Memórias do Hexa, deste e outros Maracanãs

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acabei de chegar a Campos, vindo do domingo de Maracanã. Fui com meu filho, Ícaro, de 10 anos, que nunca havia visto seu time campeão brasileiro, e com o Leonardo Moreira, que assistira junto comigo, naquelas mesmas arquibancadas, o Penta do Mengão, conquistado sobre o Botafogo e sob o comando de Júnior, em 1992.

Dezessete anos depois, foi bem mais duro do que achava, literalmente, a torcida do Flamengo. Um primeiro tempo muito ruim, Adriano e Petkovic apagados, um Grêmio inesperadamente aguerrido, o primeiro gol sofrido, virada com dois gols de zagueiros. Mas foi como tinha que ser! Se algum clube do Brasil tinha que quebrar a enfadonho domínio dos paulistas no campeonato de pontos corridos, teria que ser mesmo o Flamengo, cujas fronteiras regionais se tornaram pequenas demais para conter uma hegemonia consagrada nos três últimos anos .

De qualquer maneira, parabéns ao Vasco pela ascensão à 1ª divisão, ao Botafogo e ao Fluminense, time do meu pai e meu irmão, pela sofrida, mas merecida manutenção na elite do futebol brasileiro. O Flu, pelo que soube, em outro jogo épico, enquanto coube ao Fogão eliminar o Palmeiras de Muricy Ramalho da Libertadores, cujas vagas foram extraídas do Brasileirão numa distribuição melhor equilibrada entre um carioca (o Mengão), um gaúcho (o Inter), um paulista (o São Paulo) e um mineiro (o Cruzeiro). A eles se somará outro paulista, o Corínthians campeão da Copa do Brasil.

Assisti a todos os títulos brasileiros conquistados pelo Flamengo, mais a Libertadores e o Mundial de 1981. O grupo que ganhou estes dois, mais os três primeiros Brasileirões (1980/82/83), formou não só o maior Flamengo de todos os tempos, mas o melhor time de clube que vi jogar. Sua base é conhecida de cor por qualquer rubro-negro que se preze: Raul, Leandro, Mozer, Figueiredo (Marinho) e Júnior; Andrade (Carpeggiani ), Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. O que ganhou a Copa União de 1987, também era um super-time, com a a maturidade de Zico, Leandro, Andrade e Edinho remoçada por talentos como Zé Carlos, Jorginho, Leonardo, Aílton, Zinho, Renato Gaúcho e Bebeto, destaques não só no Fla e outros clubes, mas também na Seleção Brasileira. Já o de 1992, se não era um grande time, tinha Júnior, não mais o Capacete virtuose da lateral-esquerda, mas o Vovô Garoto que regia o jogo como um maestro no meio-de-campo.

Para quem não viu nenhum desses times jogar, afirmo sem medo de errar: individualmente, o esquadrão do Hexa só é superior ao de 92. Comparado ao de 81, porém, apenas Bruno, Ronaldo Angelim (autor do gol do Hexa) e Adriano são provavelmente melhores que os respectivos Raul, Figueiredo e Nunes — muito embora este, ao contrário do Imperador no jogo de ontem, nunca tenha falhado nas decisões. O craque Petkovic, por exemplo, contraposto a Zico, seria um bom banco, como, aliás, qualquer outro camisa 10 da história, à exceção de Puskas, Pelé e Maradona. Com Zidane, digamos que a disputa com o Galinho seria de igual para igual.

E por falar no maior jogador rubro-negro de todos os tempos, suas palavras de ontem, que só escuto nesta madrugada de hoje, foram tão precisas quanto costumavam ser suas cobranças de falta: “O Flamengo começou o jogo parecendo que não estava numa decisão”. Assim como diante do Goiás, o time de Andrade claramente sentiu, no primeiro tempo, o peso de ter que definir seu destino diante da sua torcida. Embora o time de hoje seja superior tecnicamente, como já disse, ao do Penta em 1992, este tinha mais capacidade de decisão.

Todas essas divagações se desvanecem diante de algo que nunca mudou, de 1980 para cá — aliás, desde que o Clube de Regatas do Flamengo passou a também a atuar no futebol, num distante 1912. O espetáculo nas arquibancadas e cadeiras que eu e meu filho presenciamos (e participamos) ontem, no Maracanã, teve início muito antes da construção do maior estádio do mundo, para a Copa de 1950. Brasil dentro do Brasil, maior que Zico, maior que Pelé, sem paralelo em qualquer outro lugar ou tempo do mundo, esse craque sempre foi o mesmo: a torcida do Flamengo.

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Este post tem 2 comentários

  1. Fernanda Huguenin

    Caro Aluysio,
    ao assistir ao jogo ontem junto a amigos muito queridos, olhava para as imagens da arquibancada e tinha vontade de atravessar a tv. Lembrei que você e Ícaro estavam lá e posso imaginar a descoberta do menino e a emoção do homem. Belo artigo! Viva a urubuzada!

  2. Aluysio

    Huguenin,

    Sai do chão!!! Sai do chão!!! A torcida do Mengão!!!…

    Bj!

    Aluysio

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