Em conversas francas e reservadas, não há governista que não admita: a eleição para prefeito de Campos será difícil ao governo. Mesmo que a máquina municipal saia da condição natural de favoritismo, afinal, só perdeu duas eleições nos últimos 30 anos, o quadro falimentar da Prefeitura só pode ser curado pelos R$ 367 milhões da terceira “venda do futuro” do município, a ser paga até 2026, como um band aid faria sobre a fratura exposta de um ser humano amontoado num dos corredores diariamente superlotados do hospitais Ferreira Machado (HFM) e Geral de Guarus (HGG).
Se alguém tem dúvida que Anthony Garotinho (PR) é o prefeito de fato de Campos, se baseia na mesma certeza de que, por direito, a Justiça seja capaz de fazer alguma coisa contra a usurpação marital do direito de governar delegado duas vezes pelo povo a Rosinha Garotinho (PR). Grandes guerreiros da Antiguidade, os espartanos — mais famosos pelo filme “300” do que pelo livro “História” de Heródoto (484/425 a.C.) — pregavam que não se deve empreender muitas campanhas contra um mesmo adversário, porque este, mesmo nas derrotas, apreende as técnicas e táticas que acabarão igualando-os em campo de batalha.
Foi assim que, após vencer em sequência o Império Persa e depois sua ex-aliada Atenas, berço da democracia, Esparta acabaria derrotada pela Tebas de Epaminondas.
Mesmo para quem assiste ao campo de batalha sem dele participar, com a função meramente “herodotiana” de narrar seus acontecimentos, não tem sido difícil marcar os movimentos de Garotinho. Leitor aplicado dos clássicos “A arte da guerra”, do chinês Zun Tzu (544/496 a.C.), e de “O príncipe”, do florentino Nicolau Maquiavel (1469/1527), o senhor de 56 anos ainda é capaz de alguns lances brilhantes, como de usar o poder comercial da Prefeitura sobre a direção da TV Record, para colar sua imagem (aqui e aqui) sobre a do vereador “independente” Tadeu Tô Contigo (PRB), pré-candidato a prefeito que mais tira votos do garotismo.
Todavia, todos os movimentos rumo à definição da candidatura governista, pendendo-a primeiro (aqui) para o vice-prefeito Dr. Chicão (PR), depois forjando o João Bobo em direção (aqui) ao vereador Paulo Hirano, foram facilmente antecipados e divulgados (aqui, aqui e aqui) pela editoria de Política, blogs e a coluna “Ponto Final”, da Folha da Manhã. E a confirmar sua opção por Hirano, médico ligado por estreitos laços de amizade, família e negócio a um dos maiores empresários da cidade, Garotinho reforça por tabela a impressão de que o maior problema da Prefeitura de Campos, hoje e possivelmente por muitos amanhãs, é dinheiro.
Descobrir para onde foi todo esse dinheiro (público) e para onde irá a partir de 1º de janeiro de 2017, ano em que nada indica que a recessão econômica brasileira vá melhorar, sobretudo em Campos, deveria talvez ser o principal questionamento de quem hoje elege como prioridades áreas aparentemente abandonadas, como Saúde, Educação, Transporte e Infraestrutura. Trocar isso, junto com o voto, por R$ 200 no bolso dia da eleição, é ser burro o bastante para não aprender com seu próprio inimigo.
Ainda antes de Heródoto, Sun Tzu ensinou a generais e soldados: “A primeira coisa para quem quer vencer é sair da posição em que se pode perder”.
Publicado hoje (10) na Folha da Manhã