Folha antecipa 11 prefeitos eleitos — Que Brasil sai das urnas?
Folha antecipou 11 prefeitos eleitos
Antes do 2º turno do domingo (27), com base na análise das pesquisas, foi possível projetar (confira aqui e aqui) a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) a prefeito de São Paulo. Como, antes do 1º turno de 6 de outubro, já se tinha projetado (confira aqui e aqui) a vitória eleitoral a prefeito de Wladimir Garotinho (PP) em Campos, Carla Caputi (União) em São João da Barra, Welberth Rezende (Cidadania) em Macaé, Geane Vincler (União) em Cardoso Moreira, Léo Pelanca (PL) em Italva, Valmir Lessa (Cidadania) em Conceição de Macabu, Marcelo Magno (PL) em Arraial, Fábio do Pastel (PL) em São Pedro da Aldeia, Carlos Augusto (PL) em Rio das Ostras e Dr. Serginho (PL) em Cabo Frio.
“Eleição é na urna”?
Em Campos, foi possível antecipar também os percentuais de votos válidos dos três primeiros colocados na disputa. No total, foram 11 prefeitos com eleições antecipadas em 10 municípios do Norte e Noroeste Fluminense e Região dos Lagos, além da maior cidade do Brasil e da América do Sul. Entre as urnas do turno e returno, sem nenhum erro, a taxa de acerto desta coluna, do blog Opiniões e da Folha daria para formar um time de futebol. Como se antecipou também a reação dos perdedores nesses 11 municípios: quem questiona pesquisas e brada “eleição é na urna”, quase sempre, vai chorar no quente da cama com o resultado do voto.
Reeleição de 82%
Algumas características dessa antecipação de 11 prefeitos foram reflexo do resultado nos 5.570 municípios brasileiros. Em primeiro lugar, 9 dos 11 prefeitos foram reeleitos — com exceção apenas de Carlos Augusto em Rio das Ostras e de Dr. Serginho em Cabo Frio. Em todo o país, a taxa de reeleição foi de 82%, maior nos últimos 20 anos. Foi, inequivocamente, uma eleição da continuidade, tanto quanto a municipal de 2016 e a presidencial de 2018 tinham sido eleições do “novo”. Também reflexo do que se deu no resto do país em 2024, outra característica comum nos 11 prefeitos antecipados pela Folha: nenhum é de esquerda.
Esquerda é a grande derrotada
A esquerda foi, sem dúvida, a grande derrotada das eleições municipais de 2024. O PT do presidente Lula pode argumentar que passou dos 184 prefeitos eleitos em 2020 aos 252 que elegeu neste mês de outubro. Para ficar só na 9ª posição entre as legendas com mais prefeituras. E com apenas uma capital de estado, Fortaleza (CE), para chamar de sua. Ademais, com Lula então recém-saído da cadeia e ainda sem direitos políticos, 2020 foi o fundo do poço do partido. Com Lula de novo no poder, o PT fez em 2024 os mesmos 252 prefeitos que, pouco mais de um mês após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, elegeu em 2016.
Prefeitos de esquerda: 12%
Da esquerda à centro-esquerda, o melhor desempenho foi do PSB. Em 7º lugar no ranking geral, passou de 257 a 312 prefeitos, entre eles, o de Recife (PE), com a reeleição em turno único de João Campos. Com 30 anos, surge como nome ao futuro que o PT não tem. As demais legendas de esquerda despencaram de 2020 a 2024: em 10º, o PDT foi de 320 a 151 prefeitos; em 17º, o PCdoB foi de 48 a 19 prefeitos; em 19º, o PV foi de 45 a 14 prefeitos; em 20º, o Rede foi de 6 a 4 prefeitos; e, em 25º e último lugar, o Psol foi de 5 prefeitos a nenhum. A partir de 2025, só 12% dos brasileiros serão governados por um prefeito de esquerda.
Centrão é o grande vencedor
Se não há dúvida sobre a derrota da esquerda nas eleições de 2024, tampouco há sobre o grande vencedor: a centro-direita; popularmente conhecido por Centrão. Comandado pelo secretário estadual de São Paulo Gilberto Kassab, o PSD ficou em 1º lugar: de 662 a 891 prefeitos. Presidido pelo deputado federal Baleia Rossi (SP), o MDB ficou em 2º: de 802 a 864 prefeitos, Nunes entre eles. Em 3º, ficou o PP do presidente da Câmara Federal, deputado Artur Lira (AL): de 698 a 752 prefeitos, Wladimir entre eles. Presidido no RJ pelo presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, o União ficou em 4º: de 568 a 591 prefeitos, Caputi e Geane entre eles.
Centro derrota extrema-direita (I)
O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro ficou em 5º lugar, de 351 a 517 prefeitos — Pelanca, Magno, Pastel, Carlos Augusto e Serginho entre eles. Embora tenha levado mais que o dobro das prefeituras do PT, a extrema-direita foi traçada a garfo e faca pela centro-direita. Que, com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), derrotou Bolsonaro presente em Goiânia. Seu candidato a prefeito no 2º turno da capital, Fred Rodrigues (PL) ficou mais de 11 pontos atrás de Sandro Mabel (União), eleito por Caiado. Que, no dia seguinte à urna, sentenciou: “‘Tem que ser assim, falar desse jeito, se não você é comunista’. Essas coisas cansaram”.
Centro derrota extrema-direita (II)
Outra vitória emblemática do centro sobre a extrema-direita foi a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD), no 2º turno de Belo Horizonte, sobre Bruno Engler (PL). Que teve o apoio de Romeu Zema (Novo), governador de Minas que apostou no bolsonarismo e perdeu. Por outro lado, ninguém saiu mais forte das urnas do que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP). Ele apoiou Nunes na reeleição a prefeito da capital, enquanto Bolsonaro se acovardou com Pablo Marçal (PRTB). Deixou este para trás no 1º turno e levou seus votos para amassar Guilherme Boulos (Psol) no 2º turno, por mais de 18 pontos de vantagem.
O PT morreu? Dignidade?
Bolsonaro perdeu em 7 das 9 capitais, em que apoiou candidatos a prefeito no 2º turno, porque transferiu a eles suas características: piso alto no 1º turno e rejeição ainda maior no 2º. Apoiado pelo PT, Boulos tem as mesmas características eleitorais. Não bastasse, aceitou fazer uma live com Marçal dois dias antes da urna. Para, nas palavras do ex-deputado federal Milton Temer (Psol), “posar de figurante em lançamento de campanha a presidente (de Marçal) em 2026”. Após tomar um passeio do centro, Bolsonaro decretou: “O PT morreu”. Após ser mais uma vez atropelado na urna, Boulos bravateou: “Recuperamos a dignidade da esquerda”.
Centro de 2024 a 2026
Diferente de 2022, Bolsonaro não elegeu nenhum ex-ministro em 2024. Seu ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL) não passou do 1º turno que reelegeu Eduardo Paes (PSD) prefeito do Rio. Que é reduto eleitoral do capitão, em outra derrota da extrema-direita ao centro. Com o qual deixou de vencer em São Paulo, para ver Nunes reeleito chamar Tarcísio de “líder maior”. Após um 2º turno em que Boulos perdeu até no bairro paulistano do Campo Limpo, onde mora. Depois de definir a eleição presidencial de 2018, ao pender a Bolsonaro, e a de 2022, ao pender a Lula, o centro pode sair de 2024 com ambições próprias em 2026. A ver.
Publicado hoje na Folha da Manhã.