do Ministério Público Federal, que levou preso membros do primeiro escalão do governo Mocaiber.
Fortalecida pelo desejo de mudança, Rosinha lançou-se candidata com uma campanha quase tecnicamente perfeita. Seu programa de governo trazia os pontos que refletiam o que os campistas esperavam do novo gestor, entre eles uma “revolução” na Saúde. Informatização das consultas, medicamentos presentes, desburocratização eram promessa de campanha do governo que prometia por a cidade no rumo do desenvolvimento, com a atenção que o maior município do Norte Fluminense merece.
Quase sete anos se passaram. Para quem argumentar que sete anos é pouco tempo, dá para imaginar quantas pessoas nasceram e morreram nesse período? Uma criança que nasceu em 2008 hoje já aprendeu a ler e começa a ver o mundo com seus próprios olhos.
De lá para cá, não foram poucas as matérias veiculadas em jornais, rádios e tvs mostrando reclamações de pacientes e familiares, a dor de quem precisa de uma resposta no momento mais delicado de sua vida: quando ela está em jogo.
Não houve uma semana, talvez um dia, que não chegasse uma reclamação sobre remédios, uma criança precisando de um exame, um idoso, um diabético…
Mais ainda, em recente entrevista, o presidente do sindicato dos Médicos, José Roberto Crespo, destacou algo que foi tomando forma aos poucos e que parece ter feito Campos andar para trás: Voltaram as filas nas madrugadas para marcação de consultas em muitos pontos.
A resposta comum nesses casos tem sido que Campos é referência no atendimento e que diversos municípios enviam para cá seus pacientes. Pode ser. Mas se é referência não deveria ter um atendimento que primasse pela qualidade? Campos não deveria ter tomado na cabeceira dessa mesa e chamado os outros municípios para uma conversa que, se não resolvesse, ao menos minimizasse o problema?
De 2009 — primeiro ano do primeiro governo Rosinha — até hoje não houve como construir, reconstruir, reformar ou sei lá o que o Hospital São José, que além de atender aos moradores da Baixada ainda poderia desafogar o Hospital Ferreira Machado?
Recentemente, o mesmo Ministério Público Federal tem realizado inspeções em hospitais de municípios da região e mostraram o quão longe da “revolução” prometida está a Saúde de Campos. Medicamentos vencidos, pacientes em macas espalhados por corredores, médicos ausentes, esquipamentos com defeito.
O procurador da República, Eduardo Santos de Oliveira, disse que as inspeções surpreenderam negativamente: E destacou o caso do HFM, onde agentes encontraram (aqui) medicamentos com validade vencida fora da farmácia, já nos setores próximos.
Acompanhadas pela imprensa, as inspeções mostraram uma fratura exposta e que parece longe de uma cura. Talvez porque a culpa é sempre do outro: Ou do médico, ou do gestor, ou paciente ou, até, da oposição, que não administra nada, mas também já foi responsabilizada em alguns momentos.
O que chamou a atenção durante as operações do MPF foi o alívio de pacientes e familiares. Parecia que, enfim, alguém que poderia resolver estava indo ver e solucionar o problema.
Engano. Não pode. O MPF pode recomendar, apurar, fazer um já famoso TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), abrir um inquérito. Pode até prender. Mas resolver, só o governo. E quem manda no governo — salvo engano — é a prefeita Rosinha.
Então, quem deveria fazer uma inspeção nas instituições de Saúde da cidade que administra é a prefeita e seus secretários. Ir a inaugurações, em dias de festa, não retrata a realidade. O maior erro de um administrador público é ver o mundo pelos olhos de seus assessores. É preciso ver o que o MPF viu, ouvir a voz da população. É preciso tentar curar essa ferida. É preciso ver para crer e resolver.
Por Aluysio Abreu Barbosa, Alexandre Bastos e Suzy Monteiro
Quem viu o ex-campeão peso pesado de boxe Myke Tyson no início de carreira, não se esquece da sua postura agressiva, caminhando sempre à frente, sem dar espaço ao adversário. Na política de Campos, poucos encarnaram o mesmo espírito como o ex-vereador Marcos Bacellar (SD). Dos confrontos com seus adversários passados e presentes, não apenas políticos, mas também promotores de Justiça, diz não guardar arrependimento, assim como da sua decisão de não ter concorrido em 2012. Sobre 2016, embora ressalve seu respeito à máquina, acha que podem chegar ao fim os quase 30 anos de garotismo em Campos. Entre as piores heranças do movimento, aponta o Plano de Cargos e Salários (PCS) aprovado por Rosinha ao servidor, sem conceder a reposição das perdas salariais à categoria. Concorra ou não na próxima eleição, Bacellar só garante que, com ele na Câmara, o presidente Edson Batista (PTB) não cassaria sua palavra, nem o secretário de Governo Anthony Garotinho (PR) iria à plenária “falar abobrinha”.
