Com Dilma refém do parlamentarismo imposto pelo PMDB, Levy é o primeiro-ministro

Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Renan Calheiros, presidente do Senado (foto de Antônio Cruz - Agência Brasil)
Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Renan Calheiros, presidente do Senado (foto de Antônio Cruz – Agência Brasil)

 

 

Jornalista e blogueiro Ricardo Noblat
Jornalista e blogueiro Ricardo Noblat

O novo eixo do poder em Brasília

Por Ricardo Noblat

 

Se alguém interessado em tomar o pulso da situação desembarcar por esses dias em Brasília não terá dificuldades em descobrir que mudou o eixo do poder dentro e fora do governo.

Dentro, o endereço mais privilegiado não está no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde despacha a presidente da República. Muito menos no quarto andar onde funciona a Casa Civil.

Anote: Esplanada dos Ministérios, Bloco P, 5º andar. Esse é o endereço do gabinete do ministro Joaquim Levy, da Fazenda.

O que não passar por ali dificilmente contará com o aval de Dilma e, depois, com a boa vontade do Congresso.

Fora do governo, os endereços mais quentes estão no prédio do Congresso. A saber: os gabinetes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Onde fica o gabinete do ministro responsável pela coordenação política do governo, Pepe Vargas (PT-RS)? No Palácio do Planalto. Mas, esqueça. Ele não tem importância.

Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil, ainda guarda alguma importância. Mas ele está mais para o Dilma da Dilma do que para uma espécie de primeiro-ministro.

O primeiro-ministro é Levy. E a centralizadora e arrogante presidente parece conformada com isso. Quando nada porque se ele resolver, de repente, ir embora, o governo dela desmoronará.

Em junho de 2013, quando milhões de brasileiros saíram às ruas e derrubaram pela primeira vez a aprovação de Dilma, ela prometeu muitas coisas, sendo a reforma política uma delas. Nada fez.

No último dia 15, quando milhões de brasileiros outra vez saíram às ruas e reduziram a pó a popularidade de Dilma, ela despachou para o Congresso o pacote de medidas contra a corrupção prometido em junho de 2013.

Na luta diária pelo poder não se admite espaço vago. Levy entrou no governo como a salvação da lavoura. Para aplainar um terreno cheio de buracos e de más elevações.

A fraqueza de Pepe, a crise de identidade de Mercadante e a falta de rumo de Dilma abriram espaço para que Eduardo e Renan batessem com o pé no chão e começassem a falar grosso.

Os dois estão envolvidos com o escândalo da Petrobras. O governo de Dilma também está. A avaliação do Congresso consegue ser pior do que a avaliação de Dilma, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.

Mas Eduardo e Renan são ousados. Sabem o que querem. E estão fazendo por onde conseguir. Querem afirmar a autoridade do Congresso — e, por tabela, a deles mesmos. E aproximá-lo do que pede a voz das ruas.

Daí a reforma política possível, que os dois já dispararam. O ajuste fiscal possível, que negociam com Levy. E o reajuste da dívida de Estados e municípios, que discutem com Levy, governadores e prefeitos.

Enquanto isso, Dilma…

Enquanto isso, Michel Temer, o vice-presidente, vive a desejável atribulação de alguém que só cresce em prestígio na República. Toca em sintonia com Eduardo e Renan.

O primeiro governo de Dilma foi dela mesma e do PT. O segundo governo está sendo do PMDB até aqui.

 

Publicado aqui, no Blog do Noblat

 

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