Preenchido em dias de mais sorte pelos artigos semanais de Aluysio Barbosa, o Bom, andei dolosamente fora deste espaço dominical nos últimos meses, cedendo lugar para que outras pessoas publicassem aqui seus textos de opinião. Confesso na primeira pessoa assumida nos primeiros passos, que a gravidade das situações econômicas de Campos e do Brasil, em naufrágios muito semelhantes em origem, no lugar de me motivar a escrever, me afastou.
Afinal, se diante da montanha de fatos, quem ainda não se convenceu que o lulopetismo de Dilma e o garotismo de Rosinha puseram a pique, respectivamente, o país e o município, não será mais um artigo a falar sobre isso que terá o poder de transplante de cérebro. E não é nem preciso sair da seara local para observar os incautos que ainda se prestam a tentar defender um e outro governo, e duvidar que mesmo um cérebro novo fosse capaz de trazer luz ao pensamento e às intenções dessa gente. Afinal, como ensinar que a parede branca é branca a quem diz vê-la cor de abóbora?
Opinar pela brancura da parede publicamente pode desagradar a esse daltonismo da razão, cujas manifestações são paridas pelo mesmo radicalismo de quem trocou (ou vendeu) a lógica pela fé, a partir da negação da realidade. E, por certo, atrapalharia a diversão passiva do voyeur que gargalha às lágrimas ao observar quem critica Lula e Dilma e não tem coragem de fazê-lo pelos mesmos motivos com Garotinho e Rosinha, tanto quanto fazem rir os pretensos bem pensantes que descem a lenha nos governantes de Campos, enquanto mantêm acesa a vela no altar onde a estrela do PT permanece pregada no lugar da cruz.
O problema é que, além da parede branca continuar branca a despeito da negação da sua cor, é ser arrastado pelo braço, por quem nega, até a colisão coletiva das caras contra a mesma parede. Daí, em ato contínuo, é só aumentar a carga tributária brasileira, como quer uma presidente alienígena que se nega a cortar gastos, ou vender o futuro de Campos por sabe-se lá quantas gerações, como fizeram na cara dura os Garotinho, com a anuência de 16 vereadores bem atentos ao (laço do) presente.
Em outras palavras, quebraram o país e o município e querem que você e seus filhos paguem a conta. Pior, se julgam em seu legítimo direito, porque foram eleitos pelo voto, mesmo que este seja em sua maioria egresso de currais eleitorais custeados com dinheiro público. E, em nome dos pobres a serem assim mantidos ad aeternum, políticos e empreiteiros fazem fortunas pessoais, como a Lava-Jato demonstrou ocorrer no Brasil, enquanto em Campos se espera infrutiferamente, na Justiça e Ministério Público Estadual e Federal locais, alguém com competência, coragem e o compromisso público próximos aos de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.
Todavia, o que me trouxe de volta a este espaço não foi o que todos já sabem sobre o Brasil e Campos, sobretudo quem ainda finge ignorar. Mas o menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, com o corpo inerte e o rosto pálido tombado junto ao cascalho da praia turca de Bodrum. Foi a fotografia que rodou o mundo para fazer valer a máxima: uma imagem vale mais do que mil palavras. Responsável pela viralização da foto no Twitter, a hashtag #naufragiodahumanidade conferiu às redes sociais a profundidade que elas raramente têm.
Chamado pelos antigos romanos de “Mare Nostrum” (“Mar Nosso”), foi no Mar Mediterrâneo que eles equilibraram seu império entre Europa, Ásia e África. E, no fluxo migratório dos dois últimos continentes ao primeiro, foram nas mesmas águas em que Aylan deu cara às mais de 2.300 mortes noticiadas só este ano, num total de dois seres humanos afogados por hora no Mediterrâneo.
Isso sem contar com o drama particular da Síria, vivendo uma guerra civil que já matou 250 mil pessoas, 12 mil crianças como Aylan, e provocando o êxodo de outros 11 milhões, metade da população do país. E para você que pensa estarmos falando sobre algo a um oceano e um mar de distância, bom lembrar que o Brasil já recebeu dois mil desses refugiados sírios, inclusive em Campos, onde alguns já se estabeleceram como comerciantes, evidenciando na planície goitacá a capacidade de reconstrução desse povo.
Neste mundo globalizado pelo fluxo de pessoas, mercadorias e informações, não há nenhuma ilha. E os náufragos somos todos nós.
Publicado hoje na Folha da Manhã
Eu venho navegando por mares nunca dantes navegados, por aqueles, acólitos do poder e descompromissados com os quereres mais urgentes da população. Eu sou comprometido, eu sou compromissado, eu quero, que esses acólitos, que esses saqueadores da coisa pública, se afoguem, entrem em combustão espontânea, e queimem no inferno de suas torpezas, de suas crueldades. Eu me coloco ao lado dos menos apaniguados, eu sempre vou lutar as causas imo perdidas, e vou ganhá-las. Ótimo artigo.
Eu venho navegando por mares nunca dantes navegados, por aqueles, acólitos do poder e descompromissados com os quereres mais urgentes da população. Eu sou comprometido, eu sou compromissado, eu quero, que esses acólitos, que esses saqueadores da coisa pública, se afoguem, entrem em combustão espontânea, e queimem no inferno de suas torpezas, de suas crueldades. Eu me coloco ao lado dos menos apaniguados, eu sempre vou lutar as causas perdidas, e vou ganhá-las. Ótimo artigo.
Sim, somos todos náufragos, sem a tábua de salvação com diversos nomes:solidariedade, empatia, amor, dignidade, honradez, sinceridade e honestidade. Tudo o que nós, aparentemente humanos, precisamos para viver. A questão da dignidade e honestidade sendo lacunas em nossa política.
Caro Provisano,
Repito aqui o que lhe disse na democracia irrefreável das redes sociais: “Concorde qt aos saqueadores da coisa pública, amigo, agradeço pela generosidade. Ótimos feriados e semana!”
Abç e grato pela chance da reafirmação!
Aluysio
Cara Emar,
Falar em dignidade, nos dias de hoje, pode até ser incômodo a muita gente. Mas, por certo, em Campos, no Brasil e no mundo, não temos outra tábua de salvação.
Abç, bom feriado e grato pela chance do debate!
Aluysio
Para contribuir com o debate: hhttp://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150827_amor_siria_merkel_lab
Caro Clouseau,
Sua contribuição ao debate é bem vinda. Após ser não apenas derrotada, como completamente destruída, nas duas guerras mundias que causou, para hj carregar a Europa nas costas, a Alemanha de Angela Merkel é um exemplo positivo em mtas coisas. No paralelo entre a premier germânica e nossa presidente, permita-me também sugerir a conferida do link, quase profético, qd agora observado retrospectivamente: http://www.fmanha.com.br/blogs/opinioes/2014/06/17/chefe-de-estado-e-aplaudida-e-tem-nome-gritado-pela-torcida-em-jogo-da-copa/
Abraço e grato pela colaboração!
Aluysio
Quando vi essa foto nas redes cheguei imaginar em um montagem…..hoje com certeza que é real!!!!! deveria a exemplo de uma foto de uma menina vitima da bomba atômica……. que seja sirva de símbolo da indignidade dos nós humanos…. face a falta de respeito por alguns segmentos dos seres humanos….
Caro Carlos Heitor,
Sim, a foto já está na História como imagem definidora daquilo que de pior os seres humanos podem causar a seres humanos.
Abç e grato pela chance da concordância!
Aluysio