Folha antecipa 11 prefeitos eleitos — Que Brasil sai das urnas?

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Folha antecipou 11 prefeitos eleitos

Antes do 2º turno do domingo (27), com base na análise das pesquisas, foi possível projetar (confira aqui e aqui) a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) a prefeito de São Paulo. Como, antes do 1º turno de 6 de outubro, já se tinha projetado (confira aqui e aqui) a vitória eleitoral a prefeito de Wladimir Garotinho (PP) em Campos, Carla Caputi (União) em São João da Barra, Welberth Rezende (Cidadania) em Macaé, Geane Vincler (União) em Cardoso Moreira, Léo Pelanca (PL) em Italva, Valmir Lessa (Cidadania) em Conceição de Macabu, Marcelo Magno (PL) em Arraial, Fábio do Pastel (PL) em São Pedro da Aldeia, Carlos Augusto (PL) em Rio das Ostras e Dr. Serginho (PL) em Cabo Frio.

 

“Eleição é na urna”?

Em Campos, foi possível antecipar também os percentuais de votos válidos dos três primeiros colocados na disputa. No total, foram 11 prefeitos com eleições antecipadas em 10 municípios do Norte e Noroeste Fluminense e Região dos Lagos, além da maior cidade do Brasil e da América do Sul. Entre as urnas do turno e returno, sem nenhum erro, a taxa de acerto desta coluna, do blog Opiniões e da Folha daria para formar um time de futebol. Como se antecipou também a reação dos perdedores nesses 11 municípios: quem questiona pesquisas e brada “eleição é na urna”, quase sempre, vai chorar no quente da cama com o resultado do voto.

 

Reeleição de 82%

Algumas características dessa antecipação de 11 prefeitos foram reflexo do resultado nos 5.570 municípios brasileiros. Em primeiro lugar, 9 dos 11 prefeitos foram reeleitos — com exceção apenas de Carlos Augusto em Rio das Ostras e de Dr. Serginho em Cabo Frio. Em todo o país, a taxa de reeleição foi de 82%, maior nos últimos 20 anos. Foi, inequivocamente, uma eleição da continuidade, tanto quanto a municipal de 2016 e a presidencial de 2018 tinham sido eleições do “novo”. Também reflexo do que se deu no resto do país em 2024, outra característica comum nos 11 prefeitos antecipados pela Folha: nenhum é de esquerda.

 

Esquerda é a grande derrotada

A esquerda foi, sem dúvida, a grande derrotada das eleições municipais de 2024. O PT do presidente Lula pode argumentar que passou dos 184 prefeitos eleitos em 2020 aos 252 que elegeu neste mês de outubro. Para ficar só na 9ª posição entre as legendas com mais prefeituras. E com apenas uma capital de estado, Fortaleza (CE), para chamar de sua. Ademais, com Lula então recém-saído da cadeia e ainda sem direitos políticos, 2020 foi o fundo do poço do partido. Com Lula de novo no poder, o PT fez em 2024 os mesmos 252 prefeitos que, pouco mais de um mês após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, elegeu em 2016.

 

Prefeitos de esquerda: 12%

Da esquerda à centro-esquerda, o melhor desempenho foi do PSB. Em 7º lugar no ranking geral, passou de 257 a 312 prefeitos, entre eles, o de Recife (PE), com a reeleição em turno único de João Campos. Com 30 anos, surge como nome ao futuro que o PT não tem. As demais legendas de esquerda despencaram de 2020 a 2024: em 10º, o PDT foi de 320 a 151 prefeitos; em 17º, o PCdoB foi de 48 a 19 prefeitos; em 19º, o PV foi de 45 a 14 prefeitos; em 20º, o Rede foi de 6 a 4 prefeitos; e, em 25º e último lugar, o Psol foi de 5 prefeitos a nenhum. A partir de 2025, só 12% dos brasileiros serão governados por um prefeito de esquerda.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Centrão é o grande vencedor

Se não há dúvida sobre a derrota da esquerda nas eleições de 2024, tampouco há sobre o grande vencedor: a centro-direita; popularmente conhecido por Centrão. Comandado pelo secretário estadual de São Paulo Gilberto Kassab, o PSD ficou em 1º lugar: de 662 a 891 prefeitos. Presidido pelo deputado federal Baleia Rossi (SP), o MDB ficou em 2º: de 802 a 864 prefeitos, Nunes entre eles. Em 3º, ficou o PP do presidente da Câmara Federal, deputado Artur Lira (AL): de 698 a 752 prefeitos, Wladimir entre eles. Presidido no RJ pelo presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, o União ficou em 4º: de 568 a 591 prefeitos, Caputi e Geane entre eles.

