Artigo do domingo — Meningite: faltou informação e credidilidade ao governo

Joyci e Ana Vitória, de 6 e 1 ano, mortas na UPA de Campos após serem atendidas e liberadas no HGG (foto: arquivo da família)
Joyci e Ana Vitória, de 6 e 1 ano, mortas na UPA de Campos após serem atendidas e liberadas no HGG (foto: arquivo da família)

 

 

 

Jornalista Rodrigo Gonçalves, editor-geral da Folha
Jornalista Rodrigo Gonçalves, editor-geral da Folha

Por Rodrigo Gonçalves

 

Uma das práticas mais comuns nas administrações públicas é colocar cadeado após a porta arrombada. E a de Campos deu mais um exemplo disso ao responder tardiamente sobre os casos de meningite ocorridos no município. Só depois de o medo ter se espalhado é que a Prefeitura resolveu intensificar o trabalho de orientação para afastar o “boato” de um possível surto da doença. Para isso, tem contado com profissionais independentes, já que nem mesmo as declarações da própria prefeita Rosinha Garotinho (PR) surtem o efeito necessário.

O fato é que o município já tem confirmados sete óbitos pela doença, entre os 23 casos diagnosticados. Por mais que os números estejam dentro da média anual, conforme informa a secretaria de Saúde, a morte de duas irmãs que estavam vacinadas contra o tipo C, imunização disponível pelo SUS, colocou muito em dúvida a eficácia. Por mais que tecnicamente isso seja possível, para nenhum pai isso é intelegível facilmente, principalmente quando não se sabe ainda de fato que tipo de meningite matou as meninas.

O resultado disso foi uma busca por vacinas contra meningite de outros tipos nas clínicas particulares, além da elaboração de um abaixo-assinado feito por mães que buscam a imunização gratuita para os tipos de meningite A, B, C, W, e Y através da rede pública de Saúde. Bom ressaltar que a exigência não é feita só à Prefeitura, já que cabe ao ministério da Saúde a implantação de vacinas em caso de necessidade real.

Se as mortes já registradas e a preocupação da população não podem ser mais evitadas, a própria prefeita Rosinha, como mãe e avó, foi a primeira a se manifestar publicamente sobre o “boato de surto” de meningite. Talvez não tenha feito isso tão bem ao tentar politizar o assunto, misturando, inclusive, com o “boato da Polícia Federal na Prefeitura”. Ela perdeu uma boa oportunidade, que tem com a abrangência da sua rede social, de tranquilizar os pais, sem tirar o foco do que realmente interessava.

Agora, o grupo rosáceo, que nega o surto de meningite, informou que levou o caso para a polícia. Em programa de rádio na manhã deste sábado, o marido da prefeita informou que há interesse comercial por trás das informações sobre um suposto surto, que ganharam as ruas e redes sociais. Com cada vacina custando cerca de R$ 700,00, ele alega que foram vendidas mais de seis mil doses em 15 dias no município.

Charbell Kury, responsável técnico da Vigilância em Saúde, disse que muita gente está se aproveitando do pânico. “Essa é uma estratégia antiga. E tudo começou após o caso das meninas em maio (cuja mãe foi orientada por ele para não falar com a imprensa). São muitas fofocas e poucos fatos concretos. Eu desafio qualquer pessoa. Se há fundamento, entrego o cargo”, frisou, ressaltando que teve gente deixando de comer para comprar a vacina.

Mas até onde isso também não é fruto da falta de informação e também de descredibilidade deste governo? Tanto que agora para tentar minimizar à proporção que o assunto ganhou a Prefeitura recorre a especialistas independentes para tentar tranquilizar a população. Exemplo disso é que amanhã, às 11h, no Hospital Ferreira Machado, o secretário municipal de Saúde, Geraldo Venâncio, concederá entrevista coletiva sobre meningite, com a presença do médico infectologista Nélio Artiles, do neurocirurgião Mackoul Moussalem e outros especialistas.

A Prefeitura também está intensificando as publicações em seu site oficial desde a última sexta-feira com especialistas para contornar a situação. Numa delas, o depoimento do infectologista e professor Nélio Artles é o que mais chama a atenção: “Sou infectologista há 30 anos e uma das pessoas que atende casos de meningite na rede de urgência e emergência de Campos sou eu. Não tenho nenhum cargo político e não trabalho na secretaria municipal de Saúde. Sou um servidor público e afirmo categoricamente que não existe, neste momento, surto ou epidemia de meningite em Campos”.

Ao ressaltar a independência do profissional, a Prefeitura só confirma a falta de credibilidade de seus gestores, não por incompetência de quem está na pasta de Saúde, mas por quem os comanda e que por muitas vezes é visto como mentiroso.

