Fabio Bottrel — Do Outro Lado do Silêncio

“Clarividência”, de René Magritte
“Clarividência”, de René Magritte

 

 

Acordo, há tanto tempo, tentando escutar a voz que ainda há de gritar.

Fui procurá-la no outro lado do silêncio.

— Tem gente que vive dentro da poesia aqui. — Disse minha amiga Viviane, sobre os internos da Santa Casa.

Não demorei a me aprontar, fui para a rua caminhar entre os que enlouquecem da razão, do amor sem vazão, secando o corpo suando sangue, limpando a pele com poluição.Reafirmando meus esparsos passos diários serem do Tango antes de dar bom dia aos personagens.

Cheguei à Santa Casa, logo entrei na poesia e bem no meio do verso encontrei Nilo, deitado nas palavras, com sua roupa de metáforas, do outro lado do silêncio, que a voz soberana não se macula com saliva. Sentei numa letra, fui ser plateia da sua peça, enquanto era escrita naquele diálogo. No dia em que escrevo esse texto fui me encontrar com a voz que ainda há de gritar, mas em seu dorso dormem as dores do mundo.

— Rapaz, meu corpo está sem voz, mas hás de ouvir minha alma falar.

Escutei histórias da juventude que salvou livros dos que rasgavam todos os sentimentos que cabem em uma palavra. O jovem que sempre gostou dos super-heróis das histórias em quadrinhos. Admirador dos animais, surgiu alium nome para sua nova empreitada na escrita: “Banquete com os Cães.” Era Nilo antes de ter na pele a marca do tempo.

Ao sair desse pequeno texto, percebi que Deus emprestou-lhe o seu sorriso, enquanto tento mudar o presente, para afastar o futuro doente. Não se joga uma vida inteira fora só porque ela está um pouco maltratada, é por isso que Nilo escreve todos os dias a literatura, libertadora.

“Não dormir é decretar o fim de todos os pesadelos e sonhos.

Seja fiel aos seus sonhos, pois senão terá uma asa (s) quebrada (s) e deixará de voar (e viver).

Para onde ir? A toda parte de lugar nenhum.”

NILO

Fiel aos sonhos, sempre, obrigado Nilo.

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Sérgio Provisano

    Semper fidelis… Ser fiel à Poesia, às Palavras, às Ideias… Deveria ser o lema de qualquer um de nós, pois como bem disse Maiakovski no seu poema “Eu”, Eu/à poesia/só permito uma forma:/concisão,/precisão das fórmulas matemáticas./Às parlengas poéticas estou acostumado,/eu ainda falo versos e não fatos…”, Fabio Bottrel, meu querido Aluysio Abreu Barbosa, é, com seus textos, um alento, uma brisa a refrescar essa aridez de ideias, de criatividade, que está se transformando esta rede social, que com raras e honrosas exceções – e nelas incluo este espaço diferenciado que é o blog Opiniões – um local onde a gente pode encontrar vida inteligente, e sair ao final de cada leitura, mais rico, não no sentido pecuniário, mas no sentido de que sempre se pode ampliar o nosso capital cultural, como bem definiu Pierre Bordieu. Que venha sempre e cada vez mais, Poesia e Cultura.

  2. GETULIO T BATISTA

    Quem é o Nilo? Personagem de um novo livro?

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