 

Centro derrota extrema-direita (I)

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro ficou em 5º lugar, de 351 a 517 prefeitos — Pelanca, Magno, Pastel, Carlos Augusto e Serginho entre eles. Embora tenha levado mais que o dobro das prefeituras do PT, a extrema-direita foi traçada a garfo e faca pela centro-direita. Que, com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), derrotou Bolsonaro presente em Goiânia. Seu candidato a prefeito no 2º turno da capital, Fred Rodrigues (PL) ficou mais de 11 pontos atrás de Sandro Mabel (União), eleito por Caiado. Que, no dia seguinte à urna, sentenciou: “‘Tem que ser assim, falar desse jeito, se não você é comunista’. Essas coisas cansaram”.

 

Centro derrota extrema-direita (II)

Outra vitória emblemática do centro sobre a extrema-direita foi a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD), no 2º turno de Belo Horizonte, sobre Bruno Engler (PL). Que teve o apoio de Romeu Zema (Novo), governador de Minas que apostou no bolsonarismo e perdeu. Por outro lado, ninguém saiu mais forte das urnas do que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP). Ele apoiou Nunes na reeleição a prefeito da capital, enquanto Bolsonaro se acovardou com Pablo Marçal (PRTB). Deixou este para trás no 1º turno e levou seus votos para amassar Guilherme Boulos (Psol) no 2º turno, por mais de 18 pontos de vantagem.

 

O PT morreu? Dignidade?

Bolsonaro perdeu em 7 das 9 capitais, em que apoiou candidatos a prefeito no 2º turno, porque transferiu a eles suas características: piso alto no 1º turno e rejeição ainda maior no 2º. Apoiado pelo PT, Boulos tem as mesmas características eleitorais. Não bastasse, aceitou fazer uma live com Marçal dois dias antes da urna. Para, nas palavras do ex-deputado federal Milton Temer (Psol), “posar de figurante em lançamento de campanha a presidente (de Marçal) em 2026”. Após tomar um passeio do centro, Bolsonaro decretou: “O PT morreu”. Após ser mais uma vez atropelado na urna, Boulos bravateou: “Recuperamos a dignidade da esquerda”.

 

Centro de 2024 a 2026

Diferente de 2022, Bolsonaro não elegeu nenhum ex-ministro em 2024. Seu ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL) não passou do 1º turno que reelegeu Eduardo Paes (PSD) prefeito do Rio. Que é reduto eleitoral do capitão, em outra derrota da extrema-direita ao centro. Com o qual deixou de vencer em São Paulo, para ver Nunes reeleito chamar Tarcísio de “líder maior”. Após um 2º turno em que Boulos perdeu até no bairro paulistano do Campo Limpo, onde mora. Depois de definir a eleição presidencial de 2018, ao pender a Bolsonaro, e a de 2022, ao pender a Lula, o centro pode sair de 2024 com ambições próprias em 2026. A ver.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Caminhos da esquerda no 2º turno a prefeito de São Paulo

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Eleição a prefeito de São Paulo

Amanhã, domingo de 27 de outubro, o eleitor definirá o 2º turno a prefeito em 51 municípios brasileiros — 15 capitais de estado entre eles. Nenhum é mais importante que São Paulo, maior cidade do Brasil e América do Sul. Em postagem de 13 de outubro, 13 dias atrás, o blog Opiniões projetou com base em todas as pesquisas eleitorais: “Por que Ricardo Nunes (MDB) será reeleito prefeito de São Paulo?” De lá para cá, a vantagem de Nunes para Guilherme Boulos (Psol) nas intenções de voto diminuiu. Mas, como essa vantagem continua em cerca de 2 dígitos em todas as pesquisas, a perspectiva da reeleição se mantém.

 

Vantagem de Nunes sobre Boulos (I)

Hoje, serão divulgadas as duas últimas pesquisas antes da urna paulistana: Quaest e Datafolha. O último levantamento Quaest, divulgado na quarta (23), projetou a menor vantagem de Nunes: 44% de intenção de voto na consulta estimulada, contra os 35% de Boulos. A diferença, portanto, seria de 9 pontos ao atual prefeito. Mas puxando ao máximo a margem de erro de 3 pontos, a mais para Boulos e a menos para Nunes, os mesmos 3 pontos poderiam ser a diferença. Na Datafolha divulgada na quinta (24), essa diferença apareceu muito maior: 14 pontos, dos 49% de intenção de voto de Nunes aos 35% de Boulos.

