Dilma pode mandar passar a faixa presidencial?

Marina Silva

 

Jornalista Ricardo Noblat
Jornalista Ricardo Noblat

A escolha de Marina

Por Ricardo Noblat

 

“Desvio de dinheiro é natural e intrínseco ao serviço público” 

(Cid Gomes, governador do Ceará)

 

Marina Silva, candidata do PSB a presidente da República, jogara a toalha há dez dias. Foi quando comentou com um dos seus conselheiros: “Levadas em conta as circunstâncias que marcaram minha entrada na campanha, já fui longe demais”. Voltou ao assunto depois do debate entre os presidenciáveis promovido pela TV Globo na última quinta-feira. Admitiu desanimada: “Eu estar onde estou já é um milagre”.

É CLARO QUE não estava satisfeita com seu desempenho. Conformada? É quase certo que sim. Queria ganhar naturalmente. Mas repetia que a ganhar perdendo preferia perder ganhando. Um jogo de palavras. Não só um jogo. Cadê dinheiro para pagar as despesas sempre crescentes da campanha? Dinheiro até poderia existir. Estrutura montada para administrar a campanha com eficiência, jamais existiu.

CADÊ MATERIAL de propaganda? Até daria tempo para produzi-lo. Para fazê-lo chegar às mãos de eleitores em todo o país… Impossível. Foram queimados mais de 50 milhões de “santinhos” com Marina de candidata a vice-presidente. Ela evitava dizer que se sentia mal acolhida pela facção do PSB liderada por Roberto Amaral, o presidente em exercício do partido desde a morte de Eduardo Campos.

LEVARÁ MAIS algum tempo para que Marina reconheça os muitos erros que cometeu — se é que o fará. O primeiro e mais barulhento dos erros foi autorizar a divulgação do seu programa de governo sem ter lido com rigor a versão final. Acabou sendo obrigada a retificá-lo. E pagou por isso um preço elevado. Desgastou-se. Acusaram-na — e com razão — de dizer uma coisa hoje e de se desmentir amanhã.

O SEGUNDO ERRO grave foi não abdicar da posição de se manter distante de políticos que julgava indignos de sua companhia. Um deles: Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que acabaria reeleito no primeiro turno. Marina liderou as pesquisas de intenção de voto em São Paulo. Depois foi desbancada por Dilma. Por fim, autorizou a impressão de suas fotos junto com as de Alckmin. Era tarde. E, no entanto…

NO ENTANTO, teria sido tão fácil para ela, uma vez Eduardo morto, recuar de certos dogmas que apregoara sem ônus como candidata a vice… A maioria dos eleitores compreenderia se ela dissesse: “Em respeito à memória de Eduardo, assumo como meus todos os compromissos assumidos por ele”. E ainda poderia se permitir, de fato, a respeitar alguns e a esquecer de outros porventura difíceis de engolir.

TUDO INDICA que Marina não repetirá o comportamento que adotou na eleição presidencial de 2010, quando foi a terceira candidata mais votada e negou seu apoio a qualquer um dos finalistas do segundo turno — Dilma e José Serra. Para ser coerente com o que disse sobre Dilma, apoiará Aécio se ele adotar parte do seu programa de governo. Aécio pagará qualquer preço pelo apoio de Marina. E com razão.

NA ÚLTIMA SEMANA de campanha, Aécio disparou na frente de Marina e quase atropelou Dilma na reta de chegada. Pôde fazer isso, sobretudo, graças aos votos de mineiros e de paulistas. Nenhum instituto de pesquisa foi capaz de antecipar o tamanho da ojeriza nacional ao PT. O partido, praticamente, acabou varrido do Sul do país onde perdeu as eleições para governador e senador.

A VALER O que ensina a história das eleições majoritárias de 1994 para cá, o candidato a se eleger no segundo turno será o mais votado no primeiro. Portanto, alô, alô, Dilma! Mande passar a faixa presidencial. Mas, pensando melhor, não mande.

 

Publicado aqui, no Blog do Murilo

 

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