Artigo do domingo — Sem você, tudo vai ficar como está

De tudo que foi noticiado em mídia local e nacional, dando conta da suposta censura à peça “Bonitinha, mas Ordinária”, de Nelson Rodrigues, por alegados motivos de ordem pessoal e religiosa da prefeita Rosinha, que seria encenada no Trianon pelo grupo teatral carioca “Oito de Paus”, em 10 de agosto (relembre o caso aqui e aqui), o que realmente importa é que, mesmo claramente a contragosto, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Patricia Cordeiro, teve que descer do pedestal no qual ela própria se pôs, para se reunir na última quarta-feira, dia 17, no foyer do Trianon, para ouvir as reivindicações dos artistas de Campos que foram às ruas protestar contra os desmandos na política cultural do município, responsável também pelo cancelamento de mais três apresentações, todas com satisfações sonegadas aos envolvidos e ao público.

Ainda que na reunião, palavra não tenha sido dita pelos artistas sobre as suspeitas contratações pelo poder público municipal da banda A Massa, que tem como percursionista o marido de Patricia, Lucas “Cebola”, questão que permanece tabu na política cultural de Campos, a presidente da FCJOL peca por arrogância e descolamento da realidade se chegou mesmo a considerar a reunião como uma sua “vitória”. Pois a vitória pertence de fato àqueles que se reuniram virtualmente no grupo de discussão “Nelson Censurado”, na democracia irrefreável das redes sociais, a partir do qual construíram a realidade do protesto na praça São Salvador, no dia 11, saindo em passeata até o Trianon; que voltaram a se reunir no Jardim do Liceu, no dia 15, e na Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic), no dia 16, com o superintendente (ex-secretário) de Cultura Orávio de Campos Soares, onde a reunião com Patricia foi agendada para o dia seguinte.

Bem verdade que, sobre a reunião com Orávio, na Fafic, fechada à imprensa, não foram poucos os observadores não presentes a depois concluiriam que, como dois mais dois nunca costumaram resultar em cinco, em troca do encontro com Patricia no dia seguinte, os artistas teriam se comprometido a calar sobre a questão da banda A Massa. Todavia, também não é mentira que operação “Telhado de Vidro”, deflagrada contra o governo Alexandre Mocaiber, foi batizada pela Polícia Federal com o nome da empresa que contratava os shows daquela administração municipal, principal responsável pela primeira eleição de Rosinha à Prefeitura de Campos.

Mentira, das mais descaradas, foi a afirmação no programa de rádio Diário do sábado retrasado, de que este articulista teria “plantado” junto ao jornalista carioca Artur Xexéo a informação sobre a suposta censura à peça de Nelson Rodrigues, assim como sua alegada motivação por restrições de ordem pessoal e religiosa de Rosinha. Como o próprio Xexéo informou claramente em sua coluna, na contracapa do Segundo Caderno de O Globo, em sua edição do último dia 10 (atente ao trecho em destaque):

— É o que se pode chamar de uma atitude feliciana. O Teatro Municipal Trianon, de Campos de Goytacazes, cancelou a apresentação do espetáculo “Bonitinha mas ordinária”, do Grupo de Teatro Oito de Paus, que estava agendada para agosto. De acordo com um dos atores do grupo, Rodrigo Vahia, a justificativa que a direção do teatro deu por e-mail para o cancelamento da peça de Nelson Rodrigues é que ela “poderia ofender a prefeita Rosinha Garotinho, que é evangélica”. E tem gente que acha que a prefeita é bonitinha.

Vindo de quem veio, a acusação oposta ao que o próprio Xexéo escreveu aqui, não surpreende. Afinal, a capacidade de crer em suas próprias mentiras é uma das características de quem padece de deficiência mental e/ou de caráter, sobretudo diante da verdade claramente posta, preto no branco, a qualquer um que saiba ler. Outro jornalista, o Paulo Renato Porto, além de saber ler, sabe também escrever. Não foi por outro motivo que, há alguns anos, quando ele trabalhava na Folha, eu enfrentei sua própria resistência pessoal para que rompesse o monopólio da sua atividade jornalística na crônica esportiva, colocando-o para atuar na editoria de política, que lhe valeu a função que hoje exerce no jornal O Diário, depois acumulada com a assessoria da Câmara Municipal de Campos, sob comando do governista Edson Batista.