Ex-vereador Marcos Bacellar
Folha da Manhã – Em 2011, mais de três anos antes do vereador Marcão (PT) tornar público (aqui, aqui, aqui e aqui) o resultado da auditoria que apontou as “tenebrosas transações” do primeiro governo Rosinha, que geraram prejuízo de mais de R$ 110 milhões aos cofres públicos de Campos, você denunciou o rombo (aqui) em seu blog. Como teve acesso antes ao fato?
Marcos Bacellar – Na ocasião , falei na plenária, denunciei as “tenebrosas transações” financeiras feita pelo poder municipal, hoje confirmadas e denunciadas pelo vereador Marcão. Tenho minhas fontes dentro da máquina da Prefeitura. Mas, infelizmente, tenho que preservar os colegas. Como denunciei também que os mesmos iam investir sobre as reservas da Previcampos, na “grande” ação com o Mercado Municipal, e tantas outras denúncias que infelizmente não foram apuradas e cairam no esquecimento do povo e da mídia.
Folha – De posse dos documentos que provam o rombo, Marcão denunciou o caso (aqui) à Polícia Federal, aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, aos Tribunais de Contas do Estado e da União, além da Controladoria Geral da União. Em seu entender, por que ninguém até agora fez nada?
Bacellar – A morosidade é grande, mas tenho plena convicção que novos ares estão respirando no Judiciário brasileiro. Tenho a esperança que cedo ou tarde o MP, TCE e o Judiciário vão apurar as denúncias.
Folha – Você disse que antes da operação Telhado de Vidro, da Polícia Federal, em 2008, o hoje vereador Edson Batista foi procurá-lo, a mando de Anthony Garotinho, para tentar uma composição após o golpe que mataria em vida o fraco governo Alexandre Mocaiber. No que deram suas denúncias? Afinal, como Garotinho pôde saber? E se soube no passado, pode continuar “sabendo” até hoje?
Bacellar – Disse, repito, provei e denunciei a todas as autoridades em diversas instâncias e até hoje não tivemos nada apurado. Inclusive, à época, coloquei meu sigilo telefônico à disposição. Mas o Chucky é liso, é difícil agarrá-lo. Continuo à disposição para contar tudo novamente, tão bem já relatado no passado revista Somos Assim e a própria Folha da Manhã. Para mim, hoje ele perdeu bastante o cheiro do poder e viu também desmontada a sua rede de influência, mas ainda tem “bola de cristal” espalhada por aí. Logo: todo cuidado!
Folha – Especificamente em relação aos Ministérios Públicos Estadual e Federal locais, você foi condenado pelos crimes de calúnia e difamação contra o promotor Leandro Manhães, além de já ter sido processado pela procurador da República Eduardo de Oliveira. Qual o motivo dessas brigas? E o saldo delas? Arrepende-se de algo? Que juízo faz das duas instituições em Campos?
Bacellar – Não me arrependo de nada. O juízo das instituições em Campos e em todo Brasil é a melhor possível. Porém, ocorre que, como em qualquer instituição, corporação, e esfera de poder, existem os maus profissionais que usurpam de suas funções extrapolando por muito sua autoridade e competência. No tocante ao procurador Eduardo, agi na defesa daquilo que considerava certo. Já quanto ao promotor Leandro, mantive em Juízo tudo que sempre falei e afirmei dele na Câmara, pois assim como a função pública dele, a minha à época, uma vez eleito pelo povo, era também de fiscalizar e assim o fiz. Fui condenado sim em primeira instância, mas tenho a certeza de que o Tribunal de Justiça reformará a decisão, uma vez que, estava amparado pela imunidade parlamentar e apenas no exercício de minha função fiscalizatória.
Folha – Coincidentemente, Leandro e Eduardo tiveram suas ações mais recentes centradas na Saúde Pública. O promotor estadual, à frente da intervenção na Santa Casa de Misericórdia de Campos. E Eduardo na fiscalização do MPF sobre os principais hospitais públicos e conveniados da região. Tem acompanhado essas intervenções? Qual sua opinião sobre ambas?
