Quem tem medo do Lobo mau na discussão da cultura?

Qual adjetivo melhor se encaixa para descrever João Luiz Woerdenbag Filho? Quase todos já foram usados, mas sem que nenhum o resumisse melhor do que o apelido dado desde os tempos de escola, por conta do macacão pendurado numa só alça e da barba precoce: Lobão. Poeta tão talentoso quanto Cazuza ou Renato Russo, mas superior como músico aos seus principais pares no rock nacional, o BRock, que explodiu nos anos 1980, de lá para cá Lobão ajudou a escrever a trilha sonora de toda uma geração, pranteou camaradas em armas tombados pelo caminho, tentou mais de uma vez o suicídio, enterrou o pai e a mãe exitosos na mesma tentativa, foi preso por uso de drogas como resposta de um status quo que criticava, vendeu 350 mil cópias de um disco produzido em parte na cadeia, flertou com a bandidagem e o samba dos morros cariocas, integrou a bateria da Mangueira no desfile do centenário da abolição da escravatura, amou intensamente várias e belas mulheres, fez aquele considerado o melhor show do Hollywood Rock e saiu vaiado do palco no Rock In Rio II, entrou em ocaso junto às gravadoras, largou as drogas e revolucionou a indústria fonográfica ao vender seus CDs em bancas de jornal, devorou livros e fundou uma revista que lançou novos nomes na música, ganhou o Grammy de melhor disco de rock com a coletânea unplegged do seu repertório, se reinventou como jornalista e apresentador de programa de TV, apoiou de graça para depois romper ruidosamente com o PT e a esquerda brasileira, e mais recentemente escreveu dois livros: o primeiro, sua autobiografia, concorreu ao Prêmio Jabuti, já vendeu mais de 100 mil exemplares e agora se prepara para virar filme; enquanto no segundo se propõe a questionar toda a cultura nacional a partir do modernismo de 1922. No momento em que Campos debate seus rumos e desrumos culturais, nada melhor que abrir espaço para quem já vem fazendo o mesmo há tanto tempo, a despeito dos interesses do poder ou das vaidades dos artistas, sem nenhum receio em enfiar a unha encravada nas feridas da cultura brasileira.

Folha Dois – Você disse que tudo que é deve à música e aos livros. A partir de ambos, que tipo de homem se tornou?

Lobão – Um pensador livre.

Folha – Esse tipo de formação autodidata, montada em sensibilidade e curiosidade intelectual pré-socráticas, tende a se tornar cada mais rara no mundo de hoje?

Lobão – Me parece que sim. O próprio índice de leitura mais complexa abaixa a cada dia.

Folha – Compositor de mais de uma dezena de hits da música brasileira e, mais recentemente, autor de dois livros de sucesso, hoje se considera mais músico ou escritor?

Lobão – Eu me considero um homem versátil e faço tudo o que me compete fazer com toda a paixão do mundo. Amo fazer música e amo escrever. As duas funções se alimentam e me enriquecem.

Folha – Esse mesmo duplo na arte, entre música e literatura, não aproxima você de Chico Buarque, um dos seus principais desafetos? Há como viver de escrever verso musicado e prosa literária sem admirar Chico? E o que dizer então de Vinicius de Moraes, sobre quem você escreveu que admirar seria o “fim da picada”?

Lobão – Olha, eu não considero o Chico um desafeto. Tenho carinho por ele. Só não gosto do que ele faz. Agora, se dependesse do Chico para me inspirar a compor ou a escrever, eu teria me tornado um colecionador de selos. A mesma coisa cabe ao Vinicius. Poucas obras me são tão agressivamente repelentes do que as desses autores. Embora eu aprecie os sonetos do Vinicius, não suporto suas canções.

Folha – A outro de seus detratores, você dedicou a música “Para o mano Caetano”. A letra oscila em críticas pesadas e declarações de amor. Numa paráfrase já lugar comum, dá para ecoar Elis, outra sobre quem você se divide entre elogios e críticas: “Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões”?

Lobão – Eu não dediquei nada a ninguém. Eu simplesmente compus uma réplica precisa e direta. Não se trata disso. É mais simples: Eu não pertenço a esse ramo musical/filosófico/estético.

Folha – Sem lugar comum são os diálogos das suas composições. É o caso de “As flores do mal”, do poeta francês Charles Baudelaire, em sua “A queda”; de “Além do bem e do mal”, do filósofo alemão W. F. Nietzsche, na sua “Deus é o diabo de folga”; ou de “El Desdichado”, poema mais famoso de Gerárd de Nerval, outro francês, que gerou sua “El Desdichado II”. Essa erudição é reconhecida por fãs e crítica? E assusta os desafetos?

Lobão – Eu acho muito pouco provável. A crítica é de uma indigência mastodôntica e os desafetos, não raro, inaptos para qualquer apreciação mais honesta e acurada. Só conseguem esboçar cacoetes comportamentais de mal estar. Já da parte dos fãs, existem casos de pessoas que mostraram perceber essas sutilezas. Fato esse que muito me agrada.

Folha – Sua autobiografia, “50 anos a mil” é aberta com você e Cazuza, numa madrugada fria de junho de 1984, no cemitério do Caju, no Rio, chorando e cheirando cocaína sobre o caixão de Júlio Barroso, da banda Gang 90. Até que ponto o prólogo reafirma sua amizade de vida e morte com os dois expoentes do BRock, e até que ponto é para chocar?

Lobão – Nem uma coisa, nem outra. O prólogo tem uma razão estratégica na narrativa do livro, pois quero deixar bem claro que seria ali, naquelas miseráveis circunstâncias, que todos os sonhos de construirmos uma nova geração de estetas e pensadores da cultura nacional estava morta. Não haveria, dali em diante, mais nenhuma possibilidade de um futuro para a música brasileira que não fosse o mesmo do mesmo.

Folha – Você disse ter prometido que o melhor ainda estaria porvir, nos túmulos de Júlio e, depois, de Cazuza, morto em 1990. Como essa expectativa se encaixa naquilo que disse em entrevista linkada em seu site: “Esta é a nossa pior época”?

Lobão – Sim, estamos passando por um dos piores momentos da nossa história. Contudo, pessoalmente, estou vivendo um momento maravilhoso e em plena fase de crescimento artístico. Pena não poder dividi-lo com mais pessoas.

Folha – Além de Júlio e Cazuza, outra morte precoce que você lamenta é a de Renato Russo, em 1996. A partir dessas perdas o BRock perdeu espaço para outros estilos, ou isso aconteceria mesmo se todos se mantivessem vivos e produzindo?

Lobão – Eu afirmei que tudo morreu com o Júlio. O resto foi detalhe. Já estávamos coletivamente mortos.

Folha – Sobre Cazuza e Renato, como vê os autores de “Brasil” e “Que país é esse?” cantando o país governado há 10 anos pelo PT? Acredita que, como você, eles teriam guinado politicamente 180º com a realidade pós-Mensalão?

Lobão – O Renato sempre detestou petistas e era francamente capitalista. Já Cazuza era PT e não sei se teria coragem de mudar de opinião.

Folha – Como alguém que apoiou Lula de graça, desde o segundo turno da eleição presidencial de 1989, quando participou daquele célebre comício na Candelária, com Luís Carlos Prestes segurando o microfone para você cantar “Revanche”, até que esta finalmente se desse em 2002, pode ter se convertido na voz mais contundente contra o petismo entre os artistas brasileiros?

Lobão – O PT é uma farsa e eu nunca fui um fã ardoroso do partido. Apenas lutei para que chegasse ao poder por uma espécie de vez histórica: Eles, os petistas, tinham que mostrar ao que vieram, principalmente com a bandeira da ética e da honestidade. Uma vez ficando bem claro que era uma deslavada mentira e, para piorar, arreganhando um viés neocomunista, eu pulei fora dessa canoa furada o quanto antes. O fato de escrever o “Manifesto” me deu muito mais embasamento sobre a política em geral. Li mais de 60 livros para me nutrir de informações e acabei o livro bem melhor do que comecei.

Folha – Em “Manifesto do nada na Terra do Nunca”, seu segundo livro, você chegou a dedicar um capítulo inteiro a propor a execução da presidente Dilma Rousseff. Mesmo em metáfora, o escritor não encarnou o “Exagerado” de Cazuza?

Lobão – Basta ler com atenção e poderá perceber a pertinência da violência da metáfora. Não. Escrevi com temperança e didática e se usei de cores carregadas foi porque a situação assim exigiu.

Folha – Sobre um dos arquétipos petistas, você escreveu: “o intelectual de esquerda é o campeão mundial da punheta de pau mole (…) Sempre deprimido, paranoico, ressentido, sempre vitimizado por complôs cósmicos, sempre pronto para eliminar suas contradições na base do grito”. Não há exceções menos neurastênicas?

Lobão – Não, por ser um erro basilar. Quem se dispõe a pensar dessa maneira,estará inescapavelmente com alguma séria patologia.

Folha – Diante de tantas críticas a um poder hegemônico tão sensível a elas, não teme sofrer o que chama de “simonalização”?

Lobão – Sou insimonalizável. Pode crer.

Folha – No poema “Aquarela do Brasil 2.0”, que abre o livro, você abriu fogo também contra os evangélicos: “E no cagaço metafísico/ da multidão de contritos telerredimidos/ brota o pavor da morte, da vida, do sexo,/ da doença, da pobreza e do castigo./ Fazendo bispos milionários,/ gângsteres do paraíso,/ lotearem pedacinhos do firmamento/ para histéricos apocalípticos aguardarem…/ o fim do mundo fora de perigo”. Teme o fundamentalismo religioso no Brasil?

Lobão – Estamos entre a cruz e a calderinha. Ou nos transformamos de vez num Cubão ou caímos numa teocracia de quinta.

Folha – Você é carioca da gema, baterista da Mangueira. A última pesquisa ao governo do Rio, colocou Marcelo Crivella na frente, seguido de Lindbergh  Farias e de Anthony Matheus. Com dois evangélicos e um petista liderando, sente mais vontade de continuar morando em São Paulo?

Lobão – Esse panorama não poderia ser mais lamentável. Nada poderia ser pior. Eu amo morar em São Paulo e mesmo se o Rio fosse um lugar razoavelmente aprazível, não me sinto mais morando onde nasci e me criei.

Folha – Seu diálogo em questionamento ao manifesto antropofágico de Oswald de Andrade é ponto de partida, espinha dorsal e último capítulo do seu novo livro. Não é ambição demais ir contra toda a base do modernismo brasileiro de 1922, para tentar justificar suas críticas presentes à cultura nacional que aquele movimento determinou?

Lobão – Pois é, por termos nos baseado todo o nosso caldo cultural na Semana de 22 é que estamos nessa miséria ontológica desde então. Pior é saber que esse culto submisso e medíocre ainda reverberará por muitos anos nas mentes dos intelectuais brasileiros. Problema todo de quem embarca nessa, mas acredito que essa babação de ovo irá esvanescer-se, principalmente com o auxílio do meu livro. Muita gente começou a enxergar com outros olhos o movimento e temos uma razoável chance de nos libertarmos de suas amarras, produzindo uma nova estética, um novo pensamento, uma visão mais certeira de nós mesmos como povo, uma nova forma de produzir cultura. Creio que ficou bem claro a ampla e eficaz defenestração do pensamento do nosso querido Oswald, cometida no último capítulo. Fato este que não precisou lá de muito esforço. Se tivesse o mínimo de suspeita de que pudesse fracassar na empreitada, não me exporia ao ridículo de uma tentativa incorreta.

Folha – Música mais tocada no Brasil dos anos 1980, “Me Chama” poderia existir sem a fundamentação do coloquial feita por Oswald em “Pronominais”, sem acender seu cigarro na brasa dos versos dele: “Dê-me um cigarro/ Diz a gramática/ Do professor e do aluno/ E do mulato sabido/ Mas o bom negro e o bom branco/ Da Nação Brasileira/ Dizem todos os dias/ Deixa disso camarada/ Me dá um cigarro”?

Lobão – Esses caras promoveram um downgrade tremendo na língua portuguesa falada e escrita no Brasil! Temos que lembrar que falar o português correto para esses caras era reacionário! Incitaram uma lusofobia cavalar em nossa forma de pensar. A Semana de 22 foi um mal terrível para toda a cultura do país por gerações e gerações. De outra maneira, se pensasse diferente disso, não seria possível ter tido o meu insight sobre a Terra do Nunca.

