Antes da Coreia do Sul, Brasil engasga com Camarões

 

Aboubakar corre após vencer o goleiro Ederson, a quem deslocou cabeceando em seu contrapé, e a marcação de Militão para escrever a primeira vitória de uma seleção africana sobe o Brasil na história das Copas (Foto: Fifa/Divulgação)

 

“Fica a lição”. Foi o que disse o veterano lateral-direito Daniel Alves, o mais velho jogador a atuar pela Seleção Brasileira em um Mundial de futebol, aos 39 anos, ao final do jogo de ontem no Lusail Stadium, vencido por 1 a 0 por Camarões, gol do atacante Aboubakar nos acréscimos. Concluída a fase de grupos da Copa do Mundo do Qatar, apesar da derrota, o Brasil ficou em primeiro lugar no Grupo G. Agora na fase de matar ou morrer, tem encontro marcado às 16h de Brasília desta segunda (5). Encara nas oitavas a Coreia do Sul, segunda colocada do Grupo H, após vencer ontem de virada por 2 a 1 a Portugal. Que, como o time de Tite, a França na quarta (30) e a Espanha na quinta (1), escalaram reservas no último jogo da fase de grupos. A lição? Todos perderam para seleções consideradas tecnicamente inferiores.

PAREDÃO AFRICANO — No primeiro tempo do jogo de ontem, o Brasil teve duas claras chances de gol, ambas com o atacante Gabriel Martinelli. Aos 13 minutos, ele recebeu o bom cruzamento da direita do volante Fred, que cabeceou com perigo perto da trave oposta e obrigou o goleiro Epassy a fazer grande defesa. Seria a primeira de outras. Aos 45, após uma bola alta rebatida de cabeça pela zaga africana, Martinelli pegou a sobra, driblou um marcador e passou por outros dois, em linha horizontal diante da área, até achar ângulo para o chute forte de perna direita. Que parou em outra defesa salvadora do goleiro de Camarões.

PRIMEIRA DEFESA DE GOLEIRO DO BRASIL NO QATAR — Dois minutos depois, aos 47 da primeira etapa, o atacante Choupo-Moting driblou Daniel Alves e cruzou da esquerda uma bola que passou pela defesa brasileira, para encontrar o atacante Mbeumo na trave oposta. Sem marcação, ele cabeceou para o chão, como manda o figurino. Após ela quicar e subir, só não entrou por conta da intervenção de grande reflexo de Ederson. Coube ao reserva de um Alisson pouco acionado nas vitórias sobre a Sérvia e a Suíça fazer contra Camarões a primeira defesa difícil de um goleiro do Brasil na Copa do Mundo do Qatar. Mas ele também teria que fazer outras.

CARTÃO DE VISITAS — No segundo tempo, logo aos 5 minutos, Aboubakar apresentaria seu cartão de visitas. Numa bola cruzada da esquerda do ataque e rebatida pela zaga brasileira, ele recebeu o passe na direita da área e chutou cruzado. Ederson pulou, mas não tocou na bola, que saiu pela linha de fundo rente à trave oposta.

SEM LATERAL ESQUERDO CONTRA A COREIA — Dois minutos depois, aos 7, a maior preocupação do Brasil para o jogo contra a Coréia do Sul: o lateral esquerdo Alex Telles saiu de campo chorando. Ele havia caído em lance anterior de mau jeito e sentiu uma contusão no joelho direito. Como havia substituído o titular Alex Sandro, que teve lesão no quadril no jogo contra a Suíça, se nenhum dos dois tiver condições físicas de retornar até segunda, o Brasil terá que adaptar alguém na posição. Contra Camarões, a solução foi colocar o zagueiro Marquinhos, zagueiro titular que seria poupado.

 

O lateral esquerdo Alex Telles, que tinha substituído o titular Alex Sandro após contusão no quadril contra a Suíça, sai de campo chorando contra Camarões, sentindo contusão no joelho direito (Foto: Julian Finney/Getty Images)

 

EPASSY É O NOME — Dentro do campo, o jogo continuou. Aos 10 minutos, após receber uma bola enfiada pela esquerda, em contra-ataque, Martinelli entrou pela área, fintou o marcador e bateu de perna direita, obrigando Epassy a outra grande defesa, espalmando por cima do travessão. Um minuto depois, aos 11, após cobrança de escanteio da direita, a bola foi rebatida e novamente cruzada à área por Everton Ribeiro, que havia entrado na segunda etapa. E encontrou o volante Bruno Guimarães, outro que tinha entrado fresco, para chutar dentro da área à defesa em dois tempos de Epassy.

ABOUBAKAR É O NOME — Após o Brasil pôr o goleiro de Camarões para trabalhar, foi a vez de Ederson. Aos 32 minutos, ele caiu para defender um chute do meia Ntcham, de fora da área. No primeiro minuto dos descontos, num contra-ataque africano, em bola cruzada da direita para a área, Aboubakar apareceu em penetração pela área para marcar de cabeça. Se já tinha cartão amarelo e tomou outro por tirar a camisa na comemoração, sendo expulso, ele impôs o único gol tomado pela Seleção Brasileira e sua primeira derrota neste Mundial, primeira também para uma seleção africana na história das Copas.

A REGRA DO QATAR — Até a última rodada da fase de grupos, apenas França, Portugal e Brasil tinham vencido seus dois primeiros jogos na Copa do Mundo. E, após colocarem reservas no lugar dos titulares, todos perderam o terceiro confronto e ganharam de brinde a lição. Assim como Tite, que colocou em campo 25 dos 26 jogadores que levou ao Qatar. Incluído o centroavante Pedro, tão pedido pela torcida do Flamengo, que ontem entrou e não alterou o placar.

PAIXÃO, RAZÃO E JUSTIÇA — Numa partida em que a Seleção Brasileira concluiu 21 vezes a gol, contra sete de Camarões, o torcedor mais apaixonado pode alegar que a primeira mereceu vencer. Tanto que o goleiro Epassy foi eleito ontem o melhor em campo. Antes das oitavas na segunda, quando o Brasil encara a Coreia do Sul do habilidoso atacante Son (Tottenham), o torcedor mais pragmático só faria a ressalva: o futebol, como a vida, não é um ato de justiça. E por isso gera tanta paixão.

SALTO ALTO NO DESERTO DAS ZEBRAS — Com a Alemanha e Bélgica já a caminho de casa em 2022, após terem eliminado o Brasil, respectivamente, em 2014 e 2018, o único país pentacampeão mundial de futebol segue entre os favoritos ao título. Assim como França, Inglaterra, Espanha e Argentina. Mas para uma seleção que não vence uma europeia em jogo eliminatório de Copa do Mundo há 20 anos, a lição do Qatar é didática: o salto alto tende a afundar no deserto das zebras.

 

Página 12 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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