— E a assessora da Anielle Franco, irmã da Marielle Franco e ministra da Igualdade Racial de Lula? — indagou Diego, após tomar o primeiro gole de cerveja artesanal no dia de abertura do 1º Concurso de Cerveja Caseira da Villa, em pé e diante do amigo que encontrara ao acaso nos jardins de Finazinha Queiroz.
— Foi tão idiota, na sua agressão gratuita e provavelmente ébria à torcida do São Paulo na decisão da Copa do Brasil no Morumbi de domingo, quanto a patriotária Ana Priscila de Azevedo, que depôs na quinta à CPMI do 8 de janeiro. Após ser uma das líderes das invasões às sedes dos três Poderes em Brasília, a maluca disse que acreditava que Bolsonaro era um “infiltrado de esquerda”. Porque elogiou no passado a Hugo Chávez na Venezuela — comparou Aníbal, antes de também experimentar do seu copo de fermentado caseiro de cevada, com tons de maracujá para acalmar.
— Você acha que a tal da Marcelle Decothé, agora ex-assessora da Anielle, estava doidona?
— Acho que quem inventar um bafômetro que bloqueie smartphone, lap top e acesso às redes sociais após umas cervejas a mais, o que é normal para aliviar a tensão de um jogo de decisão, vai ficar milionário. Nem sei como o Steve Jobs, que era um grande babaca como ser humano, mas um gênio em criar e atender demandas humanas, não pensou nisso antes de morrer.
— Minha avó já dizia: quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza.
— Como a avó de Raul Seixas dizia para ele sair sem se molhar. E o neto respondia: “mas a chuva é minha amiga e eu não vou me resfriar”. No seco, o fato é que foi assim no primeiro governo do PT, com Lula, a partir de 2003.
— Que estava esperando na fila há 14 anos, desde o segundo turno presidencial de 1989, vencido por Fernando Collor de Mello.
— Exato. Como voltaria a ser assim a partir de 2019. Com todo tipo de medíocre ressentido, incluindo o Collor e seus mesmos eleitores 30 anos mais velhos e de cara mais repuxada, que se sentiu representado com Bolsonaro no poder.
— E o avião da FAB para ir ver a final do Flamengo? A festa do PT já recomeçou?
— É cedo para dizer. E não gosto desse tipo de bipolaridade nivelada por baixo. Mas, ao que se saiba, pelo menos ninguém transportou 37 kg de cocaína nesse avião da FAB. Nem as milionárias joias sauditas de propina pela venda aos árabes, por R$ 2 bilhões abaixo do preço de mercado, da refinaria de petróleo baiana Landulpho Alves.
— Você está querendo mudar de assunto, Aníbal. O fato é que, como a Anielle e a tal da Marcelle, você é Flamengo, né?!
— Como você, Diego, pertence à segunda maior torcida de futebol do estado do Rio: a antiflamenguista. Que tem suas subdivisões no Vasco, no Fluminense e até no seu Botafogo.
— Mais respeito! Você está falando com o virtual campeão brasileiro de 2023.
— Até aqui, tudo indica que sim. E é mais que merecido ao clube que deu ao futebol Mané Garrincha, Heleno de Freitas e Nilton Santos.
— Você esqueceu logo do campista Didi?
— Esqueci, nada. Só que, após o Americano, o clube carioca que revelou Didi foi o Madureira. E ele ganhou fama pelo Fluminense, no qual jogava quando disputou pelo Brasil a Copa do Mundo de 1954, antes de também brilhar no Botafogo.
— O que importa é que agora é o Botafogo. Não o Flamengo. Ou Flamengue, na linguagem neutra com que a ex-assessora da irmã de Marielle usou para ofender a torcida do São Paulo: “Descendente de europeu safade. Pior de tudo pauliste”.
— Fruto da mesma arrogância associada ao flamenguista, a tal linguagem neutra tem futuro tão “neutre” quanto o presente do esperanto. Quanto ao Botafogo, após 28 anos na fila, já estava na hora. Em você, reconheço que se manteve fiel esse tempo todo, na primeira ou na segunda divisão do Brasileirão. Porque, com a boa fase atual, começou a sair botafoguense até do ralo. Parece aquele filme dos anos 1980, “Os Gremlins”: não pode jogar água que brotam outros das costas. Aí fica esse cheiro de naftalina danado nas ruas, das camisas da Estrela Solitária escondidas há tanto tempo no fundo da gaveta.