Folha – Como está o projeto para transpor “50 anos a mil” ao cinema? O filme sai mesmo em 2014? José Eduardo Belmonte será o diretor e Rodrigo Santoro, Lobão? Pelo menos na vontade do autor do livro e personagem central, em que ele será diferente dos sucessos “Cazuza, o tempo não para” e “Somos tão jovens”?

Lobão – Estão trabalhando no roteiro e deve ser rodado em 2014 para sair em 2015. O resto, não tenho a menor ideia. Quanto ao nível do filme, tenho a sorte de ainda não ter morrido e posso acompanhar com um sentido mais crítico o desenrolar das filmagens.

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Este post tem 7 comentários

  1. Jurema

    DÉCADENCE SANS ÉLÉGANCE

    Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista.

    Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.

    Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido.

    Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro.

    E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.

    Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido.

    O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem sequestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”.

    Lobão é um polemista profissional, vive disso. Ninguém pode censurá-lo por falar mal das indenizações pagas pelo Estado – algumas delas milionárias e descabidas. Mas daí a minimizar os atos cometidos pelos torturadores e banalizar o sofrimento das vítimas já é demais.

    Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? A resposta é simples.

    Lobão é um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens.

    Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” –Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.

    O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia.

    Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo –infelizmente junto com o vigor criativo– o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivesse causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Lobão?

    Lobão padece de uma doença social: o cinismo de uma elite que vê a mentira e o logro como ferramentas para “se dar bem”.

    O bom filho de papai a casa torna. A família dele, agora, deve estar orgulhosíssima.

  2. marcia

    A fmanhã está se superando.
    Parabens pela entrevista.Inteligentes perguntas e magistrais respostas como não poderia deixar de ser em se tratando de Lobão!

  3. Paulo Henrique

    Lobão é um acabado e frustado em vários sentidos. Está sem rumo.

  4. Raul

    O Paulo Henrique é um simplório. Nem vale a pena rebater. Já a Jurema, por baixo da argumentação sem sombra de dúvida melhor, se encaixa a molde na definição do “carola estatizado”, feita pelo próprio Lobão: “Nessa maneira singular de encarar a vida, nasce uma espécie muito peculiar que reina soberana em nossa terra, patrulhando incautos e dando carteirada nos descontentes, filha de um marxismo guarani-kaiowá de butique, uma espécie que, apesar de sua aparente e impositiva festividade carnavalesca, é a encarnação vívida da ofensa, da obtusidade e do recalque: o carola estatizado”.

    Quanto ao Renato Russo, que Lobão conheceu pessoalmente, muito além das letras das músicas que a Jurema tenta se apropriar, como o entrevistado claramente testemunhou acima: “sempre detestou petistas e era francamente capitalista”.

    Para os “carolas estatizados” como a Jurema, Renato só não é “reaça” porque morreu. Só por isso, porque está morto e sem voz além das suas músicas, continua a ser “bom”. De qualquer maneira, se reacionário é quem reage, que bom que tenhamos alguém disposto a dar a cara a tapa, rosnando e mostrando os dentes contra a corrupção, a incompetência e o autoritarismo cada vez mais claros do PT de Lula e Dilma. Por contraditório que pareça, se não houvesse ovelhas, não haveria lobos.

  5. santos

    Lobão louco? Nem pensar ,e , esta entrevista prova o que digo, muita lucidez tanto nas perguntas como nas respostas ,curtas ,nada prolixas.Parabéns Aluysio Filho, pela condução da entrevista e escolha do entrevistado.Valeu.

  6. Herval Guimarães

    Bate-papo de Lobão e Olavo de Carvalho: “o Brasil é uma mulher linda… com AIDS!”

    O cantor Lobão e o filósofo Olavo de Carvalho conversaram neste domingo via Youtube sobre a derrocada cultural brasileira, desinformação comunista, fatos sobre o golpe de 64, criaturas como Pablo Capilé, a idolatria a Paulo Freire, entre outros temas. Tudo com muito bom humor, mas sem perder de vista o estado trágico em que se encontra o país. Imperdível.

    Lobão: Intelectuais de esquerda são “campeões de punheta de pau mole” e que o guerrilheiro Che Guevara foi um “facínora, racista, homofóbico e psicopata”. “Aí tem gente que fala de direitos humanos com uma camiseta desse psicopata”, completou Lobão.

    http://bit.ly/19FbD7g

  7. Herval Guimarães

    Cruzada anti-idiotas! Entrevista de Olavo de Carvalho na Folha.
    autor: Augusta Carvalho
    Cruzada anti-idiotas O filósofo que quer salvar você da estultice
    Marco Rodrigo Almeida

    RESUMO Novo livro de Olavo de Carvalho, que reúne ensaios publicados em jornais e revistas, tornou-se um best-seller quase instantâneo. Em entrevista, o filósofo radicado nos EUA analisa criticamente tanto a esquerda brasileira como uma parte da “direita nascente”, que ele diz serem formadas e formadoras de idiotas.

    O mínimo que todo mundo precisa saber para não ser um idiota não é tão mínimo assim. Ao menos na visão de Olavo de Carvalho, ela engloba quase 200 textos, espalhados por 616 páginas. Abarca uma miríade de temas –como história, democracia, religião, ciência, linguagem, educação, guerra (mas não só). Todo esse material, publicado originalmente pelo filósofo em jornais e revistas entre 1997 e 2013, é agora reunido em “O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota” [Record; 616 págs.; R$ 51,90]. Felipe Moura Brasil foi responsável pela seleção do material. “E agora o reparto com você, leitor, na esperança de que também se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos”, escreve o jornalista na empolgada apresentação do volume.

    Apontar um idiota, reconhece o livro, é tarefa fácil. Mais difícil é não sê-lo, nem fazer papel de um. Na nada modesta cruzada de livrar o leitor de toda forma de idiotice, o volume elege como alvo principal o pensamento de esquerda que considera hegemônico no país. Dispara contra políticos e intelectuais (também sobra munição para a “direita nascente”), artistas, o MST, o movimento gay e as recentes manifestações no país. O autor destas parcas linhas também leva seu quinhão de farpas. Olavo de Carvalho é um dos principais representantes do pensamento conservador no Brasil. Publicou diversos livros (“O Imbecil Coletivo”, “O Futuro do Pensamento Brasileiro”) e criou o site Mídia sem Máscaras (www.midia semmascara.org). Seus textos e aulas on-line têm conquistado um público fiel ao longo dos anos. O novo livro vendeu em apenas uma semana, segundo a editora Record, 10 mil exemplares. Dos Estados Unidos, onde vive desde 2005, Olavo de Carvalho concedeu à Folha a seguinte entrevista por e-mail. Folha – O título do livro é um tanto provocativo, até mesmo para atrair o leitor. Mas não seria pouco filosófico chamar de “idiota” quem não compartilha certas ideias?

    Olavo de Carvalho – Ninguém é ali chamado de idiota por “não compartilhar certas ideias”, e sim por pretender julgar o que não conhece, por ignorar informações elementares indispensáveis e obrigatórias na sua própria área de estudo ou de atuação intelectual. Nesse sentido, creio ter demonstrado meticulosamente, neste e em outros livros, que alguns dos principais líderes intelectuais da esquerda brasileira, assim como uns quantos da direita nascente, são realmente idiotas e fabricantes de idiotas.

    O sr. comenta que a normalidade democrática é a concorrência “efetiva, livre, aberta, legal e ordenada” entre direita e esquerda. Mas também que todo esquerdista é “mau, sem exceção”. Como é possível equilibrar esses dois aspectos?

    Depende do que você chama de esquerda. Há uma esquerda que aceita concorrer democraticamente com a direita, sair do poder quando perde as eleições e continuar disputando cargos normalmente sem quebrar as regras do jogo. O Partido Trabalhista inglês é assim. Nosso antigo PTB era assim. Disputavam o poder, mas sabiam que, sem uma oposição de direita, perderiam sua razão de ser. Há uma segunda esquerda que deseja suprimir a direita pela matança dos seus representantes reais ou imaginários. Esta governa Cuba, a China, a Coreia do Norte etc., assim como governou a URSS e os países satélites. Há uma terceira esquerda que, aliada da segunda, diverge dela em estratégia: pretende conquistar primeiro a hegemonia, de modo que, nos termos de Antonio Gramsci, o seu partido se torne “um poder onipresente e invisível, como um mandamento divino ou um imperativo categórico”; e, em seguida, tendo controlado a sociedade por completo, apossar-se do Estado quando já não haja nem mesmo a possibilidade remota de uma oposição de direita. Só aí virá um toque de violência, para dar acabamento à obra-prima. A existência da primeira esquerda é essencial ao processo democrático. A segunda e a terceira devem ser expulsas da política e dos canais de cultura porque sua essência mesma é a supressão de todas as oposições pela violência ou pela fraude e porque se infiltram na primeira esquerda, corrompendo-a e prostituindo-a. Ninguém pode apoiar esse tipo de esquerda por “boa intenção”. Você já viu algum militante dessa esquerda sonhar em implantar o socialismo e depois ir para casa e viver como um humilde operário do paraíso socialista? Eu nunca vi. Cada militante se imagina um futuro primeiro-ministro ou chefe da polícia política. Quando matam, é para conquistar o direito de matar mais, de matar legalmente. São porcos selvagens –sem ofensa aos mimosos animais.

