Por Leandro Colon
O principal órgão de controle interno do governo federal recebeu durante a campanha eleitoral do ano passado provas de que a empresa holandesa SBM Offshore pagou propina para fazer negócios com a Petrobras, mas só abriu processo contra a empresa em novembro, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Em entrevista à Folha, o ex-diretor da SBM Jonathan David Taylor disse que prestou depoimento e entregou mil páginas de documentos internos da empresa à CGU (Controladoria-Geral da União) entre agosto e outubro de 2014.
O órgão só anunciou a abertura de processo contra a SBM em 12 de novembro, 17 dias após o segundo turno da eleição presidencial.
Taylor trabalhou durante oito anos e meio para a SBM na Europa e é apontado pela empresa como responsável pelo vazamento de documentos e informações sobre o caso publicadas na Wikipedia em outubro de 2013.
O vazamento levou a investigações sobre a SBM no Brasil e na África. Os documentos indicam que ela pagou US$ 139 milhões ao lobista brasileiro Julio Faerman para obter contratos na Petrobras.
Entre abril e junho do ano passado, Taylor depôs e entregou documentos ao Ministério Público da Holanda. Segundo a própria SBM, ele participara de um grupo que conduzira uma investigação interna sobre o caso em 2012.
Na entrevista à Folha, a primeira a um veículo brasileiro, o delator disse que foi sua a iniciativa de procurar a CGU, que abrira uma sindicância para apurar o caso no Brasil.
Em 27 de agosto, ele repassou ao órgão o relatório de uma auditoria interna da SBM, mensagens eletrônicas, contratos com o lobista, extratos de depósitos em paraísos fiscais, a gravação de uma reunião da empresa e uma lista com nomes da Petrobras.
O material foi enviado por email ao diretor de Acordos e Cooperação Internacional da CGU, Hamilton Cruz, que no dia seguinte atestou o recebimento e informou que passaria as informações para o chefe da investigação.
No dia 3 de outubro, dois dias antes do primeiro turno, Taylor recebeu no Reino Unido a visita de três funcionários da controladoria, entre eles Hamilton Cruz. “Contei tudo o que sabia”, afirma o delator.
A CGU nunca divulgou dados sobre a viagem e o depoimento. Para Taylor, a demora do órgão em anunciar o processo contra a empresa holandesa teve motivação política.
“A única conclusão que posso tirar é que queriam proteger o Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações para evitar impacto negativo nas eleições”, diz.
Os valores pagos ao lobista Julio Faerman, segundo Taylor, são bem maiores do que os divulgados até aqui: “Era muito mais. O comprometimento [da SBM] era de pelo menos US$ 225 milhões”.
Em 12 de novembro, a SBM fechou acordo com as autoridades holandesas e aceitou pagar US$ 240 milhões para se livrar de punições na Holanda. Na tarde do mesmo dia, a CGU anunciou a abertura de processo contra a empresa no Brasil. “Todas as partes esperaram cinicamente até o fim das eleições”, afirma Taylor.
No momento, a SBM negocia com a Controladoria um acordo de leniência, em que poderá colaborar com as investigações sobre corrupção na Petrobras para se livrar de punições e continuar fazendo negócios com o setor público.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse que a SBM doou US$ 300 mil à campanha de Dilma nas eleições de 2010 e apontou Faerman como o operador que fez o dinheiro chegar ao PT.
Outro lado
A CGU afirma que abriu o processo contra a SBM Offsshore em novembro porque foi quando encontrou “indícios mínimos de autoria e materialidade” sobre o caso. A controladoria diz que isso ocorreu após a aprovação de relatório preliminar da comissão de sindicância interna.
A controladoria confirma a versão do ex-funcionário da SBM Jonathan Taylor de que o órgão recebeu informações dele por e-mail e servidores estiveram no Reino Unido para ouvi-lo.
A CGU diz que não usou seu material para embasar as conclusões dos trabalhos e afirma que Taylor questionou sobre possível recompensa financeira, semelhante, segundo a controladoria, ao que ocorre nos EUA, o que foi negado.