Bacellar – Parabéns ao MPF na ação da saúde apurando o serviço que é prestado à população da região pelo poder executivo. Espero muito que assim continue, mas já podiam ter feito antes. Quanto ao Ministério Público Estadual, em relação a Santa Casa, não posso avaliar muito bem, pois quando Benedito Marques assumiu a Santa Casa, a mesma estava quebrada e ele conseguiu erguê-la com ajuda de diversas pessoas da nossa sociedade. O que houve e cadê o Definitório do Hospital? Muita coisa tem que ser esclarecida ainda. Na minha existência, já vi passar três provedores na Santa Casa e todos eles no finalmente saíram como ladrões. E os seus pares, são anjos?
Folha – Recentemente, em artigo publicado (aqui) na Folha, você criticou outro promotor estadual, Marcelo Lessa, pela pretensão deste em dar ponto final à discussão do Mercado Municipal, após ter se posicionado a favor do “encaixotamento” do prédio histórico. Ao criticar a postura dele também na greve dos rodoviários, em abril do ano passado, você indagou se ele era promotor de Justiça ou procurador de Rosinha. Por que a dúvida?
Bacellar – Estou acabando de reler o trabalho do professor Carlos Roberto Bastos Freitas, “O Mercado Municipal de Campos dos Goitacazes — A sedução persistente de uma instituição pública”, de quando foi criado o local, praça ou largo, e toda a evolução até praticamente a presente data. Um trabalho lindo, ouvindo feirantes, clientes e cidadãos. Tem dados demográficos do município de Campos, regulamento do Mercado de 1921. Li, gostei, posso elogiar ou criticar, mais nunca fechar a porta de uma discussão que poderá surgir, uma nova idéia que beneficiará muito mais a nossa população. Critiquei, sim, o promotor Marcelo Lessa por querer encerrar esta discussão e falei claramente de outras posturas dele tomadas a frente do direito difuso do MPE, sempre coadunando com a postura e o pensamento do poder Executivo. Friso o Camelódromo, o Mercado Municipal e a greve dos Rodoviários. Mesmo se houver ordem judicial, considero um absurdo invadir uma empresa particular, mandar um motorista pegar um ônibus e colocar na rua para atender a população. Em todos os sentidos, seja para o proprietário da empresa, assim como o risco para a população. São medidas que achei um absurdas e posso criticá-lo, sim, na qualidade de cidadão, por entender que tais situações demonstram que o mesmo está agindo como procurador de Rosinha arbitrariamente.
Folha – Leu o artigo de Marcelo publicado pela Folha na quinta, na qual ele parece ter respondido a você, dizendo que estão tentando politizar a questão do Mercado? Em sua defesa, o promotor disse ter tomado uma “decisão em favor das pessoas, não das coisas”. E você, como define a sua posição?
Bacellar – Ele se diz tão preocupado com os camelôs, os feirantes, sempre favorável às pessoas. Contudo, não vi a atuação dele em favor dos munícipes em outras situações, como greve dos professores, as várias obras denunciadas com grande atraso, a falta de pagamento a terceirizados e tantos outros problemas que acontecem na Saúde, Educação, Transporte e Habitação. Infelizmente, pode até ser ignorância minha ou desconhecimento ou falta de divulgação por parte do MPE ou da própria Folha, mas entendo assim. Mas posso mudar de opinião se me informarem a real situação. O Mercado não era onde hoje está. Se mudou no passado, não pode mudar de outra vez? Acho que a questão é política sim, política pública ou será que Dr. Fachin, mesmo sendo um excepcional jurista, chegou a STF por beleza ou simpatia? Gosto de ler os artigos do professor Lessa na Folha. Porém, só consigo entender com o “pai dos burros” ao lado, pois o mesmo em sua grande capacidade literária, ele usa cada palavra que infelizmente o simples mortal aqui, assim como o povo com o qual ele tanto se preocupa, não conhece e tem a curiosidade de procurar no dicionário para ver o significado, como “vozes obnubiladas”. Fui ver no Google e lá estava “escurecer, que se torna obscuro, como se observado entre nuvens”. Minha posição é clara e acho que logicamente tenho algum respaldo. Disputei três pleitos e o povo me elegeu em dois, sendo um, respeitosamente, como vereador mais votado até hoje no município, e outro que perdi, para deputado estadual, mas no qual tive quase 23 mil votos. Considero que quem votou em mim, me respaldou e conhece muito bem minha posição e colocações. Sabe que foram na Feirinha da Roça da Praça da República, em dia 26 de maio, quando a Postura municipal recolheu dos feirantes ovos, queijos, galinhas, tudo em nome da saúde do consumidor, sem ter um médico sanitário para a prévia vigilância. Como autorizaram a feirinha? Quem vai responder?