    O sr. argumenta que o brasileiro é maciçamente conservador, mas desprovido de representação política. Por que não temos políticos e partidos que tomem tal bandeira?

    Já está respondido na pergunta anterior. O método da “ocupação de espaços” realizou no Brasil o ideal gramsciano de fazer com que todo mundo nas classes falantes seja de esquerda mesmo sem sabê-lo, de modo que toda ideia que pareça “de direita” já seja vista, instintivamente, sob uma ótica deformante e caluniosa, com chances mínimas ou nulas de argumentar em defesa própria. Suas próprias perguntas ilustram o sucesso dessa operação no Brasil. Você pode não ser um militante de esquerda, mas raciocina como se fosse, porque na atmosfera mental criada pela hegemonia esquerdista isso é a única maneira “normal” de pensar, às vezes a única maneira conhecida. Por isso, você, ao formular as perguntas, fala em nome dos meus críticos de esquerda, como se eles, e não o público que gosta do que escrevo, fossem os juízes abalizados aos quais devo satisfações.

    Suas ideias podem ser consideradas de direita?

    Algumas sim, outras não. Nem tudo no mundo cabe numa dessas categorias. Você não viu a turma da direita enfezada cair de paus e pedras em cima de mim quando afirmei que homossexualismo não é doença nem “antinatural”? É ridículo tomar uma posição ideológica primeiro e depois julgar tudo com base nela por mero automatismo, embora no Brasil de hoje isso seja obrigatório.

    Em quais pontos suas ideias podem ser classificadas de direita e em quais não?

    Não tenho a menor ideia, nem me interessa. O coeficiente de esquerdismo ou direitismo está antes nos olhos do observador e varia conforme as épocas e os lugares. Só gente muito estúpida –isto é, a esquerda brasileira praticamente inteira– imagina que direita e esquerda são categorias metafísicas imutáveis, a chave suprema para a catalogação de todos os pensamentos. Outros, principalmente na direita, dizem que direita e esquerda não existem mais, o que é também uma bobagem, porque basta uma corrente se autodefinir como “de esquerda” para que todos os que se opõem a ela passem a ser julgados como se fossem a “direita”, querendo ou não. A esquerda define-se a si mesma e define seu adversário, por menos que este se encaixe objetivamente na definição. Nos EUA, alinho-me nitidamente à direita, porque ela existe como agente histórico, é definida e é autoconsciente, mas no Brasil essas coisas são uma confusão dos diabos na qual prefiro não me meter. O sr. Lula não foi, na mesma semana, homenageado no Fórum Econômico de Davos por sua adesão ao capitalismo e no Foro de São Paulo por sua fidelidade ao comunismo? A última moda na esquerda nacional é cultuar o russo Alexandre Duguin, que é o suprassumo do reacionarismo, enquanto na “direita liberal” muitos adoram abortismo e casamento gay, pontos essenciais da estratégia esquerdista. Prefiro manter distância da direita brasileira, seja isso lá o que for.

    No capítulo sobre o golpe de 64, o senhor diz que Castelo Branco foi “um grande presidente”, e Médici, “o melhor administrador que já tivemos”. Comenta ainda que está na hora de repensar o governo militar. Qual é sua opinião hoje?

