

Carta aos políticos, gestores e assessores da República
Por Matheus José
Trago esta carta a todos vocês depois de um seminário atemporal onde estiveram presentes Platão (427-347 – a.C., filósofo da Grécia antiga), Nicolau Maquiavel (1.469-1.527, filósofo e cientista político Italiano), Deepak Chopra (1946, médico indiano radicado nos Estados Unidos, escritor com ênfase em espiritualidade) e Lenio Streck (1955, jurista brasileiro, com ênfase em filosofia no direito – atualmente o segundo jurista mais citado em Teoria do Direito no mundo).
Eis o título do seminário: “Métodos atemporais para liderar, gerir e decidir”. Iniciados os trabalhos, buscando certo protagonismo, Nicolau Maquiavel pede a palavra e inicia sua apresentação com ênfase nos ensinamentos descritos em sua obra “O Príncipe”:
— Um governante deve ser cortês, mas sempre estar pronto para fazer o mal, se necessário. Há sempre que dividir para melhor reinar. E na primeira oportunidade, aniquilar seus inimigos, e, talvez, até mesmo seus amigos. São formas de manter a condução de poder e temor de todos os demais.
Sabedor que Nicolau se inspirou em seus ensinamentos, Platão pede a palavra e sustenta:
— Você, Nicolau, trilhou uma linha muito pragmática em suas orientações. Não vi em momento algum cotejar os referidos ditames com as quatro principais virtudes que devem ser os alicerces daqueles que gerem a coisa pública: (I) a sabedoria, (II) a coragem, (III) a moderação e (IV) a justiça. Não consigo visualizar o desenvolvimento e organização de uma sociedade justa sem estes elementos. Você focou apenas na detenção do poder pelo poder. Desta forma, não conseguiremos inspirar os governados, em especial as novas gerações. Reveja, pois, os seus ensinamentos.
Com certo constrangimento, ante à pública reprimenda, Nicolau tenta explicar:
— Minha função é orientar o detentor do poder, aquele que lidera, a continuar com o poder e liderar. Nada mais que isso.
Tentando acalmar os ânimos, coube ao filósofo Deepack Chopra lançar no debate primados de linha espiritual, que, segundo o médico, incidem na vida de todos:
— Ao longo de nossas vidas, fazemos atos que reverberam em outras pessoas e, ouso a dizer-lhes que, inevitavelmente, voltará para nós na mesma proporção da bondade ou maldade emanada. Conceituo isso como Karma. A causa e efeito que emanamos aos próximos em nossas vidas. Uma certa lei de doação, a qual vincula o que receberemos, na proporção do que emanamos. Governantes e líderes têm grandes oportunidades de fazer o bem e muita das vezes, por soberba e demasiada ambição, se perdem em suas carreiras e gestões.
Maquiavel atravessa a fala de Deepack Chopra:
— Ah, pronto! Isso aqui transformou-se em palestra sobre compaixão. Sobre empatia. Não é esta minha função ao assessorar reis e príncipes. Minha função é garantir o poder, fazendo até o mal, se necessário, como falei:
Platão entra para moderar e repreende seu aluno:
— Maquiavel, talvez faltem aos líderes os ensinamentos aqui esposados por Chopra. As questões por ele aqui expostas, numa linha de “dar e receber” e “lei do retorno” se alinham com as quatro virtudes que anteriormente eu aqui sustentei, em especial com a referente a justiça nas tomadas de decisões… Sugiro uma breve pausa e retornemos em seguida.
No retorno dos trabalhos coube a palavra ao jurista filósofo Lenio Streck:
— Antes do mais, agradeço a oportunidade de trazer algumas colaborações neste seminário de exposições de ideias que visa orientar governantes e líderes na tomada de decisões. Nessa linha, sempre sustentei que a filosofia e a literatura devem colaborar na tomada de decisões, sejam elas de natureza jurídicas ou de gestão. Consegui, conjugando estas premissas, inserir no ordenamento jurídico que as decisões devem ser íntegras e coerentes. Em outros escritos, visando colaborar com a teoria da decisão, novamente, seja ela jurídica ou administrativa, afirmo que não há decisão correta que não seja universalizável. Nessa linha se garante a coerência e a integridade estará alinhada com a justeza da medida.
Ante ao andar da hora, Platão pede a palavra visando encerramento dos trabalhos, dirigindo especial fala a Maquiavel:
— Nicolau, atualize, pois, a tua obra, seus escritos referem-se a um modelo absolutista que não encontra guarida nos dias atuais. Que incentivemos os políticos, governantes, membros e detentores de poder, e respectivos assessores daqueles a atuarem com Sabedoria, visando o bem da coletividade. Que tenham coragem, não para aniquilar seu inimigo, mas para enfrentar as pautas em prol das governados. Que tenham moderação e temperança, visando não abusar do poder, com domínio próprio, se cercando daqueles que consigam impedir erros em tomadas de decisões desviadas e açodadas em errôneos ímpetos. E tenham sempre como norte o inalienável senso de Justiça, com tomada de decisão pautada em integridade e coerência.
Foram essas linhas que consegui resumir em meu cansado caderno. Forte abraço,
Matheus José, advogado.