Folha – Enquanto foi vereador, você teve o mandato cassado por duas vezes, uma deles em função de suposto desvio de verbas na Campos Luz, em 2010, e outra por abuso de poder político e econômico, em 2012, relativo à eleição de 2008. Para quem questiona tanto, não são dois fortes motivos para ser também questionado?
Bacellar – Justamente… Num processo de cinco mil folhas, sob o Ministério do sempre promotor Leandro, que foi distribuído às 11h20 da manhã de uma sexta-feira e que, pasmem, mesmo com tamanho volume de papel, foi devidamente autuado pelo cartório e analisado pelo juiz à época antes das 14h, eu já estava intimado da decisão liminar que me afastava. Seria leitura dinâmica? Prova desse absurdo é que fui absolvido e reconduzido ao cargo dias depois, sendo comprovado que nada tive com a Campos Luz. Já a segunda cassação que eu sofri, friso que fui o único vereador em todo o Brasil que teve duas vezes o mandato cassado numa mesma legislatura. Ganhei em todas as instâncias superiores e retornei de imediato ao cargo, com o caso encerrado no TSE, que me deu ganho de causa. A cassação partiu de um vereador que me tratava de “Guru”. Maior Presidente que o Legislativo de Campos já teve, para não dizer o contrário. Ele ficou envergonhado, pois me perdoem a falta de humildade, em um único pleito, eu tive mais votos do que as três eleições somadas que ele ganhou. Foi através de muito trabalho, dor, dedicação e coragem que me orgulho de ter sido campeão de votos em Campos: 9,5 mil votos que a população em mim confiou, naquela legislatura tumultuada em que tivemos que enfrentar e peitar tudo, inclusive o governo Mocaiber, ao qual fui oposição até a operação Telhado de Vidro.
Folha – Você foi um dos críticos na época da construção do Cepop, por mais de R$ 100 milhões, e um dos primeiros a chamá-lo de “elefante branco”. Além disso, criticava a falta de valorização do carnaval e a fortuna destinada aos shows do Farol. Como recebeu o cancelamento do carnaval fora de época deste ano?
Bacellar – Uma grande obra poderia ser feito em Campos, um sambódromo ou um estádio municipal? Um novo Mercado? Hospital São José? Orla do Farol? VLT? Duplicação da BR 101, no trecho entre Ururaí e Travessão, entre várias outras obras muito mais importantes. Tem que discutir, o povo tem que ser chamado à responsabilidade e escolher as suas prioridades. Local, onde, por quê? E o Jockey Club, uma linda área, hoje vai acabar? O monumento ao coco (Beira Valão), eles não respeitam Plano Diretor, Lei de Diretrizes, não respeitam nada. Existe lei municipal, se não me engano foi do vereador Dante, que qualquer obra acima de 3% do orçamento tem que ter audiência e aprovação legislativa. Eles respeitam? E o Centro Histórico de Campos, está pronto ou quase? Aguardem, pois assim que retirarem os postes, vai quebrar tudo de novo. Sou contra o carnaval fora de época, acho que temos que respeitar o calendário pagão, mas não vejo motivo para suspender o carnaval deste ano por motivo de economia, cujo valor não alteraria em nada a Saúde e a Educação péssimas de Campos, apenas se Chucky inventar termo aditivo em verba carnavalesca. E ele espeita quem gosta e já gastou por conta do carnaval?
Folha – Na época da inauguração do Portal da Transparência pela Prefeitura, em 2009, você afirmou que o “portal era tão transparente que ninguém enxergava nada”. Agora, seis anos depois, Campos apareceu na 71ª posição entre os 95 municípios do Rio, no ranking da transparência do MPF. Afinal, o que o governo Rosinha parece querer esconder?
Bacellar – Tudo que falamos, e lutávamos contra, o tempo mostra que tínhamos razão, veja agora o ranking da transparência, com Campos na vergonhosa 71ª posição no Estado. Rosinha esconde a sua incompetência e o seu despreparo para administrar o município. Ela só quer cantar, cantar, pintar, pintar, ah ah, e o Chucky firula e joga para a galera na dança do passinho. Escutem bem e aguardem: o Plano de Cargos e Salários Municipal vai ser o maior blefe ao servidor. Esse PCS dos professores, da Guarda, dos médicos, dos fiscais, é uma piada. Usurparam a reposição salarial anual. Nunca mais os servidores terão esse índice inflacionário nos salários. Vão amargar perdas até a morte.
