Invenção grega de antes de Cristo, como a democracia, o teatro é o palco em que será defendida a partir das 9h a manhã desta quarta-feira, na Villa Maria, a tese de doutorado do campista Glauber Matias em Sociologia Política pela Uenf: “Palco e resistência: a geração do Teatro de Bolso”. Ciente da importância do trabalho de Glauber, com foco entre o final das décadas de 60 e 80 do séc. 20 — chegando ao “Muda Campos” que levou Anthony Garotinho (atual PR) pela primeira vez ao poder — o professor da Cândido Mendes José Luis Vianna da Cruz, convidado à banca de análise, criou aqui, na democracia irrefreável das redes sociais, uma página para convidar ao evento.
Como orientadora da sua tese, Glauber teve a professora de Sociologia da Uenf Luciene Silva. Sobre o trabalho do orientando, ela disse:
— A tese fez uma retomada da atividade teatral em Campos, através dos seus principais grupos, partindo do final dos anos 1960, mas principalmente dos anos 1970, acompanhando os vários movimentos que vão confluir no “Muda Campos” (que elegeu Garotinho prefeito da cidade pela primeira vez em 1988). Era um teatro de vanguarda, crítico, em diálogo com coisas importantes que estavam acontecendo no Brasil da época. Com isso, poderia ter gerado uma mudança cultural na cidade. Mas a questão temática foi o teatro, as peças, os grupos a recepção popular; não a política. Tentamos fugir da armadilha que seria centrar a análise na figura que, a partir de certo momento, fez tudo girar em torno de si: Garotinho.
Por sua vez, o próprio Glauber confessa que o ocupação recente do Teatro de Bolso Procópio Ferreira em maio deste ano (aqui), pelos artistas e coletivos culturais da cidade, foi o que determinou o foco em seu trabalho de pesquisa:
— Quisemos descobrir o papel social que o teatro representou na história do município, na luta pelo poder. Pesquisamos desde as primeiras experiências de resistência cultural e política, a partir de 1968, sobretudo do teatro amador. E fomos dali até o contexto histórico do qual emergiu Anthony Garotinho, quando o processo de luta criou uma ruptura na ordem vigente. Ela vai emergir de uma luta pela hegemonia do Teatro de Bolso e, dali, pela cidade. No final dos anos 1970, muitos deles eram jovens que vinham do movimento estudantil, ligados à política. E criaram o que chamamos na sociologia de “estruturas de sentimento”: foram se aproximando, se conhecendo nos bares, ruas, no Teatro de Bolso, quando este estava aberto, problema que se repetiu desde a sua fundação, em 1968, até hoje. Era a luta contra a Ditadura Militar (1964/85), contra as forças conservadoras. Essa disputa pela hegemonia vai gerar o “pé na porta” (do qual Garotinho se catapultou à política) no Teatro de Bolso. E levou até o “Muda Campos”, em 1987 e 88. Mas não entramos na parte política, quando os arranjos de força se tornaram outros.