Qual o teto de Wladimir (76%), Madeleine (27%) e Jefferson (7%)?
Hoje, a 36 dias das urnas de 6 de outubro a prefeito de Campos, qual seria o teto (votação máxima, acima dos 100% na soma das projeções) do incumbente Wladimir Garotinho (PP) e dos seus dois opositores mais bem colocados nas pesquisas: Delegada Madeleine (União) e Professor Jefferson (PT)? Com base nas votações a prefeito passadas e nas mais recentes pesquisas Paraná e Real Time Big Data divulgadas no início da semana, ambas com os mesmos 63% de intenção a Wladimir na consulta estimulada — projeção de vitória no 1º turno, com aprovação de governo entre 76,3% e 73% —, 15% a 17,9% a Madeleine e 2,7% a 4% a Jefferson, é possível estimar o máximo de votos que cada um dos três poderá fazer?
Com base nos números, foi a pergunta feita aos estatísticos Eduardo Shimoda, professor de Mestrado e Doutorado da Candido Mendes; e William Passos, do Núcleo de Pesquisa Econômica do Rio de Janeiro (Nuperj) da Uenf; ao diretor do instituto de pesquisa Pro4, o empresário Murillo Dieguez; aos cientistas políticos George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos; e Hugo Borsani, professor da Uenf; e ao sociólogo Roberto Dutra, também professor da Uenf. Em meio ao serviço de desinformação por um grupo político da cidade sobre a pesquisa Paraná, tão mal feito no dia 26 que acharam melhor ignorar no dia 27 a pesquisa Big Data, buscar analistas qualificados é a maneira honesta de proceder.
TETO DE WLADIMIR?
Em primeiro lugar, qual seria o teto de Wladimir, nas pesquisas Paraná e Big Data com os mesmos 73,26% de intenção de votos válidos (descontados os brancos/nulos e os ainda indecisos), bem próximo à sua aprovação de governo, entre 76,3% e 73%? Este é o seu teto? Ele pode ser mantido, reduzido ou ultrapassado até 6 de outubro?
Eduardo Shimoda — “De forma geral, algumas variáveis podem parametrizar o teto de um candidato. No caso do prefeito, um dos possíveis limitadores pouco se aplica: o desconhecimento da candidatura por parte da população. A rejeição seria outro fator e, aí, 16,3% não votariam nele, o que daria um teto teórico de 83,7%. Intenção de votos espontânea em outros candidatos e opção por nulos/brancos indicam um grau de convicção na escolha e esta parcela soma 14,1%, correspondente a um teto de 85,9%. A desaprovação foi de 19,4%, o que daria um teto de 80,6%. Claro que são tetos teóricos e, em função da intensificação da campanha, com os debates e o horário eleitoral, todas estas variáveis podem mudar”.
William Passos — “Acredito que o teto de votos válidos de Wladimir é maior que 70% e os números da Paraná e da Big Data, nos quais ele aparece acima desse patamar, mostram isso. Também acredito que ele deve crescer mais em intenção até 6 de outubro em função de um afunilamento com Madeleine e do próprio perfil agregador, pacificador e pragmático de Wladimir. Tenho dificuldade em observar um desejo coletivo de ruptura, o que favorece a reeleição no 1º turno. Primeiro mandato de alternância de grupo político tende a ser um mandato de comparação com o prefeito anterior na cabeça do eleitor. E na comparação com quatro anos atrás, há uma percepção generalizada de que a cidade melhorou”.
Murillo Dieguez — “Continuo acreditando que é uma eleição de um turno só. Continuo achando que Wladimir vai variar entre 60% ao teto de cerca de 70% dos votos válidos (que foi por ele antecipado em entrevista ao Folha no Ar no dia 20 e confirmado pelas pesquisas Paraná e Big Data divulgadas dia 26 e 27). Considerando a série histórica das pesquisas, desde o ano passado, tudo sugere uma consolidação”.
George Coutinho — “Sobre o teto de Wladimir, tudo pode ampliar ou diminuir a receptividade do eleitor. Há o imponderável, mas as ‘balas de prata’ são raríssimas. Sobre a relação aprovação da administração e intenção de voto, não uso essa correlação mecanicamente. Uma boa aprovação, em termos percentuais, amplia vantagem e a probabilidade de vitória. Porém, não necessariamente implica que todos que aprovam a gestão votarão no gestor. Até mesmo pelo problema da abstenção. Interpretando os dados empíricos das pesquisas, arrisco que a expressão concreta dos votos não igualará a aprovação da gestão. A boa aprovação aumenta as possibilidades de captação de votos, mas não garante o espelhamento dos números”.
