Por Chico de Gois
Já certificados pelo próprio ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque de que iria permanecer calado perante a CPI que apura irregularidades na estatal, os deputados que integram a comissão se revezaram nesta quinta-feira em aconselhá-lo a fazer uma delação premiada para contar como funcionava o esquema na empresa e a quem dava dinheiro. Parlamentares apelaram para a família de Duque e lembraram, a toda hora, “o fantasma de Marcos Valério”, que foi condenado a 40 anos de prisão por ser o operador do mensalão petista. Duque quebrou seu monólogo de afirmar que permaneceria calado apenas para responder a três perguntas: sobre se tinha algum parentesco com o ex-ministro José Dirceu, se sua mulher teria procurado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se ele conhecia o doleiro Alberto Youssef. Ele negou em todas as respostas. (CONFIRA O MINUTO A MINUTO DO DEPOIMENTO)
Pouco antes do fim da sessão, Duque voltou a quebrar o silêncio para defender o filho. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) questionou o ex-diretor sobre a participação no esquema do filho dele que moraria na Europa e trabalharia em uma empresa sócia da UTC Engenharia. Duque retrucou:
— Eu faço questão de responder a essa pergunta. A Technip, empresa que você citou, não tem nada a ver com a UTC. A Technip é muito maior, é uma das maiores empresas da área de petróleo do mundo. O meu filho trabalhou nessa empresa durante um tempo em Houston e um tempo no Brasil. Meu filho é economista formado, foi recrutado por um headhunter e trabalhou nessa empresa. Quando foi recrutado, fiz uma consulta formal no jurídico da Petrobras para saber se teria algum empecilho, e a resposta foi não. Ele retornou ao Brasil após um ano e meio com a família dele. Algum tempo depois, ele se retirou para montar seu próprio negócio.
Depois de quatro horas em que respondeu os questionamentos dos deputados com variações de “nada a declarar”, o ex-diretor de Serviços da Petrobras afirmou, no final de sua participação na CPI, que tem a consciência tranquila e que irá provar sua inocência.
— Não tenho problema nenhum em discutir qualquer um dos assuntos aqui levantados porque tenho a consciência tranquila e tenho como responder a tudo e tenho argumentos para rebater as acusações — afirmou.
— Apenas tenho obrigação de seguir minha orientação legal. Não estou me declarando culpado. Vou me defender, provar que meus bens têm fundo no meu trabalho. Tenho 34 anos de companhia, orgulho de (ter ficado) nove anos na diretoria. Lamento que a companhia esteja nesta situação agora. Tudo ao seu tempo. Vai ter um tempo para calar e um tempo para falar. Estou com a consciência tranquila e vou me defender na hora certa — encerrou.
No início da sessão, o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), fez várias perguntas a Duque, algumas até simples de responder, como os cargos que ocupou na Petrobras antes de se tornar diretor, mas, em todas as vezes, o depoente variou a resposta entre “vou ficar calado”, “me reservo o direito de não responder”, “por orientação do meu advogado, vou ficar calado”.
Líderes partidários, que têm prerrogativa de falar antes dos membros da CPI, revezaram-se para tentar demovê-lo de sua postura.
— O seu silêncio é cúmplice. Tinha esperança que pudesse falar aqui. O senhor está aqui numa postura de desrespeito a uma comissão do Parlamento brasileiro que tem obrigação de buscar a verdade. Nós deploramos sua postura nesta CPI — disse o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ).
O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), fez questão de dizer que o esquema de corrupção na Petrobras começou a partir do governo do PT.
— Está muito claro para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal que o esquema começou em 2003. Antes tínhamos técnicos que cuidavam da governança, com postura técnica. A partir de 2003, essa governança derivou para questões políticas — atacou.
Depois de lembrar dos vários depoimentos que o incriminavam, Sampaio lembrou de Marcos Valério.
— Relaciono tudo isso para dizer que a postura do Marcos Valério foi de que o PT iria salvá-lo. No começo, ele vinha à CPI (do Mensalão), agia até com cinismo, depois de forma petulante, e, momentos antes de ser preso, tentou denunciar quem estava realmente envolvido. Resultado: 40 anos de prisão.
— Vossa Senhoria tem família, amigos. Faça uma análise se vale a pena esse ônus recair em seus ombros. Os que foram presos do PT ficaram dois anos. Quem fez o esquema para o PT, pegou 40 anos — finalizou.
Convocação da mulher
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) chegou a propor que Duque fosse dispensado e, em seu lugar, fosse convocada a mulher dele.
— A vinda dela aqui seria muito melhor — afirmou.
Já o deputado Aluizio Mendes (PSDC-MA) apelou para que ele pensasse nos filhos:
— Pense na sua família e nos seus filhos. Depois, na cadeia, só vai sobrar o senhor sozinho.
Valmir Prascidelli (PT-SP) criticou a sugestão de trazer à CPI a mulher de Duque.
— Isso é tortura psicológica.
Ele também contestou as afirmações de membros da oposição de que o esquema beneficiaria o PT.
— Quero rechaçar todas as acusações contra nosso partido. A orientação do PT é que participemos, investiguemos.
E depois, dirigindo-se ao deputado Paulinho da Força (SD-SP), o atacou:
— Eu não vou permitir que o deputado me chame de cara de pau. Cara de pau é ele.
Mas foi quando o deputado Izalci (PSDB-DF) perguntou se ele tinha parentesco com o ex-ministro José Dirceu, que Duque quebrou seu monólogo de afirmar que permaneceria calado. Ele negou.
— Basta ver a árvore genealógica de um e de outro. Não há qualquer parentesco — se limitou a dizer.
Depois, Izalci, lendo uma nota na revista “Veja” em que dizia que a mulher de Duque havia procurado o ex-presidente Lula e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para lhes pedir ajuda, ele também negou.
— Minha esposa nunca esteve com o presidente Lula, com Okamotto e não os conhece.
Estou respondendo esta pergunta porque estou vendo o deputado Onyx (Lorenzoni, DEM-RS) dizer que tem que convocar minha esposa aqui. Estou entendendo isso como uma ameaça.
Diante de perguntas do deputado Ivan Valente (PSOL-SP), Renato Duque fez uma nova, porém breve, quebra de silêncio. “Não conheço Youssef e vou permanecer calado”, diz Duque.
Valente, então, logo perguntou também se ele conhecia João Vaccari (tesoureiro do PT). E o ex-diretor volta a dizer que permaneceria em silêncio.
O clima esquentou durante uma discussão entre o Delegado Waldir (PSDB-GO) e o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP). O tucano disse que era preciso comprar óleo de peroba na cara de pau do PT.Por pouco não partiram para as vias de fato.
Publicado aqui, no globo.com