Folha – Após a notícia de que a deputada federal Clarissa Garotinho estaria indo para o PSDB, você cutucou na democracia irrefreável das redes sociais: “A herdeira política da prefeita quer mudar de partido com a intenção de se ver livre da rejeição que tem sua família. Tenho uma sugestão: Mude também o sobrenome que usa na urna”. Acha que a deputada vive um dilema?
Bacellar – O dilema da deputada é o presidente Eduardo Cunha (PMDB), que conhece toda nos mínimos detalhes a maneira de agir da família. Por isso eles não enfrentam ele de forma alguma. E Ronaldo Caiado (DEM), que falou a verdade em plenária, na cara de Chucky, diante de todo o Brasil, e não houve resposta até hoje? Querem se esconder no PSDB e manchar mais um partido, como eles sempre fazem.
Folha – Em 2013, você se filiou ao Solidariedade, muito por conta da boa relação com o deputado estadual Pedro Fernandes. Agora, com a possibilidade de Pedro migrar para o PL, que está perto de ser fundado, você deve acompanhá-lo?
Bacellar – Não sabemos ainda. Estão discutindo no Rio e com vários companheiros em Campos. Graças a Deus, estamos com a porta aberta em vários partidos. Pedro Fernandes é um grande amigo e parceiro. Vamos aguardar.
Folha – Arrepende-se das escolhas de 2012, principalmente por abrir mão da candidatura e apoiar Diego Dias, que acabou não se elegendo? O que 2016 reserva para Marcos Bacellar? Rodrigo, seu filho, conhecedor dos bastidores da política de Campos e do Estado do Rio, pode ser uma opção?
Bacellar – Não há arrependimento. Cada eleição tem sua particularidade, tínhamos saído de uma eleição para deputado estadual, em que ficou muita coisa pendente. Tínhamos que botar a casa em ordem. Diego Dias é um grande parceiro, que infelizmente foi traído por inveja, dentro do seu próprio partido, onde puxaram o tapete dele. Pelo que escuto na rua pelo povo, graças a Deus, acredito que o futuro me reserva um horizonte largo. Conseguimos marcar a nossa passagem na vida sindical e política, pela nossa característica de luta, mas o futuro a Deus e ao povo pertencem. Rodrigo Bacellar, de fato é uma boa opção, assim como outros jovens que habitam em nossa Campos, como Abinho, Silvinho, Alemão, Igor Pereira, Thiago Ampla, Neném, Calabouço, Bruninho Farol, Leal dos Prazeres, Pedro de Santa Maria, Serginho de Baixa Grande e vários outros. Infelizmente tenho mania de citar nomes e logicamente vou esquecer alguém.
Folha – A percepção geral, referendada (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) pelas pesquisas Pro4 e Pappel de abril, é que o governo Rosinha nunca esteve tão mal. Na consulta mais detalhada do Pro4, 65,5% dos campistas disseram que não votarão em nenhum candidato apoiado pela prefeita. A oposição está pronta para colher o que parece ser seu melhor momento em anos? Nela, quem é, em sua opinião, o melhor nome para disputar a sucessão de Rosinha?
Bacellar – Ainda respeito o poder da máquina. Mesmo com a perda dos royalites, o orçamento do município vai chegar à casa dos R$ 2 bilhões e Chucky vai fazer de tudo para não perder o pleito, custe o preço que custar. Como seus fiéis escudeiros estão mortos, ele vai ter que inventar um nome, mas não confia em ninguém. Acho que são 30 anos de poder e eles estão acabando. Temos diversos na oposição, mas temos que fazer um grande chamamento contra esse modelo de governar e assim deixarmos a vaidade e individualidade de lado, escolhendo quem vai assumir esse papel.
Folha – Comparando a bancada de oposição da qual você fez parte, no primeiro governo Rosinha, com a atual, onde ela melhorou ou regrediu? Individual e coletivamente, como analisa Nildo Cardoso (PMDB), Marcão, Rafael Diniz (PPS), Fred Machado (SD) e José Carlos (PSDC)? Vê em algum deles seu estilo combativo, sem nunca se dobrar ou temer as consequências?
Bacellar – Cada um tem a sua particularidade, sua maneira de ser e isso eu sempre respeito, porque é o jeito de cada um. Respeito a todos, e tenho simpatia e amizade por Nildo, Fred, Rafael, Marcão. Mas de fato sou porra louca mesmo. Se estou lá o “Guru” (Edson Batista), não me tira a palavra hora nenhuma e nem Chucky vai para plenária falar abobrinha e fazer espetáculo. Até porque eles sabem bem que comigo o poste não mija em cachorro.