Espantou, portanto, não só a mim, mas a vários outros colegas, que Paulo tenha reafirmado em sua coluna “Política & políticos” o que seu patrão de verdade havia regurgitado em rádio. Além, o jornalista ainda pretendeu classificar minha inexistente passagem de informação ao Xexéo como “barriga”, que no jargão jornalístico designa a informação equivocada. Creio que, mesmo para um analfabeto, os signos que formam o nome “Rodrigo Vahia” não podem ser confundidos com aqueles que compõem “Aluysio Abreu Barbosa”. Prenhe de nove meses da “barriga” inseminada pelo patrão, cuja paternidade se prestou a assumir com seu próprio nome, fica o alerta ao Paulo Renato, que recentemente já tomou aqui um puxão de orelhas público do blogueiro Gustavo Matheus, pela promiscuidade pouco ética no favorecimento de informações entre o jornalista e o assessor da Câmara reunidos na mesma pessoa.

Em contrapartida, agradeço ao empresário, blogueiro e colunista Murillo Dieguez, em sua “Comentários” da última sexta, dia 19, pela lembrança aqui da participação do blog “Opiniões” e da Folha em duas causas felizmente exitosas: além de forçar Patricia Cordeiro a se reunir com os artistas de Campos e ouvir suas reivindicações, a cobertura à campanha em solidariedade ao Asilo do Carmo, que no mesmo dia no qual foi abraçado literalmente pela comunidade, na última terça-feira, dia 16, teve os secretários municipais enviados por Rosinha para providenciar a remoção e o abrigo dos seus idosos num novo local.

À certeza de que as duas causas são maiores, mas muito maiores, do que quem escreve estas linhas, somam-se algumas outras, infelizmente quase sempre deixadas de lado por quem detém o poder nesta planície cortada pelo Paraíba do Sul, mal escudado por seus delirantes lambe botas de plantão: crítica não é ofensa, adversário dialético não é inimigo, e atacar pessoalmente quem critica, ou os supostos motivos que levaram à crítica, diante da incapacidade retórica de simplesmente contrargumentar, é um dos sofismas mais manjados (e intelectualmente medíocres) da humanidade.

Ao fim e ao cabo, a certeza definitiva foi revelada em entrevistas trocadas, no dia 16, entre mim e os também jornalistas da Folha Suzy Monteiro e Mário Sérgio Junior, com cinco estudantes adolescentes do 1º ano do ensino médio, da escola estadual João Barcelos Martins, que buscavam informações, para um trabalho de sociologia, sobre as manifestações de rua em Campos e no Brasil. Nas palavras aqui da jovem Tamires, de apenas 15 anos, deixo ao domingo a lição que parece dormitar no esquecimento de muito marmanjo: “Se a população sair das ruas, suas cobranças serão esquecidas. E se deixarmos nossos políticos esquecerem de nós, se nos esquecermos da força que temos, tudo vai ficar como está”.

Publicado hoje, na edição impressa da Folha.

Atualização: Aqui, após o artigo já ter sido escrito, o músico Fabiano Artiles e a atriz Simone Pedro, presentes à reunião na Fafic, na terça, garantiram que nenhum acordo foi aceito pelos artistas de Campos, no sentido de se calarem sobre a questão tabu das contratações da banda A Massa, como condição à realização da reunião de quarta, no Trianon. Eles também revelaram que, na Conferência Municipal de Cultura de ontem, da qual Patricia Cordeiro se fez ausente, o assunto foi levantado pela estilista Lívia Amorim, mas sem nenhuma resposta dos representantes do poder público municipal.

Atualização às 16h21 de 22/07: Aqui, em comentário à esta postagem, ao contrário do que informou no face, aquiaqui, o músico Fabiano Artiles, a estilista Lívia Amorim afirmou sobre sua atuação na Conferência de Cultura: “Não questionei quem são as bandas contratadas pela prefeitura. Até pq não tenho conhecimento nem autoridade pra isso”.

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Este post tem 12 comentários

  1. machado

    Destaco:”A capacidade de crer em suas próprias mentiras , é uma das características de quem padece de deficiência mental e/ou de caráter”
    “Se a população sair das ruas, suas cobranças serão esquecidas.E se deixarmos nossos políticos esquecerem de nós, se nos esquecermos da força que temos, tudo vai ficar como está.”