 

Vantagem de Nunes sobre Boulos (II)

Outros três institutos de renome nacional trouxeram pesquisas a prefeito de São Paulo na semana. Na segunda (21), a AtlasIntel deu 54,8% de intenção de voto a Nunes e 42,2% a Boulos, 12,6 pontos atrás. Na terça (22), pesquisa do instituto Paraná deu o prefeito com 51,7% e 39,6% do psolista, 12,1 pontos atrás. Na quarta, além da Quaest, saiu também a Real Time Big Data, com 51% a Nunes e 40% de Boulos, 11 pontos atrás. Assim, antes das novas Quaest e Datafolha de hoje, a vantagem do prefeito na intenção de voto girou entre 9 e 14 pontos. Não é insuperável. Mas, a 24 horas da urna, parece pouco provável que seja batida.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Desvantagem de Boulos a Nunes

Uma eleição em dois turnos gira sempre entre dois eixos: no 1º turno, uma disputa de pisos; no 2º, uma disputa de tetos. E o que fixa cada um destes tetos é a rejeição. Além de Nunes ter, para além da margem de erro, o piso de intenção mais elevado em todas as pesquisas, Boulos também tem a maior rejeição em todas. Pela Atlas, 59% dos paulistanos têm imagem negativa dele, contra os 44% que têm de Nunes, com 15 pontos a menos. Na pesquisa Paraná, 48,1% disseram não votar no psolista “de jeito nenhum” e 37,3% no prefeito, com 10,8 pontos a menos. Na Big Data, Boulos teve 53% de rejeição e Nunes teve 36%, 17 pontos a menos.

 

Da desvantagem à única fresta a Boulos

Na Quaest, como nas intenções de voto, foi onde Boulos teve o menos pior na rejeição: 40% dos eleitores têm imagem negativa dele e 36% têm do prefeito. O que são apenas 4 pontos de diferença e um empate técnico na margem de erro. Na Datafolha, no entanto, a rejeição do eleitor ao psolista foi de 55% e 37% de Nunes, com 18 pontos a menos. Se os números da Atlas, da Big Data e da Datafolha estiverem corretos, todos lhe creditando mais de 50% de rejeição, a eleição de Boulos é matematicamente impossível. Pela Paraná, também é muito difícil. A única fresta, de uma janela estreita, é na Quaest.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O Castro e o Freixo de São Paulo

Antes do 1º turno, todas as pesquisas projetavam: a melhor chance de Boulos seria disputar o 2º turno contra Pablo Marçal (PRTB). Como a melhor chance deste seria o turno extra contra Boulos. Considerados radicais de esquerda e direita, a rejeição aos dois é imensa. A despeito dos erros e virtudes no governo que herdou da morte do ex-prefeito Bruno Covas, Nunes é um político insosso e moderado de direita. Mas a quem o acaso sorriu. É uma espécie de Cláudio Castro (PL) paulistano. Tanto quanto Marcelo Freixo (hoje, PT) pode ser considerado, no mesmo perfil ideológico e grande rejeição ignorada pela esquerda, um Boulos fluminense.

 

Tarcísio ativo, Bolsonaro passivo e votos de Marçal

Com a máquina na mão, o apoio passivo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ativo do governador Tarcísio de Freitas (REP), Nunes também herdou, pelas pesquisas, entre 70% e 80% dos mais de 1,7 milhão de votos que Marçal teve no 1º turno. Esnobado por Nunes no 2º turno, por determinação de um Tarcísio que bancou o prefeito enquanto Bolsonaro se acovardou diante de Marçal, este fez ontem uma live com Boulos. Em que ambos impressionaram pelo clima amistoso, depois que o ex-coach usou uma carteira de trabalho para fazer jogo de gato e rato com o psolista e o acusou de consumir cocaína nos debates.