— É a mesma gaveta em que vocês vão esconder as faixas de todos os vice-campeonatos que acumularam este ano?
— Chico Buarque já disse gostar mais de futebol que do Fluminense. O que eu superlativizo: gosto muito mais de futebol do que do Flamengo. A verdade é que o São Paulo mereceu vencer. Pelo jogo de ida no Maracanã e pelo tapa de luva que o Dorival Júnior deu na cara da diretoria do Flamengo. Que o demitiu no final do ano passado sem até hoje dizer por quê.
— Isso é verdade. Após a final da Copa do Brasil deste ano, o próprio Zico lembrou que mandaram Dorival embora após ele conquistar a Copa do Brasil e a Libertadores pelo Flamengo em 2022. Para contratarem quem? O português Vítor Pereira. Que, treinando o Corinthians, tinha perdido para o Flamengo de Dorival nas duas competições.
— Verdade, Diego. Não há monopólio de gênero, ideologia política ou cores de clube de futebol para ser imbecil.
— Sei. E, agora, sai Sampaoli e entra Tite? O que você acha?
— Sobre Tite? Jesus! — ironizou Aníbal, seguido dos risos comuns, umedecidos de cerveja artesanal nos jardins da Villa.
Um apanhado dos principais fatos da semana, do Brasil a Campos, com o âncora Cláudio Nogueira e os jornalistas Aluysio Abreu Barbosa e Rodrigo Gonçalves. É o que fecha a semana do Folha no Ar nesta sexta (29), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3.
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Professora e reitora eleita da Uenf, Rosana Rodrigues é a convidada do Folha no Ar nesta quinta (28), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ela falará dos questionamentos da oposição, feitos pelo professor e ex-candidato Carlão Rezende, e do que a Uenf pode e deve esperar (confira aqui) da primeira mulher reitora da principal universidade de Campos e região.
Rosana também falará sobre expansão, inclusão com segurança e transporte, e da relação com os servidores e os Poderes em Campos e no RJ. Por fim, projetará sua atuação em relação ao atraso na reforma do Solar dos Jesuítas que abriga o Arquivo Público Municipal, com R$ 20 milhões liberados pela Alerj (confira aqui) desde outubro de 2021, nas atividades na Villa Maria e no desenvolvimento de pesquisas como formas de integração com a cidade.
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Sérgio Arruda de Moura, professor de Letras da Uenf e escritor
POR UMA POÉTICA DO ESSENCIAL (OU DA SECURA)
Por Sérgio Arruda de Moura
Não é de hoje que a literatura (poesia e ficção) se alimenta de suas próprias arquiteturas, isto é, de seus espaços no mundo, construídos pela arte com a palavra. Pois, se o lugar no mundo da literatura é o espaço que ela própria criou — ainda que procuremos desesperadamente aquilo de que ela fala — a primeira armadilha já está feita e falta só um passo para caírem dentro dela o poeta e o leitor, dentre eles, o leitor-crítico. Falo isso em função das dificuldades de leitura que um poema apresenta, e das saídas fáceis para escrevê-los “legíveis” e, pior ainda, floreados. Mas é bom viver iludido, levantando castelos e taperas no ar, colocando gente dentro deles, fazendo-os falar, se estarrecer, refletir sobre a tarefa de viver, encarar o outro e a si, enfim, buscar na palavra algum recanto de onde possa lançar a inumerável pergunta: que é a poesia e o que o poeta faz para fazer poesia? Não vale escrever dissertando, defendendo teses e quebrando as frases no meio da linha para criar a ilusão de que está fazendo um poema…
O poema — eu sei, é desconfortável — tem que trazer algum hermetismo. Tem que fisgar desde o título: Pois bem, lá vai: o que são oito secos, por exemplo?
O que se sucede é um desfile de personagens — da voz, dos músicos instrumentistas, da própria poesia, do romance, do cinema e até do futebol. Mas principalmente da própria poesia — de ontem e de hoje.
A poesia se faz a partir do seu próprio interior. O poeta não vive sem se enfurnar dentro dos versos alheios e das vivências de poetas, de onde vai buscar a seiva de seus próprios versos.
