Paraíba do Sul — Soffiati alerta a todos que dependem do rio sobre projeto de Alckmin

Infográfico que ilustra o projeto de Alckmin para o rio Paraíba, publicado na capa de hoje da Folha (Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A pedido do blog, o historiador e ambientalista Aristides Soffiati escreveu um artigo sobre o projeto do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), apresentado à presidente Dilma Rousseff (PT), no sentido de desviar mais água do rio Paraíba do Sul, em períodos de estiagem prolongada como o atual, para abastecer o Sistema da Cantareira, que atende a 15 milhões de paulistas. Aqui, na matéria das jornalistas da Folha Suzy Monteiro e Carolina Barbosa, você pode conhecer melhor a intenção de Alckmin e suas repercussões negativas em território fluminense. Abaixo, como alerta imprescindível a todos cujas vidas dependem do rio que formou a planície goitacá, o que Soffiati pensa sobre mais essa tentativa de sangrá-lo:

 

Sem o novo desvio proposto por Alckmin, o Paraíba em Campos, perto da sua foz em Atafona, já dá claros sinais de esgotamento (foto de Helen de Souza, da Folha da Manhã, publicado hoje na capa de O Globo)
Sem o novo desvio proposto por Alckmin, o Paraíba em Campos, perto da sua foz em Atafona, já dá claros sinais de esgotamento (foto de Helen Souza, da Folha da Manhã, publicada hoje na capa de O Globo)

 

 

Soffiati3De novo, a ave agourenta sobrevoa o Paraíba

Por Aristides Soffiati

A cidade de São Paulo cresceu de forma exageradamente desordenada a partir de 1950, suprimindo as várzeas dos rios da Bacia do Tietê e poluindo suas águas. Com a destruição das áreas de amortecimento de enchentes, as frequentes chuvas torrenciais alagam a zona urbana rapidamente. Ao mesmo tempo, a cidade contamina as águas do Tietê e afluentes urbanizados. Resultado: água demais ou água de menos. Havendo água disponível em quantidade, sua qualidade não se presta mais ao abastecimento público.

Então, o governo de São Paulo lança seu olho gordo para a Bacia do Paraíba do Sul. Desde 2008, o Estado manifesta intenção de transpor água da bacia para atender ao abastecimento da megalópole de São Paulo, incluindo Campinas. O intento só não foi adiante ainda pela resistência dos governos estaduais e municipais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, além das advertências do Ministério Público Federal. Em 2010, o Procurador da República em Campos enviou um ultimato ao governo de São Paulo recomendando que se abstivesse de transpor água do Paraíba para São Paulo a fim de não ser acionado judicialmente.

Agora, uma nova oportunidade surge para levar adiante a intenção. A prolongada estiagem que afeta a Região Sudeste provocou redução inédita nos reservatórios que abastecem a grande São Paulo, sobretudo no da Cantareira, o principal deles. O governador Geraldo Alckmin explica que a captação na Bacia do Paraíba do Sul será feita na represa do Rio Jaguari, seu afluente. Um canal de 30 quilômetros será construído para conduzir a água até uma elevatória, que a transporá para o sistema Cantareira.

No esforço de minimizar os danos à Bacia do Paraíba do Sul, Alckmin explica que não haverá transposição, mas transferência de água para o reservatório da Cantareira. Quando este encher em demasia, o excesso hídrico será transportado para o Paraíba, num sistema de mão dupla. A obra está orçada em R$ 500 milhões e só entrará em funcionamento no segundo semestre de 2015, no mínimo, o que contradiz o argumento da urgência.

Há problemas objetivos, sem dúvida. O consumo de água e de hidroeletricidade pela grande São Paulo ultrapassou os limites estabelecidos pela natureza. Houve, inclusive, encolhimento desses limites por falta de planejamento e destruição do ambiente. Mas esses problemas estão afetando também toda a Região Sudeste e grande parte do Brasil. Os reservatórios que atendem à região metropolitana de São Paulo e a Bacia do Paraíba do Sul estão na mesma região. Raramente, a Cantareira contará com excedente hídrico a ser transposto para o Paraíba e vice-versa.

Assim, a questão reveste-se de um caráter político-eleitoral notório. Alckmin divide o problema com Dilma Roussef. Se não autorizar a obra de transposição, ela poderá ser acusada de inimiga dos paulistanos. Se autorizar, sua popularidade de candidata num reduto historicamente dominado pelo PSDB pode crescer. No entanto, uma decisão como esta não pode ser tomada por meio de um mero ato legal. É preciso um consistente parecer técnico. Ele pode ser encomendado pela Presidência da República à Agência Nacional de Águas. Invocando o princípio da precaução, o Ministério Público Federal deve agir imediatamente.

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Este post tem 10 comentários

  1. marcia

    Só um comentário;é absurdamente idiota, coisa de político eles ganham bem se aposentam melhor par ter essas ideias BRILHANTES.

  2. João Gomes de Siqueira

    Concordo com o último paragrafo (ultima linha). Precaução com as manobras federativas.