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA – Desde que o mundo é mundo, especular sobre como seria seu fim (e o destino de depois) tem sido passatempo humano. Viva ou morta, toda religião fez suas próprias apostas no fim da humanidade, tanto quanto tentou explicar como esta um dia entrou no jogo da vida.
No cinema, retratar o mundo após seu “fim” não é exercício recente, num gênero derivado entre a ficção científica, a ação e o drama, que se convencionou chamar “pós-apocalíptico”. Na verdade, ele já dera o ar da graça desde 1936, quando foi lançado “Daqui a cem anos”, de William Cameron Menzies, com roteiro do famoso escritor futurista H. G. Wells.
Todavia, o gênero só seria fundamentado no cinema 32 anos depois, com “O planeta dos macacos” (1968), de Franklin B. Shaffner. Muito embora seu caráter pós-apocalíptico só se revele em sua marcante cena final, o sucesso de público e crítica do filme foi tanto que gerou seis continuações (1970, 71, 72, 74, 2011 e 14) e um remake (2001) no cinema, além das séries de TV e animação na década de 70 do século passado. Isso sem contar sua paródia em comédia que marcou a TV brasileira por quase uma década (1976/82), no programa semanal “Planeta dos homens”, que reuniu nomes como Jô Soares, Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Berta Loran, Stênio Garcia e Costinha.
No rastro desse sucesso global, o gênero pós-apocalíptico seria redefinido na Austrália, com a inclusão de elementos de western e road movie (filme de estrada) à mistura, na gênese de outra franquia bastante exitosa: “Mad Max”. O primeiro deles, de 1979, catapultou não só a carreira do roteirista e diretor George Miller, como lançou ao mundo um novo astro: Mel Gibson. Na pele do ex-patrulheiro rodoviário Max, ele tenta manter a ordem num mundo que desmorona e leva junto sua família.
Se no filme inicial, o protagonista busca (e encontra) vingança, nas sequências “Mad Max 2: A caçada continua” (1981) e “Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão” (85), já com a civilização tão destruída quanto sua própria vida, ele deseja apenas sobreviver. É nesta condição que o personagem (res)surge na retomada da série, em “Mad Max: Estrada da fúria”, ora em cartaz nos cinemas de Campos, no qual Gibson, já aos 59 anos, é substituído pelo ator britânico Tom Hardy.
Sozinho, ele é capturado logo ao início do filme pelos War Boy, seguidores fanáticos de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), a quem sonham servir até morrer em batalha para atingir o Valhala, paraíso viking. Controlando a água da sua população miserável, ele governa com mão de ferro a Cidadela, à qual Max é levado prisioneiro e onde gente é gado.
No comando de um comboio de guerra para conseguir munição e combustível, a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) leva escondidas as cinco “noivas” do líder tirânico e messiânico, que as guarda trancadas dentro de um cofre: Toast (Zöe Kravitz), Splendid Angharad (Rosie Huntington-Whiteley), Capable (Riley Keough), The Dag (Abbey Lee) e Fragile (Courtney Eaton), cuja única função é conceber herdeiros machos perfeitos ao patriarca.
Encolerizado pela traição, Immortan Joe comanda seus guerreiros para recuperar suas “propriedades”. Levado como bolsa de sangue viva por Nux (Nicholas Hoult), um War Boy obcecado em atingir o Valhala, Max consegue se libertar. Após se confrontar inicialmente com as mulheres em fuga, ele acaba se unindo a elas, assim como Nux, em busca de uma liberdade improvável, mas comum.
No plano de Furiosa, ela e as “noivas” só estarão divorciadas da opressão com seu próprio retorno ao clã estritamente feminino das Vuvalinis, da qual ela foi roubada ainda criança, antes de perder o braço. Quando seu oásis idílico se revela inexistente em meio à imensidão desértica, Max aponta o (único) caminho de volta às reservas de água da Cidadela, enfrentando tudo que os perseguiu até ali.
Se o quase sessentão Gibson teve que passar o bastão nesse novo “Mad Max”, o mesmo não se deu atrás das câmeras, onde George Miller provou aos 70 anos ter amadurecido como vinho. Assim como as envelhecidas Vuvalinis, que encaram o violento caminho de retorno contra as hordas de Immortan Joe, ele surpreendeu pela vitalidade. Se já tinha inovado no final dos anos 1970, ao imprimir o caráter de road movie ao gênero pós-apocalíptico, mesmo para os espectadores de 36 anos depois, já acostumados com os efeitos especiais hoje quase ilimitados da computação gráfica, impressiona o ritmo alucinante que o veterano cineasta conseguiu ditar à sua obra.