Se encararmos a tradição milenar da literatura — a arte de narrar, cantar em versos —, vamos perceber que ela é a única atividade humana a se manter tal como sempre foi: encantamento, mergulho em si, beleza gratuita, cavada de dentro, sem utilidade finalista, elevação, beleza… Tiro tudo isso da belíssima evocação que o poeta mexicano Octávio Paz (1914-1998) faz da poesia, em O arco e a lira. Sim, parece que só um poeta tem a chave da definição exata do que seja a poesia — e que nem é tão exata assim. Pois vejam só:
“A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono […]. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente”.
Essas linhas iniciais me recordam do grave exercício da crítica ou do ensaio num terreno tão incerto e, a uma só vez, sombrio e revelador — que é a poesia. Se a linguagem revela e esconde no mais comum dos pronunciamentos humanos, o que esperar dela quando seu exercício é no interior de uma proposição poética? Trago o arco e a lira comigo desde sempre, a me lembrar do alto elogio que a linguagem faz de si mesma quando envereda pela poesia. E se tornou uma bíblia onde tudo está dito e onde checo a pertinência da poesia que me assalta.
Como disse desde lá em cima, o exercício da literatura é interno à palavra. Não procuremos seus sentidos lá fora, sem antes ver a arquitetura cá dentro. Eventualmente ela é manifesto, mas aí ela é bandeira para os exercícios de novas safras e novas visadas.
N’os oito secos, poema de Aluysio Abreu, o painel talvez seja o de uma vida inteira do poeta, um recorte da memória de quem com a voz, com os instrumentos, com a destreza com a bola, com os versos secos e descarnados, com a frase exaurida até o extremo de floreios linguísticos inspirou a poesia no poema. Sim, tem o poema e tem a poesia, e nem sempre os dois estão juntos.
Neste painel em marca d’água ao lado ao qual se sobrepõe o poema os oito secos figuram os oito secos, oito figuras ilustres da poesia, do romance, da música, do canto, da interpretação. Mas o poema traz mais. Lembro do extremo exercício de aridez essencial e necessária que há em Graciliano e Hemingway e os recomendo aos meus alunos iniciantes na escrita — tão propensos aos excessos despontuados típicos.
Desses oito secos, eu fico com todos. Procurei a secura de De Niro e — sim — não tem ninguém mais low profile quando encarna um papel no cinema. Do Cabral neoparnasiano — não, não é ofensiva a alcunha — nem se fala: da secura de subjetividades de sua poesia salte talvez o que de mais seco haja na poesia brasileira, com o sacrifício público do eu-poético em favor do exercício da palavra.
Pois bem. Com esse painel, o poeta Aluysio Abreu bem que podia lançar o Manifesto em favor da secura na poesia, bastante útil para iniciar os poeta novos ou reiniciar os velhos acometidos de comichões adolescentes e revolucionárias incabíveis em versos intensamente molhados.
Os oito secos enfim é um poema com poesia e metapoética, pois disseca a poesia que há em cada canto do mundo, mesmo quando o instrumento não é a palavra. Billie Holiday, por exemplo, é a dona da navalha afiada na produção da dicção da sílaba e do afiamento da lâmina cortando fora o que não é essencial à nota. Tão cabralino o rastreio que o poeta Aluysio Abreu faz! De quebra, a vida triste da cantora, breve, quase como convém ao artista…
O painel de ensinamentos sobre a secura prossegue com Chet Baker ladeado por João Gilberto: lacônicos, secos, essenciais, sem pirotecnias. Tem Eric Clapton, descendo o tom, trocando instrumentos, passeando em poéticas, cortando o excesso. O mais problemático pra mim, segue com Zidane: como tirar poesia de um jogador de futebol? Já fizeram isso com inúmeros garrinchas e pelés, mas com esse francês, é a primeira vez, eu que o conhecia só da testada que deu em outro e daí foi expulso do gramado de onde tirava versos, certamente com seu bailado com a bola. Difícil pra mim, mas aceitei no poema, tal a confiança que já tenho no poeta Aluysio Abreu.
O cortejo se recupera na secura de Graciliano que nas suas vidas secas só poupou da secura a cachorrinha Baleia, que me botou um dia a chorar…
Por fim, tem Cabral de Melo Neto, o João, que todos sabem ser o seu deus no manejo da secura: “degolou a confissão/ na poética sem sombra ao meio-dia”.
Os oito secos é um poema de maturidade, escondendo o que podia ser óbvio, no mistério do verso contido, seco, explodindo em uma poética… Magistral sacação do conceito poético com uso do que há de mais (i)maculado na palavra, sem afetação do senso comum e do floreio, de truques para captar os bons sentimentos cansados. É o contido. É o seco e cerebral. O leitor, se assim o quiser, que o umedeça nas suas lágrimas, ou nas águas do Capibaribe ou de Atafona.