Hugo Borsani — “Acho muito difícil a intenção de voto a Wladimir recuar até a data da eleição, a pouco mais de um mês. Seu governo é bem avaliado por mais de 70% do eleitorado e essa alta aprovação se mantém estável há muito tempo, no mínimo desde o ano passado, ou seja, trata-se de aprovação consolidada. A dúvida é se vai aumentar ou se chegou ao teto. Tendo a pensar que ainda pode obter alguns pontos percentuais, porém não muito mais. A principal rival é estreante em política e campanhas eleitorais, o que a faz menos conhecida do eleitor, especialmente daqueles que pensam na eleição no último momento. Mas há tradicionalmente uma parcela de eleitores do município que mantém rejeição à família Garotinho”.
Roberto Dutra — “Acho que o teto de Wladimir, em torno dos 70% dos votos válidos, foi alcançado. A principal razão é que ele é conhecido por todo o eleitorado, que aparentemente já se dividiu entre a grande maioria que aprova e vota no prefeito e a minoria que desaprova e vota na oposição. Não vejo possibilidade para ampliar esse teto. As chances de recuar também são pequenas. A tendência é Wladimir ser reeleito no 1º turno com esse patamar”.
TETO DE MADELEINE?
Em segundo lugar, hoje entre 20,81% das intenções de voto válido na Paraná e 17,44% na Big Data, qual seria o teto de Madeleine? Ele poderia ser fixado, como o de toda a oposição em conjunto, entre os 23,6% que não aprovam o governo Wladimir (19,4% que desaprovam, com 4,2% que não souberam opinar) na pesquisa Paraná e os 27% que não aprovam a atual gestão (21% desaprovam, com 6% que não souberam opinar) na Big Data?
William — “Acredito que sim. É factível que o teto de intenção de Madeleine, ou do conjunto da oposição, considerando as informações disponíveis até o momento, com base nas pesquisas registradas, oscile entre 24% e 27%. Aparentemente, Madeleine parece ser a principal herdeira do espólio eleitoral da intenção de Carla Machado, capitalizando, nesta eleição, a majoritária representação do antigarotismo. Porém, não acredito em ampliação deste teto até 6 de outubro, porque Wladimir é a grande força de gravidade desta eleição, carregando a vantagem do incumbente bem avaliado. O limite de Madeleine é o que ‘sobra’ de Wladimir. E o que ele tem, no atual cenário, basta para projetar sua reeleição no 1º turno”.
Murillo — “Acredito que a Delegada se sairá muito bem, sendo nessa eleição o que Makhoul Moussallem foi em 2012 (quando teve 25,52% dos votos válidos, mas a então prefeita Rosinha Garotinho se reelegeu no 1º tuno com 69,96%). O segundo lugar, com folga, me parece ser dela. Além de vários fatores endógenos, ela é muito boa de campanha. Tem tudo para crescer além dos seus números de hoje. Poderia elencar uma meia dúzia de motivos, mas destaco a questão religiosa e a agenda de costumes, a taxa de conversão mediante conhecimento, imagem positiva e baixa resistência”.
George — “Sobre os tetos de Madeleine e Jefferson, concordo que o espaço é limitado pelo número dos eleitores nas pesquisas que não aprovam o governo Wladimir. As intenções de voto do incumbente rebaixam o teto das intenções de voto de seus concorrentes. A tomada de decisão nas urnas, numa eleição majoritária, não permite estabelecer ordem de preferências. É a preferência, no singular, e ponto final. Tanto Madeleine quanto Jefferson precisam ampliar a rejeição do incumbente, especialmente de sua imagem enquanto indivíduo. Também precisam modificar a percepção do eleitorado sobre a gestão, gestão esta que foi defendida e publicizada em um trabalho de mais de 3 anos e meio. Tudo isso em pouco mais de 30 dias”.
