Versos do domingo — Antônio Carlos Secchin

Tornado poeta a partir de um conhecimento profundo de poesia, o carioca Antônio Carlos Secchin (12/06/1952) é doutor em Letras pela UFRJ, onde leciona Literatura Brasileira. Ocupa também a cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras. Travei contato com ele a partir de um toque do professor de História e amigo Gustavo Soffiati, que identificou semelhanças de fraseado entre os versos dele e os meus, em analogia certamente superestimada da minha lavra.

Considerado por João Cabral de Melo Neto (1920/99) como seu melhor crítico, Secchin exibe em sua própria poética a face bem delineada do ávido leitor. E foi nesta condição que devorei seu “Todos os Ventos” (Nova Fronteira, 2002), livro com o qual gentilmente me presenteou, chegando depois a lhe confessar que “silêncio de âncora” é um dos versos mais belos que conheço escritos em língua portuguesa, ou em outra qualquer. 

Abaixo, para semear um “intervalo do azul” neste domingo, segue o poema completo…

 

 

Palavra

Palavra,
nave da navalha,
invente em mim
o avesso do neutro.
Preparo para o dia
a fala, curva do finito
num silêncio de âncora.
Atalho onde me calo
e colho, como a um galo,
o intervalo do azul.

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Este post tem 2 comentários

  1. Savio

    Realmente!Um verdadeiro “achado” o poema, daqueles que o sujeito leva depois o resto da vida procurando, escavando, escarafunchado os desvãos da palavra em busca de pepita do mesmo teor.
    Parabéns pela ilustração, a âncora apoiada num azul infinito, mas solta, liberta, tal e qual o próprio verso que se pensa solto mas que só se exala do coração do poeta, até atingir a nós mesmos, outros portos.

    (De quem é o crédito da ilustração)?

  2. Aluysio

    Caro Savio,

    Sua impressão após a primeira leitura do poema comunga, exatamente, das mesmas sensações que tive quando também o descobri no livro que me foi presenteado pelo Secchin. Como diz o Veríssimo sobre quando viu Charlie Parker tocar e Puskas jogar, é uma daquelas lembranças que guardamos num estojo.
    Quanto à ilustração, também concordo: além de registro gráfico perfeito do verso, é belíssima. Não sei, no entanto, quem é seu autor, pois cheguei a ela através do pai de todos os internautas, o São Google.

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

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