Crônica de um reencontro que arrebentou o peito
Por Elis Regina Nuffer
Não era só mais um evento como tantos que estamos acostumados a cobrir. Era como atravessar um espelho e dar de cara com tudo o que um dia fomos — e com tudo o que ainda pulsa dentro de nós. Um encontro de jornalistas ao ar livre, sim, mas bem longe do óbvio. Árvores altas ao redor de um chão muito nosso e céu aberto como teto. Natureza crua, cenário perfeito para um reencontro que foi tudo, menos suave.
Foi intenso.
Gente que o tempo tinha empurrado para longe, mas nunca apagado da lembrança. Colegas que viraram amigos, amigos que viraram histórias. Jornalistas e comunicadores de todas as vertentes: da notícia quente, das colunas sociais, de assessoria, de comercial. Os que estamos e os que se foram. Sim, estão conosco nas nossas memórias de um tempo que não se apaga e se renova na saudade e no que aprendemos juntos.
O impacto não veio devagar. Veio como avalanche. Cada rosto reencontrado, cada abraço que durava o necessário para a emoção fluir, cada riso entrecortado de lembrança… tudo isso foi tirando o ar e devolvendo pedaços nossos que andavam esquecidos até de nós próprios.
Não era nostalgia. Era celebração bruta de nós que sobrevivemos (e vivemos intensamente) o Jornalismo da virada de século. De quem ainda acredita. De quem escolheu contar histórias — e agora nós somos protagonistas de uma das mais intensas histórias.
Naquele dia, sábado, 21 de junho de 2025, a comunicação teve voz, corpo e alma. Teve lágrima represada, solta no rosto e emoção sem filtro. E todos sentimos isso… estávamos presentes com o coração.
Tudo organizado perfeitamente com toda delicadeza pelas incríveis Jô e Jane (como disse o nosso amigo Roberto Assis, parece nome de dupla sertaneja). Mas quando chegamos à Donatello (oh, que lugar incrível!), trocamos logo a delicadeza pela intensidade. Nada de açúcar, só a força crua do reencontro.
Foi como um soco no peito — desses que não doem, mas abrem a alma. Reencontrar tanta gente que fez parte da caminhada de cada um de nós, naquele cenário descomplicadamente encantador, foi visceral. Árvores altas como testemunhas silenciosas, vento correndo solto entre as conversas, e o céu, cúmplice, estendido sobre nós.
Não era só saudade. Era o impacto de ver rostos que o tempo não conseguiu apagar, vozes que marcaram eras, sorrisos que carregam histórias. Havia ali jornalistas de todos os cantos da Comunicação. Gente que enfrentou pauta dura, deadline cruel, mudança de rota no meio do caminho… e sobreviveu. Gente que enfrenta tudo isso todo dia e estava ali compartilhando a sua emoção.
Cada abraço parecia resgatar pedaços nossos deixados para trás. Foi reencontro com os outros, mas também com quem a gente era — e talvez ainda seja. Foi intenso. Honesto. Inesquecível.
Não dava para sair igual depois daquilo. Foi explosão estar ali. Foi como se o tempo tivesse dado uma trégua só para nós. As árvores ouviram as nossas histórias e viram quantos abraços demorados (muitos repetidos) que contavam tudo o que as palavras não conseguiram dizer.
Ah, Donatello gentil, perfeito para nossos risos soltos, olhos marejados e memórias flutuando no ar. Cada conversa era uma viagem no tempo – muitos de nós não nos víamos há anos. E, mesmo assim, bastou um olhar para que tudo fizesse sentido outra vez. Estávamos em casa falando da nossa casa porque a Redação sempre foi a casa de cada um de nós.
Um caleidoscópio de histórias humanas, todas convergindo naquele instante mágico. Ali, entre o som da natureza, o chão e o céu, lembramos por que escolhemos essa profissão: contar o mundo ao mundo, mas ali também nos contar.
Foi mais que um encontro. Foi um reencontro com nossa essência, com a paixão que nos move, com a coragem que nos une. E, confesso, ficou difícil conter a emoção diante de tanta trajetória entrelaçada ali, sob as copas generosas das árvores que se doaram só para nós naquele sábado do primeiro grande encontro que sempre será ÚNICO!
Saímos mais leves. Mais inteiros. Com o coração pulsando gratidão.
E quem não chorou… bem, talvez, sorriu chorando por dentro.
P.S.: Esta crônica é sem medida.
Publicado hoje na Folha da Manhã.