Na velocidade dos carros e ações humanas, no barroquismo de máquinas e indumentárias, o conceito estético é de uma ópera.
Mas se é o road movie que dá a forma, é o western, outro ingrediente acrescido por Miller desde o primeiro “Mad Max”, que dá o enredo à distopia pós-apocalíptica. Fundamentado desde “Os brutos também amam” (1953), de George Stevens, a figura do herói solitário, de poucas palavras, que no início do filme surge de onde ninguém sabe, define uma parada difícil em favor de uma causa justa, e parte no final para onde ninguém desconfia, é acrescido de uma revolucionária novidade: ele agora está não mais à vanguarda, mas lado a lado com mulheres, chegando a dar seu ombro como apoio passivo para uma delas acertar o tiro que errou mais de uma vez, no embate direto contra o patriarcado.
Mais do que nivelar TPM e testosterona, a grande virtude do filme é fazer isso sem forçar nenhuma barra. As feministas gostaram. Quem prefere cinema aos gêneros, também.
TROCANDO OS PÉS — O lendário programa da NBC Saturday Night Live é uma enorme fábrica de comediantes. A lista realmente impressiona. Desde sua criação, em 1975, saíram dele direto para Hollywood figuras como Chevy Chase, John Belushi, Steve Martin, Bill Murray, Will Ferrell, Mike Myers, Eddie Murphy e muitíssimos outros. Muitos deles conseguiram consolidar seus trabalhos no cinema criando um estilo próprio de fazer humor, desenvolvendo em cada filme um universo pessoal.
Uma dessas figuras é Adam Sandler, que a partir da sua saída do programa, em 1995, realizou mais de 40 filmes. Embora nunca tenha dirigido nenhum de seus trabalhos, não é difícil perceber que ele é o verdadeiro autor de suas comédias. Nelas, o personagem principal é sempre um sujeito imaturo e afável, porém propenso à irritabilidade quando contrariado. Ao seu redor, uma série de atores-amigos e atrizes muito bonitas fazem parte do elenco habitual. As situações, não raro, costumam cair no terreno da grosseria e da escatologia.
Esta fórmula resultou em grandes comédias como “O paizão” e “A herança de Mr. Deeds”. Em paralelo, o diretor Paul Thomas Anderson conseguiu aproveitar o arquétipo de Sandler e focá-lo desde um outro ponto de vista, mais obscuro e sentimental, na bela comédia dramática “Embriagado de amor”.
Em Trocando os Pés, porém, a tentativa de se afastar do tom pueril não deu muito certo. Sandler interpreta um sapateiro judeu, Max Simkin, que mantém a loja familiar, no Lower East Side de Nova Iorque, quase que por obrigação filial. Sua vida não é muito empolgante; divide seu tempo entre a reparação de calçados e o cuidado de sua mãe, uma idosa senil. Certo dia, ao utilizar uma velha máquina de costurar solas que se encontrava esquecida no porão da loja, descobre a possibilidade de se transformar em qualquer um de seus clientes, ao calçar os seus sapatos.
O uso do fantástico já rendeu alguns sucessos ao próprio Sandler, como por exemplo em “Click”, onde um controle remoto dava a ele a capacidade de manejar a sua vida como a estivesse reproduzindo num DVD. Ou em “Como se fosse a primeira vez”, tentando reconquistar a cada dia a desmemoriada Drew Barrymore.
“Trocando…” pinta muito bem nos seus 20 primeiros minutos, com a descrição dos personagens e o ambiente onde estão inseridos (um bairro de classe média baixa que resiste aos embates de incorporadoras imobiliárias), e nos passa a sensação que vamos assistir uma história com certa sensibilidade melancólica. Entretanto, a partir do instante em que Sandler adquire o ‘poder’ de ser qualquer outro (desde que esses outros tenham deixado seus sapatos na loja) o roteiro adquire as características de uma trama policial com doses de comédia, que não é nem tão policial, nem tão cômica assim. Há também uma subtrama envolvendo o pai de Max, interpretado por Dustin Hoffman, que resulta completamente inverossímil e ridícula até para os padrões da filmografia de Sandler.
