Elio Gaspari — Bolsonaros, Tarcísio e Lula a menos de 1 ano da urna

 

Já disse e escrevi mais de uma vez que tenho Elio Gaspari, entre os vivos, como o maior jornalista do Brasil. Seja em conhecimento enciclopédico do passado, informações privilegiadas do presente, estilo muito próprio de uma prosa quase literária, sem deixar de ser acessível ao leitor médio, e a isenção de quem nunca passa pano em ninguém.

Hoje, em sua coluna dominical, publicada (confira aqui ou aqui) em O Globo, Gaspari abordou, em três notas distintas, a retórica bravateira e autofágica dos Bolsonaros, a medição da semana de Tarcísio entre as candidaturas em 2026 a presidente da República ou a governador de São Paulo, e as nuvens de chuva no horizonte da CPI do INSS que podem despencar sobre o Lula 3.

Por complementares neste calendário eleitoral de menos de um ano até as urnas de 4 de outubro de 2026, seguem as três abaixo:

 

Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Lula (Montagem: Joseli Mathias)

 

Elio Gaspari, jornalista e escritor

Uma retórica de bravatas

De sua trincheira nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro ameaçou: “Sem anistia, não haverá eleição de 2026.”

Falso, sem a anistia desejada pelos Bolsonaros, haverá eleição em 2026, e se porventura eles vierem a ser responsabilizados por suas palavras, dirão que tudo não passou de simples bravatas.

Os Bolsonaros introduziram dois elementos tóxicos na política brasileira. Um é uma sorte de conflito intrafamiliar sem propósitos. Ganha um fim de semana em Budapeste quem souber porque Michelle não gosta de Jair Renan e é detestada por Carluxo. Flávio diz que Eduardo é maluco, e Eduardo acha que Flávio é manso demais. Para quê? Para nada.

O segundo ingrediente é a bravataria. O patriarca Jair combateu vacinas, disse que o medo da Covid era coisa de maricas, ameaçou com Apocalipses e em diversas ocasiões referiu-se ao “meu Exército”. Sempre para nada. Ainda no século passado, quando ele era apenas um mau capitão, Jair pulava de bravata em bravata, como a dos explosivos da adutora do Guandu, apresentada num desenho infantil.

As explosões dos Bolsonaros, como os planos da grei, ameaçam com o fim do mundo e, quando são chamados às falas, protegem-se, dizendo-se bravateiros. O melhor exemplo disso esteve no Plano Punhal Verde Amarelo. Enquanto era impresso no escurinho do Planalto pelo general Mário Fernandes, faria e aconteceria. Chamado a explicar-se, o general saiu de fininho, falando em simples reflexão.

Quando Eduardo Bolsonaro diz que “sem anistia não haverá eleição de 2026”, ecoa uma frase atribuída ao general Braga Netto, para quem não haveria eleição sem voto impresso. (Ele negou a autoria do comentário.) De qualquer forma, houve eleição sem voto impresso, Bolsonaro e Braga Netto foram derrotados, Lula está no Planalto e a dupla em prisões. Bolsonaro numa cana domiciliar, e o general num quartel. O país ganhou uma serenidade institucional que lhe foi negada durante o mandato do ex-capitão.

O estilo bravateiro é tóxico por ser de todo inútil. Serve para nada, além de dar alguns minutos de fama aos interessados.

Os Bolsonaros não conseguiram impor uma agenda radical quando estavam no governo. Nada conseguirão agora que estão fora dele, obrigados a temer a caneta do ministro Alexandre de Moraes. É um estilo vencido, como o dos chapéus e das polainas.

O deputado Eduardo Bolsonaro sabe que se o Congresso aprovar algum tipo de anistia, ela não trará grande alívio ao ex-presidente. Beneficiará primeiro os lambaris do 8 de Janeiro, condenados a penas extravagantes, como a de 14 anos para o bobalhão que sentou-se na cadeira de Alexandre de Moraes. (Ela estava na rua, não no prédio do Supremo Tribunal Federal.)

 

Tarcísio candidato

Um veterano observador da cena política de São Paulo e conhecido do governador Tarcísio de Freitas resolveu criar um candidatômetro. Ele oferecerá registros periódicos de qual poderá ser sua candidatura preferida.

Na semana passada, com a aprovação do refresco do Imposto de Renda para quem ganha até 5 salários mínimos, ele era candidato à reeleição para o governo de São Paulo.

 

CPI do INSS

Se a CPI das fraudes do INSS encostar nas novas modalidades de financiamento dos sindicatos o aparelho governista terá dificuldade para se explicar durante o ano eleitoral de 2026.

 

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