  3. marcos pessanha

    É muito precipitado mexer na Bacia do Rio Paraíba do Sul sem imaginar impactos diretos , que já estão acontecendo: destruição de sua foz – Atafona e outras cidades próximas pelo avanço do mar. Com a verba anunciada e corpo técnico especialista pode ser adotado um projeto de uso alternativo de outras fontes de água: água do mar, Aquífero Guarani ou outras fontes abundantes de São Paulo

  4. Savio

    Como eu já disse em outro comentário, a força política se São Paulo é super poderosa, enquanto a do Estado do Rio de Janeiro, é pífia.
    Como São Paulo detém o maior PIB do país, como é o “berço” do Lula, onde surgiu sua base política, a Dilma não irá se opor, muito menos em ano de eleições!

    Quanto à Agência Reguladora “ANA”, também não está livre da mesma “política”! “Parecer Técnico” também foi fornecido à Dilma e mesmo assim ela autorizou a transação da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, superfaturada! Portanto, uma “canetada” da “ANA”, e lá se vai a integridade do Rio Paraíba do Sul!

    Cadê a passeata? Afinal, serão 11 milhões de prejudicados! Isto daria uma passeata histórica! Mas, não! Já não temos políticos com representatividade, ninguém leva à sério os políticos que temos, todos eles preocupados em lustrar seus respectivos umbigos! E ainda vão ‘tirar vantagem’ desta desgraça, dizendo que “lutaram” contra à sangria do Paraíba!

    Passeata, eu disse? Ah, estamos em véspera de Copa do Mundo, quem se importa? Pro ‘povão’, o Rio Paraíba é “eterno”, então, relaxe, só não pode faltar…cerveja!

  5. aroldinho

    piada, apenas uma piada, a verdade é que o paraiba é mal utilizado, sua agua vai para o mar e campos não tem uma represa para épocas de crise, ai vem uns entendedores de tudo a respeito do meio ambiente, capaz de se perder na nossa região, com por exemplo dentro do Imbé, vem falar do paraiba, pq eles não se manifestaram antes, sugeriram acumulo de gaua para épocas de crise como a que vivemos, no fim o paraiba passa por campos, é coletado o suficiente para abastecimento, e o resto segue seu fluxo natural, sem ninguém se preocupar em guardar reservar, se o estado do rio não se preocupou em ter reservas, outro estado teve essa ideia, e agora querem reclamar, vamos trabalhar direito gente, a agua vai acabar, e se não guardar vai fazer falta, por isso não entendo pq temos que economizar o consumo, uma vez que capta o necessário e o resto vai ao mar

  6. HUGO ALMEIDA

    Olha, com o devido respeito ao comentário do Leitor Aroldinho, sugiro que o mesmo tenha a oportunidade de tomar umas aulas com o Professor e Ambientalista Aristides Soffiati.

    Inclusive, em tais aulas, o comentarista precisa também aprender sobre os benefícios, mas também sobre os malefícios de uma represa! Sem falar, que onde o rio deságua, fazer represa é atingir mortalmente o rio, ou seja, inapropriado e seria um bárbaro desastre ecológico. Não é simples, como coloca o leitor! Não é porque ‘as águas’ passam e descarregam no mar, não se trata de “um capricho” da Natureza, e sim é parte de todo um sistema.

    Bom, fica aqui registrada a recomendação, mas, ainda lembro ao leitor, que no caso de Campos, ainda há uma solução, pelo menos, por enquanto, que é o manancial da Lagoa de Cima, ainda em condições, embora não saibamos por quanto tempo!

  7. Carlos Alberto Oliveira

    Aroldinho deu aula de ignorância.
    Ele sim é o sabe-tudo pelo jeito.

  8. Adriano J. Melo

    Se a o estado do Rio de Janeiro pode retirar quase a metade da água do Rio Paraíba do Sul em Barra do Piraí para abastecer a capital fluminense, por que São Paulo não pode fazê-lo? Afinal de contas o rio nasce lá. A proposta do governador paulista, se for leal e seguida a risca ( o que no Brasil dá pra duvidar) não taria qualquer prejuízo ao nosso estado, uma vez que só iria retirar água no período de cheias, e o mesmo poderia ser feito em sentido contrário caso o Paraíba necessitasse. A questão não São Paulo fazer uso da água também, que é um “direito” deles, mas termos políticas sérias de proteção da mata ciliar, despoluição e recomposição das nascentes do rio Paraíba do Sul. Sinceramente, alguém tem visto algumas destas atitudes sendo feitas pelos governos de prefeituras e estados que compõem a bacia do rio Paraíba do Sul? se tem me falem.

  9. Mayara

    Querem nos fazem de idiotas. Não precisamos ser expert em ambientalismo para saber que qualquer alteração no meio ambiente por menor que seja ocasiona um impacto. Ainda mais alterar o curso de um Rio. Queremos saber quem vai nos suprir quando o Rio Paraíba do Sul não tiver mais água para as milhões de pessoas que dependem dele?

  10. BethCarneiro

    Parabéns, Soffiati…você sabe o diz, porque entende do assunto! Bom se a gente pudesse enviar um e-mail para o Alckmin sugerindo a ele que desviasse o rio Amazonas até São Paulo.

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