  2. João

    Não há resposta!!Quem manda são os INHOS e LINDA é quem faz a cabeça de ROSINHA para manter Patrícia e os shows da mesma.
    A toda poderosa se ligou a LINDA e sutilmente, maquiavelicamente se infiltrou com a família na casa de ROSINHA. Linda sabe todos os passos de prefeita e repassa para PATRÍCIA.
    Para ficar mais próximo e não dar margem para aproximação de estranhos a toda poderosa se converteu e agora se tornou EVANGÉLICA.
    Através de Linda ela sabe até o que a prefeita quer ouvir e descaradamente se faz de boazinha para ganhar a confiança.
    ROSINHA perdeu a liberdade pois ela vive dentro da casa dela.
    Só quem pode dar um fim nessa história são os INHOS mas ela chora e diz que Aluysinho implicou com ela e quer derrubá-la mas não sabe o motivo.
    Faz drama e usa DEUS para sensibilizar ROSINHA.É um nojo a cena.
    Essa mulher é um perigo!!!!

  3. Leandro

    Procura o grupo Aluysio e acabe com essa farsa.
    Faça com que eles mostrem a gravação de João Vicente.
    (Trecho excluído pela moderação)
    Os artistas são mortos de fome e se sujeitam a qualquer trocado por um show para ficar de boca calado e muitos nem aparecem com medo de serem marcados.
    Vc é um trouxa na boca dessa mulher.

  4. daniel

    Patrícia mandou o assessor da FCJOL ligar para Aluysio e exigiu que ele retirasse as insinuações do blog.
    Dito e feito, foi retirado.
    Ela sabia que os argumentos dele não durariam muito tempo pois não tem base para se consubstanciar. (Trecho excluído pela moderação)

  5. grego

    A Escola da Samba Porto da Pedra, que Patrícia Cordeiro traz todo ano tem como presidente (trecho excluído pela moderação).
    É por isso que ela sempre fica a frente dessas questões, para fechar o contrato milionário com eles. E, não faz por menos, todo ano traz outras mas a PORTO DA PEDRA não pode faltar.
    (Trecho excluído pela moderação) é destaque na escola e ela adora exibi-la.

  6. Silvio Fontoura

    Muito bom o texto. Com relação à banda “A Massa” qual é a reivindicação? Ela não ser contratada pela PMCG? É isso?

  7. Lívia Amorim

    O meu questionamento na Conferência foi em relação ao PIB da cultura do município. Está é a minha questão. Quanto se gasta em cultura? Como se gasta em cultura? Cade o fundo municipal? Cade os editais? Não questionei quem são as bandas contratadas pela prefeitura. Até pq não tenho conhecimento nem autoridade pra isso. Não sou imprensa, não sou MP. Eu sou artista e me atenho a isso.

  8. Lívia Amorim

    Em tempo: espero que a imprensa apure, divulgue cada uma dessas denúncias. Se forem verdadeiras, que sejam punidos os envolvidos. Sou a favor da transparência. Essa é a minha parada.

  9. Aluysio

    Bem, Lívia, seu nome só foi citado, não no artigo, mas na atualização depois dele já ter sido escrito, a partir do que revelaram o Fabiano Artiles e a Simone Pedro, na noite de sábado, em comentários no meu mural do face, como vc pôde conferir por conta própria, já que também se manifestaria em comentário àquela mesma postagem, mt embora para defender sua condição de estilista como artista, questionada sem citar seu nome, em comentário feito por um leitor aqui no blog, três posts abaixo, e sobre o qual vc também deixou o seu. O fato é que, ou vc disse uma coisa na Conferência, e o Fabiano e a Simone pareceram entender outra, ou sou eu é que já não estou entendendo mais nada.
    De qualquer maneira, mesmo sem entendimento pleno dos fatos e suas versões, a sua versão, até por se tratar daquilo que vc disse ou não na Conferência, vai democraticamente constar de outra atualização à postagem.

    Abç e grato pela colaboração!

    Aluysio

  10. Fabiano Artiles

    Fico feliz por terem esclarecido o assunto lá no Facebook. Obrigado.

  11. Aluysio

    Tranquilo, Fabiano!

    Abç e grato pela participação!

    Aluysio

  12. Aluysio

    Caro Daniel,

    Antes tarde do que nunca, se vc soube de alguma ligação para este blogueiro, a mando da presidente da FCJOL, e, sobretudo, da supressão de uma letra sequer, de algum post ou comentário deste blog, tratando da política cultural do município, só posso crer que vc, ou quem quer que esteja por trás do seu comentário, estejam padecendo de delírio do mais alto grau. Mas fiquem tranquilos: deve existir cura!!!… Rs

    Abç e grato pela chance do esclarecimento à luz da razão!

    Aluysio

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