Em entrevista à Folha, o chefe jurídico da SBM, Alessandro Rigutto, reafirmou a acusação da empresa de que Taylor tentou chantageá-la. “Ele pediu algo em torno de 3,5 milhões de euros pelo silêncio”, afirmou.
Segundo Rigutto, Taylor teve acesso a informações sigilosas porque integrou investigações internas em 2012 e teria deixado a empresa por divergências com o chefe da auditoria, Sietze Hepkema.
Ele negou as acusações de que a SBM tentou acobertar a apuração em relação à Petrobras.
Rigutto manteve a versão de que a empresa foi informada pelo Ministério Público da Holanda da descoberta do pagamento de propina no Brasil. A procuradoria holandesa disse que Taylor foi ouvido como testemunha, mas destacou que também usou outras fontes de informação. O órgão não respondeu à acusação dele de que houve “conluio” com a SBM para chegar a um acordo.
Publicado aqui, na folhadesaopaulo.com
Vídeo: “Dilma Rousseff não seria presidente” se tudo isso tivesse sido descoberto mais cedo
Felipe Moura Brasil
A notícia-bomba desta terça-feira está no meu vídeo para o Giro de colunistas da TVeja, transcrito abaixo. Assista.
Bom dia, Joice.
Eu falei em Copacabana no domingo, 12 de abril, olha só um trechinho do meu discurso antes de eu falar a notícia do dia:
[TRECHO: “E a campanha da Dilma toda envolvida em pagamento de propina também, tudo que está sendo investigado pelo grande juiz federal Sergio Moro. A gente tem que defender a Operação Lava Jato.”]
Pois é.
A campanha de Dilma Rousseff recebeu 300 mil dólares da holandesa SBM, como denunciou o ex-gerente Pedro Barusco na CPI da Petrobras.
Hoje a Folha de S. Paulo traz uma entrevista com um dos delatores do esquema internacional de propinas da SBM.
E a Folha pergunta se a campanha da Dilma realmente recebeu esses 300 mil dólares. Jonathan David Taylor responde:
“Creio que você pode estar absolutamente correto”.
E tem mais.
Ele disse que, quando surgiram as primeiras denúncias de propina paga pela SBM, a Petrobras comprou o silêncio dos holandeses para que o nome do Brasil fosse abafado.
Abre aspas para as palavras dele:
“Em 20 de março de 2014, a SBM anunciou um contrato de 3,5 bilhões de dólares com a Petrobras. Dois dias depois, divulgou uma nota sobre pagamentos impróprios na África e em outro país, sem mencionar o Brasil. Essa era a chave do acordo com a Petrobras: ‘Nós continuamos a fazer negócios e vamos nos manter calados’”.
Taylor entregou vários emails e muita informação à CGU (a Controladoria-Geral da União). Entre agosto e outubro, foram mil páginas de documentos internos da SBM entregues, mas os diretores da CGU, que foram até a Inglaterra interrogá-lo, adivinha o que eles fizeram?
Trataram de abafar as denúncias até novembro, depois das eleições presidenciais.
Taylor, o executivo da SBM, não tem a menor dúvida sobre o motivo da demora.
Ele disse duas coisas “estarrecedores”:
“A única conclusão que posso tirar é que queriam proteger o Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações para evitar impacto negativo nas eleições”
“Se tudo isso tivesse sido descoberto mais cedo, Dilma Rousseff não seria presidente”.
A Folha perguntou se Taylor está disposto a depor na CPI da Petrobras.
Ele respondeu: “Claro”.
Alô, oposição! Alô, tucanada. Vamos colocar o homem lá para falar agooooora. Ontem!
[TRECHO FINAL DO DISCURSO EM COPACABANA: “Vamos informar as pessoas e educar. Porque depende da gente. Depende de que a gente repasse a informação, porque o PT só faz desinformação, só faz propaganda embusteira, mentirosa. Vamos com tudo. Muito obrigado e parabéns pelo movimento.”]
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2015/04/14/video-dilma-rousseff-nao-seria-presidente-se-tudo-isso-tivesse-sido-descoberto-mais-cedo/