“Não acredito em pesquisas. Eleição é na urna”. Desde a eleição presidencial de 1989, primeira pelo voto popular após a ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985, são as frases mais repetidas por 10 em cada 10 candidatos atrás nas pesquisas. Todos derrotados nas urnas. Como pela minoria dos seus eleitores. Recentemente, foi o que aconteceu com os bolsonaristas. Que, das suas bolhas, negaram todas as pesquisas da eleição presidencial de 2022 que projetavam a vitória de Lula. E agora testemunham, entre 2023 e 2024, o final do primeiro ano do governo Lula 3.
Wladimir e Caputi mais favoritos que Lula — Ainda com mais vantagem do que Lula tinha e confirmou em 2022, os prefeitos Wladimir Garotinho (PP) e Carla Caputi (sem partido) são os grandes favoritos em todas as pesquisas de 2023 às urnas de 2024. Respectivamente, em Campos e São João da Barra (SJB). À espera das próximas pesquisas e da consumação do pleito em 6 de outubro, daqui a pouco mais de 9 meses. Dá para gerar um novo ser humano. Mas, como é a política humana, vale também a sábia ressalva do falecido ex-vice-presidente conservador Marco Maciel: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”.
Wladimir no primeiro turno? — Nas três pesquisas divulgadas, após serem analisadas na íntegra pela Folha, Wladimir sai de 2023 em curva ascendente. Na consulta estimulada, com apresentação dos nomes dos possíveis candidatos, ele saiu de 50,4% de intenções de voto na GPP feita entre 10 e 12 de março, passou a 55,4% na Iguape realizada em 10 de julho e chegou a 66,8% na Prefab Future colhida entre 29 e 30 de agosto.
Reforço e ressalva — Como a Iguape de julho em Campos foi encomendada pelo grupo do presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (União), não há melhor teflon aos seus números e à possibilidade de Wladimir liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Como cabe questionamento à Prefab, por ter usado um universo de campistas diferente do IBGE, aumentando o percentual de eleitores de 0 a 2 salários mínimos e evangélicos, em tese, mais favoráveis aos Garotinhos.
Caputi mais favorita que Wladimir — Única pesquisa divulgada de São João da Barra, após ser também analisada na íntegra pela Folha, a Iguape foi realizada entre 21 e 23 de outubro. E deu a Caputi uma vantagem ainda maior que a de Wladimir em Campos. Nos três cenários da consulta estimulada, ela ficou entre 72,2% e 72,9% das intenções. Como, diferente de Campos, os sanjoanenses têm menos de 200 mil eleitores, não há segundo turno. Mas, mesmo se houvesse, tudo até aqui indica que a fatura também seria liquidada em turno único.
Intenção de voto consolidada — A consulta espontânea, sem apresentação dos nomes dos candidatos, onde o eleitor fala ao pesquisador o que já definiu em sua consciência, portanto com pouca chance de mudar, evidencia como as lideranças de Wladimir e Caputi são consistentes. O prefeito de Campos teve 38,6% de intenção de voto consolidada na GPP de março, 27,8% na Iguape de julho e 48,8% na Prefab Future de agosto.
Em SJB — Por sua vez, a prefeita de SJB bateu 44,6% de intenção de voto consolidada na consulta espontânea da Iguape de outubro.
Aprovação do governo — A grande vantagem de Wladimir e Caputi é proporcional à aprovação popular majoritária aos seus governos. O de Campos foi considerado na GPP de março como ótimo e bom por 55,5%, com 34,8% de regular e ruim e péssimo para apenas 8,8%. Na diferença de metodologias, foi aprovado na Iguape de julho por 74,7% (entre 12,6% de ótimo, 38,5% de bom e 23,6% de regular positivo) e reprovado por 22% (entre 9,7% de regular negativo, 6,2% de ruim e 6,1% de péssimo). Já na Prefab, 77% dos campistas responderam “sim” à pergunta “Você aprova o governo Wladimir Garotinho?”, com 12,8% de “não” e 9,3% que não souberam responder.