 

São Paulo a Campos: pagas da esquerda

Recusado por Nunes, o convite de Marçal foi atendido por Boulos, numa linha auxiliar inversa entre extrema-direita e esquerda à que se deu no 1º turno a prefeito de Campos. Antes, o psolista já tinha aderido no 2º turno ao discurso de empreendedorismo e prosperidade às periferias. Que, demonizado pela esquerda, foi uma das principais causas do fenômeno Marçal. Em Campos, a “paga” do PT foi ver sua deputada estadual Carla Machado apoiar a prefeita a Delegada Madeleine (União), tiete assumida do ex-coach. Na cidade de São Paulo, a “paga” para Boulos na live de Marçal foi a declaração deste: “Não voto na esquerda jamais”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Após taxa de acerto nunca antes vista, pausa para projeto pessoal

 

 

Como estava previamente planejado, farei um hiato do jornalismo nos próximos meses. Em jornal, rádio, TV, site e neste blog. Que só será quebrado em questões pontuais, como o 2º turno das eleições municipais brasileiras de 27 de outubro, onde eles ainda existirão, e a eleição a presidente dos EUA em 5 de novembro.

A cobertura eleitoral de 2024 começou ainda em 2023, na primeira pesquisa de março daquele ano (confira aqui) que apontava a reeleição de Wladimir Garotinho (PP) a prefeito de Campos em turno único. Que seria confirmada por todas as outras 12 pesquisas, na medição dos 18 meses seguintes, e pela urna.

Ainda em 2023, desde 3 de junho daquele ano foi adiantado (confira aqui) que o professor Jefferson de Azevedo seria o candidato do PT a prefeito de Campos. Assim como a impossibilidade da deputada estadual Carla Machado (PT) em ser candidata a prefeita na Campos de 2024, após já ter sido reeleita prefeita de São João da Barra em 2020.

Um ano depois, Carla tiraria o time de campo (confira aqui) em 26 de junho de 2024, poucos dias depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barrar (confira aqui) em 18 de junho, por unanimidade, sua candidatura natimorta a prefeita de Campos. E, em 20 de julho, 13 meses após o anúncio da Folha, Jefferson foi homologado em convenção (confira aqui) candidato a prefeito de Campos pelo PT.

A partir de mais de 30 pesquisas, de 13 municípios do Norte e Noroeste Fluminense e Região dos Lagos, foi possível projetar (confira aqui e aqui), antes da urna de 6 de outubro, não só a reeleição de Wladimir no 1º turno de Campos, com o percentual de voto válido dos três primeiros colocados na corrida, mas de outros 9 prefeitos. Como a conquista da prefeitura pela oposição em outros 2 municípios.

Exatamente como antecipado, além de Wladimir no 1º turno de Campos, foram reeleitos os prefeitos Carla Caputi (União) em SJB, Welberth Rezende (Cidadania) em Macaé, Geane Vincler (União) em Cardoso Moreira, Léo Pelanca (PL) em Italva, Valmir Lessa (Cidadania) em Conceição de Macabu, Marcelo Magno (PL) em Arraial do Cabo e Fábio do Pastel (PL) em São Pedro da Aldeia.

Assim, como também antecipado antes da urna, a oposição elegeu Carlos Augusto Balthazar (PL) prefeito em Rio das Ostras e Dr. Serginho (PL) em Cabo Frio. Como as eleições duras projetadas a partir da incerteza das pesquisas (confira aqui e aqui) se confirmaram em São Francisco de Itabapoana e Quissamã, com as respectivas vitórias de Yara Cinthia (SD) e Marcelo Batista (União).

Antes da despedida e sempre com base na análise impessoal das pesquisas, há ainda a projeção (confira aqui) da reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo. Como a de uma eleição sem favoritos a presidente dos EUA, entre o ex Donald Trump e a atual vice, Kamala Harris, no sistema sempre mais complexo do colégio eleitoral. A ver.

Pelo já visto, não foi um trabalho ruim. Com uma média de acerto talvez nunca antes vista no jornalismo político do interior fluminense. Embora seja quase impossível, tentaremos melhorar na próxima. Sempre a partir da análise impessoal dos números e dos fatos. E na certeza: quem nega pesquisas para bradar o chavão “eleição é na urna”, quase sempre, vai chorar a dor de corno no quente da cama com a decisão soberana do voto.

Por fim, uma observação: uma oposição que se presta a bater boca com um boneco só pode ser encarada como piada. Isso posto, é pedir sua licença para me dedicar nos próximos meses, finalmente, a um projeto pessoal. E, nessa esfera, muito mais importante que qualquer eleição. Até meados do próximo ano, se Deus quiser, a gente se vê. Inté!