Os oito secos: Billie Holiday, Chet Baker, Eric Clapton e João Cabral de Melo Neto; Zinédine Zidane, Graciliano Ramos, Robert De Niro e Ernest Hemingway (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
POEMA DE ALUYSIO ABREU BARBOSA(*):
os oito secos
(1)
billie holiday tinha a dicção
das sílabas em postas
com sangue de escansão
gume da navalha a cada nota
com ella fitzgerald ao cutelo
o “meu homem foi embora”
saiu pra comprar cigarro
billie só cantava o que não volta
pelo pescoço pendurado à árvore
fruto estranho o corpo preto
vida e arte, poro, pele
de gardênia branca no cabelo
de prostituta a sofisticada dama
entre meninos e meninas
alforriou depois do antes
para morrer algemada a uma cama
(2)
chet baker também era do jazz
anglo-saxão, da costa oeste
norte a joão gilberto
lacônico na voz e no trompete
na vilania da heroína mastigado
após surra de traficante
reagiu novo caminho
reaprendeu a tocar sem os dentes
improviso em saliva à ponta da língua
avesso a partituras
pedia só o tom
chegava aonde não desce a pirotecnia
atafona, diálogo a dois do lamento:
“stay little valentine, stay!”
— você nunca pediria isso!
— só o mar e chet sabem que tentei!
(3)
eric clapton, elevado deus da guitarra
do rock, por ser do blues
alcunha na mão lenta
foi a jimi hendrix o que odisseu foi a aquiles
largou o yarbirds, rebatizado led zeppelin
mergulhou na música negra
robert jonhson em ínterim
ao creme da maior banda da terra
inglês branco, custou se assumir bluseiro
trocou guitarra por viola
sentou três cães ao berço
cagado pelo homem negacionista
frases melódicas em notas longas
voz no timbre de ray charles
é como um português
se divino no samba da mangueira
(4)
cabral de melo neto, o joão
afiou faca só lâmina
degolou a confissão
na poética sem sombra ao meio-dia
derramamento ao espelho de medusa
do recife à sevilha
música só das siguiriyas
em estudos a uma bailadora andaluza
é cante que não canta ou se enfeita
pedra do sono desperta
para estranhar a alma
dos homens ossudos, do cão sem plumas
capibaribe ao paraíba do sul
canavial de vidas
severinas sob céu azul
dois rios a caminho do mesmo mar
(5)
zinédine zidane, o futuro atleta
que joão cabral boleiro
passou pra ser poeta
e o francês tirar da grama versos
pé negro africano, filho de argelinos
pensava só na vertical
arquiteto ambidestro
duas pernas longas à bacia do cérebro
nunca tinha feito gol de cabeça?
meteu dois no brasil
na final do mundial
noutra, mesmo ao se perder, usou a testa
lento, infiltrava seu tempo ao jogo
no lençol nos ronaldos
fez do barroco concreto
colocar dobradiça na espinha do outro
(6)
graciliano ramos não era da relva
detestava futebol
pregou outro uso de pernas
a rasteira como esporte nacional
da caatinga, em oposição ao verde
oposta também sua prosa
à suculência dos sertões
na cunha de euclides, veredas em rosa
vidas secas emergiram antes
na baleia sem plumas
dois meninos sem nome
de fabiano e sinhá vitória
em rasteira dada por recebida
um papagaio mudo
comido por gente muda
e devorada crua atrás do sonho
(7)
robert deniro, de corpo inteiro
argila de escultura
contraído só no rosto
todo sujeito que passa pela rua
alter ego a martin scorsese
mifune de kurosawa
fúria taxista sem bandeira
à do touro indomável do boxe
às mãos de palma erigiu al capone
rachou crânio com taco
com coppola e corleone
oscar da paridade a marlon brando
missão de mercenário a jesuíta
à espada do curumim
olha a arma, ao menino fita
em silêncio, grita humanidade ali
(8)
ernest hemingway fez-se personagem
no limite, pela essência
porre, pesca, caça, guerra
prosa do jornalismo no romance
quando seu protagonista foi o outro
velho chamado santiago
os tubarões do mar de cuba
comeram aos ossos a literatura
loucos anos de paris como uma festa
ao câmbio de erza pound
pugilato por poesia
viu quem tinha maior com fitzgerald
resgatou john donne ao modernismo
nos sinos que dobram por ti
trocou tiro com o fascismo
personagem, deu ponto final a si
campos, 09/04/22
(*)Jornalista, poeta e membro da Academia Campista de Letras (ACL)
Filippe Poubel, Wladimir Garotinho, Carla Machado, Rodrigo Amorim, Marquinho Bacellar, Jefferson Azevedo, Thiago Rangel, Caio Vianna, Natália Soares, Bruninho Vianna e Wainer Teixeira (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Tubo de ensaio
Ontem, o general da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro (PL), Augusto Heleno, deu depoimento tenso na CPMI do 8 de janeiro. Foi um pouco depois do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes votar pela condenação à prisão de mais cinco réus bolsonaristas pelo 8 de janeiro. Ainda assim, o bolsonarismo parece buscar relevância na disputa a prefeito de Campos, em 6 de outubro de 2024. Também ontem, a jornalista Berenice Seara lançou (confira aqui), no jornal Extra, o deputado estadual bolsonarista Filippe Poubel (PL) pré-candidato a prefeito da “capital do Norte Fluminense”.