Em SJB — Como ocorre nas intenções de voto, a aprovação popular ao governo Caputi em SJB consegue ser ainda maior do que a de Wladimir em Campos. A gestão da prefeita foi aprovada na Iguape de outubro por 86% dos sanjoanenses (entre 27,6% de ótimo, 46,3% de bom e 12,1% de regular positivo), sendo reprovada por apenas 11,3% (entre 4,8% de regular negativo, 3,8% de ruim, 2,7% de péssimo), com outros 3% que não souberam responder.
Caio Vianna distante em Campos — Os possíveis concorrentes mais próximos de Wladimir e Caputi estão distantes. E, nas idas e vindas da política, podem revelar inversões entre os dois municípios. O deputado federal Caio Vianna (PSD) apareceu em 2º lugar em todas as três pesquisas de 2023 a prefeito de Campos. Na consulta estimulada, Caio teve 18,1% na GPP de março (32,3 pontos atrás de Wladimir), 8,6% na Iguape de julho (46,8 pontos atrás de Wladimir) e os mesmo 8,6% na Prefab de agosto (68,2 pontos atrás de Wladimir).
Elísio Rodrigues distante em SJB — Na Iguape de outubro em SJB, quem apareceu como 2º colocado em dois dos três cenários da consulta estimulada foi o vereador de oposição Elísio Rodrigues (PL). Ele teve 6,8% de intenções de voto (65,4 pontos atrás de Caputi) no cenário com o secretário estadual de Habitação Bruno Dauaire (União) na disputa. Que, após a pesquisa, declarou à Folha que não é pré-candidato a prefeito. Sem Bruno, antigo aliado de Wladimir, Elísio ficou com 7,6% (65,3 pontos atrás de Caputi).
Caio a prefeito de SJB? — Com Bruno fora, Caio passou a ser especulado como candidato a prefeito de São João da Barra. Não por coincidência, foi após sua aproximação recente com Wladimir, com quem disputou um segundo turno duríssimo a prefeito de Campos em 2020. Para sondar essa possibilidade de Caio em SJB em 2024, uma pesquisa qualitativa andou sendo feita reservadamente, em um quarto do tradicional Hotel Cassino, em Atafona.
Carla Machado a prefeita de Campos? — O movimento costurado por Wladimir com Caio, através do prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, presidente estadual do PSD do deputado federal cujo mandato controla, foi uma resposta à aproximação entre os deputados estaduais Rodrigo Bacellar e Carla Machado (PT). Esta mudou seu domicílio eleitoral de SJB a Campos em 5 de outubro para se lançar pré-candidata a prefeita dos Bacellar contra Wladimir. Domicílio eleitoral que Caio ainda não mudou no sentido inverso da BR 356.
Oposição a Machado, aliado de Caputi — No exercício de um quarto governo muito inferior aos três primeiros, Carla Machado renunciou em 4 de abril de 2022. Passou o cargo à vice, Caputi, se candidatou e se elegeu deputada estadual em outubro daquele ano. Ironicamente, um dos motivos à sua renúncia foi a aliança de Elísio com Rodrigo Bacellar. Quando o primeiro elegeu para sucedê-lo no comando do Legislativo sanjoanense o edil Alan de Grussaí (Cidadania). Feito presidente em oposição a Machado, ele hoje está fechado com Caputi.
TSE e STF contra “prefeito itinerante” — Caputi colocou o governo parado que herdou para andar. E exibe um estilo mais agregador que o da sua combativa antecessora, de quem se mantém aliada. Porém, no que se refere à disputa da Prefeitura de Campos ou de qualquer outro município do Brasil em 2024, Machado está inelegível. Por já ter sido reeleita prefeita de SJB no pleito municipal de 2020, não pode disputar um terceiro mandado consecutivo a esse cargo. É o que diz até aqui toda a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para banir a figura jurídica do “prefeito itinerante”.