Como jornalista, conheci Gilberto Gomes há alguns anos, quando ele ainda integrava o DCE da Uenf. Reconheci, desde o nosso primeiro contato, não só um jovem idealista de esquerda, de sólida base cristã formada no catolicismo progressista, mas alguém, talvez até precocemente, dotado de pragmatismo político. Seja na política universitária ou na partidária, na qual despontou como um dos quadros mais promissores do PT goitacá.
Na relação entre repórter e fonte, sempre estabelecida com base na confiança da conversa em off e na garantia constitucional do sigilo de fonte, nossa relação profissional derivou naturalmente à amizade pessoal. Se não mais próxima ou assídua, tampouco na concordância pessoal no pensamento político, mas naquela em que reciprocamente se reconhece o compromisso comum com a defesa dos interesses coletivos da cidade, da região e do país.
Foi por reconhecer essa atuação cidadã de Gilberto, para além do PT, como a sua facilidade geracional com as mídias sociais, que o convidei há alguns para hospedar seu Blog do Gilberto (confira aqui) no Folha1. No qual, mesmo sem formação jornalística, ele chegou a dar alguns furos de reportagem, que mereceram chamada entre as principais do site. Talento natural para a área que o faria, depois, secretário de comunicação do PT de Campos.
No plantão do último domingo (7), assim que soube das primeiras notícias de desavenças envolvendo a já tradicional “marcha dos excluídos” que o PT e outras legendas de esquerda promovem junto a sindicatos e movimentos sociais, nos desfiles cívicos do 7 de Setembro em Campos, passei a acompanhar o caso. Apurei por telefone informações com várias fontes, interagindo com a reportagem da Folha presente, primeiro no Cepop e, depois, na 134ª DP.
Pela equipe da Folha que cobria o plantão dominical da DP, fui informado que Gilberto seria autuado (confira aqui) em flagrante por suspeita de crime de injúria racial. Porque, após alguns desentendimentos envolvendo integrantes da “marcha dos excluídos” e agentes da Guarda Municipal, Gilberto teria questionado o fato de um militante do Brasil Império, presente ao evento e que já teria feito provocações aos militantes de esquerda, ser preto.
Alguém que conhece História do Brasil, como Gilberto, pode ter lembrado que o Império neste país foi montado sobre a força da mão de obra de escravos pretos, capturados em África e de lá trazidos acorrentados no “sonho dantesco” que o poeta Castro Alves narra em detalhes em seu “O Navio Negreiro”. Como alguém poderia também lembrar que a Princesa Isabel deu fim, tardiamente, à escravidão no Brasil em 1888. Pelo que alcançou à época grande popularidade entre os recém-libertos, após mais de três séculos sendo tratados como animais.
Como qualquer questão retórica, sobretudo na bipolaridade política do Brasil, há argumentos subjetivos aos dois lados. Objetivamente, no entanto, há duas questões. A primeira é jurídica. E é ressaltada pelo conceituado criminalista Alex Ribeiro Cabral, advogado de Gilberto: o crime de injúria racial não é culposo, demanda dolo, intenção. Que inexiste. E remete à segunda e principal questão: Gilberto não é racista!
Para além da mera opinião, a posição de Gilberto contra qualquer forma de discriminação pode ser objetivamente constatada ao longo dos anos. Em que ele sempre esteve na linha de frente da luta contra o racismo em Campos, da sua atuação na política estudantil à partidária. Basta uma simples zapaeada em seus perfis nas redes sociais para qualquer um, imperialista ou republicano, de esquerda, centro, direita ou apolítico, testemunhar isso (confira aqui) por conta própria.
Após dormir de domingo para segunda na 134ª DP, de ser transferido na manhã de hoje para o Presídio Carlos Tinoco da Fonseca, Gilberto agora aguarda audiência de custódia a partir das 13h desta terça (9). Antes e depois dela, muitos poderão concordar ou discordar, com veemência, da ideologia política do militante do PT de Campos.
Mas, ao fim e ao cabo, se minha palavra como cidadão, mais que como jornalista ou diretor do Grupo Folha, vale algo, afirmo com integral convicção: quem disser que Gilberto Gomes é ou chegou a ser por algum momento racista, está mentindo!