 

Publicado hoje (17) na Folha da Manhã

 

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Este post tem 9 comentários

  1. Amrro

    Só sei o seguinte uma vida vale muito mais que dinheiro se estão aproveitando ou não devemos vacina.

  2. Geovan

    Foi como a matéria foi feita, eles esperaram o caos se instalar, a população gastar uma grande quantia em dinheiro e madrugar em filas de clinicas de vacinas particulares, para dar vacinas em seus filhos, tudo isso por falta de transparência e explicação das autoridades de saúde da nossa cidade em não expor com clareza os casos de meningites. Se foi, se é ou se não é jogada politica isso não importa, o que importa é que vidas estão sendo perdidas por causa dessa doença e a prefeitura em momento nenhum tranquilizou a população, não procurou os meios de comunicações para dar esclarecimentos e tranquilizar toda a população. Então os pais assim como eu, resolveu a querer dá o melhor para nosso filhos que seria vacinar contra essa doença que vem tirando vidas em nossa cidade. Cheguei a ligar para a secretária de saúde várias vezes, para buscar informação sobre qual tipo de meningite vem causando mortes na cidada e não obtive sucesso, cheguei até ligar para o ministério da saúde em Brasília para ver se conseguiu informações pq aqui em Campos não “havia”. A prefeitura só agora resolveu mostrar as caras e tranquilizar a população depois de todo caos já formado.

  3. Thiago

    Esse governo só terá algum crédito se parar de politizar todas as questões e colocar o bem do povo acima de interesses pessoais. Mas talvez agora seja tarde demais.

  4. Fernanda

    As clinicas não estão se aproveitando coisa nenhuma. Pois eles não estão saindo às ruas pegando pessoas pelo braço e oferecendo vacina. Nós pais que estamos amedrontados com essas mortes e estamos correndo atrás de imunização para nossos filhos. Outra coisa, a vacina foi para este preço pq é importada e vcs já viram o preço do dólar? E outro detalhe…queria ver o cartão de vacina dos netos da nossa prefeita para ver se não estão imunizados com essas vacinas. Pois não há razão para pânico!

  5. Alessandra

    Infelizmente as pessoas hoje acreditam em qualquer coisa que é dita tanto por pessoas quanto nas redes sociais, é preciso buscar informações. Ler mais, perguntar mais, pesquisar mais. Tenho filho pequeno, não vacinei e nem vou vacinar, pois estão cobrando 700 reais cada dose por uma vacina que o vírus não circula na nossa região.

  6. Edi cardoso

    Os que acham que é especulação, boatos e tal, também podiam deixar pairar uma sombra de dúvida por conta dos “responsáveis” por parte da prefeitura ao afirmarem que não é surto de meningite.
    Você confia a vida de seu filho a esses abutres?
    Quem vacina seus filhos e buscam o melhor para eles e é por amor que se faz.
    Acima de qualquer R$700,00 q se gasta em liquidação.
    não é especulação, nunca, vacinar um filho.
    Nem muito menos esperar sentado pelo tal surto para depois então procurar a prevenção.

    PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR.

  7. Geovan

    Não é bem assim Alessandra, eu li, pesquisei na internet, liguei para secretária de saúde, ministério da saúde em Brasilía e conversei com a pediatra do meu filho antes mesmo desse caos começar, a pediatra já havia me sugerido a vacina do tipo B. O que faltou foi comprometimento da prefeita, os orgão da saúde ficaram só observando o caos e só agora se manifestou. Vale lembrar que muitos brasileitos assim como os campistas não tem muito estudo, grande parte da população não tem conhecimento, não tem internet, não sabem ler mas querem sempre o melhor para os filhos. A prefeitura de Campos falhou em não expor o problema. Vc poderia me dizer ALESSANDRA, qual o prazo de proteção da vacina da meningite C? Pois eu liguei para prefeitura e ministerio da saude e até hoje não sei, se são 5 anos, 9 anos ou a vida toda de proteção. Vc poderia me dizer com suas pesquisas?

  8. Janaina

    Eu vacinei o meu, trabalho em Campos e moro no Rio, aqui o pediatra do meu filho mandou vacinar se pudesse pq os vírus já estão circulantes e não tem surto aqui. Quem puder vacine sim! A vacina é cara , a do tipo B cerca de 700,00 a dose e são duas, mas uma vez na vida só. A ACWY, CERCA DE 300,00, com intervalo de 5 anos.

  9. Janaina

    Além do mais , vai da prioridade de cada um. Tem gente que paga mais que isso num celular por exemplo,mas acha caro dar uma condição de saúde melhor para os filhos. A vacina é importada, por isso é cara assim, já que nossa moeda é desvalorizada

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