 

Por que Ricardo Nunes será reeleito prefeito de São Paulo?

 

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tarcísio de Freitas e Lula (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A despeito dos “especialistas” cometa, que só passam de 2 em 2 anos para opinar sobre eleição entre os antolhos da paixão e/ou interesse, eleição majoritária de dois turnos se dá entre dois eixos. No 1º turno, uma disputa de piso, definida pela intenção de voto. No 2º turno, uma disputa de teto, determinada pela rejeição.

Salvo algo muito fora da curva nos 14 dias que separam o eleitor das urnas do 2º turno, Ricardo Nunes (MDB) será reeleito prefeito de São Paulo em 27 de outubro. E não há nisso nenhuma expressão de desejo ou simpatia, apenas o reconhecimento objetivo do que os números de todas as pesquisas projetavam desde o 1º turno.

Guilherme Boulos (Psol), pelo perfil político e grande rejeição, é uma espécie de Marcelo Freixo (hoje, PT) de São Paulo. O paulista, bem verdade, conseguiu pelo menos ir ao 2º turno, a partir do racha da direita no 1º entre Nunes e Pablo Marçal (PRTB). Freixo, contra Cláudio Castro (PL) a governador do RJ em 2020, mesmo trocando o Psol pelo PSB na tentativa de diminuir sua rejeição, nem isso. A chance real de eleição de Boulos seria um 2º turno contra Marçal.

Isso posto, o fato: enquanto a esquerda brasileira não atuar com pragmatismo e matemática no lugar de maniqueísmo ideológico e oba-oba, enquanto não trocar o desejo masoquista de “resistência” pelo de vitória política, continuará abrindo veredas ao crescimento da direita no Brasil. Como se deu e se dá aos olhos de qualquer observador racional destas eleições municipais brasileiras.

A reeleição de Nunes, se confirmada, apontará o grande vencedor em São Paulo: o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Que bancou o prefeito e peitou Marçal, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não teve coragem de fazer. Como, no caso da improvável eleição de Boulos, o vencedor político seria o presidente Lula (PT). Será semeadura para colher em 2026. A ver.

 

Francimara e Fátima definem Yara e Marcelo prefeitos de SFI e Quissamã

 

Francimara Barbosa Lemos foi fundamental para eleger Yara Cinthia prefeita de São Francisco, tanto quanto Fátima Pacheco a Marcelo Batista prefeito de Quissamã (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Como todas as pesquisas projetavam (confira aqui e aqui), as eleições a prefeito que a oposição queria vender como disputadas em Campos ocorreram, na verdade, nos municípios vizinhos de São Francisco de Itabapoana e Quissamã. As duas foram decididas na reta final por duas mulheres, as respectivas prefeitas Francimara Barbosa Lemos (SD) e Fátima Pacheco (União).

Nas duas últimas semanas antes da urna de domingo (6), projetando uma eleição voto a voto a partir das pesquisas e das ruas, Fátima arregaçou as mangas para fazer do vice-prefeito, Marcelo Batista (PP), seu sucessor como novo prefeito de Quissamã. Como Francimara fez para eleger a vereadora e ex-secretária de Educação Yara Cynthia (SD) como prefeita de SFI.

Com a ajuda de Francimara, Yara derrotou o ex-prefeito Pedrinho Cherene (União) por 15.312 votos a 13.681 (diferença de apenas 1.631 votos), ou por 49,64% a 44,35% dos válidos (diferença de 5,29 pontos). Com a ajuda de Fátima, Marcelo bateu o ex-prefeito Armando Carneiro (PL) por 8.256 votos a 7.921 (diferença de apenas 435 votos), ou por 51,02% a 48,36% dos válidos (diferença de 2,66 pontos).

Sem coincidências, nos números e nas circunstâncias, as vitórias de Marcelo em Quissamã e de Yara em SFI foram muito semelhantes. E só vieram graças à capacidade de mobilização na reta final, respectivamente, das prefeitas Fátima e Francimara. Com duas mulheres, o tão falado peso da máquina decidiu as duas disputas a prefeito mais acirradas da região.

 

Tezeu rebate críticas ao PT e denuncia boca de urna em Campos

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Candidato mais votado a vereador em Campos pela frente que uniu seu PT, com PCdoB e PV nas eleições municipais brasileiras, o petroleiro Tezeu Bezerra divulgou ontem um vídeo em suas redes sociais. Ele rebateu as críticas que seu partido tem sofrido (confira aqui e aqui), até (confira aqui) dentro da própria esquerda, antes e depois das urnas do domingo (6). E também denunciou a prática do crime eleitoral de boca de urna na eleição.

Apesar de admitir que a legenda não cumpriu seu principal objetivo na eleição goitacá, que era reconquistar uma cadeira na Câmara Municipal, à qual Tezeu teve 2.181 votos, ele apresentou números para afirmar que “o PT (de Campos) saiu mais forte e bem maior do que na última eleição”. Segundo ele, o PT teve cerca de 4.500 votos a vereador em 2020, passando em 2024 a 7.700 votos.

Segundo as contas que Tezeu apresentou, fruto do balanço de uma reunião de quarta (9) do PT goitacá, teriam faltado à sua federação no domingo, dos 8.413 que teve na eleição proporcional, apenas 513 para alcançar 8.926. E atingir os  80% do quociente eleitoral para eleger um vereador.

Por fim, o petroleiro questionou: “a gente viu na cidade, de todos os outros dois grandes grupos (dos Garotinhos e dos Bacellar), dinheiro enorme ser derramado. Gostaria que fossem apresentados todos esses contratos (de contratação de pessoal para a campanha). Não consegui ver isso nas prestações de conta que estive olhando no Divulga (do TSE)”.

Tezeu foi além em seus questionamentos, inclusive, à própria Justiça Eleitoral: “A gente viu boca de urna na frente das escolas. Todo mundo sabe que isso acontece. E, aí, eu peço uma reflexão da própria Justiça Eleitoral. Que, para as próximas eleições, coloque a Polícia Federal. Para ficar ao redor dos colégios eleitorais para evitar abuso: pessoas comprando voto, fazendo boca de urna”.

Confira no vídeo abaixo:

 

 

Campos mais perto de retomar Escola de Cinema da Uenf

 

Roberto Dutra, Fernando Sousa, Rosana Rodrigues, Geraldo Timóteo, David Maciel e Mauro Macedo Campos se reuniram para debater a retomada do projeto da Escola de Cinema da Uenf, idealizada pelo antropólogo Darcy Ribeiro na implantação da universidade em Campos, em 1993 (Foto: Divulgação)

 

A Escola de Cinema em Campos está mais perto da vida real. A ideia é retomar o projeto da Escola Brasileira de Cinema e Televisão (EBCTV), pensado pelo antropólogo Darcy Ribeiro na fundação da Uenf em 1993, mas depois abandonado. A atualização do projeto foi apresentada esta semana à reitora da Uenf, Rosana Rodrigues, pelo cineasta carioca Fernando Sousa.

Também participaram da reunião os professores da Uenf Roberto Dutra e Mauro Macedo Campos, ambos do Laboratório de Gestão de Políticas Públicas; Geraldo Timóteo, diretor do Centro de Ciências do Homem (CCH); e David Maciel, coordenador do curso de pós-graduação em sociologia política.

Além da atualização do projeto da Escola de Cinema, foram abordadas algumas ações à sua retomada, como a organização do Seminário de Cinema e Audiovisual do Norte e Noroeste Fluminense e a criação do Festival Internacional Goitacá de Cinema, previsto para agosto de 2025. Essa iniciativa é da produtora carioca Quiprocó Filmes, pensada como marco ao setor audiovisual no município.

Outra pauta abordada na reunião foi a possibilidade de a Uenf ofertar uma disciplina de “cinema e sociedade” já no primeiro semestre de 2025, em níveis de graduação e pós-graduação. Por fim, comentou-se sobre o início de uma interlocução com o sociólogo Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura e atual assessor especial do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

— Em 16 de agosto, quando se comemorou o 31º aniversário da Uenf, lançamos o curta-metragem “Campos é uma cidade de cinema”, com narração do ator campista Tonico Pereira. Aquele curta foi o embrião para recuperarmos a relação histórica do Norte Fluminense com o cinema brasileiro, encabeçando outras ações voltadas a esse objetivo. Agora, na reunião com a reitora, demos mais um importante passo para que o projeto possa ser colocado em prática — disse Fernando, cineasta, sócio da produtora Quiprocó Filmes e doutorando em sociologia política na Uenf.