    No Brasil de hoje não se pode louvar um mérito específico e limitado sem que imediatamente a plateia idiota transforme isso numa adesão completa e incondicional. Neste país, as pessoas, mesmo com algo que chamam de “formação universitária”, só sabem louvar ou condenar em bloco, perderam totalmente o senso das comparações, das proporções e das nuances. Isso é efeito de 30 anos de deseducação. Os méritos dos governos militares no campo econômico, administrativo e das obras públicas são óbvios e, comparativamente, bem superiores a tudo o que veio depois. Ao mesmo tempo, esses governos destruíram a classe política, infantilizaram os eleitores e, por timidez caipira de entrar na guerra ideológica ostensiva, preferiram matar comunistas no porão (embora em doses incomparavelmente menores do que os próprios comunistas matavam em Cuba ou no Camboja) em vez de mover uma campanha de esclarecimento popular sobre os horrores do comunismo. Tudo isso foi uma miséria. Foi o que eu sempre disse, mas, hoje em dia, se você reconhece uma pontinha de mérito em alguém, já o transformam em devoto partidário dele. Não distinguem nem mesmo entre aplaudir um governo enquanto ele está no poder e tentar avaliá-lo com algum senso de objetividade histórica depois de extinto, mesmo se você, como foi o meu caso, o combateu enquanto durou. O fanatismo idiota tornou-se obrigatório. É disso que o meu livro fala.

    O sr. é bastante crítico ao movimento gay. Não acredita que ele foi o responsável por conquistas importantes?

    No começo, quando lutava apenas contra a discriminação e a violência anti-homossexual, esse movimento parecia bom e necessário. Mas isso foi só a fachada, a camuflagem do que viria depois: um projeto de dominação total que proíbe críticas e não descansará enquanto não banir a religião da face da Terra ou criar em lugar dela uma pseudorreligião biônica, dócil às suas exigências.

    O que o sr. pensa sobre o projeto da cura gay?

    Ninguém pede ajuda a um psicólogo para livrar-se de uma conduta indesejada se é capaz de controlá-la pessoalmente ou se não quer abandoná-la de maneira alguma. Quando alguém vai a uma terapia com o propósito de livrar-se do homossexualismo, é porque não o vivencia como uma tendência natural da sua pessoa, e sim como uma compulsão neurótica que o escraviza. É bem diferente de alguém que é homossexual porque quer, ou de alguém que deixou de ser homossexual porque quis e teve forças para isso. Proibir o tratamento de uma compulsão é torná-la obrigatória, é fazer de um sintoma neurótico um valor protegido pelo Estado. É uma ideia criada por psicopatas e aplaudida por histéricos.

    O sr. apoiou a invasão do Iraque em 2003. Nos anos seguintes, vários abusos e atrocidades dos soldados americanos foram divulgados. Acredita que, no saldo geral, a guerra foi positiva?

    Não apoiei a invasão do Iraque. De início fui contra. Foi só depois, quando os americanos começaram a exumar os cadáveres das vítimas de Saddam Hussein e viram que eram mais de 300 mil, que comecei a achar que a guerra era moralmente justificável. Das tais “atrocidades americanas”, a maioria é pura invencionice, e as genuínas, inevitáveis em qualquer guerra, nem de longe se comparam ao que Saddam Hussein fez contra o seu próprio povo em tempo de paz. A guerra, em si, foi positiva do ponto de vista moral, mas a tentativa de forçar o Iraque a adotar uma democracia de tipo ocidental foi ridícula e suicida. A primeira Guerra do Golfo foi bem-sucedida porque se limitou às metas militares, sem sonhos “neocons” de reformar o mundo.

    E como o sr. avalia as recentes manifestações em cidades do Brasil?

    Tudo começou como uma tentativa de golpe, planejada pelo Foro de São Paulo [coalizão de partidos de esquerda latino-americanos] e pelo governo federal para fazer um “upgrade” no processo revolucionário nacional, passando da fase de “transição” para a da implantação do socialismo “stricto sensu”. Isso incluía, como foi bem provado, o uso de gente treinada em guerrilha urbana para espalhar a violência e o medo e lançar as culpas na “direita”. Aconteceu que os planejadores perderam o controle da coisa quando toda uma massa alheia à esquerda saiu às ruas, e eles decidiram voltar atrás e esperar por uma chance melhor. Isso foi tudo. Não há um só líder da esquerda que não saiba que foi exatamente isso.

    http://bit.ly/1fM6oQD

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