Hugo — “Acredito que, sim, esse número entre 23,6% e 27% é o teto da candidata Madeleine. E acho pouco provável que seja ampliado. A aprovação à gestão do atual prefeito e a intenção de votos a ele se mostram estáveis há muito tempo e somente erros importantes de Wladimir no último mês de campanha poderiam produzir uma mudança significativa de votos para Madeleine, que leve a aumentar esse teto. A experiência política do prefeito e a condução de sua campanha até o momento indicam ser muito improvável esse fator surpresa”.
Roberto — “Parece-me que o teto de Madeleine ou já foi alcançado ou está muito próximo de sê-lo. Ele até pode ser ampliado até o dia da eleição, mas tendencialmente com intenções de votos de outros candidatos de oposição. A posição do prefeito parece muito bem consolidada para que possa perder votos para a oposição”.
Shimoda — “Semelhante ao que ocorre com Madeleine, outras restrições ao teto relacionam-se ao conhecimento da candidatura e à associação ao petismo do Jefferson. À medida que o candidato ficar mais conhecido, as intenções de voto podem aumentar, mas pode haver também aumento de rejeição por parte dos que não simpatizam com a esquerda ou a direita”.
TETO DE JEFFERSON?
Em terceiro lugar, hoje variando na intenção de voto válido entre 3,14% na pesquisa Paraná e 4,65% na Big Data, Jefferson poderia ter como teto em 2024 os 6,56% dos votos válidos que as duas candidatas de esquerda, soma dos 4,68% de Natália Soares e do 1,88% de Odisséia Carvalho, tiveram na eleição de 1º turno a prefeito de Campos em 2020?
Murillo — “Acho que Jeferson terá dificuldades para decolar por vários motivos. E também poderia elencar meia dúzia de observações. Mas destacaria rejeição forte ao PT em Campos, a baixa capilaridade e os poucos partidos na coligação, com nominatas de candidatos com baixo potencial de voto”.
George — “O desempenho de algumas siglas tradicionais de esquerda na disputa para a Prefeitura: Odete Rocha (PC do B) em 2008, 10,44%; com Makhoul (PT) em 2012, 25,52%; Natália (Psol) em 2020, 4,68%. Há um espaço para crescimento do teto do petista, mas limitado até mesmo pelo teto generoso de intenção de voto de Wladimir, o que achata seus concorrentes. Creio que cabe aguardarmos fatos novos e que tenham potencial para demover e redistribuir as intenções de voto constatadas a preço de hoje. Fora isso, simplesmente campanha tradicional no curto tempo disponível pode não reverter as intenções de voto”.
Hugo — “Acredito que a votação do Jefferson será menor que a soma dos votos de Natália e Odisséia em 2020. A candidatura de Natália naquela eleição conseguiu uma adesão e entusiasmo de uma parte do eleitorado jovem que o candidato do PT nesta eleição não parece captar da mesma forma. Além disso, dificilmente um candidato que está em um terceiro lugar tão distante dos dois principais candidatos consegue atrair ‘voto útil’ na final da corrida eleitoral. Pelo contrário, o mais comum é a perda votos. Acredito, sim, que os 6,56% são o teto de Jefferson, mas que não devem ser atingidos”.
Roberto — “Acho que o teto de Jefferson realmente já foi atingido. Não acredito que tenha mais que 5% dos votos válidos. Na minha visão, o fato de ele ter herdado menos intenções de voto de Carla do que Wladimir e Madeleine já era esperado. As intenções de voto em Carla não têm nada a ver com PT. Jefferson e o PT representam uma minoria irrelevante de velhos sindicalistas, professores de ensino médio aposentados e lideranças ‘estudantis’ afoitas por cargos. É o partido da boquinha sem voto. Já Carla é povão, tem lastro popular. Sabiamente ela não vai empenhar seu capital político com o PT”.
William — “Acredito que a pessoa do Professor Jefferson, que transcende o PT, tenha potencial para furar o teto de 7%. Mas ele enfrenta as enormes dificuldades do elevado antipetismo no município, que, aparentemente, explicam a menor fatia na herança do espólio eleitoral de Carla Machado. Nesse caso, penso que o teto de 7% é factível. Não acredito que o eventual apoio da Carla tenha potencial para ampliar a intenção de voto em Jefferson. São candidaturas, intenções e eleitorados de perfis completamente diferentes. O eleitor da Carla tem base mais popular. A intenção em Jefferson é concentrada no topo da pirâmide social, de maior renda, escolarização e que é, exatamente, a minoria numérica do eleitorado”.
Publicado hoje na Folha da Manhã.