A jogada ensaiada
O Extra afirmou que “o prefeito Wladimir Garotinho (PP) desponta como favorito”. E listou a deputada estadual Carla Machado entre os nomes do PT à Prefeitura de Campos, mesmo que o entendimento do STF a impeça por já ter se reelegido prefeita da vizinha SJB em 2020. Na mesma toada incerta, Berenice também disse que Poubel já é “o pré-candidato a prefeito em Maricá”. Ainda assim, anunciou a visita dele a Campos em 20 de outubro, com os colegas bolsonaristas de Alerj, Alan Lopes (PL) e Rodrigo Amorim (PTB). “Para audiência pública (e, quem sabe, uma operaçãozinha de fiscalização?) da Comissão Contra a Desordem Urbana”.
Bolsonarismo, CVC e Wladimir
“A Câmara dos Vereadores, presidida por Marquinho Bacellar (SD), integrante da família historicamente inimiga dos Garotinho, já estendeu o tapete vermelho (ui!) para o trio”, fechou o Extra a sua nota. Que ignorou, além do impedimento de Carla, que o bolsonarismo já tem dois prefeitáveis em Campos. O primeiro é o militante bolsonarista CVC Direita Campos, que já figura nas (confira aqui) pesquisas a prefeito. E chegou a ser preso por suspeita de envolvimento nos atentados de 8 de janeiro, quando era assessor de… Filippe Poubel. O segundo é o próprio Wladimir, que declarou voto a Bolsonaro (confira aqui e aqui) no segundo turno presidencial de 2022.
Marquinho com Jefferson
Citado na mídia carioca pelo suposto “tapete vermelho” que estenderia aos deputados estaduais bolsonaristas, Marquinho ontem apareceu mais próximo da bandeira vermelha do PT. Quando postou em suas redes sociais uma foto com o reitor do IFF, professor Jefferson Azevedo, também citado pelo Extra como possível candidato do PT a prefeito de Campos — o que esta coluna adiantou (confira aqui) desde 3 de junho. O encontro teve seu caráter institucional resguardado pelas condições de presidente do Legislativo goitacá e de reitor da maior instituição de ensino da cidade e da região. Mas, logicamente, também tratou de política.
Com Thiago Rangel e Caio
Com seu nome aventado nas pesquisas a prefeito, como CVC e Jefferson, Marquinho tem se encontrado com outros. Além de Jefferson, o edil esteve no dia anterior (25) com o deputado federal Caio Vianna (PSD). Assim como com o deputado estadual Thiago Rangel (sem partido), na semana passada. Como o próprio Wladimir teve encontro e gravou um vídeo muito amistoso com Jefferson e outros integrantes do PT, em defesa da Petrobras, na última quinta (21), durante a 6ª Feira de Oportunidades do IFF. O mesmo Wladimir que, no dia seguinte (22), fez críticas em suas redes sociais ao aborto, tentando não se afastar do eleitor bolsonarista.