O filme praticamente não foi lançado nos Estados Unidos, com exceção de umas poucas salas, sendo comercializado diretamente em Blu-Ray e nos sistemas de streaming. O fato dos distribuidores brasileiros decidirem exibi-lo nos cinemas revela que existe a expectativa de que Sandler continue resultando atraente para o público local. O problema é que Sandler já não está tão simpático assim.
O VENDEDOR DE PASSADOS — O que você faria se pudesse mudar o passado? Montar, remontar, desmontar. Unir imagens e histórias das quais você não fez parte e que, repentinamente, tornam-se suas legítimas memórias. Viver coisas ansiadas. Ter a oportunidade de modificar os caminhos, contá-los e senti-los como seus sem nunca tê-los vivenciado. O que você faria se pudesse não ser você? Esses questionamentos permeiam o longa-metragem brasileiro “O vendedor de passados”, dirigido por Lula Buarque de Hollanda (“Pierre Fatumbi Verger: o mensageiro entre dois mundos”, de 1998, e “O mistério do samba”, 2008) e baseado no livro homônimo de José Eduardo Agualusa, que estreou na última semana nos cinemas de Campos.
O filme, que traz Lázaro Ramos e Aline Moraes nos papéis principais — com boas atuações e trocas em cena —, é um momento de encontro do espectador com vontades e desejos de reformular fatos do passado. No longa-metragem, a falsa vida dos personagens se resume a dados inventados por meio de fotografias, vídeos, de acordo com a vontade de cada indivíduo. As memórias se tornam reais à medida que são contadas. Vicente é um homem que trabalha como vendedor de passados. Sua função é modificar histórias de seus clientes para auxiliá-los a alcançar o que desejam no presente. A partir de fatos idealizados e narrados pelas pessoas que atende, ele monta vidas pregressas, enquanto, paradoxalmente, tenta descobrir a história real de sua vida.
Entre seus principais clientes, estão Ernani (Anderson Müller) e Clara (Aline Moraes). O homem, que foi obeso durante grande parte de sua vida, busca juntar fatos e fotos de um passado que não lhe pertencia, até tê-lo comprado de Vicente. Com dificuldades de relacionamento, ele tenta criar, junto ao vendedor, uma imagem de seu estereótipo de mulher perfeita para ilustrá-la como ex-mulher. Em uma sutil referência ao conceito do Complexo de Édipo, criado por Sigmund Freud e originado a partir mitologia grega, Ernani, ao decidir a figura ideal para o que deveria ser a inventada ex-esposa, opta por uma mulher criada à imagem e semelhança de sua mãe – batizando-a, também, com o mesmo nome: Maria Elvira.
A outra cliente, denominada por Vicente de Clara Ortega, se recusa a revelar dados de sua vida e a dar diretrizes sobre o que almejava para seu falso passado. A mulher faz apenas um pedido: deseja ser uma assassina. O vendedor, então, cria a história da personagem a partir de seu ponto de vista, mas é surpreendido pela forma como ela a usa. Interpretada por Aline Moraes, Clara reafirma no público uma das sensações de incerteza que faz parte do cotidiano: o fato de não ser possível conhecer verdadeiramente o outro.
Em uma espécie de “Efeito Borboleta” (2004) às avessas — produção estadunidense dirigida por Eric Bress e J. Mackye Gruber que narra a vida de Evan, um jovem que herdou do pai a maldição/capacidade de retornar ao passado por meio de seus diários e, ao agir de diferentes maneiras, mudar totalmente o seu presente e o das pessoas que vivem ao seu redor —, “O vendedor de passados”, em certos momentos, remete, também, o espectador a outro longa-metragem brasileiro: “Solidões”, escrito e dirigido por Oswaldo Montenegro. Nas cenas de Vanessa Giácomo, que vive o papel de uma mulher que finge esquecer o passado para cortar vínculos com o presente. As diferentes formas de abordagem da memória — uma pelo falso esquecimento e outra por uma história montada de acordo com falsos recortes – ilustram o que, muitas vezes, todos os seres humanos buscam em sua vida: limpar, do passado, o que não convém ao presente e ao futuro.
Com fotografia e enquadramentos nada inovadores — e que, por vezes, tornam comum uma cena que poderia ser enfatizada por meio de planos mais adequados, como primeiríssimo plano ou plano detalhe, causando maior emoção e envolvimento do público —, “O vendedor de passados” é mais um filme brasileiro que reforça em quem o assiste a ideia de que o cinema do país não se resume a roteiros cômicos e, por vezes, exagerados, mas traz, também, histórias necessariamente incômodas e instigantes.