 

 

Em entrevista ao programa Folha no Ar, em 9 de agosto, a reitora da Uenf disse (confira aqui) sobre a ideia de retomar a Escola de Cinema:

— Uma das minhas intenções é cravar uma bandeira na Escola de Cinema da universidade. A gente acompanhou a história dela lá atrás e sabe que o modelo hoje de docência na Uenf não guarda muita relação com o que a gente tem na formação de recursos humanos na área de Cinema e de Comunicação de um modo geral. Mas entendo que a gente precisa fazer um movimento concreto e definitivo na direção de termos, sim, uma Escola de Cinema na universidade — disse Rosana à Folha FM 98,3.

Nos últimos meses, a Uenf demonstrou maior atenção ao assunto cinema. Em junho, por exemplo, a Casa de Cultura Villa Maria sediou a exibição do documentário “Rio, Negro” (2023), de Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, seguida por um debate sobre a proposta de criação do curso de cinema. A partir de indicação de Fernando, a atriz campista Zezé Motta será a primeira pessoa a receber o título de doutora honoris causa da Uenf.

Nos áureos tempos do cinema em Campos, a cidade chegou a ter quase 70 salas para exibições de filmes. Atualmente, conta com apenas três cinemas, todos em shoppings, além de alguns cineclubes, entre eles o Cine Darcy, realizado pela Uenf.

Em relação à produção cinematográfica, a planície goitacá foi palco de gravações de novelas, como “Escrava Isaura” (1976), de Walcyr Carrasco; e filmes, como “Ganga Zumba” (1963) e “Xica da Silva” (1963), de Cacá Dieguez. Produções locais também foram promovidas, com destaque aos filmes “Sobre o domínio da fé” (1995), de Maria Helena Gomes; “Forró em Cambahyba” (2013), de Vitor Menezes; e “Faroeste Cabrunco” (2022), de Victor van Ralse.

 

Com a assessoria do projeto “Campos é uma cidade de cinema”.

 

Com vitória política, Danilo ensina oposição de SJB a ter coragem

 

Danilo Barreto em entrevista ao Folha no Ar do último dia 3 de setembro, como único candidato da oposição a prefeito em São João da Barra (Foto: Rodrigo Silveira/Folha da Manhã)

 

Único candidato a prefeito de oposição em São João da Barra, o jovem administrador público Danilo Barreto (Novo) teve uma vitória política nas urnas de domingo, a despeito da sua previsível derrota eleitoral. Com 7.351 votos, ele teve 22,24% dos válidos na urna de 6 de outubro. O que é mais que o dobro dos 9,2% de intenção que a pesquisa Factum, registrada no TSE, lhe atribuiu em 11 de setembro.

Por outro lado, a reeleição da prefeita Carla Caputi (União) com 25.695 votos, ou 77,76% dos válidos, foi a maior da história de SJB. Com a qual superou os 69,72% da sua aliada, a deputada estadual Carla Machado (PT), quando esta se reelegeu prefeita do município em 2020. No entanto, foi menos do que os 81,9% que a pesquisa Factum projetou a Caputi em setembro.

Com mais que 2 entre cada 10 eleitores do município, Danilo ocupou um espaço importante na oposição de SJB. Que foi deixado vago com a morte do combativo vereador Franquis Arêas em 2023. Como, entre os vivos, pela hesitação do secretário estadual (e deputado estadual licenciado) de Habitação Bruno Dauaire (União) e a composição do vereador Elísio (SD), que se aliou a Caputi para assegurar sua reeleição.

Com a votação que obteve, bem acima do esperado, Danilo sai da urna de domingo cacifado. Talvez para disputar uma vaga de deputado estadual em 2026. E, a ver, pela Prefeitura de SJB em 2028, contra uma Carla Machado que viu a aliada Caputi se reeleger no domingo. Mas acabou derrotada em seus apoios a prefeito em Campos e São Francisco de Itabapoana.

Pelo que já fez, Danilo sai marcado de 2024 por ter provado à oposição sanjoanense que, em política, também é necessário ter coragem.

 

Atualização às 18h01: Em comentário no Instagram, o ex-deputado federal Caio Vianna (MDB), que chegou a cogitar se lançar a prefeito em SJB neste ano, elogiou (confira aqui) a performance eleitoral de Danilo no domingo. E projetou:

— Danilo Barreto campeão! Ganhou o respeito e admiração de muitos eleitores e também na classe política. Será prefeito de São João da Barra em 2028.