Mão dupla e placa quebrada
Tudo isso faz parte da política. Embora tenham caminhado com Bolsonaro em 2022, os Bacellar nunca esconderam a admiração pelo presidente Lula (PT). Por ser egresso da política sindical, como o patriarca do clã, o ex-vereador Marcos Bacellar (SD). Reunir-se com o petista Jefferson não impede Marquinho de depois receber com “tapete vermelho” um deputado como Rodrigo Amorim. Que se notabilizou na campanha de 2018 por ter quebrado (confira aqui) a placa da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada a tiros naquele ano. Como a bandeira política trabalhista dos Garotinhos não os impediu de apoiarem Bolsonaro, com os Bacellar, em 2022.
Lição aos bolsonaristas e ao Psol
Uma eleição não garante outra. Supor que a maioria bolsonarista no 2º turno presidencial de Campos em 2022 (63,14%) vá se repetir na eleição a prefeito em 2024, é ignorar a de 2020. Quando, após Bolsonaro ter 64,87% dos campistas no 2º turno presidencial de 2018, os dois candidatos a prefeito bolsonaristas, Tadeu Tô Contigo (REP) e Jonathan Paes (PMB), tiveram juntos 2,68% dos votos. Foi pouco mais da metade dos 4,68% da estreante Professora Natália (Psol). Que, ainda assim, perdeu com a assistente social Danielle Pádua a eleição a presidente municipal do seu partido, no último sábado (23), vencida (confira aqui) pelo sindicalista Vanderson Gama.
Bruninho e Wainer
Ontem, em sessão quente da Câmara e mais um capítulo da tensa novela da pacificação entre Garotinhos e Bacellar, o jovem vereador Bruninho Vianna (PSD) se queixou de secretários municipais que dão entrevistas ao Folha no Ar, mas não atendem a requerimentos dos edis “independentes”. Após o próprio Bruno ter sido convidado e adiado sua ida ao programa, ontem foi a vez do secretário de Administração e RH, Wainer Teixeira. Ele expôs a reestruturação dos servidores e RPAs de Campos, e admitiu que pode concorrer a vereador. Bruninho tem futuro promissor. E pode, já em 2024, surpreender e concorrer a prefeito. A ver.
Advogada com especialização em Direito Internacional, Direitos Humanos e Patrimônio Cultural, além de assessora da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Costa Rica), Letícia Machado Haertel é a convidada do Folha no Ar desta quarta (27), ao vivo, a partir das 7h da manhã, no Folha no Ar. Ela analisará a invasão da Rússia à Ucrânia (confira aqui), denunciada (confira aqui) à Corte Internacional de Justiça (CIJ) e ao Tribunal Penal Internacional (TPI), aos olhos do Direito Intencional.
Letícia também falará sobre Direitos Humanos no mundo e no Brasil, em casos como o abandono aparentemente doloso da etnia Yanomami pelo governo Jair Bolsonaro (PL) e o elevado índice de crimes de gênero no país. Além da questão da repatriação de Patrimônio Cultural das antigas potências colonialistas aos seus países de origem.
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Secretário de Administração e Recursos Humanos de Campos, Wainer Teixeira é o convidado do Folha no Ar desta terça (26), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará sobre a reestruturação dos servidores municipais, concursos públicos e adequações ao Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) com o Tribunal de Contas do Estado (TCE), que visam vetar os recursos dos royalties do petróleo para gasto com pessoal.
Wainer também falará da relação entre Prefeitura e Câmara de Campos, e da pacificação entre Garotinhos e Bacellar em oposição aos secretários que, como ele, devem se candidatar a vereador em 2024. Por fim, o secretário tentará projetar a eleição a prefeito a partir das pesquisas (confira aqui as três feitas no município em 2023).
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Ex-presidente da Alerj e atual secretário de Assuntos Federativos do ministério das Relações Institucionais, André Ceciliano (PT) é o convidado para abrir a semana do Folha no Ar nesta segunda (25), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará sobre os governos Lula (PT) e Cláudio Castro (PL), além da Caravana Federativa (confira aqui e aqui) nestas quinta (28) e sexta (29). Na qual receberá prefeitos e secretários dos 92 municípios fluminenses para estreitar laços com ministérios e os bancos federais.
Por fim, Ceciliano analisará sua sucessão na presidência da Alerj pelo deputado estadual campista Rodrigo Bacellar (União), assim como o governo Wladimir Garotinho (PP) e a pacificação entre Garotinhos e Bacellar. Ele também tentará projetar as eleições de 2024 a prefeito do Rio e em Campos (confira aqui), como suas possíveis consequências (confira aqui) na eleição a governador de 2026.
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