Facebook e tweets são muito mais usados para ofender e ridicularizar do que trocar ideias

net

 

 

Marisa von Büllow, professora na UNB e doutora em Ciências Socias
Marisa von Büllow, professora na UNB e doutora em Ciências Socias

O Desafio da Geração @: como transformar indignação em mudança?

Por Marisa von Büllow

 

Da Turquia aos Estados Unidos, do Chile ao Brasil, nos últimos anos temos visto a intensa presença da juventude nas ruas, mobilizada para pedir mudanças que buscam diminuir a desigualdade econômica e melhorar o funcionamento da democracia.

O discurso homogeneizador e simplista (tão comum há pouco tempo) de que a juventude é apática, egoísta e desinteressada da política não soa mais verdadeiro. Pelo menos não para a juventude que aprendeu a usar as plataformas da Internet para o ativismo político, e que em junho de 2013 viu como essas mídias sociais podem ser utilizadas, com muito sucesso, para organizar protestos.

A questão é que desde então parece haver uma percepção de que a Internet basta. Não são mais necessárias organizações da sociedade civil. Não são mais necessárias assembleias longas e nem a eleição de líderes. Esvaziam-se as organizações estudantis, mas não tem problema. Porque temos a Internet.

Com efeito, as mídias sociais são excelentes para juntar pessoas que pensam de forma similar sobre algum tema, ou que estão interessadas em uma mesma atividade, mas que não se conhecem. Sem a criação de comunidades virtuais, por meio de páginas de eventos do Facebook ou do uso de hashtags do Twitter, seria impossível imaginar as massivas explosões de mobilização que vivemos em 2013.

No entanto, esses espaços são muito menos eficientes quando trata-se de dar o salto das grandes consignas — como “o gigante acordou” — a demandas específicas sobre o quê mudar. As páginas no Facebook e os tweets têm sido usados mais para ofender, ridicularizar e denunciar do que para persuadir, trocar ideias ou informar. Além disso, é preciso considerar as próprias limitações dessas plataformas, que na verdade não foram pensadas para o debate informado de ideias.

A questão é que ir para as ruas a partir de um chamado (geral e vago) veiculado nas mídias sociais não é apenas ineficiente. O paradoxal é que, em vez de abrir as portas para a democratização da política, pode aprofundar o autoritarismo.

O salto qualitativo que possibilita realmente construir movimento social (e mudar a realidade) requer debate, confrontação de ideias, definição de estratégias, construção de acordos. Em outras palavras, requer organização.

Sem representantes eleitos, os oportunistas, aqueles que têm maior número de seguidores no Twitter, ou os que criam a página de algum evento no Facebook, acabam se posiconando de forma privilegiada frente aos demais. Algumas demandas e consignas ganham as primeiras páginas dos jornais, sem que tenha havido qualquer tipo de discussão sobre o que se quer dizer ou sobre quem pode dizer o quê.

Ações de protesto baseadas na Internet podem ser importantes e são sem dúvida legítimas, mas não estão imunes à hierarquia, ao individualismo, ao autoritarismo. Pelo contrário.

 

Publicado aqui, no Blog do Noblat

 

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Deixe um comentário