O sétimo filho — Quando os irmãos Lumière batizaram o seu invento de “grande viajante”, nascia o cinema sob o signo da aventura. A temática passou da literatura ao cinema a partir de autores como Emilio Salgari, Julio Verne, Edgar Rice Burroughs ou Edgar Allan Poe e escolheu três temáticas preferenciais: a aventura exótica oriental ou africana, o filme de mar, seja de guerra, de piratas ou de temas como o ar, a velocidade, a guerra, históricos ou do futuro.
A temática aventura fantástica ganhou grande número de produções a partir do enorme sucesso de “Harry Potter”, baseado na obra de J.K .Rowlings, com direção de Chris Columbus, além da trilogia “O Senhor dos Anéis” ( 2001-2003), com direção de Peter Jackson na adaptação da obra do escritor britânico J. R. R. Tolkien, com seus orcs, ogros, feiticeiros, elfos, gigantes e todo tipo de criaturas e efeitos que a computação gráfica conseguiu realizar. Entre outras, “As Crônicas de Nárnia”, um mundo fantástico criado pelo escritor irlandês Clive Staples, levado para as telas pelo diretor Michael Apted, com animais falantes, bruxas e diversas dimensões, que não chegou nem próximo do sucesso que gostariam que viesse à reboque do bruxinho e do precioso anel.
A grande aventura fantástica da vez é “O Sétimo Filho” uma produção da Warner Bros com a Legendary Pictures, a partir do argumento de Charles Leavitt e Steven Knight com direção de Sergey Bodrov, de “O guerreiro Genghis Khan”. O filme adapta ao cinema o universo dos livros de fantasia juvenis “The Last apprentice” (ou “The Wardstone Chronicles, como a série é conhecida fora dos EUA, ou “As Aventuras do Caça-Feitiço”, como é publicada no Brasil pela editora Bertrand), de Joseph Delaney , tendo como base o primeiro livro da série “O Aprendiz”.
Utilizando fartamente a computação gráfica e efeitos especiais 3D em detrimento da interpretação de um luxuoso elenco, que conta com a participação de Jeff Bridges (vencedor do Oscar 2010 de melhor ator por “Coração louco” (2010, de Scott Cooper) como John Gregory, Bem Barnes Thomas Ward e Julianne Moore(vencedora do Oscar 2015 de melhor atriz por “Para sempre Alice”, também em cartaz nos cinemas de Campos dos Goytacazes) como Mãe Malkin, Dilmon Hounsou (“Amistad”, indicado ao Oscar de coadjuvante por “Terra dos sonhos”, de 2002) como Radu, e Kit Harington (o Jon Snow da fantástica série “Game of Thrones”) como Bill Bradley, Bodrov cria o universo de Delane como um conto de fadas e não chega a empolgar.
Na trama, ambientada no século XVIII, desde tempos imemoriais que a humanidade tem sido protegida das criaturas das trevas por uma antiga ordem de nobres guerreiros, a Ordem dos Falcões, formada apenas por sétimos filhos de sétimos filhos, treinados na caça de bruxas e criaturas sobrenaturais. Depois de uma eternidade de luta contra o mal, só resta o mestre John Gregory (Jeff Bridges). Thomas (Ben Barnes), sétimo filho de um sétimo filho, nasceu com poderes especiais e está destinado a tornar-se um guerreiro da ordem. Quando o mestre Gregory aparece na sua aldeia, o jovem percebe que é chegado o momento de partir. No seu caminho, terá de enfrentar uma poderosa rainha bruxa, Mãe Malkin(Julianne Moore) e seu exército de assassinos — um oriental que vira terrível urso, uma africana que se transforma em leopardo e um indiano de quatro braços como Ganesha.
Constantemente seduzido pelos poderes maléficos, terá de saber encontrar o verdadeiro poder do sétimo filho e ser capaz de se manter fiel aos seus princípios. Agora, o destino do mundo depende da sabedoria de Gregory e da força e coragem de Thomas. Com o tempo se esgotando, os dois guerreiros devem derrotar o poder da bruxa antes que seja tarde.
A fotografia de Newton Thomas Siegel (“X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”) privilegia a beleza das locações em Alberta e British Columbia, no Canadá, por exemplo. Além disso, os efeitos especiais de John Dykstra (vencedor de dois Oscars por “Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança” e “Homem-Aranha 2”) são muito bem feitos, especialmente na sequência em que a vilã e seus asseclas invadem uma vila e se transformam em diversas criaturas sanguinárias, causando um verdadeiro massacre.
Destaque também para algumas cenas de luta entre os heróis e os monstros na parte final do filme, que são bem executadas, embora não sejam brilhantes. Fora isso, não tem muito no que destacar na produção. Isso se deve, principalmente, à direção pouco inspirada de Sergey Bodrov. O cineasta russo, que ganhou visibilidade ao conseguir a primeira indicação do Oscar de melhor filme estrangeiro para o Cazaquistão com “O Guerreiro Genghis Khan”, em 2008, faz o trivial e torna o filme apenas uma agradável sessão, que não será lembrado. O roteiro de Charles Levitt e Steven Knight também é burocrático e nem as reviravoltas que acontecem na trama chegam a surpreender, tornando até banais algumas soluções da história.
Não seria boa aposta uma sequência da saga.
Cinderela vem aí!
Publicado hoje na Folha Dois
Confira o trailer do filme: